2ª PARTE
CAPÍTULO 4
AS HORAS:00h
Gabriel não sabia por onde começar a se perder.
Mike sabia que estava sentindo algo diferente e decidiu gostar disso.
Jorge roncava.
10:00h
Gabriel já tinha começado a se perder, mesmo sem saber por onde.
Mike comia um pão integral com ovos em frente a tv com Aaron.
Jorge roncava.
10:30h
Gabriel já tinha decidido que ia embora sem nunca comentar com Jorge sobre a situação da noite passada.
Mike caminhava pelo parque com Aaron.
Jorge roncava.
10:35h
Gabriel procurava no computador, passagens para aquele mesmo dia. Tinha decidido ir embora o mais rápido possível.
Mike caminhava no parque com Aaron.
Jorge rocava.
10:40h
Gabriel desistia de ir embora.
Mike caminhava com Aaron.
Jorge abriu os olhos e se lembrou o quão furioso estava noite passada, viu uma cadeira de rodas ao seu lado e agora sentia dor. Decidiu permanecer na cama por mais um tempo.
11:00h
Gabriel dançava ao som de Aretha Franklin pelo apartamento
Mike decidiu voltar para casa.
Jorge acordou ao som de alguém que batia na porta de seu quarto.
11:05h
Gabriel dublava Rumour Has it – Adele, de frente para o espelho.
Mike chamou Aaron e voltou para o carro. Assim que entrou, olhou para o banco do carona e se lembrou de Gabriel.
Jorge conversava com Débora no canto da cama
- Isso mesmo - dizia ela – Eu descobri anteontem na verdade, se for menino ele quer colocar o nome de Frederico Neto... uma homenagem.
- Que notícia maravilhosa – Disse Jorge
- Sabe que parte dele queria deixar “Jorge”...
- Ah veja só – Disse Jorge sorrindo emocionado – Esse Aurélio
- É, a mãe dele o convenceu que não...
- Que bom, eu prefiro...
- Mas você já fez tanta coisa pela gente, o pessoal todo sente sua falta – Débora, olhava rindo para Jorge, passando carinhosamente a mão na canela dele.
- Eu sinto falta deles também... como está o Aurélio?
- Ocupado! Como sempre... Mas empolgado, bobo alegre – Disse passando a mão na barriga.
- Imagino – O estado de Jorge não podia demonstrar o quão feliz ele de fato estava. - Fico feliz por vocês... eu não poderia me orgulhar mais...
- E os moleques? Vai levar os dois? – Disse Débora mudando de assunto e assumindo uma voz de quem estivesse prestes a dar uma bronca em alguém.
- E eu lá tenho escolha? Quanto mais eu tento me afastar de problema, mais eu acho... – Disse Jorge rindo.
- Hum, bom saber que você está bem... você demonstra estar bem... tirando o fato de estar de cama... Você parece.... Feliz. – Jorge riu – E esse novo problema... qual o nome dele mesmo?
- Gabriel!
- Gabriel... Nome bonito! Qual é o lance com ele?
- Gabriel é.... Gabriel é.... – Pensou Jorge inutilmente – é o Gabriel!
Débora pareceu confusa.
- E o Mike é o Mike – Disse sendo irônica
- Desculpa eu não poder ser mais claro.
- Tudo bem, eu entendo.... Leve eles na festa, eles vão se divertir... E você tem que apresentar esse Gabriel aí para o Aurélio.
- Pode deixar, eu levo sim... – Disse Jorge se ajeitando na cama. – Esse fim de semana, né?
- Isso! Esse Domingo. Dia 21. Às 21h. Salão da antiga igreja... – Disse Débora pausadamente e se levantando...
- Tudo bem, estaremos lá.
- Você já... vai estar andando até lá?
- Bom – Jorge olhou para as pernas com dó – Eu suponho que sim, mas se não estiver, o mínimo de muleta já poderei estar... enfim, eu estarei lá de qualquer jeito. Não se preocupe comigo.
- Tudo bem, sabe que qualquer coisa é só você me ligar, né? Dali até aqui é um pulo.
- Não se preocupe comigo – Repetiu Jorge – Eu sei me cuidar...
- Com aqueles dois tomando conta de você? – Perguntou Débora com um sorriso nervoso no rosto.
- Sim, enquanto eu tiver minha arma por perto sim! – Concordou Jorge.
- Inclusive... eu queria te perguntar uma coisa... eu acho que eu devo estar interpretando mal, ou algo assim, mas... – Débora parou de falar como se tivesse mudado de ideia sobre comentar sobre aquilo ou não...
- Sobre... – Disse Jorge percebendo a incerteza de Débora
- Quer saber? Deixa para lá.... Eu provavelmente
- Débora? – Disse Jorge usando a voz rouca dele para convencê-la, o que funcionou como sempre.
- Bom... é que ontem eu estava falando com os dois no corredor do hospital... E.... você não acha que tem algo por trás daquele desestendimento todo?
Jorge estranhou a pergunta de Débora, inicialmente achando aquilo um absurdo.
- O quê? O Jorge e o Gabriel? – Jorge riu, como se tivesse acabado de ouvir algo incrivelmente estúpido e sem sentido – Não, não! Claro que não.
- É realmente, eu acho que eu estava vendo coisas, não é?
- Claro – concordou Jorge – com certeza
- Mas você não acha que seria irônico? – Perguntou Débora se retirando do quarto
- Como assim? – Jorge repetiu a afeição de estranheza com a pergunta.
- Sim, em uma daquelas brigas que você e o Mike tinham, você disse pensar que talvez o Mike devesse achar alguém mais novo... e de repente você traz o Gabriel para dentro de casa... enfim, eu estou indo, até domingo! – E saiu, deixando Jorge numa suruba de sentimentos e pensamentos.
11:30h
Gabriel estava lendo no telefone, pedindo alguma coisa para comer, quando a moça do outro lado da linha pede para ele repetir o pedido, já que não conseguia ouvir direito por conta da buzina.
- Que buzina? - Gabriel nem tinha se dando conta de buzina alguma até a voz feminina no telefone comentar sobre o fato, quando se aproximou da janela para odiar quem quer que estivesse o atrapalhando de se encontrar com seu sushi, reparou que reconhecia aquele carro que estava buzinando em frente da sua casa. – Não quero mais nada não, obrigado. – Gabriel, jogou o telefone em cima da cama e correu para o espelho, depois abriu a porta e foi correndo para as escadas, porém entre um degrau e outro Gabriel parou para perguntar quem é que ele estava esperando. E se fosse Jorge? E se fosse Mike? Será que Mike tinha contado para Jorge o que aconteceu ontem no carro? Será que Jorge estava ali para tirar satisfações sobre o que tinha acontecido? Será que Jorge usou aquela arma em Mike e agora estava ali para um acerto de contas? Será que ele deveria mesmo ter cancelado o sushi? Gabriel não saberia explicar como foi de Sushi à cadeira de rodas, mas se lembrou que Jorge não poderia dirigir, fazendo com que Mike estivesse ali. Gabriel não sabia se corria, se andava, se engatinhava, se alguém perguntasse o nome dele, ele levaria um tempo pensando.
Lá estava o carro preto do outro lado da rua. O dia estava quente, mas nublado, as nuvens possuíam diferentes tonalidades de cinza, o tempo preferido de Gabriel.
- Oi! – Disse Gabriel, não se dando tempo para pensar propositalmente, enquanto se ajeitava no carro.
- Olá! - Disse Mike usando óculos escuros.
- Como está o Jorge – Gabriel vomitou as palavras como se fosse naquele instante que tinha se lembrado que Jorge estava acidentado.
- Bem – Respondeu Mike assustado com a pressa de Gabriel - ...na verdade eu passei aqui para te pegar...
- Oi? – Interrompeu Gabriel assustado
- ...e levar para ir ver o Jorge – Completou Mike sorrindo, revelando que tinha feito a pausa dramática propositalmente.
- Ah! – Gabriel se flagrou um pouco decepcionado – Claro! É... Você falou com ele hoje? Ele está bem? Ele ainda está zangado?
- Calma – Mike prestava atenção na rua – Nós ainda não nos falamos... quando eu saí de casa, ele ainda estava roncando.
- Aah... Ai meu Deus! Oi Aaron, nem vi você aí! – Gabriel passava a mão na cabeça do cachorro que nem dava atenção à ele, devido ao poodle felpudo que estava do outro lado da rua – Finalmente um heterossexual.
Mike riu, engatou a marcha e Aaron latiu, se despedindo do poodle.
- Sobre aquele beijo de ontem...
Gabriel se assustou com falta de consideração de Mike em não dar ao menos uma introdução ao assunto, abordando o tema que o enlouquecera a manhã inteira como se fosse um assunto comum, continuou mudo o encarando de olhos bem abertos.
- Que beijo? Ah o de ontem? Sei.... - Disse atuando.
- Eu... acho melhor a gente deixar para lá... tudo bem por você?
- Por mim? Sim claro! Aliás que beijo? Ahahah – Gabriel se sentiu mal, como se estivesse comido algo pesado sem ao menos ter gostado, começou a suar pensando na música da Adele, naquele carro e em pizza, só depois que passaram do terceiro semáforo em direção à casa de Jorge, percebeu que estava escondendo mais uma vez um segredo dele. Estava familiarizado com a situação, mas duplamente incomodado e culpado
Os dois conversaram sobre algo que poderiam levar na cama para Jorge caso ela ainda estivesse roncando quando eles voltarem. Mike descobriu que as habilidades de Gabriel na cozinha eram um tanto que inúteis, a não ser limpá-la. Decidiram que Gabriel lavaria a louça então. Justo.
12:00
Mike e Gabriel se surpreenderam ao chegar em casa e ver que Jorge estava parado na varanda. Nem feliz, nem triste, mas com uma afeição indiferente no rosto. Se não fossem os olhos abertos e o movimento da cabeça seguindo o carro estacionando, pareceria que ele estava dormindo pacificamente.
Aaron saltou do carro assim que ele foi estacionado, tendo consciência que Jorge estava machucado, só ofereceu a cabeça para ser apalpada, do seu lado. Jorge segurava um bilhete na sua mão esquerda quando viu Mike e Gabriel se aproximarem dele lado a lado. Ele achou que não estaria vivo para ver aquela cena: os dois juntos era algo que fazia sua barriga tremer. Obviamente ele não gostava de vê-los brigar, mas por alguma razão, ele sentiu como se os dois não brigando fosse ainda mais perigoso.
- Dormiu bem? – Perguntou Mike.
- Como um anjo – respondeu ele olhando para Gabriel, que desviou o olhar se sentindo duplamente culpado.
Jorge não conseguia ver sentimento algum nos olhos de Mike, mas era visivelmente perceptível que Gabriel estava escondendo alguma coisa. Jorge se lembrou das coisas que Débora o disse.
- E você Gabriel? Tudo bem? – Perguntou Jorge numa voz tranquila.
- Não, - Gabriel olhou para Jorge nos olhos – Eu estou me sentindo culpado... por tudo, por você aqui, pela bagunça que eu foz na sua casa.... Eu...
- Não sinta – Interrompeu Jorge – Eu estou bem, vou sair dessa cadeira de rodas em alguns dias.... Isso se vocês não me matarem antes – Disse abrindo um sorriso.
Gabriel riu aliviado, acho que não veria Jorge sorrindo dali um bom tempo.
- E o que é isso na sua mão? – Mike perguntou apontando – Débora?
- Exatamente.
- Quem é Débora? – Perguntou Gabriel.
- Uma amiga nossa – Mike atropelou Jorge que tinha aberto a boca para responder.
- Ela trabalhava junto comigo quando eu era...
- Delegado? Ela é policial também? - Perguntou Gabriel curioso.
- Bom, ela está afastada, descobriu que está grávida...
- Ela está grávida? – Perguntou Mike surpreso – Aurélio vai ser pai? – Mike abriu um sorriso
- Sim, ela está! - Respondeu Jorge censurando o tamanho do sorriso por conta da dor que tinha levado pela panelada ontem.
- Então o convite é para o casamento ou para um chá de bebê? – Perguntou Gabriel.
- Exatamente sobre isso que eu quero falar, - Jorge deu uma pausa e começou a explicar - Ela tem consciência que não vai caber no vestido se esperar até outubro como era planejado, aparentemente o vestido é importante para ela ou coisa assim... Eu não entendi essa parte direito...
- Então ela vai adiantar o casamento? – Interrompeu Mike.
- Sim! – Disse Jorge, já esperando mais uma interrupção de Mike.
- Quando? – Perguntou Gabriel cruzando os braços.
- Domingo agora – Concluiu Jorge tentando acompanhar a reação dos dois.
- Uau, que maravilha, quero dizer... uau! – Comemorou Mike – Festa! – Gritou estendendo os braços para cima.
- E ela deixou bem claro que quer que você vá também Gabriel. – Completou Jorge, feliz com a reação de Mike.
- Eu? Mas... mas... ela nem me conhece direito.
- Ela sabe que eu te conheço... E isso é o suficiente.
12:15
Os três estavam sentados na varanda, conversado sobre os mais novos planos para o fim de semana, enquanto Gabriel era atualizado sobre as personalidades de Aurélio e Débora, até que Jorge e Mike ouviram um ronco enorme vindo de Gabriel.
- Alguém está com fome! – Comentou Jorge rindo.
- É, eu não almocei...
- Sorte sua que Mike cozinha muito bem...
- É, ele comentou... Mas eu não sou muito bom com
- Vem, eu te ajudo – Mike se levantou e estendeu a mão para Gabriel se levantar, bem em frente a Jorge, que olhou para as mãos deles juntas e refletiu novamente sobre o que Débora havia dito.
Assim que viu os garotos entrando na cozinha, Jorge reparou que tinha dificuldade para passar no vão da porta com a cadeira de rodas, mas antes de pedir ajuda, ele parou e observou Mike e Gabriel formulando alguma coisa próximo ao fogão, qualquer coisa que saísse daquela química, mesmo horrível, seria feito com um absoluto charme.
Jorge não seria cego ou estúpido em negar que alguma coisa estava acontecendo ali, parte dele gostava de vê-los juntos, trocando conversas e ideias, porém parte dele sentia falta do segredo e da curta inimizade que tinham um pelo outro.
Se ele conseguisse andar novamente, as chances de ele dar meia volta, fechar a porta e sair daquela casa, eram grandes. Ele gostaria de saber o que estava sentindo, mas considerou no meio de suas pré alucinações, que aquele sentimento nem havia sido nomeado ainda. Ele se sentia triste por estar feliz, ele sentia uma espécie de ciúme, mas não sabia ao certo de quem. Qualquer sentimento que ele pudesse talvez ter descontrole sobre, valeria a pena respirar e contar até dez. Ele ainda sentia ciúmes, de alguma forma ele se apegou ao presente como se realmente fosse um presente.
Jorge inclinou seu corpo para a frente, fazendo força para passar pela elevação que o impedia de entrar em casa rolando, uma careta depois ele conseguiu entrar, decidido que qualquer situação a se levar dali para a frente, ele estria dentro.