CAPÍTULO ÚNICO
Será se é errado se apaixonar ? Ou será se é errado se apaixonar apenas por um garoto ? Eu não sabia responder. Mas todos diziam que era errado se apaixonar por um garoto.
FLASHBACK
-Pai, mãe. Preciso de uma ajuda de vocês.
-Diga filho, qual é a ajuda ?
-É pro meu dever de casa. Qual é o pensamento de vocês a respeito da homossexualidade ?
-Isso é uma aberração meu filho. Os garotos que se sujeitam a isso no mínimo são influenciados por essa moda de agora que tomou conta do país, de que ser gay é bacana. Esses homens deveriam se arrepender, procurar uma garota decente e salvarem a sua alma enquanto é tempo. - meu pai dizia.
-Eu penso igual ao seu pai meu filho, isto é uma indecência sem tamanho, onde já se viu, homens com homens e mulheres com mulheres, isto é o fim do mundo...
TEMPO DEPOIS
-Ei galera, queria fazer uma perguntinha a vocês, é pro meu dever de casa – dizia, perguntando ao grupinho que joga bola comigo – o que vocês pensam dos homossexuais ?
-São nojentos ! - um disse
-É horrível esses baitolas, deviam ser mortos !
-Detesto eles – outros disseram
FIM DO FLASHBACK
Eu particularmente não via mal nenhum nisso. Não via como uma escolha, não via como uma decisão. Sempre pensei que ninguém escolheria ser algo que o levaria a ser odiado por grande parte das pessoas, apenas por um detalhe que deveria ser pessoal. Que levaria a ter problemas a arranjar empregos, fazer amizades, e que nunca daria plena felicidade. Até meus 15 anos eu era extremamente preocupado com isso. Nunca tinha beijado uma garota, nem me apaixonado por nenhuma delas. Não conhecia notar nada de diferente, nada de especial em garota nenhuma. Depois, tentei reparar nos garotos, novamente parecia que eu não reparava neles.
-Será se você não é assexual ? - a minha melhor amiga, que eu mais confiava e que se dizia lésbica perguntava. Ela frequentava a mesma igreja que eu, portanto tinha que se esconder e só podíamos confiar nossas dúvidas um para o outro.
-Como assim ?
-Sei lá, você parece não sentir atração por ninguém, nem por homens, nem por mulheres. Isso para mim é assexualidade.
-Será ?
Pesquisei sobre a assexualidade durante alguns dias, e até cheguei a pensar que realmente podia ser assexual, mas logo descobri que estava errado. Foi tudo uma questão de uma pessoa especial aparecer.
DIAS DEPOIS
Era mais um domingo a noite como todos os outros. Família inteiramente reunida na igreja, o pastor na frente pregando e eu o olhando atentamente.
-Irmãos, Deus ama a todos vocês por igual... - enquanto o homem falava, notei um rapaz subir as escadas em direção ao palco. Não pude vê-lo bem, pois ele subiu quase que as pressas. Mas por algum motivo ele me chamou atenção – e então, vamos ver o louvor que a nossa banda preparou para hoje. - de repente então aquele garoto apareceu, tomou o microfone do pastor e se posicionou no palco. Parecia que ia cantar. Quando a luz focou nele, meu coração acelerou.
-Vamos lá – falou, com uma voz doce no microfone. Começou a cantar, e quando recitou o primeiro verso, tremi. Não sabia explicar o que era aquilo que tomava conta de mim naquele momento, mas era único. Era a primeira vez que sentia essas sensações tão intensas. Olhava a ele por completo. Vestido de uma camisa de botão azul, por baixo uma branca, uma calça preta e um sapato. Mas não foi a roupa que me chamou atenção foi o rosto. Branco, Olhos Pretos Brilhantes, Cabelo lisos com franja, uma leve barba, um sorriso de canto, um corpo ligeiramente malhado. Eu não sei se havia visto um rapaz tão bonito quanto ele. Meu coração acelerava cada vez mais, e parecia que cada minuto que se passava eu ficava mais nervoso e mais bobo. Eu não sabia o que dizer. Algo novo se mexia dentro de mim... E ele cantava lindamente.
-Que lindo, não é filho?
-É... Lindo... - eu não conseguia tirar o meu olhar dele. E quando ele olhou para mim, fiquei hiper envergonhado e tirei o olhar dele.
-Bem pessoal, quem quiser participar da banda pode se inscrever aqui no canto tá ? - ainda estava me recuperando de tudo aquilo.
-Vai lá ! - minha mãe falou
-Eu ?
-É... Você não toca guitarra ? E eu já vi você cantar... Vai lá, se inscreve – eu tinha vergonha, mas quando vi que ele estava na banda, decidi entrar. Inscrevi-me na banda, pensando nele. E quando voltei a olhar para ele, percebi que ele olhava para mim. Aquilo me deixou totalmente desconcertado.
TEMPO DEPOIS
No primeiro dia que fomos conhecer a banda, fui extremamente nervoso. Durante todo aquele tempo, ele não saia da mente. E quando cheguei lá, adivinha quem foi o primeiro a nos receber ?
-Oi pessoal... Que bom que mais pessoas querem participar da banda – sim, era ele. Minha vontade era dar a ré e voltar para casa, mas não o fiz... - se apresentem – de um a um todos falaram seu nome – e você, aí atrás ? - ele perguntou, agora olhando para mim
-Daniel...
-Ah... - nosso olhar ficou junto durante alguns segundos, até que ele desviou – bem pessoal, os nossos instrumentos ficam por aqui...
TEMPO DEPOIS
Obviamente tinhamos que mostrar o nosso talento. E de um a um mostramos o que sabiamos. Obviamente, a maioria era boa. E na minha vez, meu coração parecia que ia sair do corpo. Peguei a guitarra, toquei algumas notas.
-Olha, parece que enfim encontramos um guitarrista para esta banda – o garoto falou, me olhando – faz mais alguma coisa ?
-Eu também canto... - dizia, entre sorrisos contidos e vergonha aparente.
-Sério ? Canta pra gente...
-Ok... Mas eu não vou cantar uma música gospel. Pelo menos por enquanto.
-Ok, cante o que quiser – decidi cantar Palavras ao Vento, da Cássia Eller. Todos me olharam atentamente durante toda a canção. Aquilo me deixava nervoso, mas ao mesmo tempo feliz. Se todos me olhavam, era sinal que eu estava indo bem.
TEMPO DEPOIS
Fui ao banheiro, afinal todo aquele nervosismo não estava cabendo dentro de mim...
-Olá Daniel – de repente então ele entrou no banheiro, me deixando ainda mais nervoso.
-Oi... Você é novo por aqui,não é ?
-Porquê...
-Nunca tinha te visto, e já frequento aqui há muito tempo.
-Deve ser por que eu não era da banda. Entrei a pouco tempo.
-Ah... E... Qual é o seu nome ?
-Flávio...
-Ah, Flávio... - estava a 10 minutos praticamente lavando as mãos ali na beira da pia, tentando disfarçar o meu nervosismo.
-Bem, vou voltar a banda...- de repente então ele segurou o meu braço.
-Espera... Você namora alguém ? - eu não entendi por que ele perguntou aquilo.
-Não... Porquê você quer saber disso ?
-É que... - de repente então ele ficou quieto – deixa para lá...
TEMPO DEPOIS
Troca de olhares constantes, sorrisos, feições, eu reparava em tudo nele. Logo percebi que estava me apaixonando pela primeira vez. Só não sabia no que aquilo resultaria. E apesar de tudo o que me diziam, aquilo não era errado. Era íncrivel...
-Olá ? - entrava na sala de música da igreja, com ela totalmente vazia...
-Daniel ? O que faz aqui ?
-Ué, hoje é quarta, não é dia de ensaio ?
-É... Mas nós tinhamos desmarcado o ensaio por que esse fim de semana não teremos culto. Você não soube ?
-Não, ninguém me avisou. O que você está fazendo ?
-Afinando este violino...
-Você sabe tocar ?
-Sei... Quer ver ?
-Quero... - durante alguns segundos ele respirou fundo... E então, começou a tocar. Era lindo... Como sempre tudo que eu via ele fazer, era lindo... Estávamos nós dois naquele sala, com ele a tocar violino, e eu a aguentar o meu coração acelerado no peito...
-O que achou ?
-É lindo... - ele sorriu, parecendo envergonhado em seguida...
-Se você quiser eu poderia te ensinar... - falou.
-Mas você teria paciência...
-Eu amo ensinar, acho que vou ser professor...
-Então eu quero... - ele sorriu, e se aproximou de mim – primeiro você precisa aprender a como segurar o violino... - falou – deve colocar desta forma, com a cabeça apoiada.
-Assim ?
-Não... Está fazendo algo errado... - e então ele veio para trás de mim – você tem que colocar desta forma – de repente os dedos dele tocaram os meus, e eu me arrepiei. Já não tinha mais concentração nenhuma, meus pensamentos estavam embaralhados, era os sentimentos borbulhando dentro de mim – e sua cabeça deve apoiar o violino aqui... - dizia, pegando levemente na minha cabeça para colocar na posição. Ele se aproximou de mim naquele momento, pude sentir sua respiração na minha nuca, me arrepiei de novo – Daniel ?
-O quê ?
-Você entendeu o que eu disse ?
-Entendi sim... - mentia. E enquanto tentava me ajeitar com aquele violino, de repente senti um beijo no meu pescoço. Imediatamente virei-me.-Flávio ?!
-Ai, me desculpa, eu... Eu... - de repente vi ele ficar nervoso e vermelho, como eu, pela primeira vez – ai, eu não sei o que me deu,eu... - e então eu o beijei, para consolidar a paixão que eu sentia dentro de mim...
FIM
E ai ?? Gostaram ??? Tentei lembrar de uma primeira paixão qualquer. Beijos :)