E parece que tem gente que não conhece preconceito no ambiente de trabalho, e o quanto isto prejudica o profissional em alguns momentos. Mas enfim...
Cap.4
Durante alguns segundos fiquei a olhar para ele. Gente, não é que eu nunca tenha gostado do Ricardo. Você não fica com uma pessoa por meses sem ao menos sentir um sentimento fraternal por ela. Mas sabem quando você não sente que aquela relação vai levar-te a algum lugar ? Assim era com o Ricardo. Eu coloquei na minha cabeça que o que tinha com ele era apenas sexo, de modo que eu não queria, nem conseguiria me meter numa relação com ele sem sentir ao menos uma paixão.
-Eu gosto de ti como amigo Ricardo !
-Sabes que não foi isso que eu perguntei... -falou, olhando no fundo dos meus olhos – olha para mim e diz que não há nenhuma chance de namorarmos.
-Não há chance nenhuma de termos um relacionamento Ricardo... - dizia, olhando para ele.
-Eu ainda não consigo acreditar nisso, não sei porquê...
-Acredite... Eu não estou preparando, não posso, e nem quero assumir uma relação com alguém. Namorar com alguém não está entre as minhas prioridades Ricardo ! - olhamos um nos olhos do outro novamente, e o olhar que ele portava era meio que indescritível para mim. Eu não conseguia dizer porquê ele me olhava daquela forma.
-Tudo bem Renato... Só queria te dizer que vou embarcar amanhã para Nova York. E que não pretendo voltar tão cedo. Estava disposto a largar e ficar aqui com você, mas já que você não quer, não vale a pena eu discutir. Adeus Renato – falou, para em seguida sair pela porta da sala.
TEMPO DEPOIS
Aquilo já havia acontecido algumas vezes. Em outras ocasiões, eu já havia despachado alguém que jurava amor por mim. Alguns poderão dizer que eu sou um insensível, mas eu sabia que faria a pessoa sofrer se não fosse desta forma. Sabia também que se não fizesse desta forma, dificilmente aquelas pessoas seriam felizes. Eu já tinha namorado com alguém sem paixão, e foi uma péssima experiência. Não queria cometer o mesmo erro. Não sei se acertei todas as vezes. Mas foi com a melhor das intenções de proteger o meu sucesso, a minha vida e os sentimentos meus e do meu pretendente.
-O que queria aquele homem que veio aqui hoje de manhã ? - Elias perguntava-me, durante o café da manhã.
-Nada... Era um paciente que queria viajar e perguntou se podia...
-E podia ?
-Sim... Ele já está praticamente curado, creio que não vá ocorrer nada demais...
MINUTOS MAIS TARDE
Assim que voltei do plantão, peguei André passeando pela minha casa.
-Oi mano – falei, dando um abraço nele - porquê não me avisou que viria aqui em casa ?
-Queria fazer uma surpresa. Já que estás trabalhando muito, vim cozinhar para você um pouquinho... Encontrei esta carta aqui debaixo da porta quando entrei. Parece que tem uma chave dentro – ele me entregou. O remetente, Ricardo.
-Obrigado – falei, abrindo lentamente a carta. Logo começei a ler.
“Quando estiver lendo esta carta, já devo estar embarcando para Nova York. Só gostaria de dizer-te que te amei demais Renato. E espero que seja feliz desta forma que escolheu. Eu te faria feliz, mas prefere o trabalho a felicidade. Espero que apareça outra pessoa como eu na sua vida, e que esta te faça feliz. E nunca mais te procurarei. Junto com a carta esta a chave da sua casa que deste para mim. Com Amor, Ricardo”
Junto da carta, tinha uma foto nossa. Não sei porquê, mas algumas lágrimas vieram aos meus olhos naquele momento.
-E aí ? O que resolveu com o Ricardo ?
-O que já esperava resolver. Ele se foi trabalhar nos EUA.
-Mas porquê Renato ?
-Porquê sim André. Eu não quero, não está nos meus planos iniciar um relacionamento com alguém.
-Mas ele parecia gostar tanto de você ? Será se você não deixou a felicidade escapar pelas mãos meu irmão ?
-Ai André, eu não sei... Eu não posso prever o futuro. Para o momento é isso, se eu tiver feito uma escolha errada, é uma pena. Agora por favor, vamos parar de falar isso, já chega de tanta pressão vindo de todos os lados sobre mim. São um monte de pacientes no hospital, você, o Ricardo... Quero paz pelo menos hoje !
-Tá bom mano, eu não vim aqui para extressar-te...
TEMPO DEPOIS
Comiamos sobre a mesa, conversando sobre diversos assuntos.
-Deviamos marcar para irmos na praia qualquer dia desse.
-Não vamos porquê você não quer bonitão, por mim já tinhamos ido. Chamamos o Elias e vamos nós três.
-Ok então, vamos os três naquelas praias depois de Campo Grande, que são mais vazias.
-Então pronto...
-Sua comida está tão gostosa André...
-Ai, obrigado... - lembrei-me naquele momento de algumas outras vezes que Ricardo havia cozinhado para mim, e como ele parecia animado com aquilo. Já via que não conseguiria de modo algum esquecê-lo aquela noite. Tinha medo de ter cometido um erro, de ter feito algo de errado – está me ouvindo Renato ?
-Ã ? Sim, estou... - de repente então meu celular começou a tocar. Quando olhei no visor, era o Elias.
-E aí ? Vamos para a farra ?
-De novo ?
-E tem dia para ir para a farra ?
-Tem... Fim de semana...
-Ah, deixa disso e vamos, eu sei que você não tem plantão amanhã e eu não quero sair sozinho... Vamos logo ! - parei por alguns segundos para pensar e vi que aquilo poderia ser uma boa chance para esquecer um pouco o que acontecia naquele momento.
-Tá bom Elias, que horas vai passar aqui em casa ?
-Umas 21h30, e aí a gente sai..
-Ok... - ri – Elias querendo sair comigo...
-Ah é ? Então vá... Acho que vou dormir aqui...
-Ah é ?
-É... O meu carro está muito ruim, amanhã de manhã vou ver se levo na assistência.
-Ok então, seu antigo quarto está arrumadinho – dizia, sorrindo.
-Tá bom...
TEMPO DEPOIS
Arrumei-me rapidamente e fiquei esperando o Elias chegar.
-Já está pronto Renato ? - ouvia a voz dele a entrar pelo apartamento.
-Já... - falei, saindo rapidamente do quarto – vamos ?
-Vamos...
MINUTOS DEPOIS
Na balada, fui direto para o bar.
-Ê rapaz, que ímpeto é esse por bebida ? Estás mal assim porquê ? A mulher que visita a sua casa aprontou algo foi ? - olhei para ele com os olhos cerrados.
-Não me encha a paciência hoje Elias. Eu quero apenas beber. Beber até cair...
-Que milagre é esse, quase nunca bebe muito.
-É, mas hoje quero beber – falei, pedindo em seguida um drink para o barman.
TEMPO DEPOIS
Depois de várias bebidas, já não estava enxergando bem e estava rindo de tudo.
-Já viu aquelas duas garotas ali ? - ele dizia
-Quais ?
-Aquelas duas ali caidinhas por nós...
-São bonitas né ? Já queres meter em alguém ? - rimos juntos
-Ué, e porquê não...
Alguns segundos depois, já percebia que ele estava se atirando as moças.
-Tenham certeza, vocês não vão se arrepender, não vão... - ri,deixando o copo sobre a mesa.
-Vocês são casados ? - elas perguntavam...
-Casados ? Casados... - olhavamos um pro outro, rindo. Logo elas se foram...
-Já chega Elias, é melhor irmos embora...
-Embora porquê ? Ainda está cedo.
-Olha o nosso estado, nem enxergando direito mais estamos...
-E agora, nem lembro mais onde deixei o carro...
-Melhor irmos de táxi, ou então o carro fica no caminho.
-Tá bom... Mas como vamos nesse estado ?
-Damos um jeito... Vamos embora Elias...
TEMPO DEPOIS
Chegavamos no meu apartamento aos trancos e barrancos.
-Te segura direito caramba, ou então vamos os dois pro chão.
-Estou me segurando, tu que não está... - abri a porta e fomos entrando – que merda Renato ! Queria ter ficado com aquelas duas que estavam no balcão.
-Fala baixo, o André está aí hoje...- ele ao entrar já foi caindo no chão, quase me leva, nunca tinhamos ficado tão bêbados a este ponto.
-Tá... Ai Jesus, bebi demais, amanhã não vou nem acordar... - riamos de tudo, até da voz um do outro
-Você já tá acostumado, eu é que vou ficar mal...
-Acostumado nada... Você já me viu bêbado a ponto de não conseguir andar direito ?
-Já, muitas vezes...
-Sério ? Minha memória não está a funcionar...
-Olha Elias... Digo te uma coisa apenas... Não sei o que seria de mim hoje se não fosse você...
-Eu sei bem onde iria parar... Na cama com aquelas duas... - riamos novamente...
-Olha para mim, estou falando sério... Tu é um grande amigo para mim, ouviu Elias, um grande...
-Eu sei... Eu sei que sou um grande amigo... Tu também é viu... Um amigão para mim, ouviu Renato ! - nos abraçavamos, estavamos completamente bêbados, nem mais noção do que falavamos.
-Esse dia foi tão ruim – dizia abraçando ele fortemente – só tu mesmo pra aturar este bêbado...
-Conta-me logo o que está acontecendo... Sou teu melhor amigo...
-Eu... Eu não quero falar Elias... Gosto muito de ti também, por isso é o meu melhor amigo..
-Eu também... Gosto muito de ti... - ele riu – que viadagem estamos a dizer Renato... Olha a que ponto chegamos... - de repente então em meio a um falatório inintendível, caimos um sobre o outro no sofá. Minha visão estava turva, porém eu podia sentir perfeitamente. De repente, ele beijou-me.
Continua
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