Bom, nem eu sabia por quem eu sentia amor. Era tudo um turbilhão de coisas. Tudo estava muito confuso. Eu não fazia idéia por quem eu sentia amor de verdade. E por que eu teria que sentir amor por alguém?! Nem parecia que minha vida toda mudaria em apenas uma semana...!
Aquele dia horroroso, depois de muitas horas de espera, tinha se passado e eu agradeci por isso. Limpei toda a bagunça do meu apê e me livrei de toda aquela sujeira, que tinha deixado marcas em mim pra sempre.
Passei uns dias em casa, dormindo, vendo TV, sem fazer nada. Assistia filmes, jogava vídeo game, comia... Nada me alegrava. Do contrário, uma coisa me deixou mais triste em uma noite, noite essa que precedia o meu aniversário. Vamos lá...
Eu via um filme de drama bem legal, que mexia muito comigo, me comovia horrores. Não lembro o nome agora, mas lembro que eu chorava bastante só em vê-lo. No meio do filme, recebi uma notificação no notebook, dizendo que tinha chegado um e-mail; remetente: Nina. De início, achei estranho. Por que ela não tinha me ligado ou passado um torpedo...? Enfim, abri o e-mail dela. Ela me contava coisas alegres. Não me lembro muito bem como era, mas era mais ou menos assim:
“Oi, Théo, sei que não tenho mais motivos para manter contato, mas só quero te dizer que estou bem. Ontem conheci um cara legal e especial, acho que vai rolar algo com ele... Fiquei sabendo que o Ícaro está morando com você de novo... Diga a ele que eu só desejo felicidades em sua vida e que ele possa encontrar um rumo. Espero, um dia, poder te dizer o real motivo do nosso término... Ainda preciso colocar um ponto final nessa minha história com o Ícaro. Enfim, abraços!”
Além de feliz pela Nina, fiquei muito curioso pelas palavras dela “poder te dizer o real motivo do nosso término”. Uau! Ainda tinha mais motivos além de ela apanhar bastante dele... Como um curioso de primeira classe, eu, na mesma hora que recebi o e-mail, ao invés de continuar com o filme, cliquei na opção “responder” e enviei um de volta pra ela.
“Fico feliz por você, Nina. Feliz até demais. Obrigado por me contar essas coisas boas da sua vida! Mas olha, confesso pra você que essa parte aí me deixou muito, muito curioso. Tem mais coisa sobre o Ícaro que você não me contou, né? Se puder me contar, vou te agradecer muito!“.
Enviei isso pra ela e ela logo me respondeu afirmando que tinha, sim. Achei meio ralé ter uma conversa daquelas com a Nina por e-mail, então eu marquei com ela para nos encontrarmos num coquetel que tinha perto do meu condomínio, e ela topou de cara. Pô, sem dúvidas eu queria saber o que o Ícaro tinha aprontado com ela...
Juro que não esperava tamanha barbaridade...
Cheguei em tal lugar, depois de 10 minutos, e a Nina já estava lá. Ela, inclusive, falava com o garçom, fazendo pedidos. Cumprimentei-a e nos sentamos. A Nina estava linda, deslumbrante, e espairecia um sorriso incrível de felicidade. Eu estava feliz por ela; até demais.
– Que foi isso no seu rosto, Théo?
– A gente vai chegar lá... Mas ainda bem que você aceitou o meu convite, Nina. Eu não ia agüentar essa curiosidade de ficar sem saber de coisas...
– É... Vou te confessar que te mandei aquele e-mail porque sabia que você iria marcar esse encontro aqui. Fiz de propósito, na verdade.
– Então você acertou em cheio! Se tem uma coisa que eu sou, é curioso!
– Théo, talvez você não goste muito de saber de tais coisas, mas eu te peço que não faça nada com o Ícaro. Eu sei que ele merece que aconteça coisas ruins com ele, pra ele aprender, mas é que eu sinto um carinho, sinto um afeto por ele, mesmo ele não merecendo...
– Nina, não quis te falar isso por e-mail, mas, na verdade, eu e o Ícaro brigamos feio. Acabei perdendo a cabeça de vez e o expulsei. Por isso eu tô com esses cortes no rosto!
– Pelo visto, a briga foi feia, né?
– Horrível!
– Você o expulsou da sua casa?
– Sim! Ele não merece a minha ajuda, não merece nada que venha de mim, aliás! Sabia que ele até me deu socos por não concordar com a minha orientação sexual?
– Você é gay, não é?
– Sim, sou! Espero que você não se incomode com isso...
– Por que eu me incomodaria? Não vejo nada demais nisso! E até já sabia!
– Ainda bem! Se não, iria ficar um clima desconfortável por aqui! Mas e aí, continua... O que ele te fez, além de tudo aquilo?
– Então, talvez você não queira nem saber, mas vou te falar!
– Já sei que, do Ícaro, eu posso esperar qualquer coisa! Pode falar!
– Quando eu conheci o Ícaro, me apaixonei completamente. De início, foi pela aparência dele, porque ninguém pode negar que ele é muito lindo. Mas, aos poucos, fui conhecendo a pessoa que ele é, ou fingia ser, e me apeguei ainda mais. Depois de algum tempo, ele me pediu em casamento e eu aceitei, claro. Tava apaixonada, isso valia! Ele me pediu pra vir pro Brasil, e eu também aceitei, afinal ele queria vir pro Rio, e minha família toda tá aqui... Logo que ele chegou aqui, ele me disse que precisava rever um grande amigo, um amigo de infância dele... E foi daí que tudo se transformou. Tudo mudou!
– Como assim?
– Você, Théo. Você o mudou. Ele não era assim antes de te rever. Ou era e eu não sabia...
– Do quê que você tá falando, em, Nina?
– Ele chegou aqui no Rio, te viu de novo e passou aquele tempo com você lá no seu apartamento. Depois disso, nos casamos e fomos morar na nossa casa. A minha vida virou um inferno a partir daí. Ícaro me proibia de sair com as minhas amigas, ele não me deixava fazer um punhado de coisas, tudo por causa de raiva e “ciúme” que ele dizia que tinha. Daí ele passou a ficar agressivo comigo, me tratando muito mal, tão mal que eu ficava com medo, pensando que ele ia fazer alguma coisa comigo... Até que ele fez! Ele me agrediu muito e eu não sabia por quê. Não tinha motivos. Não! Pra ser sincera, sempre teve um motivo!
– E qual era?
– Fiquei sabendo o que aconteceu no passado dele. Ele abandonou o filho, e até hoje isso o atormenta... Mas, por incrível que pareça, isso não teve nada a ver com esses surtos do Ícaro!
– Nina, você tá começando a me deixar preocupado. Fala logo, vai!
– O Ícaro sumia de noite, Théo. Ele sumia, não dava notícias pra onde ia... Afirmava que ele podia sair porque era homem... coisas machistas!
– E você descobriu pra onde ele ia?
Nessa parte, o garçom nos trouxe as nossas bebidas. Ela tinha pedido pra mim uma batida de uva, e, coincidentemente, estava com muito álcool, o que eu precisava naquele momento pra engolir a história que ela ia me contar.
– Descobri, sim! Pedi uma ajuda e consegui descobrir. Ele ia pro seu condomínio. Ele ficava no carro, olhando pro seu apartamento... Coisa de louco, de verdade!
– (falei bem assustado) O quê? Como assim?
– O Ícaro também é gay, Théo! Ele sempre soube disso!
Nessa hora, eu me engasguei com a bebida. Fiquei surpreso mesmo com o que ela disse. Nunca tinha passado pela minha cabeça que o Ícaro era gay, só nos últimos dias, quando nós tínhamos nos beijado, mas achei que tinha sido apenas uma vontade dele...
– Isso é sério, Nina?
– É! Ele não parava de ver suas fotos pelo celular. Várias vezes eu o peguei fazendo isso. E ele também ia pro seu condomínio... Comecei a desconfiar de tudo isso! Até que um dia eu cheguei em casa e o vi com um cara na cama. Eles estavam transando... Fiquei chocada!
Eu não sabia o que fazer quando ela me disse tudo aquilo. Apenas abri a boca, naturalmente e sem perceber, pois eu tinha ficado chocado com tudo aquilo.
– Meu Deus!
– Ele me batia porque eu não era você. Ele sentia raiva de você pelo simples fato de você estar com um homem que não era ele.
– Ele sabia do Dan... Como eu não desconfiei disso?
– Ele te via com esse cara... Essa revolta foi se consumindo nele e ele descontava tudo isso em mim! Mesmo sem eu ter nada a ver!
– (falei boquiaberto) Sinceramente, eu não sei nem o que te falar!
Eu colocava a mão na cabeça, alisava meu cabelo, tentava achar alguma coisa que me fizesse ficar confortável depois do que a Nina tinha me dito.
– Tudo isso é loucura, Nina! Por que você não me falou tudo isso antes?
– Queria poder me desligar totalmente do Ícaro, mas eu não consegui fazer isso! Eu sempre soube, na verdade, que, pra me desligar dele, eu precisava te contar essas coisas, e só agora eu tive coragem. Tá me atrapalhando, tá atrapalhando o meu relacionamento com um homem que eu conheci...
– Você fez bem em me contar. Foi chocante e bizarro ter que ouvir isso, mas foi necessário. Eu ia morrer e não saberia disso! Obrigado demais por ter me contado!
– Você não merecia ouvir tudo isso, mas foi necessário. Tanto pra mim quanto pra você.
– O problema maior é que eu não sei onde o Ícaro está...
– Se você soubesse, sei o que você iria fazer: Você o procuraria e contaria que também é apaixonado por ele, não é?
– Não! Você se enganou! Eu não sei bem o que faria, mas, com certeza, não seria isso.
– Théo, só um aviso: Cuidado! Cuidado com ele, e principalmente contigo!
Ouvi aquele conselho da Nina e adorei as últimas palavras dela: “cuidado com ele, e principalmente contigo”. Fiquei com aquilo na cabeça por dias.
Me despedi dela e voltei pra casa. Quase que um carro me atropelava enquanto eu atravessava a rua, pois eu tava tão distraído pensando em tudo o que tinha ouvido... Eu estava na rua, mas minha mente estava na lua – e eu não queria isso.
Cheguei em casa, tranquei a porta e me sentei no sofá. Aquele silêncio era ótimo para pensar em tudo, pensar na vida, pensar no meu futuro...
Nunca ia imaginar que tudo aquilo tinha acontecido bem debaixo do meu nariz. Sempre tive sonhos eróticos com o Ícaro, sempre tive vontade de sentir aquele corpo colado ao meu – como tinha acontecido enquanto ele tinha perdido a memória, mas queria que rolasse algo com ele bom, algo que ficasse marcado na minha memória, que tivesse sentido e sentimento e que ele soubesse o valor de tal ato – e, de repente, descobrir que todo o meu medo foi em vão? Como relatei a vocês durante todo o conto, eu o queria, mas ele era hétero... Pelo menos eu achei que ele era...
Sentado ao sofá, olhei para a porta do quarto do Ícaro, que estava aberta, dando vista para a cama dele. Fui até lá. Era incrível como o quarto dele tinha o seu cheiro... A sua cama, que estava arrumada, tinha cheiro do seu perfume, e era delicioso. Pensei em retirar os lençóis, mas quis ficar ali, olhando e admirando tudo. Resultado: acabei dormindo.
No dia seguinte, levantei com uma baita dor de cabeça. Os goles da batida de uva tinham causado isso. O relógio marcava 6hrs e, pra mim, era muito cedo; pra quem era acostumado a acordar de 11hrs, 12hrs, 6hrs é muito cedo...
Na cozinha, preparei um café forte sem açúcar para me curar da dor de cabeça, e tomei um remédio também. As feridas do meu rosto também doíam muito... Andei por ali enquanto tomava meu café. Apenas lembranças me viam a mente. Dan aparecia nelas, também...
Reparei, sem querer, que o telefone tinha recados. Reproduzi-os. Os primeiros não eram importantes, mas os últimos, sim. Eram dos meus pais, avisando que chegariam a minha casa por volta das 8h. “Putz, vou receber meus pais malzão desse jeito?” – pensei. E aqueles recados, além de servirem como avisos, me lembraram que era o meu aniversário, era o meu dia, dia que eu tinha que comemorar, dia de festas e de ânimo. Mas, por falar no ânimo, onde ele estava? Eu lá tinha vontade de comemorar alguma coisa depois de descobrir tudo aquilo sobre o Ícaro? Eu só queria dormir, ficar na cama, tentar esquecer tudo... Mas não podia, eu tinha que ficar ao lado da minha família deixando que minha outra face, a feliz, se divertisse por mim.
Minha espera se transformou em uma soneca. Acordei quando o interfone tocou, o porteiro noticiava a chegada dos meus parentes. Lavei o rosto, rapidamente, fiz uns curativos no rosto, e deu o tempo: eles bateram na porta. Respirei fundo e, antes de abrir, me veio um alívio: Ícaro não estaria lá e não ia rolar nenhum tipo de desconfiança.
Primos, primas, tios, tias, meus avós e meus pais: todos lá. Todos vieram me abraçando, todos de uma só vez... E eu fiquei sorridente com toda aquela alegria. Sinceramente, eu não esperava que isso fosse acontecer – falo da parte do meu sorriso. Todos eles me traziam presentes, enchendo toda a minha sala de sacolas. Eles entraram e fizeram festa.
Passamos horas ali na sala, conversando. Eu abri todos os presentes. A cena lembrava aquelas de filme que passa o natal americano, onde os pais pedem para as crianças abrirem seus inúmeros presentes... Eu os abri, e fiquei impressionado com a quantidade. Ganhei cueca, peças de cama, cortinas, coisas de casa – parecia que eu estava em um chá de casa nova, aquele que as mulheres fazem umas pras outras quando uma delas se casa...
Um clima estranho estava rolando entre meu pai e minha mãe. Eles eram tão divertidos, sempre alegres... Meu pai, ali, nem falava com ela, tampouco se aproximava. Nos olhos da mamãe, percebi certa solidão.
Preocupado, chamei-a na cozinha para tomarmos uma água. Ali, conversamos; o barulho da sala impedia alguém de nos escutar. Não demorou muito para a mamãe desabar em lágrimas.
– Mãe, por que toda essa tristeza? Rolou alguma coisa, né?
– “Rolou”... Vocês, os jovens de hoje, falam tanta esquisitice...
– Fala, mãe: aconteceu alguma coisa, não foi? Cadê aquele sorrisão bonito que só você tem?
– Sorrisos são passageiros, assim como o amor. Foi-se o amor, filho. Entre mim e o seu pai não existe mais isso. Ele não me dá atenção.
– Percebi! O engraçado é que eu me encontrei com ele e conversamos sobre isso... Ele me prometeu que te trataria bem...
– Promessas nem sempre são válidas! Ora você diz uma coisa, ora sua cabeça muda o jeito de pensar.
– Quer que eu converse com ele outra vez?
– Acho que seu pai está com alguma outra mulher! Nunca desconfiei isso dele, mas toda mulher sabe quando isso acontece. Ele está com alguém.
– Ele jurou que não está...
– Juramento não significa nada para quem tem corpo fraco. Seu pai sempre pertenceu ao mundo, mas quando nos casamos, ele jurou, na igreja, que mudaria, e mudou. Ele fez isso. Mas com o tempo, a rotina vai cansando, vai mudando...
– Só muda se for chata...
– E a nossa era, Théo! Ainda é, por sinal. E agora está mais ainda.
– Vou ter uma conversa com o papai, outra vez. Se ele estiver te fazendo sofrer, e eu sei que tá, vou pedir que ele peça o divórcio. Não é justo\
– (ela me cortou) Não! Não faça isso! Eu o amo! Eu amo o seu pai, Théo! Não quero me separar!
Ela me abraçou forte, chorando. Uns parentes se aproximaram, perguntando o que tinha rolado. Eu menti dizendo que ela tinha se emocionado ao me desejar parabéns, mas percebi que eles não acreditaram muito em mim, pois era perceptível que o choro dela não era de emoção, e sim de tristeza. Eles se afastaram. Desviei o olhar e vi que o papai me olhava com uma cara triste, com um olhar morto...
Já a sala, inventei uma desculpa para poder sair com o meu pai. Lembro-me que disse: “pessoal, vou ali no supermercado comprar carnes com o papai. Já, já voltamos!”. E isso o pegou de surpresa: ele não sabia, mas topou, pois sabia que eu queria conversar com ele. Minha mãe ficou com um pouco de receio, mas logo se animou, pois a família a chamou para arrumar a sala, fazendo decorações de festa.
Tirei o carro do estacionamento e, junto com meu pai, fui ao mercado mais distante da minha casa, justamente porque queria ter uma conversa séria com ele.
– Percebi de imediato o seu interesse em conversar a sós comigo, meu filho... Já sei até o assunto... De novo...
– Você disse que iria melhorar...
– Nosso encontro foi recente. Eu ia começar a melhorar... Você quer uma coisa assim, de uma hora pra outra?
– Claro! Claro que quero uma coisa de uma hora pra outra. Ver a minha mãe chorar é uma coisa tão absurda pra mim...
– Eu ia me aproximar, meu filho, eu ia fazer isso, sim, mas ela fica me colocando pra trás, me diz coisas feias, me fala que não me ama mais...
– Tenta perceber que isso é da boca pra fora, pai. Ela me disse que te ama e que não quer divórcio. Se você trai a mamãe... Não entendo porque você faz isso... Sinceramente...
– Já te disse que eu não faço isso!
– Não adianta negar, papai! Sei que você faz isso, sim! Para de fingir!
E o papo foi esquentando, ficando mais grosso e palavras feias foram rolando. Naquele momento, esqueci totalmente que ele era o meu pai e não o respeitei mais. Não ia mais ver a minha mãe passando por situação difícil com ele.
Nós discutimos muito feio. O chamei de irresponsável, de coisas que eu nem queria, aliás. Mas senti que foi necessário. Se fosse antigamente, se eu ainda morasse com ele ou fosse menor de idade, ele me daria uma surra, mas ele ficou caladinho. Não respeitei o meu pai naquele momento. Na verdade, ele não merecia meu respeito por estar maltratando a minha mãe.
Depois da longa discussão, fomos ao supermercado em silêncio. Quis até ligar o som para dar uma descontraída, porém deixei pra lá. O clima não estava adequado.
Fizemos as compras e demoramos mais de duas horas na fila. Não sei se alguém aí já foi num supermercado (de nome grande) na época em que as pessoas recebem dinheiro... Parece um inferno! Mas, à fila, não dávamos uma palavrinha sequer. Eu peguei uma revista e li. Esse foi o meu passatempo.
De volta pra casa, fomos calados. Essa foi a parte ruim de escolher um mercado longe.
Ao chegar no prédio, enfrentamos mais um problema: o porteiro tinha saído dali.
– Vou pegar as coisas e vou subindo. Você coloca o carro pra dentro, ok?
– Tá bom, Théo!
Desci do carro, abri a mala, tirei as sacolas, abri o portão e subi. Ele ficou lá guardando o carro no estacionamento.
Entrei no meu apê e todos gritaram “surpresa“, me deixando feliz. Engraçado é que eu já sabia que rolaria aquilo, mas foi divertido e me causou uma surpresa mesmo. Todos me abraçaram, de um por um, outra vez. Coloquei aquele peso que estava em minhas mãos sobre a mesa da cozinha e falei com todos novamente. Chamei minha mãe no canto e conversei com ela sobre o que tinha rolado no carro, ela não chorou, apenas compreendeu tudo.
Na sala, eu e meus parentes comemos doces, salgados e todas aquelas delícias de festas, enquanto minha mãe preparava as carnes. Contei como estava minha vida, contei sobre as “namoradinhas” – aquelas que as tias sempre querem saber... Nada demais!
O tempo foi se passando, se passando, se passando... Uma das minhas tias deu falta do meu pai. Eu nem me lembrava dele, juro. Daí eu me despertei e avisei que ele ficou lá em baixo estacionando o carro. Todos se acalmaram, mas eu não. Olhei da janela e não vi nada demais. Pensei, de início, que meu pai estava em perigo, mas não foi isso. Outra coisa, bem pior, rolou ali.
Esperamos mais um pouco, e ele chegou. Abriu a porta, com uma cara feliz. Suas roupas estavam amassadas, seu cabelo estava um pouco estranho... Ninguém percebeu isso, mas eu sim. O mais estranho era o seu rosto, que estava com um sorriso. Ele não tinha motivos para isso depois de nossa briga no carro... Passei perto dele e senti um cheiro de cerveja... Me incomodei com aquilo, achando mais estranho ainda!
Minha mãe, depois de colocar a carne no fogo, nos chamou para cantar o parabéns. Todos nos reunimos em volta da mesa de guloseimas e cantamos. Por um minuto, me senti feliz. Pensei bem e, ao ver todos felizes ali do meu lado, vi que não tinha sido uma má idéia ter aquela comemoração. No fim, fechei os olhos e pedi uma coisa, que se realizou um ano depois: Ser feliz ao lado de alguém que eu amasse. Se realizou? É como eu acabei de contar: se realizou um ano depois.
Após isso, ouvimos batidas à porta. Abri, e para meu desprazer, era o Ícaro. Evitei fazer confusões, até mesmo expulsá-lo da minha casa, mas eu olhei muito feio pra ele, olhar de “O que é que você tá fazendo aqui?”. Ele apenas entrou, sem nem falar nada comigo. Ele estava com uma latinha de cerveja na mão...
Ele começou a fazer charme, querendo que eu o apresentasse para a minha família... Ele mesmo fez isso. Todo mundo gostou dele, principalmente meu pai. Eles se deram bem, ficaram conversando separadamente... E isso me causou certo ciúme.
Comemos um almoço bom, de sobremesa veio o bolo e mais doces. A minha família se despediu de mim, dizendo que tinham que ir embora. Aceitei depois de dar um abraço em todos. Eles se foram. No apê, ficamos eu, a mamãe, o papai e o Ícaro. Ícaro e meu pai conversavam estranhamente na varanda. Ajudei a mamãe a tirar a mesa, a lavar os pratos...
Horas se passaram e eles continuavam conversando. Eu chamei o Ícaro para conversar no quarto, e ele veio imediatamente. Entramos no quarto dele e eu tranquei a porta.
– O que é que você tá fazendo aqui? Eu não te disse que era pra ir embora...?
– Hoje é seu aniversário! Você acha mesmo que eu não viria?
– Para! Você não devia estar aqui.
– E porque você não disse isso lá na porta?
– E fazer um show na frente de toda a minha família?
– Usar a família como desculpa é muito legal, Théo!
– Vai embora daqui! Amanhã você aparece pra pegar as suas coisas!
– Tudo isso por causa da briga de ontem?
– Me encontrei com a Nina ontem e ela me contou tudo! Ela me contou tudo, tudo, tudo!
Ele mudou completamente de rosto. Sua expressão facial era outra.
– Tudo o quê?
– Ela me contou porque acabou o casamento com você! Me contou que te pegou na cama com outro homem! Me disse também que você só vivia aí na frente, querendo me espionar...
Ele abriu sua boca, naturalmente, ficando abismado.
– Você tá blefando...
– Nunca inventaria nada sobre você. Não tenho motivos pra isso.
– A Nina nunca te diria isso!
– Mas ela disse! Ícaro, eu só queria saber uma coisa: Porque você nunca me disse que gostava de mim? Eu sempre fui louco pra ter comigo...
– Isso é mentira sua!
Ele começou a se desesperar.
– Você tinha um cara. Tinha um cara que te visitava. Um alto, forte...
– O Dan é ótimo!
– Viu?! Como é que eu podia te falar alguma coisa? E também como é que eu ia te falar isso depois de te dar uma surra, depois de mostrar que eu era um homofóbico?
– Tentava!
– Nossa, como eu errei com você, Théo! Errei demais!
– Você errou demais!
– Mas eu não sou o único culpado nisso tudo! Você também errou! Se você me desejava, por que estava com outro? Por que você não falava isso pra mim? A decisão teria que partir de mim?
– Você queria isso mais do que eu!
– Você não tinha que ter procurado a Nina! Isso era uma particularidade minha! Você não tinha esse direito!
– Ela quem puxou a conversa. Eu apenas a segui.
– Ela te contou que ela transformou a minha vida num inferno?
– O quê?
– A Nina, Théo, ela contou pros meus pais que eu sou viado. Eles me esculacharam. Cortaram cartão de crédito, tudo... Até me negaram como filho!
De princípio, tentei não acreditar nisso. Ele podia estar me enganando.
– E você fez aquele teatro todo comigo, Ícaro? Pra quê?
– Nem eu sei! Só sei que eu tive que manter as aparências.
– Não deve ter sido uma grande coisa.
Embarquei na onda dele, pois achava que era mentira dele...
– O quê? Assumir a minha verdadeira sexualidade pros meus pais?
– Sim!
– E por que você não faz isso com a sua mãe? Ela tá aí na sala!
– Meu pai não me aceitaria!
Ícaro olhou pra mim, boquiaberto, desacreditado. Ele abriu a porta do quarto e, a partir desse ato, minha vida mudou completamente.
Minha mãe e meu pai estavam ali. Meu pai via TV e minha mãe arrumava os presentes por ali. Ícaro estava manifestado. Ele desligou a TV e começou a gritar.
– Dona Ruth, chega aqui, por favor!
Ela veio pra perto, com receio. Eu comecei a achar tudo estranho.
– O que é que você vai fazer, Ícaro?
– Dona Ruth, o Théo tem algo pra te falar! (à mim) Fala, Théo!
– Eu não tenho nada pra te falar, mãe! Ele tá sob efeito de bebidas!
– Você não vai falar? Eu falo, então!
Nessa hora, eu o puxei com muita força, tampando a sua boca. Meu pai se assustou, minha mãe começou a ficar nervosa.
– Cala a boca, Ícaro! – eu falava tampando a boca dele com força.
Ele conseguiu se soltar e se afastou de mim. Tudo ocorreu muito rápido.
– O Théo é gay! Ele é gay!
Esse foi o ápice de tudo. Meu olhar foi diretamente na minha mãe, que colocou as mãos na boca, já chorando absurdos. Olhei pro meu pai e vi que em seu rosto não tinha nenhuma expressão de surpresa, mas não liguei pra isso, no começo.
– É mentira! Mãe, não acredita nele, não!
– Para de negar a sua sexualidade! Você acabou de me falar que isso não é nada demais!
– É mentira, mãe, pai...! Ele tá mentindo!
– Você acabou de me humilhar ali, Théo! Nada mais justo que eu faça o mesmo com você! Ele é gay, dona Ruth!
Minha mãe me olhava como se eu fosse a pior pessoa do mundo. Minha vontade de matar o Théo era grande, mas minha vontade de negar tudo era maior.
– Mãe, olha pra mim, é mentira dele. Eu não sou gay!
– É gay, sim! A gente já dormiu junto! Eu também sou gay e amo esse idiota!
– Você é louco! Louco! Vai embora da minha casa!
Eu corri e voei em cima dele. Com as mãos em sua camisa, o arrastei até a porta.
– Você vai deixar que ele faça isso comigo, vai? – ele falou olhando pro meu pai. – Em? Responde!
– Tira esse cara daqui, Théo! – meu pai ordenou!
– Ah, então você também tá contra mim? Em, meu amor? Meu tesudo?! Não foi disso o que você me chamou lá em baixo no estacionamento?
Minhas mãos saíram da camisa dele e eu paralisei ao ouvir isso. Eu e minha mãe olhamos pro meu pai, querendo entender.
– O que foi que você disse, Ícaro? – falei, pausadamente, ainda tentando digerir a história.
– Quero saber se seu papai vai me deixar ir embora daqui! Lá em baixo ele tava me chamando de tesudo, pedindo que eu o comesse direitinho... Aqui em cima você me manda ir embora?
Não sentia mais desespero; e sim, nojo. Era isso mesmo. Ícaro e meu pai. Liguei os fatos – meu pai chegando com cheiro de cerveja, com roupas amassadas; e depois Ícaro chegando com uma lata de cerveja, minutos depois do meu pai... – e vi que era isso mesmo.
– Você me traiu com um homem? – falou minha mãe para meu pai.
– Esse cara aí tá louco! Ele tá louco!
Me sentei no chão, boquiaberto, e encarei meu pai. Eu imaginava que ele andava traindo a mamãe, mas nunca se passaria pela minha cabeça que, meu pai, o homem homofóbico que tinha me criado, fosse gay! Ele podia trair a minha mãe com quem ele quisesse – tá, não podia, não – mas com o Ícaro?
– Agora, sim, eu vou embora! Acabei por aqui! Se me humilharam, eu tenho que fazer isso também! Adeus, Théo! Amanhã eu volto pra pegar as minhas coisas.
Ele saiu da minha casa, jogando a lata de cerveja no chão, fazendo deboche. O clima pesou por ali. Não vou contar tudo o que rolou, se não daria mais umas três partes de conto, mas tudo mudou a partir dali.
Eu me revelei – já tava revelado mesmo – para meus pais, e meu pai se revelou também. Minha mãe ficou com o pé atrás com tudo. Entendi bem a posição dela. Ela foi criada por uma família tradicional – assim como eu – e não aceitava isso de ser gay. Eu, de um lado, não falei mais com meu pai. Não falei com ele por dois motivos: o que ele fazia com a mamãe e por ele ter a traído com o Ícaro. Não sei se pra vocês pode parecer besteira minha, mas não falo com meu pai até hoje.
Muita discussão rolou ali. Choro, mais choro, confissões, arrependimentos e mais coisas... Meu pai foi embora, minha mãe ficou e tivemos uma conversa longa e dolorosa. Ela me pediu um tempo para que digerisse a história e eu lhe dei.
Ela foi embora de táxi após isso. Aquele tinha sido o pior dia da minha vida.
Tomei dois remédios fortes para dormir, e acabei dormindo mesmo.
O dia seguinte tinha chegado. Acordei bem por fora, sem nenhuma dor, mas por dentro eu estava acabado, assim como meu psicológico. Era 12h quando acordei; fiz um almoço rápido e almocei.
Não sei se foi efeito do remédio, mas, enquanto eu estava à mesa, vi o Dan sentado em minha frente. Ele me olhava com aqueles olhos bonitos dele, sempre com um sorriso lindo. Pena que era tudo um pensamento.
Lembranças com o Dan me vieram à mente e eu lamentei muito que ele não pudesse estar ali ao meu lado pra me dar apoio... Lamentei mesmo!
De noite, eu via um filme de romance bem legal. Eu precisava de algo para me distrair. Fui interrompido por uma falta de energia em todo o condomínio. O síndico nos informou, indo de apê em apê, que um caminhão tinha passado e cortado fios no poste. Fiquei chateado porque queria mesmo ver o final do filme – eu tinha lido na net antes de vê-lo e vi que a última cena do filme era em um telhado de um prédio – onde o mocinho e a mocinha iriam ficar juntos...
Tive essa idéia. Coloquei uma roupa e, enquanto não voltava a energia, fui ao telhado do prédio. Lá era feio, só tinha antenas de TV. Mas o céu estrelado mudava tudo. Deitei-me ali e vi o céu. Aqueles pontinhos brancos me fizeram dar vários sorrisos, pois, ao ver-las, lembrava-me dos bons momentos da minha vida. Fazia-me uma pergunta: Será que tudo o que eu tinha passado valia a pena? Qual seria meu futuro a partir dali?
Escutei passos, e, ao olhar, vi o Ícaro chegando e sentando perto de mim. Fechei os olhos e não quis acreditar naquilo...
– Vai embora! Pelo amor de Deus!
– Antes que você me expulse, quero que ouça uma coisa que tenho pra te dizer! Sei que você tem mil motivos pra não me querer, mas quero que saiba que eu te amo demais, Théo! Sempre amei, na verdade!
– Não ama, não!
– Quando cheguei aqui, lembro-me que contratei uma prostituta pra se passar por minha esposa... Aquilo foi pra te fazer ciúmes, não por medo de me casar, que era o que você achava! Tudo o que a Nina te disse é verdade, cara. Sempre vinha aqui pra te ver, mas via aquele outro lá e não agüentava... Te bati por raiva de saber que você estava com outro! Tudo aconteceu por motivos, como eu te falei! Esse motivo é que eu te amo demais! Te amo demais pra suportar te ver com outra pessoa!
Fiquei em silêncio, apenas olhando pra ele.
– Não adianta te falar isso, Théo, mas quero que você me perdoe! Me perdoa, por favor! Ontem, ao fazer aquilo com você na frente dos seus pais, vi que tudo o que faltava em mim era uma família! Você também! Eu nunca dei amor a ninguém, por isso tudo aquilo! Sou louco, eu sei, mas tudo foi por você! Eu te amo, do meu jeito, mas te amo!
Nada falei. Nada respondi.
– Você já pode ir embora! – falei, frio.
– Vou construir uma vida pra mim! Vou tentar encontrar o meu filho! Quero ver o rosto dele! Quero outra coisa pra mim, agora.
Achei engraçado que todo o amor que ele sentia por mim tinha ido embora...
– Adeus, Théo! Seja feliz!
– Engraçado que você acha que pode apagar tudo que você me fez com um simples pedido de perdão, né, Ícaro?
– Acho! Acho, sim! Eu sou assim, Théo!
– Ok, então! Vai lá, reconstrói a sua vida! Tenta me esquecer! Entre a gente nunca vai rolar nada, é impossível que isso aconteça. A não ser que você nasça de novo, seja de outro jeito, aliás. Caso não, será impossível!
– Abraços!
Ele foi embora. Foi, com ele, todo o meu amor e toda a minha atração que eu sentia. Vi que, pelo Ícaro, não sentia mais nada. Não rolava mais amor. E até gostei que ele tinha “terminado” comigo por causa do filho que ele mesmo tinha abandonado... Pouco confuso, mas deu pra decifrar!
Nos dias seguintes, ele retornou, enquanto eu não estava, e retirou todas suas coisas do meu apartamento. Meus pais se separaram e minha mãe voltou a falar normalmente comigo. Nunca mais tive notícias do meu pai, nem minha mãe ouviu falar dele. Ela, mesmo tendo seus 50 anos, encontrou um cara legal na pista de dança que ela freqüentava. Eles se conheceram melhor e tão juntos até hoje.
A cada vez que eu olhava pro quarto do Ícaro, me dava uma saudade de tê-lo ali, mas era só saudade mesmo. Não tinha amor. Era saudade com alívio de não tê-lo mais perto de mim... É, muito confuso isso!
Sozinho, naquela sala enorme do meu apê, encarei o telefone. Minha vontade era uma só: ligar pro Dan. Mesmo depois da nossa última conversa, vi que eu poderia encontrar, nele, um amor que eu sempre busquei. Liguei, e ele atendeu.
– Alô, Dan?
– Oi!
– É o Théo!
– Olá, cara, como é que você tá?
– Tô bem! E você?
– Ah, tô levando a vida!
– Então, será que você tá livre agora?
– Agora...?
– É! Queria te ver, colocar as notícias em dia!
– Cara, poder, a gente pode, mas não sei se dá!
– Onde você tá?
– Tô no Shopping!
– Tô indo aí!
Ele especificou o shopping que estava e eu fui até lá, depois de tomar um banho e me vestir com a minha melhor roupa. A saudade falou mais alto naquela hora.
Ele estava na praça de alimentação do shopping... Andei por lá até encontrar. Ao vê-lo, abri um sorriso naturalmente. Nada foi planejado. Ele me deu um abraço e me convidou para sentar. Nós começamos a conversar, e foi uma conversa bem gostosa. Ele me contou como estava a vida dele, e eu fui todo ouvidos.
Demoramos ali, levamos um papo amigo. Mas tudo foi pro ralo.
Estávamos na maior animação quando um garoto (uns 16 anos, alto, bonito, cabelo preto) chegou cheio de bolsas.
– Pronto, pai, terminei as compras! – disse o garoto.
Eu encarei o Dan, ele também me encarou. Ele não sabia o que dizer. Eu, com a maior cara de taxo, me despedi dele, dando as costas para alguém que eu nunca mais veria em minha vida. Alguém, esse, que significava muito pra mim. Eu saí e não olhei pra ele, apenas fui embora. Não, eu não podia, de jeito algum, ficar com o Dan enquanto ele tinha um filho. Ele tinha um filho pra criar. Ícaro tinha ido embora de minha vida justamente por causa de seu filho que ele tinha abandonado. Porque eu não escolheria Ícaro ao invés de Dan?
Meses se passaram e eu decidi mudar de vida. Vendi o apê onde morava, vendi meu carro, troquei-o num mais barato e que me dava menos trabalho. Meu pai, também, tinha parado de mandar a mesada, e eu tinha criado coragem pra enfrentar a vida com dignidade.
Aluguei um apê menor e menos luxuoso no centro, arrumei um trabalho em uma empresa de contabilidade e o salário que eu ganhava nem se comparava com a minha mesada, mas era o suficiente para a minha nova vida.
Um ano se passou. Eu tinha feito diversos amigos e minha vida não era mais dormir, comer e correr pelo condomínio. Ia pra balada, curtia no barzinho, paquerava, mas continuei sem ninguém. Matava as minhas vontades na mão mesmo...
Certo dia, fui ao supermercado fazer compras. Fiz compras. Comprei poucas coisas, mas as sacolas estavam pesadas demais. Coloquei-as no chão e abri a mala do meu carro. Quando olhei pra baixo, vi um homem me ajudando a botá-las dentro na mala. Olhei e tomei um susto. Era o Ícaro.
Seu visual estava completamente diferente. Estava com barba, estava com a aparência mais madura, mais bonito do que era.
– Te vi aqui e quis te ajudar, Théo! – falou terminando de por todas as sacolas no carro.
– Ícaro? – falei assustado.
– Não! Sou um novo Ícaro!
Não acreditei no que vi. Ele parecia ser uma nova pessoa.
– Nossa! Você tá diferente demais!
– Mudanças são necessárias, Théo! Você me mudou!
Fiquei espantado ao vê-lo. Não esperava nunca que ele fosse mudar para melhor visualmente... Ele me convidou para tomar um café, e eu fui. Já na cafeteria, conversamos.
– Obrigado por aceitar esse convitezinho!
– De nada! Me fala de você... Já faz um ano...
– Pois é!
– Como é que tá sua vida?
– Ótima! Tô solteiro, consegui ver o meu filho... Ele completou ano mês passado! É lindo o meu filho, Théo. O nome dele é Tiago! Pena que eu só vou poder vê-lo nas férias... Mas tô feliz mesmo assim! Sou independente mesmo!
– Que incrível...
E continuamos o papo. Vi, nele, uma nova pessoa. Uma pessoa totalmente diferente do que ele era antes.
– Você mudou mesmo!
– Fiz de tudo pra isso! Percebi que ninguém iria me querer se eu continuasse louco do jeito que eu era! Mudei completamente!
– Tô vendo...! – falei com sorriso no rosto.
– Mudei! Eu, praticamente, nasci de novo!
Olhei pra ele, ele olhou pra mim... Olhares significativos! Uma coisa eu digo: tome cuidado ao fazer seu amigo hétero se apaixonar por você! Se ele já for apaixonado, tome mais cuidado ainda. Ícaro e eu vivemos bem, agora. Os problemas se foram.