Sua carne, meu sangue

Um conto erótico de Vamp19
Categoria: Homossexual
Contém 9134 palavras
Data: 07/06/2016 17:02:00
Última revisão: 07/06/2016 17:16:00

Eu estava no meu cigarro do dia, descansando na sombra da mangueira do lado de fora da casa do prefeito. Sinceramente, o sol naquele dia estava mais cruel do que nunca. Meu corpo se enchia de suor. Eu parecia um porco. Deveria existir uma lei cósmica que impedisse o sol maldito de ser tão quente a essa hora da manhã. Ainda faltavam duas horas para o meio dia, quando o sol deveria ser o mais infernal possível.

O prefeito não gostava de mim. Tentei dizer isso ao delegado antes de ser mandado para cá, em busca do prisioneiro que tentava roubar um dos cavalos do prefeito. O homem simplesmente não ia com minha cara. Seria melhor mandar outro homem. Mas o delegado era um homem altivo demais em seu posto para escutar a opinião de um pobre como eu.

A primeira coisa que fiz foi chegar aqui na casa do prefeito, lembrava que meu corpo já estava suado. O prefeito me recebeu com a careta que eu já esperava encontrar em seu rosto. Era um homem alto e gordo, de lábios rosados e brilhantes, como se nunca parassem de comer. Olhou para mim com desgosto plantado nos olhos castanhos e disse:

- Estou acabando alguns negócios, espere um pouco.

O prefeito virou-se e voltou para dentro de casa, com seus dois homens de guarda atrás de si. Não me convidou para entrar, não me deu nada para beber; a pouca espera da qual ele falou durava mais de uma hora. Já começava a pensar que ele nem sequer viria mais.

Não importava que eu era um policial. Um homem da lei. Ha.

Ele era o ‘prefeito’.

Então eu esperei, com sede e com calor, debaixo da sombra que a mangueira fazia. Espantei um cachorro que se aproximou do local, ciumento da pouca sombra.

A porta da casa do prefeito se abriu e um de seus homens finalmente me chamou. Suspirei e joguei o cigarro fora. Queria acabar logo com isso. Ignorei o sorrisinho do capanga do prefeito enquanto entrava na grande casa. Como uma pequena vingança, não limpei os pés.

O homem me encaminhou pela casa, passando por um corredor enorme constituído de vários quartos, havia um quadro horrendo do prefeito pendurado na parede direita que me fez prender o riso, e fomos direto para a traseira da bela moradia, saímos do outro lado da casa. O prefeito, seu outro companheiro e um indivíduo com as mãos atadas e a cabeça coberta estavam em pé ao lado de seus cavalos.

- Vamos indo. - O prefeito disse.

Eu olhei para ele, sem entender.

- Senhor prefeito, eu vim pegar o delinquente para transportá-lo. O senhor não precisa se preocupar.

- Deixe de desperdiçar meu tempo - o prefeito rebateu. - Esse homem queria roubar meus cavalos, e eu quero vê-lo preso, o delegado devia mandar mais do que só um homem para transportá-lo. Sabe quantos homens levaram para segurar este aqui?

Ele inclinou a cabeça para o homem de cabeça coberta.

- Cinco homens - o prefeito disse.

Dei uma boa olhada no preso. Não parecia lá muito impressionante e eu achava que o prefeito estava mentindo. Também achava que ele estava fazendo aquilo só para me irritar.

- Talvez devesse arranjar homens melhores - disse eu.

Escutei a gargalhada e fiquei confuso por um momento, olhando para os rostos carrancudos dos homens montados nos seus cavalos. Percebi que quem gargalhava era o prisioneiro.

O prefeito estreitou os olhos e se virou para o homem à sua direita. Este aproximou com o cavalo do homem amarrado e encoberto e deu-lhe um chute na costa da cabeça. O riso morreu.

Prefeito Raimundo agora tornou seu mal humor em minha direção.

- Não lembro de tê-lo dado nenhuma liberdade para essas brincadeirinhas. Agora ande logo, quero chegar na delegacia o mais rápido possível - disse ele, virando o cavalo, que parecia prestes a morrer com o seu peso.

- Meu cavalo ficou na frente da casa - falei, irritado.

- Já que seu trabalho é cuidar do prisioneiro, policial, achei que devia estar por perto quando fossemos transportá-lo. - O prefeito disse. - Ande com ele, até chegarmos no seu cavalo. Com certeza, um pouco de caminhada não vai fazer mal.

Pensei em mandá-lo esperar com seu traseiro gordo se me quisesse perto do prisioneiro até que tivesse buscado meu cavalo. Mas sinceramente, sabia que a influência do prefeito sobre o delegado era muita. Eu era só um homem da lei tentando ganhar meu dinheiro suado. Engoli meu orgulho, o gosto era salgado.

Contudo, nem todo mundo estava disposto a ficar de boca fechada.

- Por que não dá o seu cavalo para o policial, prefeito, e faz um pouco de exercício para acabar com essa banha? - disse o preso, com a voz abafada. Eu teria achado graça em suas palavras, se não estivesse tão surpreso ao perceber que ele não tinha o sotaque da região. O som do ‘R’ e do ‘S’ era mais esticado, estrangeiro. O que diabos um estrangeiro estava fazendo por aqui?

- Ninguém pediu sua opinião imunda - disse o prefeito, que havia ficado vermelho.

- Aposto contigo que se ele pudesse falar, eu estaria sendo agradecido fevrosamente pelo seu cavalo, - disse o preso.

Dessa vez, eu dei uma gargalhada, mesmo achando que deveria manter a boca fechada. Até os homens do prefeito estava com um sorrisinho no rosto.

O cavalo em questão soltou um ruído arfante.

- Coitado! - gritou o preso. Eu continuei rindo. Raimundo virou o cavalo e veio em pessoa dar um chute no rosto do preso.

O homem caiu no chão, em silêncio.

- Senhor, não deve dar ouvidos a ele, - eu disse, ainda tentando segurar a risada. Abaixei-me sobre o preso e o levantei com cuidado. Percebi agora que sua roupa era diferente do que costumávamos usar por essa região, uma camisa branca e fina, e uma calça de tecido liso e negro. Eu gostei da visão do seu traseiro grande sendo apertado na calça. - Vamos, senhor prefeito, que o sol não está ficando mais gentil com o tempo.

O prefeito me ignorou completamente, mas girou o cavalo na direção oposta e começou a caminhar, com seus pau-mandados logo atrás. Empurrei o homem que tentou roubar os cavalos do prefeito, ele estava silencioso desde o chute que levou no rosto.

- Poderia tirar esse pano condenado da minha cabeça? - perguntou ele. - Já se foi o tempo em que eu gostava somente do escuro.

- Eu não sou seu amigo - eu disse.

- Ainda não - disse ele. - Podemos ser amigos, você e eu. Não pretendo ficar muito tempo nessa situação.

Então ele era mesmo algum rico que estava visitando a cidade.

- Vamos, apenas tire essa pano da minha cabeça - falou ele, baixo.

- Tudo bem, - eu disse. - Mas não faça nenhuma gracinha.

- Sem promessas.

Suspirei. Gostava daquele indivíduo estranho. Tirar o pano da sua cabeça não seria nada de mais. Puxei a coberta e livrei sua cabeça, coloquei o pano por cima do meu ombro. Eu me encontrava atrás dele, por isso não vi seu rosto, apenas seu cabelo negro pelas costas. Ele virou o rosto, e pude ver seu perfil. Ele tinha o rosto mais limpo que eu já tinha visto, a pele era branca e livre de oleosidade ou marcas, coisa que era comum. Agora eu tinha certeza que ele não era daqui.

Seus olhos eram castanhos claros. Ele nutria uma barba pequena e bem feita. Muito bem arrumado. No entanto, era claramente masculino. O homem mais bonito que já vira. Seu sorriso branco me deixou meio desconsertado, tinha muita malevolência naquele gesto tão simples. Se não fosse tão bonito, acharia que estava perto de um diabinho. Por mais arrumado que estivesse, o fato de que tentou roubar um cavalo não me surpreendeu. Parecia ser uma daquelas pessoas que fazia coisa ruim só pela diversão.

- Obrigado, meu amigo - disse ele. - Meu nome é Franco. Franco Dilaurant.

Eu não falei nada.

- Não vai me dar nem seu nome? - disse Franco. - Tudo bem. É uma pena. Achei que estivéssemos construindo algo aqui. Mas olha para esse sol. Que bonito. Que lindo!

- Não vai calar a boca dele? - perguntou o prefeito, em cima do seu cavalo. - Sinceramente, de qual material mole os homens da polícia são feitos hoje em dia?

- Eu não sei - disse Franco. - Mas com uma barriga dessa, o senhor prefeito deveria ser o mestre em materiais moles.

- Silêncio - eu disse a ele. Mas não consegui evitar um sorriso. Franco sorriu também em minha direção e assentiu com a cabeça, ficando em silêncio. Brandamente, ele estava obedecendo a força que colocava com uma mão na sua costa. Eu não precisava nem colocar muita pressão. Era o preso mais manso que já vi. E tinha um rosto bonito também.

O Prefeito Raimundo continuou com o rosto virado para trás, parecendo estar com uma vontade grande de esganar tanto o preso quanto o policial. Então retornou sua atenção para o caminho à sua frente como se nos julgasse indignos de mais alguns segundos de sua atenção.

- Não fique recebendo as merdas desse homem calado, - cochichou Franco, com um sorriso sugestivo. - Senão eu terei que lhe proteger.

- O senhor está amarrado, - cochichei de volta, perguntando-me por qual razão havia chamado um preso de senhor. - Não pode defender nem a si mesmos dos chutes do senhor Prefeito, se não manter a boca fechada.

E eu não quero que seu rosto se estrague. Eu quase disse isso. Balancei a cabeça, impressionado com minha falta de controle. Deveria ser aquele sol quente.

Era seco naquela região, os trotes dos cavalos deixavam um rastro de poeira baixo. As sombras se encolhiam à medida que o sol continuava a ficar perpendicular com a aproximação do meio dia. Naquele momento eu percebi algo curioso, se não misterioso. Normalmente e convenientemente, eu estava suado, os homens do prefeito estavam suados, e o próprio prefeito com suas banhas era o homem mais suado de todos.

Mas Franco Dilaurant não suava. Aliás, ele parecia extremamente confortável sob o sol escaldante.

Alcançamos meu cavalo, ainda relaxando na sombra da mesma árvore na qual eu estava há não muito tempo.

- E o meu cavalo? - disse Franco, depois que eu montei.

Prefeito Raimundo gargalhou.

- Não tem nenhum cavalo para o ladrão de cavalos - disse o homem gordo.

- Ah, prefeito, quanta deselegância - Franco falou com um sorriso. - Mas é o seguinte, eu não pretendo ficar preso por mais tempo. Poderia deixar essa fachada continuar por mais algum tempo, eu estou bem alimentado, estou na luz do sol, e rir da sua cara é muito bom. Mas eu não vou ficar de pé, isso eu não posso admitir, enquanto todos vocês estão bem montados em seus cavalos.

O prefeito gargalhou mais alto do que nunca, olhando para seus homens como se em busca de reações iguais à sua. Eu não sabia o nome dos dois capangas. Mas eles não estavam rindo, apenas sorrindo para o prefeito. Eu mesmo me sentia um pouco desconcertado com aquilo. Quase mandei Franco calar a boca. Porém, admitia, gostava de vê-lo dando respostas ao prefeito, o qual não gostava de mim, e em retorno eu não nutria sentimentos favoráveis a ele.

O prefeito riu e riu, depois deu uma inspiração longa, procurando por mais ar do que podia alcançar. Seu rosto adquiriu tons vermelhos.

- Você não pretende ficar preso, é?

- Não - respondeu Franco.

A certeza no seu rosto fez Raimundo hesitar, mas só por um curto instante.

- Estou me cansando de você e sua falta de respeito. Mas, ha, o que esperar de um criminoso. Eu mesmo vou fazer questão de que o delegado lhe dê uma pena que merece. - O sorriso do prefeito não conseguiu esconder a ansiedade sadística por trás. O rosto redondo continuava vermelho. Franco aguentou o olhar e a ameaça de um jeito inexorável, quando até eu tinha engolido em seco.

Tinha que o dar créditos pela coragem.

- Realmente acha que um prefeito e um delegado de uma cidade pobre e esquecida de um país que provavelmente nunca vai ser de primeiro mundo pode me segurar, ou até mesmo, punir alguém como eu?

- Já chega - eu disse. - Franco, vamos andando. Prefeito, acha melhor que eu o leve sozinho?

Aquela conversa começou a me deixar preocupado. Por alguma razão. Não conseguia bem acertar minha mente na razão, mas me sentia inquieto e remexi-me por cima do cavalo. Franco e o prefeito pararam de discutir, ambos olharam para mim.

- Me dê o seu cavalo - disse Franco.

- O quê? - eu disse, surpreso. O olhar do homem, agora que seu rosto havia desaparecido com o sorriso, parecia perigoso.

- Eu quero o cavalo - falou, sílaba por sílaba.

- Agora quem diz já chega sou eu. - O prefeito se virou para o homem à sua direita. - Você, já que ele quer tanto um cavalo, deixe-o desacordado e o coloque na garupa do seu.

- Não - disse o homem.

O mundo ficou silencioso. O som da natureza desapareceu, o vento que fazia as folhas farfalharem, as respirações dos cavalos e dos homens, as gramas e os insetos que nela viviam. Tudo se calou, e só o som das batidas do coração foram o que escutei.

O prefeito pareceu ter escutado errado. Encarou abobalhadamente o seu empregado, esperando por uma explicação ou que ele obedecesse suas ordens. Mas o homem colocou a mão rapidamente na sua cintura e levantou a arma para o prefeito. Eu não pude fazer nada, aconteceu repentinamente. Ele atirou no ombro do prefeito Raimundo, a arma de alto calibre fez um estrago grande pelo jeito que seu ombro explodiu. O vermelho escuro acabou espirrando um pouco no meu rosto.

O homem depois apontou a arma para mim.

- Não atire nele - disse Franco. E foi a única coisa que salvou a minha vida, eu tinha certeza. No entanto, não hesitei em pegar a minha própria arma e colocar uma bala na cabeça do careca que tinha a arma apontada para mim. Ele atirou. O tiro pegou de raspão na minha barriga. Eu caí do cavalo, que correu assustado assim que percebeu que meu peso havia sumido e interpretou isso como um sinal de que poderia correr para longe do barulho alto da arma. Os outros cavalos fizeram o mesmo, a não ser pelo único que foi segurado no lugar pelo seu montador, o outro homem que deveria ser empregado do prefeito.

Franco veio até mim e pegou a minha arma no chão, havia caído da minha mão quando bati a cabeça no chão. Achei que iria morrer por ter matado o outro homem, mas Franco não fez nada comigo. O prefeito ainda estava gemendo no chão. Estava tentando gritar, embora só conseguisse soluçar e se arrastar no chão, para longe de Franco, para perto da árvore.

Seu ombro estava uma bagunça. Franco aproximou-se dele, e eu não pude fazer nada.

- Seus idiotas! O que acham que estão fazendo? Eu tenho dinheiro, vou pagar! Pago mais do que ele está pagando! - gemeu Raimundo Tunísio.

- Não pode, seu velho porco - disse o indivíduo que havia me guiado pela casa do mesmo homem que agora estava traindo.

Agora Franco estava agachado em frente ao prefeito, virou a cabeça para trás e disse para o traidor:

- Cuide do policial, coloque a arma na mão dele depois, antes que mais alguém chegue. Ande logo! Não temos muito tempo.

O rosto pálido e perigoso de Franco virou em minha direção, eu pude ver um brilho de crueldade em seus olhos, pude ver que estava se divertindo, enquanto suas mãos seguravam na camisa do prefeito assustado. Então Franco inclinou a cabeça no pescoço dele, como se estivesse mordendo. O prefeito deu um gemido de medo misturado com choque. Depois veio a dor.

Algo bateu na minha cabeça. Meu corpo já estava fraco antes mesmo de receber a pancada do outro homem com o cabo da arma. Sabia que estava perdendo muito sangue, minha roupa estava quente e encharcada.

Caí no chão e logo perdi a consciência.

#

O homem com o nome de Franco estava rindo de mim. Só que agora ele não parecia um homem. Sua boca era maior e seus dentes eram afiados. Sangue pingavam deles. Eu estava encolhido no canto escuro, arrepiado de medo e frio. Franco ria. De repente, a pele dele ficou cinza e os olhos ficaram vermelhos.

Eu acordei gritando.

Por um momento, permiti-me ficar tranquilo por estar em um local familiar. Conhecia o telhado de cimento da delegacia. A luz entrava pela janela pequena da parede, mas com três barras de ferro grossas verticalmente colocadas.

Senti uma confusão me apossar, enquanto me virava na cama dura. Meus medos se tornaram verdade, eu estava em uma cela. Tentei criar cenários seguros na minha cabeça que explicasse o porquê daquilo.

Soltei um gemido quando fui me levantar. Minha barriga doía na lateral. Coloquei a mão por cima e senti algo duro que não era minha pele, mas que doeu do mesmo jeito. Percebi que estava com frio pois não estava usando camisa, e havia uma faixa branca cobrindo minha cintura, e estava manchada de vermelho. De sangue. Meu sangue.

Eu lembrei subitamente do tiro que havia levado e consequentemente de todo o resto que se passou em seguida.

Levantei com mais cuidado do que na primeira tentativa e fui bem sucedido. Fiquei sentado e olhei ao meu redor. A cela era pequena, havia outra na minha frente, depois das grades. Aqui os criminosos não tinha muita privacidade. Tinha um penico vazio ao lado da cama, e só. A cama era um coxão duro e velho em cima de um assento de pedra.

A cela na minha frente estava vazia, assim como o corredor, e eu não escutei nenhum barulho vindo de fora.

- Alguém! - gritei. Minha barriga doeu, mas eu estava ficando desesperado. - Olá! Delegado Matias! Torres! Alguém aí?

Meus gritos foram perdendo a intensidade, à medida que a dor aumentava. Por fim, escutei alguns barulhos de fora, a porta abrindo e algumas vozes conversando. Passos soaram em minha direção. Delegado Matias apareceu, alto e feroz, mas ao mesmo tempo, com um olhar de intensa preocupação. Ele coçava o seu bigode enorme.

- Tavares. - Foi tudo que disse o Delegado Matias.

- Senhor…

Antes que eu pudesse perguntar por qual razão estava na cela, outra pessoa apareceu.

Meus olhos se arregalaram. Eu ignorei a dor, enquanto meus peitos se enchiam de fúria.

- É ele, - disse Franco ao delegado. - Ficou maluco, me ameaçou, eu estava visitando o prefeito e ele chegou na casa para transportar o ladrãozinho de cavalos. O prefeito mandou eu esperar. Depois eu ouvi tiros do lado de fora da casa-.

- Mentira - eu o interrompi.

- Eu ouvi tiros do lado de fora - disse Franco, aumentando a voz. - Corri para ver o que estava acontecendo, ele já havia matado um dos homens do prefeito e o próprio prefeito estava no chão, sangrando de um ferimento no ombro.

- Você atirou nele! - eu gritei. Então a dor na minha barriga me mordeu com dentes afiados. Eu gemi, mas minha fúria me deixou no lugar, encarando Franco. - Não acredite nele, Delegado, ele está mentindo. Você me conhece.

- Silêncio, Tavares - disse o delegado, decisivo. Eu o encarei de boca aberta, sem acreditar na injustiça. Era Franco que deveria estar nessa cela. Ele estava bem ali na minha frente. Mas eu não podia fazer nada e o próprio delegado estava dando ouvidos.

- Ele me ameaçou, mas queria mesmo o prefeito, enquanto apontava a arma para o Nuba, ele foi até o pobre coitado e fez aquela barbaridade, só então, distraído, foi que Nuba conseguiu atirar nele.

- Matias, Delegado, não foi isso que aconteceu! Não acredite nas palavras mentirosas dele. Eu vi tudo. Ele que estava roubando os cavalos. Ele conseguiu virar a casaca dos homens do prefeito.

- Ele é louco? - perguntou Franco, franzindo o cenho, para o prefeito. Ele era um bom ator. Era como se eu não estivesse ali. Ele não mostrou nenhum sinal de medo ou hesitação. Mentia como um mestre. Era mais perigoso do que eu jamais imaginei. - Eu não preciso roubar cavalo nenhum.

- Você não admite, Samuel? - perguntou o delegado, com a voz bem mais dura do que antes.

- Não!

- Então teremos um julgamento. Vamos, - o Delegado pegou na cintura de Franco, insistindo para que saísse.

- Espere, quero conversar com ele - disse Franco.

- Por quê?

- Estou curioso. Como alguém pode fazer uma coisa daquelas, aquela atrocidade sanguinária? Que mente perversa poderia ser capaz de algo tão cruel? - Franco se virou para mim. Sua boca estava formando uma linha reta e sem emoção. Eram seus olhos que sorriam.

Apesar de dores, ferimento e fraqueza, eu avancei na cela pequena com uma vontade súbita de cometer uma assassinato, coloquei as mãos por entre as barras e segurei na camisa de Franco, puxando-o para perto de mim.

Ele nem piscou.

Minha raiva foi embora num piscar de olhos e logo foi substituída por um medo terrível.

- Quem é você? - perguntei, num sussurro.

Mas o delegado Matias foi rápido em agir, tirando minhas mãos de Franco e o afastando de mim. Matias olhou para mim como se tivesse certeza de que eu era um assassino agora. Aposto que Franco estava esperando por aquela reação, como se me compreendesse mais do que eu jamais iria.

- Eu sou um velho amigo do prefeito - disse Franco, com convicção suficiente para enganar qualquer um que não houvesse visto a verdadeira versão dos fatos. - Que tragédia. Que horror sobre caiu meu pobre amigo, e você… você vai apodrecer para sempre. Acha que tem alguma chance de ser livre agora? Acha que alguém dessa cidade vai lhe aceitar depois do que fez? O que se passa na sua cabeça, eu me pergunto. O que tem para ganhar matando o prefeito.

- Eu não matei ninguém - eu disse, em pé, no meio da cela. E a coisa que mais me aterrizou foi o modo fraco e com menos convicção que as palavras saíram da minha boca. Ninguém iria acreditar em mim. Eu não era particularmente inteligente. Eu era apenas eu, e olhando naqueles olhos grandes que brilhavam em seus castanhos uma negritude profunda, percebi que estava completamente perdido.

Meus joelhos desistiram de sustentar meu corpo fraco. Eu caí no chão e me rastejei para longe das barras, indo encostar-me na cama de pedra. Não tirei os olhos do monstro.

- Talvez você acha que alguém pode lhe ajudar a sair daqui, alguém poderoso, um amigo?

- Não… - O delegado Matias disse, subitamente me lembrando de que ele continuava ali. Seus olhos estavam vidrados em Franco, como se estivesse tão admirado quanto eu, embora não houvesse nem um pingo de horror em sua feição. Apenas eu conhecia essa parte. - Samuel Tavares não tem nenhum amigo poderoso. Eu conheci ele por toda a sua vida.

- Não conhecia bem o bastante - disse Franco.

E o delegado ficou calado.

Franco se virou para mim.

Eu medi suas palavras cuidadosamente, tentando descobrir o que ele estava querendo me dizer.

Franco continuou a falar.

- Está preso, Samuel - ele disse. Falou meu nome com gosto. - Não pode defender a si mesmo. Então quem pode te defender agora? Quem pode te tirar daqui para que você veja a luz do sol mais uma vez?

Um corrente forte de calor passou meu corpo quando percebi o que ele estava insinuando. Ele queria me ajudar. Ele, que havia me colocado naquela posição.

Fiquei calado.

Franco, com aqueles olhos observadores, pareceu compreender a minha resolução de ficar calado. Ele sorriu. O sorriso era algo parecido com admiração, embora ele tenha se virado para o delegado e dito:

- Não consigo, não dá para entender a mente de criminosos.

O Delegado assentiu. Olhou para mim mais uma vez, tristemente, como se lembrasse dos anos que passei treinando com ele, da amizade que tinha com meu pai. Eu estava triste também. Como ele pôde ser tão facilmente convencido da minha culpa? Depois de tanto tempo… Seu rosto sempre foi tão bonito para mim. Houve momentos em que eu achei que ele me olhava com interesse. Houve tempos em que eu tive esperança. Mas agora seu rosto não aparentava ser tão bonito. O Delegado negou com a cabeça, recuou o olhar e foi embora.

Franco estava me olhando.

Seu sorriso me deu outro calafrio. Era como se ele tivesse compreendido o que eu havia acabado de pensar. Mas como? Como alguém poderia ser tão sensivelmente alerta e inteligente e esperto? Era quase sobrenatural.

- Já é quase noite - disse Franco, num cochicho. Não sei como o escutei. - Bons sonhos.

#

Naquele mesmo dia, antes de dormir, alguém veio checar minha ferida e trocar os curativos. Depois disso, fui esquecido mais uma vez. Só me restava dormir. Mas eu estava com medo. Encarei o teto por um longo tempo e eventualmente o sono me alcançou. Foi um sono perturbado e turbulento, que me acordou não muito tempo depois. Levantei para mijar, e escutei um barulho fora da cela. Mas não do lado de dentro da delegacia. Foi um ruído fraco do outro lado da parede.

Eu me aproximei para escutar. E quando encostei o ouvido na parede, algo atravessou os tijolos e cimento como se fosse manteiga, e uma mão apertou o meu pescoço. O resto da parede quebrou e um par de olhos familiar estava me encarando. Os olhos castanhos tinham um brilho peculiar na noite, como se fossem vermelhos.

Horror me atingiu como uma bala. Arregalando os olhos, lutei para sair de perto e livrar-me daquela mão assassina.

Franco sorriu.

- Olá. Dormiu bem?

- O que quer comigo? - Minha voz estava estrangulada. - Me deixe em paz, pelo amor de Deus. Apenas me deixe em paz. O que eu fiz para você? O que é você?

- Apenas mais uma criatura da noite - respondeu. - Mas, ah, isso é coisa do passado. Sou uma criatura da noite e do dia por agora. Isso não é incrível?

Barulhos soaram pela delegacia, a porta se abriu, o delegado e os policiais notaram que algo estava acontecendo. Comecei a gritar, mas nenhuma voz saiu, porque Franco apertou a minha garganta mais forte. Percebi o quão fácil seria para ele me matar. Ele quebrou a parede facilmente, meu pescoço dobraria como grama ao vento.

- Não vai querer espantar a ajuda, não é?

- Não quero a sua ajuda.

- Verdade? Uma pena. Boa sorte explicando a parede, então.

Franco me jogou no meio da cela e desapareceu. Foi ali que os policiais, antes meus amigos, encontraram-me. Minha ferida voltou a sangrar abertamente e doer como se tivesse levado outro tiro. Torres apontou a arma para mim, e Santos gritou para eu não me mexer. Eles abriram a porta, tiraram-me da cela e me colocaram em outra.

#

Eu não havia conseguido criar nenhuma explicação para a parede quebrada que não fizesse eu parecer um louco. Já era um assassino, se fosse um louco, iriam enrolar uma corda grossa no meu pescoço e acabar com minha vida.

Não será melhor morrer? Uma parte de mim me perguntava. Mas aparentemente eu era feito de material mais forte.

Os dias passaram, minha ferida foi ficando boa e eu não precisava mais do curativo. Eu não conversava com ninguém e ignorava os comentários maldosos dos homens cuja companhia eu adorava há não muito tempo. Diferente de mim, eles gostavam do prefeito da cidade. Eu era o único policial que não havia aceitado seu dinheiro para ser seu pau mandado.

Tinha sido por isso que o delegado Matias mandou a mim para tratar com ele. Deveria ter sido diferente.

No dia do julgamento, os meus dois amigos vieram me buscar para o transporte. Torres sequer olhava para meu rosto. Eu estava andando perfeitamente sincronizado com seus passos, mas Santos não parava de me dar empurrões. O gosto da injustiça e da humilhação era amargo e fazia meus olhos lacrimejarem.

Fui levado pela delegacia, acorrentado nas mãos e com um policial a cada lado, direto para a praça central, onde o julgamento e a corda já estava preparado. Eu havia matado o prefeito, é claro que iria morrer. O medo foi maior do que pensei que seria. A imagem da corda maldita esperando meu pescoço para apertar me fez cambalear e hesitar. Então eu comecei a gritar que não era culpado.

Mas não houve nem julgamento. As pessoas na rua me olhavam com nojo, pessoas que eu conhecia, que eram minhas amigas. Ali estava Joana, que morava na casa ao lado e que costumava me paquerar. Condenação estava em seus olhos azuis. Sua mãe, Cecilia, estava ao seu lado, dando-lhe apoio. Ninguém estava me dando apoio.

Rui, o dono do mercado no qual eu sempre fazia as compras. Seus filhos, João e José. Havia outros Josés espalhados. Marias também. E algumas pessoas que só conhecia de vista, não lembrava do nome. Mas essas me olhavam como se me conhecessem a vida toda e que sempre souberam que eu era um criminoso.

Fui levado para o palco que construíram no meio da praça. A cidade era pequena e bonita, bem feita e bem cuidada, mas naquele dia, tudo estava feio demais para os meus olhos enevoados pelas lágrimas. E a população da cidade logo se tornou desconhecida. No fundo, um homem alto e mais bem vestido do que todos assistia ao show. Ao show que ele criou. E eu não podia fazer nada para avisar do demônio em pele humana que se estendia entre eles.

Nem queria. Essas pessoas estavam prontas para me matarem. Que se fodam todas elas.

Torres colocou a corda no meu pescoço. Depois deu dois tapas no meu ombro, um gesto de encorajamento que me deixou sem fôlego, tamanha foi minha gratidão.

- Este homem! - gritou o delegado. Ao seu lado, a velha senhora primeira dama da cidade estava chorando num lenço negro. Negra era também toda a sua roupa, um sinal espalhafatoso de luto. - Está aqui hoje para ser julgado pelo crime de homicídio, dois homicídios, para ser exato. O nosso prefeito Raimundo Tunísio, que governou essa cidade por mais de trinta anos; e um dos seus fiéis homens, João Barros, que morreu na tentativa de salvar o prefeito.

A população gritou e me chamou de assassino, alguns já pediam para que eu fosse pendurado.

O delegado prosseguiu, pedindo silêncio, e começou a falar a mesma história inventada que Franco o havia dado. A primeira dama foi chamada para dar seu depoimento logo em seguida, embora a senhora não tivesse visto nada, ela afirmou que olhou no meu rosto e viu ódio ardente direcionado ao seu marido, disse que sabia no fundo do coração que eu merecia aquilo que estavam fazendo.

Caio Nuba, o ajudante de Franco no dia do ocorrido, falou a mesma história. Foi menos convincente do que o chefão, claro. Havia algo de diferente em Franco. Mas a população aceitou de braços abertos da mesma forma. Quanto mais eu escutava, mais nojo eu sentia dessas pessoas, mais ódio pelos meus amigos, mais ódio pelo homem que havia causado tudo e que agora estava sorrindo levemente no fundo de tudo.

Franco não foi uma das testemunhas. Eu não sei o que faria se ele chegasse perto de mim para falar. Eu começaria a gritar, e então seria morto logo de uma vez.

Meu coração apertou com a perspectiva de morrer, simplesmente desaparecer da existência. Perguntava-me se iria doer.

Por fim, o delegado se virou para mim.

- Há algo para dizer em sua defesa?

Eu encarei de olhos arregalados para o delegado. A corda já parecia estar apertando. Eu queria gritar que era eu, e que era inocente, que estavam cometendo um erro, que o verdadeiro monstro estava bem ali na plateia. Em vez disso, eu olhei para Franco.

Os olhos castanhos pareciam brilhar mesmo por baixo da sombra do chapéu longo que vestia na cabeça.

- Eu não quero morrer - sussurrei.

O delegado estreitou os olhos.

- O que disse?

Daquela vez, fiquei em silêncio, esperando que aquilo acabasse, e encarando Franco. Num instante, ele estava lá parado no canto e apenas olhando em minha direção, no outro nada havia no lugar em que estava, como se desaparecesse em pleno ar, transformando-se em vento.

Então, do céu veio uma sombra gigantesca e cinza. Caiu no palco de madeira feito especialmente para a minha execução, quebrando e fazendo a viúva cair e o delegado dar vários passos para trás, quase tropeçando e caindo na multidão.

Todo mundo gritou. Inclusive eu. As azas cinzentas abriram-se para mostrar sua enormidade, havia um corpo delineado entre o couro, longo e musculoso. Ele estava curvado e fazendo um ruído estridente para a população, que começou a correr assustada. O delegado tentou alcançar a arma, mas uma das asas da criatura acertou em cheio a barriga dele. Ele voou e caiu no chão, batendo a cabeça. Ficou inconsciente, ou morreu.

Os outros policiais correram também, menos o padre que começou a rezar e a viúva que estava chorando aos berros.

A criatura se virou para mim. A cara dele era larga, o nariz parecia um fuço de rato ou morcego, molhado e dilatado. O aspecto cinza de toda a pele dele era de arrepiar, parecia algo morto. No entanto, seus olhos eram castanhos e vivos, e familiares. Eu suspirei fundo, com tanto medo que temia estar fazendo xixi nas calças.

O padre rezou mais alto, a viúva chorou mais alto, e o delegado acordou, gritando que seus homens eram covardes por terem corrido. A criatura não prestou atenção em nenhum deles. Ficou parada na minha frente, estudando o meu rosto. Eu fechei os olhos, depois abri e ele ainda estava lá. Não ia embora.

- O que quer comigo? - perguntei. - Por favor, me deixe em paz.

A criatura começou a rir. Não era um riso humano, era como o barulho de pedra sendo triturada. Ele levantou a asa em minha direção, e eu notei que havia uma mão com garras afiadas nas pontas dos dedos. Ele cortou a corda do meu pescoço.

- Não morre hoje.

- Demônio maldito! - gritou o delegado, agora levantando a arma em nossa direção. - Desgraça do inferno, saia daqui, volte para a sua escuridão das trevas.

- Amém - disse o padre, levantando o crucifixo.

O delegado atirou.

Mas a criatura já estava a milhares de metros no ar, comigo pendurado em suas garras.

Agora eu não tinha mais dúvidas de que havia molhado as calças. Depois de chegarmos as nuvens, eu parei de gritar e olhei para baixo, para o tamanho insignificante da cidade na qual vivi a minha vida toda, o quão insignificante era a minha vida. Eu desmaiei de medo.

##

Eu acordei em cima da cama macia de um quarto escuro. Eu estava nu.

Era a melhor cama que já havia experimentado se deitar. Sentia-me descansado, e por um momento livre de qualquer preocupação ou lembrança de momentos de terror. Mas eventualmente e infelizmente, tudo teve que voltar para mim. Presenciei o processo de sentir minha própria respiração acelerar, enquanto as memórias fluíam em minha mente como as balas de um revolver.

- Calma, calma, não vamos nos precipitar agora. Consigo sentir seu coração acelerando do outro lado do quarto.

Aquela voz estava começando a atormentar meu corpo de uma forma anormal. Eu me arrepiei.

- O que, como, onde eu estou?

Sentei-me na cama, tentando enxergar na escuridão, e obviamente falhando.

- A única coisa que deve fazer é agradecer por não estar mais com uma corda ao redor do seu pescoço - disse Franco.

Eu ri amargamente.

- Isso é uma piada? Eu prefiro morrer do que ter sua ajuda, não tenho uma corda no pescoço, mas perto de você tenho uma faca prestes a ser enfiada nas minhas costas. Mostre-se. Mostre-se, covarde.

- Covarde? Veja bem como fala, Samuel. Dá última vez que me mostrei, você acabou se mijando inteiro. Pensa que esqueci? Eu mesmo tive que limpar você. Coloquei você numa banheira e dei banho, esfreguei seu corpo limpo. Depois o deitei aí. Tomei conta de você. Lembra das palavras que disse para mim?

Eu engoli em seco.

- Que palavras?

- Não brinque comigo - disse ele, escondido na escuridão, a voz enrouquecida e enraivecida. - Você falou comigo antes que os seus companheiros pendurassem você na corda que te mataria. O que você disse? O que disse para mim, Samuel?

Estava começando a temer sua voz. Lembrei da criatura, do tamanho assustador e do jeito morto que sua pele cinza parecia. Aqueles dentes enormes. Os olhos castanhos assassinos.

- Que eu queria viver… - sussurrei.

- E aqui está! Vivo! Deite-se, mortal. Descanse.

- O que você é? - eu perguntei, porque nunca conseguiria descansar enquanto ele estivesse perto de mim. - Aquele monstro…

- Era eu.

- Como isso é possível?

- Como, como, como. Como isso? Como aquilo? Quando isso? Por quê isso? Quem é você para tentar saber o que é possível e o que é impossível? Apenas aceite que algumas coisas são. Vai poupar muito problema para a sua mente.

- Você vai me matar?

Escutei a respiração de frustração que Franco deu. Meus olhos já estavam acostumados com a escuridão e conseguiam enxergar silhuetas sombrosas, mas ainda não conseguia distinguir Franco.

- Por que eu iria lhe salvar da morte, se fosse te matar?

- Eu não entendo a mente ou a lógica de demônios.

A isso, apesar da minha preocupação de ofendê-lo e acabar morrendo por causa da minha insolência estúpida, Franco começou a gargalhar.

- Não vou matá-lo.

- Apenas me atormentará.

Franco ficou em silêncio.

- Por que está tudo escuro? - Eu procurei um lençol na cama, pois meu corpo estava começando a se esfriar. E me sentia muito vulnerável sem nada para cobrir a pele na presença dele.

- Não tem lençol nenhum na cama. Apenas o que cobre o coxão - disse Franco.

- Como sabia que era isso que eu estava fazendo?

- Porque minha visão não é atrapalhada pelo escuro. - Franco respirou. - Deite-se. Fique quieto. Deixe-me olhar para você, para o seu corpo duro, sua pele branca e bronzeada. Eu amo olhar para humanos tão bem feitos.

- Do que está falando? - perguntei, sentindo-me ainda mais vulnerável. Levantei os joelhos e os agarrei, encolhendo-me.

- Você tem braços fortes, músculos grossos, e ainda está parecendo tão sensível nessa posição. E seus olhos… há algo de diferente em seus olhos. Não consigo tirá-los da minha mente. Geralmente mato coisas que me deixam perturbador, mas não quero matar você. Quero protegê-lo. Sinto-me até arrependido, Samuel, por ter feito o que fiz com você.

Eu senti um arrepio na espinha, que me fez tremer. O jeito que ele falava me fez sentir como se estivesse mais pelado do que completamente sem roupa, sem pele, ou sem corpo, e ele estivesse observando minha alma.

- Pare com isso.

- Me deixe mostrar que não precisa ter medo de mim - disse ele.

- Não, por favor. Eu o odeio. Você acabou com minha vida. Fique longe de mim, me deixe em paz.

- Você é lindo, - disse Franco, ignorando minhas palavras desesperadas. - Tão, mas tão lindo. Quantos anos tem, criança?

- Não sou criança, tenho mais de 30 anos.

- E ainda assim, é uma criança para mim. - A voz de Franco estava se aproximando. - Eu não deveria me importar com você. É sua culpa.

- Por favor. - Fechei meus olhos com toda a força. - Eu estou com medo.

A cama se mexeu quando ele subiu. Minha apreensão se misturou com o medo, a vontade de gritar ou correr, ou morrer lutando. Mas fiquei parado, de olhos fechados. Quando os dedos de Franco tocaram na minha nuca, eu gemi, porque estava esperando dedos gélidos e mortos.

Mas eram apenas dedos. E quando seu corpo se aproximou do meu, era quente e confortável. Eu tremia de medo. Muito medo. Porém Franco não parecia perigoso. Eu ‘sabia’ que ele era perigoso, mas isso não muda o fato de que ele não parecia.

- Shhhhhh. - Sussurrou no meu ouvido. O ar que saiu da sua boca era quente e esquentou minha bochecha.

Eu parei de abraçar os próprios joelhos para empurrar Franco para longe, porque eu o odiava com todas as forças. Minhas mãos encontraram um peitoral largo e duro de músculos, mesmo por baixo da roupa, e seu corpo era quente. Perguntei-me como um ser terrível poderia passar uma sensação tão boa. Acabei por não o empurrar. Franco alisou o meu braço com carinho, depois puxou minha cabeça.

Eu me encostei no seu peito e o abracei, sentindo-me seguro com seus braços fortes me rodeando. Não me incomodei mais com o escuro. Nem precisava abrir os olhos. Franco se deitou ao meu lado e encostou-se nas minhas costas. A aproximação me fez despertar sexualmente, e meu membro foi crescendo. Eu gemi, ao mesmo tempo em que sentia minhas bochechas queimarem de vergonha.

- Sinta o meu - ele disse, encostando o seu volume em mim. - É um corpo tão bonito que você tem. É impossível não ficar excitado, Samuel. Você é belo. Único.

Suas palavras, por mais irritado que eu estivesse comigo mesmo, tranquilizaram-me. Senti meu membro completamente duro, e Franco o agarrou com uma mão. Eu soltei um gemido abafado, mas foi tudo. Foi Franco que fez o resto.

- Isso. Se entregue a mim. - Sussurrou no meu ouvido. Meu pau era quase uma rocha na sua mão.

Ele apertou e usou a mão para manusear meu membro. Nunca algo foi tão bom na minha vida. Lembrava de ter experimentado muitas coisas doces, mas nada era mais doce do que a mão dele segurando em mim com força. Era uma tortura gentil. A cabeça molhada do meu membro era acariciada pelos seus dedos, e o líquido que saía ele usava para passar no membro inteiro. Assim ficou mais fácil quando ele começou a acelerar os movimentos.

- Você cheira tão bem - ele sussurrou no meu ouvido. E eu gemi, movido pelo elogio, por mais estranho que fosse. Qualquer coisa que ele falasse seria algo bom aos meus ouvidos àquele ponto.

- Mas se não diminuir a velocidade, eu vou acabar molhando a cama - eu disse, tentando ser engraçado, mas minha voz exasperada era digna de pena.

- Comigo, você pode fazer tudo que quiser - ele me encorajou, e eu nem acreditei em mim mesmo quando virei o rosto para beijá-lo.

Esse homem acabou comigo, humilhou-me, usou-me da pior maneira possível… Mas sabia beijar bem. A culpa não era minha que eu estava a tanto tempo sem experimentar aquilo. Com certeza essa era a razão por estar parecendo uma vadia desesperada, sem nenhum controle sobre meu próprio corpo. Só conseguia pensar nas maneiras que poderia me esfregar nele.

- Me dê o seu pescoço - disse Franco, quebrando o beijo.

Não respondi, confuso.

- Confia em mim? - ele perguntou, tão sedutor, e sua mão cruel ainda trabalhando rapidamente no meu pau, eu só tinha uma resposta.

- Sim…

- Então me dê o seu pescoço. Eu vou ser gentil.

Eu inclinei a cabeça para o lado. Franco beijou minha nuca e a deixou molhada, deliciosamente passando a língua. Então senti duas pontadas no meu pescoço que não chegaram a ser dolorosas. Soube no mesmo momento que eram os dentes, pois seus lábios estavam encostando em mim. Ele chupou. Estava chupando meu sangue. Era tão bom…

- Sim, - eu disse. - Ah, por favor, não pare… Não pare, isso é tão bom. Tão bom. Franco?

Ele parou por um momento.

- Sim?

- Não seja gentil.

Eu pude sentir o seu sorriso.

- Certo, meu belo. O que você quiser.

Ele enfiou suas presas mais forte do que antes, e a pressão da sucção me fez morder os lábios, pois a dor era mais convidativa do que incômoda.

##

Eu não senti calor naquela noite e quando o dia chegou, eu acordei sozinho e cansado. Uma bandeja cheia estava em cima da cama. A comida me encheu de água na boca, mas eu não ousei comer. Perto da bandeja, havia uma roupa preparada para mim. Não era a minha roupa. Mesmo assim, eu vesti a roupa íntima e depois a calça e a camisa. Havia um espelho na parede oposta a cama, de longe eu vi uma marca no meu pescoço e me aproximei para ver os dois buracos pequenos na nuca e uma mancha roxa ao redor. Um arrepio percorreu meu corpo.

Meu plano era sair daquela casa o mais rápido possível. E ir para onde? Aquela pergunta me parou. Fui até a janela, eu tirei a cortina da frente, o tecido beje era fino. Meus olhos se arregalaram quando vi o terreno do lado de fora e automaticamente o reconheci como sendo o do prefeito assassinado. Agora estava nervoso. Se alguém me encontrasse aqui, não iriam me colocar na cadeia para uma execução, a execução viria primeiro.

Como foi que minha vida se tornou nisso? Com medo de morrer pelas mãos do povo da cidade onde cresci.

- Não vai comer?

Eu me virei. A viúva do prefeito estava na porta do quarto, ainda vestida inteiramente de preto. Meu coração parou, enquanto eu esperava os gritos começarem. Meu coração voltou a bater e os gritos não vieram.

- Ora, não se preocupe, eu sei que não matou o meu marido. - Ela deu um sorriso inocente. - Coma antes que fique frio.

- A senhora sabe?

- Claro que sei.

- Desde quando sabe?

- Desde sempre. Franco foi um cavalheiro por aceitar me ajudar.

- Por que me acusou na frente de todo mundo? - perguntei, fúria nascendo em mim como fogo. - Sua mentirosa desgraçada.

- Veja essa língua, rapazinho. Alguém tinha que ser culpado e certamente não seria eu. Embora Franco pudesse ter colocado a culpa em mim só para se divertir. Aquele ali tem uma mente distorcida.

- Ele é um monstro.

- Monstro ou não, me fez um favor. Eu aceitei a sua ajuda e agora estou feliz com os resultados. Raimundo era muito bom para mim… no início. Mas as coisas não melhoram desde o nosso casamento.

- Matou o próprio marido por causa de problemas no relacionamento? - perguntei, não fiz esforço para esconder meu nojo.

- Problemas? - ela disse, rindo. - Vê esse meu olho esquerdo?

A pergunta me pegou desprevenido por ser tão estranha. Olhei para seu olho esquerdo, era verde claro e um pouco enevoado por conta da velhice.

- Vejo seu olho e mais nada - eu falei.

- Pois ele não vê nada, nem um olho sequer - ela disse, sorrindo. - Ele me cegou com o produto de limpeza que eu estava usando para limpar o vômito da sua bebida no chão.

Eu fiquei em silêncio.

- Coma, embora acho que já esteja tudo frio. Bem, a culpa é sua. Fiz como Franco mandou. Ele vai retornar logo e vai querer ver você. A roupa dele caiu bem em você. - Ela se virou e saiu do quarto.

Encarei a porta por algum tempo, pensando no que havia acabado de ouvir e depois corri para comer, porque estava faminto e a comida, mesmo fria, era deliciosa e muito melhor do que qualquer coisa que havia comido na delegacia. Quando bebi o suco doce maravilhoso lembrei dos beijos de ontem e me arrepiei. Não parei de comer.

Depois fui para a janela novamente observar o dia, pois estava hesitante para sair do quarto. O medo de morrer já não era forte o bastante para me preocupar. Sem falar que ficar aqui era mais seguro do que ser encontrado por alguém da cidade. Foi quando vi o delegado caminhado ao redor da casa junto com mais dois policiais, e me escondi, respirando fundo. Claro, deveria estar ali para proteger a viúva porque eu havia fugido. Mas estaria mentindo se dissesse que não estava preocupado em ser entregue para a polícia novamente.

Dei outra olhadela rápida para fora e o delegado já havia saído de vista, e ao longe um homem caminhava devagar em direção a casa do prefeito. Vinha da cidade. Franco estava usando seu chapéu usual, longo e largo, de cowboy. Sua roupa era preta e bonita. Ele era um homem bonito. Eu tinha percebido isso assim que coloquei os olhos nele. Sua beleza se transformou em algo maldoso e cruel por um momento, no entanto agora eu estava novamente admirando o jeito confiante que andava, a masculinidade que emanava de cada movimento.

Ele levantou o rosto e olhou para mim. Estava muito longe para me ver, certamente… No entanto… Era como se tivesse uma certeza absoluta de que seu olhar estava enlaçado em mim. Depois de tudo que passei, aquilo não era mais impossível do que ser resgatado por um monstro morcego gigante, voar nas nuvens nas garras desse mesmo monstro e depois passar uma noite romântica no escuro com ele.

Mas, Deus do céu, por que ele tinha que tirar meu fôlego daquela forma? Recuei da janela e pensei em fugir mais uma vez, e decidi sentar na cama e esperar.

Não muito tempo depois, Franco entrou no quarto, tirou o chapéu depois que fechou a porta e me olhou estudiosamente. Olhou-me de verdade, cada parte de meu corpo, enquanto eu ficava cada vez mais desconfortável.

- Por que me olha dessa forma? - perguntei.

- Estou só admirando - disse, e jogou o chapéu na cama. Franco se ajoelhou na minha frente de onde eu estava sentado e segurou minha mão. - Dormiu bem?

- O quê? - perguntei, mais confuso do que nunca.

- Dormiu bem? Está se sentindo bem? Temo que possa ter bebido mais do seu sangue do que seria seguro. Eu não costumo ser tão descontrolado.

Eu bufei.

Franco revirou os olhos.

- Olha… Eu estou confuso. O que está acontecendo? Por que está sendo tão… - Eu quase disse ‘amoroso’ e depois pensei melhor. - Por que está sendo tão educado?

Franco pareceu confuso.

- Não gosta de mim educado?

Eu balancei a cabeça, rindo amargamente.

- Não interessa! Isso não interessa! Meu Deus, o que minha vida se tornou?

- Se acalme, homem - ele disse.

- Se afaste de mim, então! - Eu tirei minha mão do seu toque e subi mais na cama. - Seja qual for o feitiço que tenha colocado em mim ontem para fazer as coisas que fez, seja lá o que tenha sido, já passou.

Franco estava sorrindo de diversão.

- Oh, queria eu poder enfeitiçar as pessoas, as coisas seriam bem mais fáceis. - Franco se levantou. - Está todo mundo na cidade preocupado com o demônio que apareceu do inferno para resgatar o seu enviado. - Ele olhou para mim. - Você. Você é o enviado do inferno.

- Eu adivinhei! - falei acidamente.

- Enfim, muita gente está até pensando em se mudar. O padre está dizendo que aquilo não passou de uma ilusão colocada nas pessoas pelo próprio diabo. Embora ele gagueje quando tenta explicar a respeito da madeira quebrada do palco onde iam executar você. Há gente de outra cidade que duvida de tudo que estão ouvindo. Mas uma coisa é certa. Todo mundo está com medo de Samuel Tavares dos Santos. Acreditam que vai retornar para se vingar de todos.

Eu encarei Franco, abismado e enojado.

- Está se divertindo com isso, não é?

- Eu? - Franco falou, defensivamente sarcástico. Depois sorriu. - Não leve para o lado pessoal. Eu me divirto com muita coisa.

Quando sorria daquela forma, parecia uma pessoa legal, inofensiva. Completamente diferente daquele ser assassino, ou do amante fogoso.

- Eu não coloquei nenhum feitiço em você, Sam. Posso lhe chamar de Sam? Samuel é um nome longo, me cansa. Na Inglaterra, as pessoas lhe chamariam de Sam.

- Inglaterra? - Já tinha ouvido falar da terra distante. Mas nunca esperava conhecer alguém de lá.

- Oh, sim. Quer visitar?

Eu arregalei os olhos.

- Visitar? Quer dizer, com você?

Franco estreitou os olhos.

- Com quem mais?

- O que te faz pensar que eu quero viajar com você?

- Se você quer ou não, não faz muita diferença. Você é meu.

Eu fiquei em silêncio por alguns minutos. Voltei a ficar com medo. Franco aceitou o silêncio como um velho amigo e acendeu um cigarro e começou a fumar. Tentei não entrar totalmente em pânico.

- O que quer dizer com, ‘você é meu’?

Franco tragou e soltou a fumaça.

- Quis dizer exatamente o que disse. Você é meu, Sam. Eu salvei sua vida. Aliás, você me pediu para salvar sua vida. Depois, você implorou para que eu chupasse seu sangue. Nenhum humano na história da minha vida desejou tanto a minha mordida. Você obviamente foi feito para mim.

Agora eu comecei a entrar em pânico.

- Eu não sou seu. Você me salvou mas você me colocou em perigo mortal para início de conversa, e pelo Amor de Deus, eu não implorei para ser mordido.

- Sério?

- Você me mordeu, perguntou se eu confiava em você, e depois me mordeu, eu nem sabia que você iria chupar meu sangue. Acha que não lembro?

- Acha que eu não lembro que você depois me pediu para continuar chupando, mais forte, mais forte, Franco, me morda, me morda! Franco!

- Pare! Pare com isso!

Eu comecei a ficar vermelho.

Franco sorriu.

- Isso não acontece, Sam. Claro, os humanos adoram nossas mordidas. É prazeroso. Mas você queria mais, mesmo quando eu já não estava mordendo. Você sabia o que eu era, e me viu na minha transformação, e confiou em mim. Você me pertence.

- Não - eu não iria aceitar.

- Por que não?

Ele se levantou e veio até mim. Eu não fugi. Estava muito chocado para fugir.

Não respondi sua pergunta.

- Sam, Sam… Eu posso lhe dar tudo.

- Só quer minha alma em troca?

Franco sorriu.

- Não sou esse tipo de demônio. - Ele colocou o cigarro na minha boca. Para a minha surpresa, eu aceitei e traguei. Era um de boa qualidade. - Olhe para você, todo encolhido de novo. Não precisa ter medo de mim. Só precisa me aceitar. Vai me dizer que não gostou da nossa noite?

- Mas e minha vida?

- Que vida? A sua vida acabou quando matou o prefeito.

Arregalei os olhos para Franco. O maldito ainda sorria.

- Bastardo. Filho de uma puta.

- Pode me xingar o quanto quiser. Mas eu queria você, e consigo tudo que quero. Mas você não precisa dessa vida, eu posso te dar uma melhor… - Ele me beijou na bochecha e colocou o cigarro na minha boca. - Por favor, Sam… Eu sinto que posso amar você. Eu nunca senti isso antes. Apenas inveja dos meus amigos. Me odeie, se quiser, mas eu não vou desistir.

Eu soltei a fumaça do cigarro num gemido e virei o rosto para beijá-lo. Franco resgatou meus lábios de uma vez só. Sim, minhas lembranças não mentiam, o beijo dele era maravilhoso.

Lembrei-me da vista de quando estava preso nas garras de Franco em sua forma de criatura cinzenta, voando por cima da cidade. Ela pareceu tão minúscula. Em consequência, eu me senti tão minúsculo. Meu coração se encheu de ódio. Mas aquele era um ódio diferente do que havia sentido nos últimos dias, ódio do mundo por me restringir a um lugar ínfimo e uma vida pobre, ao lado de pessoas de mentes pequenas.

- Sim, tudo bem, Franco… - Eu ainda tinha medo. Franco me beijou mais, e eu deixei pra lá.

a.

a.

a.

a.

a.

9000 palavras, eu com certeza deixei passar alguns erros grotescos, espero que não percebam e se perceberam, espero que não liguem.

Guys, a senha dessa conta tava salva no computadorKKKKKKKKKKKK eu sou muito burro. Eu fiz esse conto do Franco, porque eu só queria dar uma explicação, Franco foi o único que não ganhou nenhuma no fim de Doce nas Veias. Espero que gostem.

Beijos.

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 0 estrelas.
Incentive Vamp19 a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Comentários

Foto de perfil genérica

Lendo agora, adorei a escrita.

Por favor, faça uma continuação! :D

0 0
Foto de perfil genérica

Perfeito! Eu iria amar se houvesse uma continuação. Dez como sempre!

0 0
Foto de perfil genérica

Oi lindo, desculpe a demora para comentar, tinha perdido a senha da minha conta, mais vamos ao comentario. Incrivel, achei o Franco bem maldoso, mais adorei esse capitulo, vc vai escrever um novo conto com o Franco como protagonista? Seria bem legal. Nao demore a postar ta bjs.

0 0
Foto de perfil genérica

eu gostei e mtooo, mas que ele foi mto maldoso e perverso com Samuel, ele foi hein....

0 0
Foto de perfil genérica

Amei! q bom q uma continuação do Franco! Amei amei amei

0 0