MESA PRA TRÊS 2ª PARTE CAP 13 - NÃO MATEM O URSO III

Um conto erótico de Cookie
Categoria: Homossexual
Contém 4258 palavras
Data: 07/06/2016 12:05:53

2ª PARTE

CAPÍTULO 13

NÃO MATEM O URSO III

1º/:00h

Um fundo escuro servia como plano de fundo para uma mesa pequena com duas cadeiras vazias ao redor, uma olhada mais de perto e ali surgia um pano de mesa quadriculado vermelho que combinavam com as almofadas das cadeiras, sussurros surgiram de longe e um porco com uma grande maçã vermelha estava sendo servido para ninguém ali naquele local. De repente um rapaz se aproxima, puxa a cadeira e senta, arranca uma parte do corpo com a mão, olha para o pulso sem relógio, e continua comendo, instantes depois uma mulher num longo vestido de gala verde musgo afasta a cadeira da mesa e se senta, com garfos e facas e ela retira um pedaço do porco e deposita sobre o seu prato.

O homem negro que se encontrava num uniforme de polícia azul escuro diz com a boca cheia:

- Então... O que você acha que ele deve fazer?

A moça de bochechas rosadas e cabelos preso por um lápis, fez uma pausa, esperou terminar e mastigar e respondeu:

- Eu já dei minha opinião antes – disse ela escondendo o sorriso parecendo absolutamente séria. – Mickey!

- Hum, - resmungou o rapaz olhando para o porco – Pode me dizer o porquê novamente? – Continuou ele com a boca cheia.

- Por que é amor! Ele se casou com ele... Ele o ama! – Disse a moça convicta – Esse outro aí é só uma... distração para os problemas dele, ele deveria focar no que ele se esforçou para fazer, ele enfrentou situações extremamente difíceis para chegar onde chegou, passou por muita coisa, ele deveria escolher Mickey, assim como escolheu anos atrás.

- Ele o ama? – Disse o rapaz sorrindo ao terminar de comer parte da perna do porco – Então porque ele está com o outro?

- Gabriel? – Perguntou a moça se sentindo surpresa

- Isso! – Respondeu o rapaz exibindo um enorme sorriso.

- Bom, isso é só uma dessas coisas que você homens fazem! – Esbravejou fechando os olhos – vocês conseguem parar para raciocinar quando sente...

- Tesão? – Disse o homem não alterando o sorriso na cara – Você ia dizer tesão né? – Continuou desmanchando aos poucos a risada – Mas sabe, eu diria o mesmo... Mas ele disse que o ama sabia? E se ele quiser passar o resto da vida com ele?

- Isso seria impossível, Jorge nunca pediria para esse aí ficar –

- Por que não pediria? E se ele ficasse, seria tão ruim assim? O que de pior poderia acontecer?

- E Mickey? – Disse a mulher se alterando – E onde fica Mike nessa história toda? Ele vai dividir?

Não, ele não quer dividir Gabriel com ninguém, mas Mike ele divide – Disse, mirando outra parte do porco.

- Você não faz ideia do quão ofensivo é isso? Tá achando que eu... aliás Mickey... sou o quê? Desculpe, ele é o quê? Um brinquedo velho que ele não quer mais? Que pode jogar fora?

Jorge se aproximou daquela mesa que tinha um ar violento sobre.

- Elaine? Frederico? – Timidamente – que saudades, eu... eu... posso me sentar?

Elaine e Frederico permaneceram imóveis e como se fosse mágica, os cabelos de Elaine começaram a cair até revelar sua cabeça pelada ainda imóvel. Jorge estranhou aquele fenômeno ocorrendo ali e então olhou para Frederico que agora olhava para ele enquanto sangrava pelo peito.

- Você já fez demais por nós, Jorge – Disse ele numa voz grossa, exibindo seriedade.

- Essa mesa aqui é para dois – Concordava Elaine – Agora é hora de acordar – Disse ela tocando no braço dele.

Jorge acordou no quarto do hotel, olhando para o teto e demorando para reconhecer onde estava, assim que o fez, uma dor eminente invadiu seu corpo de tal maneira que o fez fechar os olhos por alguns segundos, na esperança de que ela passasse. Um desespero por água de repente o superou e num movimento aparentemente dolorido ele moveu o pescoço e viu uma jarra de água cheia, próximo a um copo de plástico transparente que se localizavam acima de um criado mudo de uma gaveta só. Com um esforço ele tentou se levantar, mas sua cabeça pesava toneladas, desistiu no meio de sua tentativa, resolveu sentar então. Encostou as costas sobre a parede e soltou um respiro aliviado, a dor de cabeça parecia ir e voltar como ondas, porém cada vez que voltava, a dor ser mais profunda. Ao estender a mão para alcançar a jarra percebeu que um corte pequeno sobre sua mão o chamava atenção para um sangue seco, ele então imediatamente se lembrou de Mike quando voltara de visitar seus pais, teria ele brigado com alguém? Despejou boa parte da água fora do copo, virou num gole só. Onde estariam Gabriel e Mike? Transando talvez, refletiu Jorge se sentindo depressivo.

Foi quando fechou os olhos mais uma vez ao sentir que uma nova onda de dor de cabeça se aproximava que Jorge começou a receber em imagens a memória do que havia acontecido na noite anterior, ele se recordava de Tom bebendo, logo depois o socando, mas o que teria acontecido nesse meio tempo? Jorge sentiu como se pudesse se preocupar com isso mais tarde, no momento precisava repousar, dormir talvez, e acordar bom, essa não era a primeira vez que ele tinha se sentido traído pelo seu corpo, esse tipo de coisa vinha acontecendo recentemente, ele sabia que a juventude não era algo que o pertencia, apesar de se sentir como tal, mas se assumir velho era algo que arranhava sua garganta, que por sinal, já estava seca novamente. Dessa vez, com o copo cheio, virou mais um gole, deitou novamente e adormeceu

A porta do hotel se escancarou com violência, Mike e Gabriel surgira no meio daquela claridade que queimava seus olhos e seu cérebro.

- Jorge, Jorge.... Você está bem? – Perguntou Mike muito rápido.

Jorge acordou num susto arregalando os olhos.

- A gente estava com o Tom lá no hospital – Disse Mike mais tranquilo – Ele deu um susto na gente, mas já está bem.

- Faz tempo que você acordou? Desculpa a gente não estar aqui, mas é que o Mike chamou o amigo dele e a gente não podia deixar o Tom lá, já que ele estava daquele jeito...

- O Lucas veio? – Perguntou Jorge reorganizando a mente e mais rouco que o normal – Por quê?

- Eu o chamei porque estava desesperado, como o pai dele já foi médico e ele faz enfermagem achei que ele podia ajudar, depois que pensei que Tom estava morto eu... eu não sei porque pensei nisso na verdade, mas eu pensei em sumir com o corpo e ia pedir pra ele... Enfim... depois que vi que o Tom passava bem, eu liguei pra ele avisando que não precisava mais vir, mas ele disse que ele estava vindo mesmo assim, o que acabou sendo útil... E agora ele está com o Tom lá no hospital... que inclusive está um caos.

Gabriel olhou para Mike concordando com quse tudo que ele dizia exceto a parte de econder o corpo.

- E... – Começou Jorge – Colocando a mão na cabeça.

- Eu estou bem Gabriel – mentiu Jorge arriscando um sorriso – Só com uma dor de cabeça forte.

Gabriel abraçou Jorge que começava a se sentir confortável – Que bom que você está bem, eu fiquei tão...

- Então você já pode nos dizer... – começou Gabriel de braços cruzados em pé próximo a ponta da cama obviamente incomodado com a cena - ...o que infernos aconteceu?

Jorge sabia que tinha se enfurecido com Tom, mas pareceu sincero quando respondeu:

- Desculpa decepcionar vocês, mas.... Eu... eu não sei.... Nós estávamos bebendo muito, começamos a pedir mais daquela bebida que... que vocês... pediram, viramos muitas doses daquilo, eu acho que mais de uma dúzia cada, depois... – Jorge fazia uma careta como se a dor estivesse se tornando ainda mais aguda – ... é um branco que eu... Eu não tô negando o que eu fiz, eu sei que eu e Tom nos.... desentendemos e brigamos, mas eu não sei dizer... o porquê...

Mike desacreditaria da história facilmente se não fossem os seus apagões depois de algumas noitadas com Lucas no norte do país, mas mesmo assim sentiu que havia algo no ar, Jorge mentia mal, talvez por isso fosse tão ruim em alguns jogos de cartas e relacionamentos, Mike reconhecia a mentira nele naquele momento, porém levou em consideração que Gabriel ainda estava passando por um processo de aceitação com a vida a três, então resolveu não se pronunciar e aceitar as palavras de Jorge.

Gabriel olhava para Jorge com culpa e solidariedade.

- Você quer alguma coisa? Ó, tem uns remédios aqui nesse bidê – e abriu a pequena gaveta, tirando de lá, dois envelopes com comprimidos brancos.

- Não, nada! Obrigado, agora eu só quero dormir...

- Tudo bem, nós.... Vamos comer alguma coisa e já dormir também.... Foi uma noite difícil, está com seu telefone aí?

Jorge já nem lembrava que sentia ciúmes de Mike e respondeu com os olhos fechados apalpando o celular que estava sobre o lençol. A gente já volta ok?

Assim que se aproximaram na caminhonete Mike se dirigiu a Gabriel.

- Acreditou?

- Claro! – Respondeu Gabriel que evitava olhar Mike nos olhos quando respondeu. Gabriel tinha plena consciência que a história tinha falhas absurdas, porém concordar com Mike naquele momento seria dividir com ele mais um segredo, agora sobre algo particular remetido a Jorge, isso seria demais para ele. Concordou para não tocar mais no assunto.

Mike e Gabriel estavam tão cansados que contaram os segundos para terminar de comer e voltar para a caminhonete que nunca havia sido tão desejada antes, Aaron estava no banco de trás com uma aparência igualmente cansada, eles o alimentaram com ração depositando num pedaço de papelão, também o deram um pedaço de carne e água. Estacionaram próximo a uma praça com a porta semiaberta e ali dormiram por mais de 8 horas.

15:00h

Mike babava no seu próprio ombro quando foi acordado por Gabriel.

- Mike... acorda... A gente dormiu demais...

- Oi? – Disse Mike ainda bobo com a situação tendo sua consciência voltando aos poucos.

Gabriel olhou para o celular e se sentiu aliviado e preocupado ao mesmo tempo por não ter nenhuma mensagem ou ligação perdida.

- Relaxa! Ele deve estar roncando ainda. – Disse Mike olhando para trás conferindo Aaron enquanto bocejava.

- Enfim.... Acho que a gente deveria checar o Tom, Lucas não te ligou?

- Ai tá bom, já tô indo... - Reclamou Mike se ajeitando - Ereção matinal, quer dar um trato?

- Cala boca, Mike! – Disse Gabriel zangado abrindo a porta do carro!

- Que foi? Aaron te intimida? – Perguntou rindo.

Assim que chegaram ao hospital a sensação foi a que estavam num local totalmente diferente, pois a imagem que obtiveram da primeira vez era caótica e ver aquele lugar limpo e calmo deu a eles uma sensação de estranheza, pois era possível olhar para o rosto das pessoas sem se sentir amedrontado ou ameaçado, o lugar estava quieto, ninguém gritava, chorava ou vomitava pelo chão, as paredes estavam limpas e o piso brilhava encerado.

O som mais alto que se ouvia ali era o da televisão que se encontrava na parede da recepção, uma moça em pé apresentava o mapa do Brasil, alertando sobre a tempestade do dia seguinte.

Os dois passaram pela recepção com facilidade e se flagravam ansiosos para ver como Tom estava.

- 31, né? – Perguntou Gabriel.

- Aham – Disse Mike, sem olhar para ele.

Os dois passaram pela porta de número vinte e oito e começaram a aumentar os passos devido a distância encurtada. 29,– Aqui! 31! – Assim que abriram as portas, viam uma maca vazia que não possuía sinal algum de que alguém enorme estava repousado ali.

Os dois se entreolharam e encararam novamente aquele espaço sem sentido.

- Como assim? – Perguntou Gabriel confuso

- Algo muito estranho aconteceu aqui – Disse Mike com um mistério no olhar.

- Você acha que... – Gabriel arregalou os olhos imóvel

- Morreu? Não! – Lucas já teria me ligado. – Concluiu Mike retirando o celular no bolso e discando.

- E se o celular dele não funcionou? – Perguntou Gabriel ainda preocupado.

- Não, ele ainda está aqui, eu vi o carro dele lá no estacionamento.

Um barulho começou a se mostrar estridente em algum lugar daquele recinto.

- É aqui? – Duvidou Gabriel com a voz baixa tentando seguir a sonoridade.

O barulho levava acesso a uma porta de madeira clara que os dois ainda não haviam percebido estar ali. – Aqui? – Estranhou Mike – Deixa eu abro.

Assim que abriu a porta Gabriel e Mike se depararam com a bunda peluda de Tom, que estava em pé penetrando Lucas que se apoiava com os dois antebraços na pequena pia abaixo do minúsculo espelho na parede.

- Ai... meu...Deus! – Disse Gabriel enquanto Mike olhava para aquela cena surpreso.

- Que porra é essa? – Disse Mike abrindo o sorriso e não desviando o olhar do ato.

Tom demorou para notar que estava sendo assistido e levou um susto enorme quando reparou a presença de expectadores ali naquele banheiro, Lucas arregalou os olhos e mudou de expressão radicalmente, fechando a porta num estouro.

- Ai... meu... Deus... – repetiu Gabriel com a boca aberta – como... Por.... Como... Eu... Essa porra é gay?

- HAhahah – Mike ria olhando para a porta.

- Essa porra é gay esse tempo todo? - Reperiu Gabriel ainda em choque.

- Isso ou Lucas tem um rabo mágico! – Disse Mike rindo ainda mais, fazendo com que Gabriel percebesse quão estúpida sua pergunta, apesar de retórica, foi.

- Não, pera.... Meu cérebro não está aceitando o que eu acabei de ver aqui. – Disse Gabriel se sentando na maca que havia visto Tom pela última vez.

- Bunda peluda né? – Disse Mike tentando ficar sério.

- Mike! – Esbravejou Gabriel – Isso pode ter algo com o que aconteceu ontem...

- Ahá, eu sabia que você não tinha acreditado no Jorge também!

Gabriel ficou ainda mais surpreso com o que tinha acabado de dizer.

- Mas não temos de discutir isso agora, eu quero ir para casa – Disse Mike dando pouca importância para o assunto. – Eei! – Batendo na porta do banheiro – Cobre essa bunda, guarda esse pinto, que eu quero ir para casa! – E dava gargalhadas cada vez mais altas

Gabriel cobria o rosto com as mãos de vergonha, mas parecia estar se divertindo com a situação.

Logo a porta se abriu, Tom e Lucas saíram dali, Tom ajeitando seu cinto e Lucas com o olhar meio sem graça e um sorriso amarelo.

- A gente estava... – começou Tom

- Jogando bola? – Ironizou Mike.

- A gente sabe o que vocês estavam – Concluiu Gabriel – enfim, a gente veio até aqui para ver se vocês estão bem, o que aparentemente estão – enfim, nós vamos esperar vocês lá no estacionamento...

Tom nunca esteve antes tão vermelho, ele parecia estar da cor do cabelo de Lucas, os dois olharam um para o outro envergonhados e ouviram o barulho da porta fechar.

Mike e Gabriel entraram o carro gargalhando tão alto que todas as pessoas que estavam ao redor o encaravam, os dois poucos se importavam, pelo contrário, riam ainda mais. Aaron latiu quando ouviu aquele som ali dentro da caminhonete.

- Aquela bunda gigante não sai da minha cabeça, como que.... Você me disse que ele não era gay...

- E para mim não era mesmo... - Disse Mike rindo e surpreendido.

- Você acha que ele e Jorge já...- Começou Gabriel.

- Não, Jorge teria me contado.... Eu desconfio que nem o Jorge saiba...

- Jorge te conta tudo? - Incitou Gabriel.

- Ele me contou sobre você... - Respondeu Mike depressa.

- Ah sim!

- Não vai me perguntar o que ele disse? - Mike perguntou com a intenção de provocar Gabriel.

- Não acho que haja alguma coisa que eu já não saiba. - Disse Gabriel surpreendendo Mike que esperava algum drama.

O silêncio depois dessa frase foi algo estranho e intenso, pois os silêncios anteriores eram resultados de situações embaraçosas, desconfortos e surpresas, mas dessa vez o silêncio era proposital, amargo e interno.

- Tudo está acontecendo tão rápido, você não acha? – Perguntou Gabriel verificando Aaron pelo retrovisor.

- É! - Concordou Mike pasando a mão obre bolso e recolocando um pedaço de papel que estava prestes a sair.

- Pois é.... – Surpreendeu-se Gabriel pela resposta seca que ouviu de Mike. Uns minutos se passaram ali, era possível ouvir o barulho da cidade inteira daquele estacionamento, mas Gabriel só reparou na respiração de Mike, que ia ficando mais intensa conforme sua vermelhidão.

- Você vai voltar? - Perguntou Mike sem olhar para Gabriel.

Gabriel demorou um tempo para entender ao que ele se referia.

- Oi?

- Voltar, você vai voltar? Pra nos ver... Depois que você ir embora?- Perguntou novamente deixando claro que havia grosseria em sua voz.

- E.... eu não sei... Mike.... Eu não pensei nisso aind-

- Por que eu não quero que volte! - Disse Mike interrompendo Gabriel.

Gabriel encarou Mike surpreso com o que tinha acabado de ouvir, sue queixo começou a tremer e sentia um aperto dentro de si. Aaron emitiu um barulho como se quisesse atenção, que não foi recebida em momento algum,

- Me... Desculpa.... Eu só... - Começou Mike.

Mike agia como se estivesse prestes a explodir, dar um berro ou bater em alguma coisa, mas ele virou violentamente e agarrou Gabriel ali naquele carro em frente de Aaron que deu dois latidos escandalosos.

- Eu acho que... – interrompeu Gabriel - ...a gente não devia...

Mike olhou para ele assustado se sentindo ofendido com a recusa da parte de Gabriel.

Antes de ter a oportunidade de dizer algo, os três ouviram as duas portas traseiras da caminhonete se abrirem e duas pessoas entrarem nele. Tom e Lucas voltaram ao carro, fazendo com que Mike voltasse a sua posição inicial tentando se convencer de que aqueles últimos minutos ali não tinha acontecido.

- Vocês voltaram... – Disse Mike convertendo sua interjeição de susto num sorriso.

- Demoraram heim... – Comentou Gabriel disfarçando seu queixo tremido.

- Terminaram de fazer o que a gente interrompeu? – Mike olhava para eles pelo espelho dentro do carro.

Aaron deu alguns latidos lambendo o rosto de Lucas, como se estivesse rindo a situação também.

- Bom... – começou Tom

Mike e Gabriel se assustaram com a manifestação do autor da voz grossa e pararam de rir para prestar atenção no que ele tinha a dizer.

- A gente estava pensando e....

- Nós não vamos embora – completou Lucas vomitando o resto da frase como se estivesse entalado na sua garganta.

Mike e Gabriel reagiram espantados a notícia.

- O quê?

- Como assim?

- Lucas, você tem casa, família, namorada... – Disse Mike assustado

- Por quê? – Perguntou Gabriel olhando nos olhos de Tom.

- Opa, opa, opa... – Disse Lucas – vocês querem nos ouvir?

Mike e Gabriel de repente pararam de se mover dentro do carro, causando em Lucas um desconforto cômico.

- Tom, pode falar! - Disse Lucas sentindo-se envergonhado pela atenção.

Tom se surpreendeu com o que ouviu também.

- Bom... devido à recente descoberta da... – Mike se sentia tão ansioso e irritado com a vagarosidade na voz de Tom.

- Que é gay, homossexual, viadão, chupa uma rola, gosta de uma pica, aham, segue em frente para a parte que interessa e nos surpreende Tom! – Disse Mike rapidamente parecendo grosso.

Mais uma tonelada de silêncio foi depositada ali, onde só se ouvia os risos abafados de Gabriel sobre as duas mãos.

Tom limpou a garganta fazendo um som alto e obviamente se sentindo envergonhado, tentou continuar:

- Bom... Eu, enfim, gay... – foi possível ouvir uma suavidade em sua voz depois dele dizer essa palavra – Eu não tenho motivos pelos quais voltar.... Minha prole não vem me visitar, meus netos não lembram meu nome e minha mulher... Bom, ela é uma vadia!

Mike acenou com a cabeça e pareceu concordar com tudo o que ouviu.

- Bom, isso pareceu ser um bom motivo para mim... E para você, Gabriel?

- Me ganhou! - Concordou Mike.

- Mas e você Lucas? – Perguntou Mike voltando toda sua atenção para o ruivo do carro.

- Bom, eu peguei minha namorada dando para os meus amigos e descobri que ela talvez esteja grávida do meu pai! - Disse calmamente.

Gabriel e Mike reagiram com uma incrível naturalidade ao ouvir aquilo, Aaron encarou Lucas com empatia e deu uma lambida no seu rosto.

- Te ganhou também? – Perguntou Gabriel para Aaron.

- Interessante! – Disse Mike.

- Gente – recomeçou Lucas – eu sei que isso parece ser repentino, e é mesmo, a gente sabe que as chances de essa ser uma decisão estúpida é enorme, mas...

- Nós ficamos horas conversando... – Tom surpreendeu novamente com sua tonalidade de voz rouca – E ouvindo um ao outro percebemos quão miseráveis nós estávamos sendo...

- A gente só não quer mais, entende? - Havia auto misericórdia em Lucas.

- Aham, essa parte eu entendo... e até concordo com vocês, mas é essa a vida que vocês estão tentando alcançar? Fugindo? Qual é o plano a partir daqui? Como vai ser quando a família de vocês os procurarem...

- A gente entende que as coisas não são tão simples assim, Mike – Lucas interrompeu Mike – eu vou achar uma maneira muito boa de mandar um recado para minha família, além do mais eu tenho um dinheiro bacana no banco que salvei durante todos esses anos para um futuro casamento meu com a..... Com aquela vadia – Disse grossamente olhando para Tom e recebendo a aprovação pelo palavreado – Não é grande coisa, mas é o suficiente para se começar uma nova vida...

- Na cidade, tem uma loja bem grande de antiguidade onde eu notei que eles precisam de um marceneiro, amanhã eu vou lá.

- Então vocês vão ficar por aqui? – Perguntou Gabriel?

- Sim! – Disse Tom voltando a ser monossílabo

- E gostaríamos de contar com a discrição de vocês, por favor... – Pediu Lucas.

Mike e Gabriel se entreolharam e viram nos olhos um do outro uma empatia reflexiva.

- Relaxa! – Sorriu Mike

- Vocês podem contar com a gente... – completou Gabriel.

Mike e Gabriel receberam um grande afago no ombro pelas pesadas mãos de Tom que tinha seus olhos minúsculos lacrimejando.

- Ah tem outra coisa...

- Diga, Grande Tom! - Esbravejou Mike.

- Eu gostaria que vocês levassem minha caminhonete embora.... Depois se livrem dela, por favor.

- Sério Tom?

- Poxa, é uma caminhonete tão legal – Disse Gabriel

- Sim, ela me acompanhou por toda a vida, Beth quase deu à luz nela, mas.... Ela faz parte de um passado que eu quero esquecer e não cabe num futuro que eu pretendo... vocês precisam de um meio de transporte para levar vocês, encarem isso como um agradecimento, eu acho leal da parte dessa banheira ter como último desafio levar vocês para casa... é isso.

- Uau – Disse Gabriel olhando pra Tom meio bobo – você já pensou em escrever poesia!?

- Que isso, Gabriel? – Disse Mike olhando para Gabriel perplexo.

- Nós estamos indo, temos uma vida para começar – Disse Lucas com uma mão na mão de Tom e outra na porta.

- Mas já!? – Perguntou Gabriel surpreso.

- E por que não? – Respondeu Lucas retoricamente.

- Deem um abraço no Jorge por mim e digam que eu sinto muito. – Disse Tom saindo do carro e batendo a porta com cuidado.

Tom saiu do carro, passou a mão na porta com carinho, sorriu de lado e se afastou de mãos dadas com Lucas.

- Uau! - Disse Gabreil animado.

- Pois é... Ele está voltando, será que ele esqueceu alguma coisa?

- Talvez...

Lucas voltou correndo, se apoiou no lado de Mike e disse rapidamente:

Ele disse que vai mijar em mim hoje! – E voltou a dar as mãos para Tom, sumindo de vista.

17:25h

No hotel, Jorge tentava dormir novamente tentando retornar a um sonho que ele não tinha certeza sobre o que era. Tinha a sensação de ter entrado em um loop temporal cujo qual o tempo não passava, ele já nem sabia se estava dormindo ou não, se aquilo era sonho ou pesadelo. Um vazio o abocanhava e ele nem sabia ao certo o que sentir além da sede.

Gabriel e Mike finalmente chegaram, ele se lembrou que havia de sentir ciúmes, mas ignorou novamente o sentimento rejeitado e diluído. Assim que ouviu dos dois tudo que tinha acontecido, esboçou uma reação conformada, como se tudo o que tivesse ouvido não lhe fosse surpresa e sim um plano arquitetado a muito tempo atrás, Jorge então absorveu aquilo e ficou feliz pelo amigo Tom. Os três arrumaram tudo o que tinham que arrumar e partiram dali, mas antes de partir, Gabriel prometeu ser a última vez que tocaria no assunto, mas perguntou a Jorge novamente o que tinha acontecido entre ele e Tom e novamente Jorge fingiu não se lembrar de Tom virando as bebidas descontroladamente.

Fingiu não saber que estava na hora de parar.

Fingiu não ter ouvido juras secretas de um amor escondido há anos.

Fingiu não ouvir um plano de fuga.

Fingiu não ter ouvido um resumo bem ensaiado do que havia acontecido nos últimos anos.

Fingiu não ter chorado.

Fingiu não recordar ter chamado Tom de covarde.

Fingiu não ter pensado no quão diferente sua vida poderia ter sido se tivesse ouvido aquilo anos atrás.

Fingiu não recordar de ter sentido um poço de fúria por saber que não teria sofrido tanto com a morte de Elaine se Tom tivesse lhe dito todas aquelas coisas antes.

Fingiu não ter levado em conta que ele não teria conhecido Mike e nem Gabriel e por um momento ter se sentido feliz com isso.

Fingiu não ter imaginado como a vida deles poderia ter sido em uma fazenda distante com vacas e cavalos.

Fingiu não ter dito que amou aquele homem de uma maneira que o consumiu vivo por anos.

Fingiu nunca ter se sentindo com tanta raiva.

Fingiu não se lembrar de ter jogado bebida em Tom.

Fingiu não saber que foi ele quem deu o primeiro soco.

Fingiu não ter ido atrás de Mike e Gabriel para ir embora.

Fingiu não ter visto os dois se beijando.

Fingiu não saber que raiva era dentro de si.

Fingiu não descontar tudo que sentia em Tom.

Fingiu.

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