2ª PARTE
CAPÍTULO 8
RESPIRA GABRIELPós sexo no chuveiro, agora os três estavam no sofá de frente para a televisão assistindo algo que nenhum deles prestava atenção. Jorge e Mike estavam sentados. Um em cada canto do mesmo sofá, enquanto Gabriel deitava entre os dois, com a cabeça sobre a perna direita de Jorge e os pés sobre o colo de Mike. Aaron deitava embaixo do sofá, dormindo sobre um tapete pequeno e colorido em formato oval.
- Tô morrendo de fome! – Disse Gabriel ali do meio.
- Tá afim de fazer algo Mike? – Perguntou Jorge sem mover a cabeça, continuando a olhar para a televisão.
- Eu queria comer algo diferente... Nada do que tem aqui em casa.
- Cansou de nós, é? – Brincou Gabriel.
Os três riram por um momento.
- Podemos ir comer sushi.... Vocês gostam de sushi? – Sugeriu Gabriel sem se mexer.
- Por mim, tudo bem – concordou Jorge
- Pode ser! – Disse Mike se levantando do sofá.
No caminho para o restaurante, próxima a rua principal, houve uma grande aglomeração de pessoas em um beco largo ao lado de um bar famoso na cidade, fato normal para o dia da semana, o que foi diferente naquela cena toda, foi o que se passou na cabeça de Jorge:
- Vamos parar aqui... A gente tem que começar a pensar num presente para o menino ou menina de Débora. – Procurando aceitação de sua ideia olhando pelo retrovisor.
- Isso! – Concordou Mike, olhando pela janela
- Legal, vocês dois arriscam algum chute? Menino ou menina? - Perguntou Gabriel.
- Menino! – Disse Jorge rindo estacionando o carro em uma rua depois.
- Menina! – Discordou Mike – olhando para Gabriel.
- Aaaah – disse Gabriel alternando o olhar para os dois – Toquei num ponto interessante.... Vocês dois já pensaram em...
- Filhos? – Completou Mike. – Óbvio..., mas o Jorge aqui...
- Não é bem assim, é claro que eu adoraria ser pai, adoraria mesmo, mas eu acho que na minha idade, eu já não tenho mais a energia e....
- Desculpinha... – Mike não deixou Jorge completar a frase – Está com medo, só pode...
- Pera gente – acalmou Gabriel entrando no beco com os dois – quais os meios que vocês utilizariam para...
- Eu sempre pensei em adoção – Disse Mike animado – Uma menina, acho que sei lá.... Me ver como pai dá um frio na espinha... Mas um frio gostoso sabe? Um medo bom...
- Você não se vê como pai, Jorge? – Perguntou Gabriel olhando para o outro lado.
- Me vejo sim, aliás.... Eu já me sinto um.... Eu vi Aurélio crescer e se tornar um homem, claro que não é a mesma coisa, mas eu tenho essa parte paternal que se sente satisfeita, entende?
Os três já tinham se adentrado completamente no beco e se misturado a multidão, lá observaram que era possível encontrar de tudo: desde frutas e verduras até artesanato e peças de roupas.
- Então vamos comprar roupas de bebê, azul e rosa, sabe? Sem esse negócio de azul para menino e rosa para a menina... vamos desconstruir essa regra aí.
- Possibilidades? – Riu Mike – eu vou me ater a meu palpite e comprar algo para menina que vai nascer, se Jorge quiser, ele que ache energia nesse corpo cansado dele e procure algo para o garoto... pro Aurélio talvez. – E parou em uma espécie de barraca que mostrava roupas para bebês.
- Eu vou procurar... um chocalho ou algo assim – concluiu Jorge se separando e deixando Gabriel ali no meio do movimento que não sabia bem ao certo para onde ir.
Uma hora passou voando e agora os três estavam no Mercado Municipal, ouvindo música ao vivo, um moço de barba grande cantava “Me sinto ótima” da Banda do mar. Sobre uma mesa quadrada preta, eles comiam como se a fome os possuísse, exceto Gabriel que prestava atenção na conversa de um casal atrás dele.
- Você tem que ir mesmo? - Dizia uma voz masculina.
- Eu tenho medo de que se eu ficar mais um pouco, você vai me convencer a desistir... E eu não posso me permitir isso. – Respondia uma voz trêmula feminina.
- Qual é o mal de ficar? O que eu tenho de ruim? – A voz masculina começou a ficar mais baixa.
- É que... Olha pra isso, Felipe, olha pra nós... que futuro a gente tem? Entende... e egoísmo, mas meu futuro é lá, eu estou lá e agora é tempo de pensar em mim.
Pronto, esses 13 segundos de atenção numa conversa paralela foram o suficiente para despertar em Gabriel o seu lado bipolar que ele tanto adiava. Tais palavras ou situação haviam desbloqueado nele uma séries de neuras ansiedade.
- Eu não posso fazer isso... – Disse ele tão baixo que nem ele se ouviu. – Eu não posso fazer isso - repetiu mais alto se afastando da mesa.
- Gabriel, você está bem? – Perguntaram Jorge e Mike olhando para ele assustados.
Gabriel estava suando frio e pálido, agora de pé ele olhava para os dois ali na mesa como se fossem estranhos.
- Foi algo que você comeu? – Perguntou Mike ainda assustado.
- Respira – dizia Jorge levantando.
- Eu.... Eu não posso fazer isso – Dizia baixinho se afogando e piscando freneticamente... eu... indo! – Disse indo em direção a porta.
Jorge tentou segui-lo, mas Gabriel era mais rápido, permaneceu então no lugar que estava seguindo o táxi, que Gabriel havia acabado de entrar, com os olhos.
- Relaxa, esse garoto é todo neurótico, na verdade até demorou para ele surtar.... Daqui a pouco ele volta. – Dizia Mike o alcançando segundos depois.
- Você acha? – Disse Jorge olhando para trás.
- Se não voltar, a gente busca. - Concluiu voltando para sua mesa.
Gabriel entrou em seu apartamento, tremendo e tentando colocar os pensamentos em ordem, pensando nas coisas que ainda faria aquele dia e decidindo também se haveria passagens para voltar para casa ainda aquela noite.
- Finalmente! – Disse um rapaz que estava sentado sobre sua cama.
Gabriel deu um grito momentâneo de susto e forçou os olhos por um segundo para ter certeza que ele era quem estava pensando.
- Rodrigo?