Cap.6
Vi ele sair do banheiro enquanto eu arrumava a cama.
-E aí ? Como está ?
-Mais ou menos, com a cabeça pesada...
-Quer comer alguma coisa ?
-Quero... O que tem pra comer ?
-Um monte de coisas. Está lá sobre a mesa – falava, indo até o meu closet – pega essas roupas aqui, essas suas estão cheirando a vodka.
-É, você tem razão...
-Te espero lá na mesa...
-Renato, espera ! - falou, quase que me intimando...
-O que foi ?
-Só foi aquilo mesmo que aconteceu ontem ?
-Sim, porquê ?
-Não, porquê eu quero ter certeza que não fiz nenhuma besteira. Você sabe como é, quando a gente fica bêbado perde a noção.
-É, eu sei... Mas foi só isso mesmo Elias, você... Não fez nada demais – dizia, lembrando dele a beijar meu pescoço.
TEMPO DEPOIS
Ele já havia ido embora. Mas quem disse que eu conseguia me acalmar...
-Ei, calma. Dá pra você para um minuto quieto nessa casa – André dizia, sentado no sofá enquanto eu andava de um lado pro outro buscando algo para me distrair.
-Como vou me acalmar ? Como eu vou me acalmar André, me diz ? Com esta porcaria desse sentimento de medo que não sai de dentro de mim. Tenho medo dele lembrar, ficar puto, sair espalhando por aí...
-É por isso que estou te falando, conta logo o que aconteceu entre vocês dois que é melhor... Ele pode até ficar com raiva, mas pelo menos você teve a hombridade de esclarecer tudo. Ora ou outra ele vai lembrar Renato, não adianta ficar ai a criar falsas esperanças. Você é médico, sabe melhor que ninguém como acontece a amnésia alcoolica.
-É, e isso me dá medo... - de repente então me liga um dos meus pacientes – alô ? Ah, seu Romeu, como está ? Como é, sua filha caiu da escada ? Ok, leva ela para o hospital que eu vou para lá já... - falei, desligando o telefone em seguida – graças a Deus, pelo menos posso me distrair um pouco disso tudo...
MINUTOS MAIS TARDE.
-Como você vai cair da escada dessa forma ein ? - dizia, olhando o raio-x dela.
-E então doutor, como ela está ?
-Quebrou a perna né, o que mais.
-Eu não sei o que me deu doutor, fui para perto da escada meio atordoado e acabei caindo de lá. Foi meio que inconsciente tudo isso... - a paciente dizia
-Vou chamar um ortopedista para ver o seu caso e determinar o que você vai ter que fazer.
-Acha que é muito grave ? - seu Romeu dizia
-Qualquer fratura é grave seu Romeu... Porém, é tratável. Só resta saber o tempo que esse tratamento vai levar.
-Ok então doutor, obrigado...
MINUTOS DEPOIS
Saia dirigindo do hospital, em meio a todos aqueles pensamentos tristes. Ao mesmo tempo em que lembrava da noite com alegria, com felicidade, como se tivesse um sonho realizado, a loucura que aquele sonho representava me amedrontava. Eu sei que algumas pessoas podem pensar que ninguém é demitido só por ser gay. Pela lei é assim... Mas nós sabemos que a realidade é outra. No fundo, o meu medo maior não é pegar as contas. É ter dificuldade de arranjar um novo trabalho, o meu chefe é influente em todo o Rio, ele poderia destruir minhas expectativas por aqui. Além disso, não queria me assumir a todos assim, meio que obrigado. Então eu tinha medo do que poderia acontecer. Cheguei em casa mais uma vez, e quando entrei, me deparei com o Elias sentado no meu sofá.
-Elias ? O que você está fazendo aqui ? - de repente então ele se levantou e veio na minha direção.
-Você tem certeza que foi aquilo mesmo que aconteceu ontem a noite ? - ele estava com uma cara feia, e aquilo me assustou.
-Foi Elias, já não te falei umas 5 vezes isso ? Porquê pergunta isso de novo ?
-Ora porquê... Eu tive um pensamento, em que nós dois estávamos a nos beijar... Eu não sei se é verdade ou não... Se foi um delírio dessa maldita ressaca, mas se aconteceu algo enquanto nós estávamos bêbados é melhor você me dizer logo Renato !
-Você está louco ? Nós dois a nos beijar ? - dizia, tentando rechaçar aquela hipótese.
-É... Olha, eu sei que as vezes os bêbados fazem coisas estranhas, mas chegar a este ponto não. É, ou não é... - eu não sabia o que responder. Estava com medo, confuso – é, ou não é Renato ? Me responde caramba ! - falou ele, me puxando – nós não nos beijamos ontem, não é ?
-Olha, Elias, eu...
-Fala que isso não aconteceu Renato ! Fala agora... - eu não conseguia dizer nada, tamanho era o meu nervosismo – então fala agora, o que foi que aconteceu ontem a noite Renato – aquele olhar dele me intimidou – Diz Renato ! Diz - falava, me fazendo pressão, de uma forma que eu não aguentei.
-Nós fomos para a cama Elias ! Foi isso... - eu acabei contando... Não teve resistência, não teve fuga. Eu contei, foi isso que aconteceu. Ele me olhou, e imediatamente começou a ficar vermelho.
-Nós o quê Renato ?
-Olha, eu não vou mais mentir ok. Nós chegamos aqui ontem caindo de bêbados e quando eu menos vi tudo já tinha acontecido. Nós transamos Elias, foi isso ! - ele não conseguia esboçar reação.
-Nós transamos Renato ? Nós transamos ? Mas como ? E você não fez nada para impedir...
-Olha Elias, é que...
-É que o quê ? Você queria transar comigo, é isso ? - falou ele, me puxando pelo colarinho. Eu não consegui dizer nada. Quando menos esperei, ele me deu um soco – então você é gay, é isso ? - de repente então André apareceu.
-Ei, parem com isso agora !
-Eu não queria que fosse assim Elias, aconteceu ! - dizia aos gritos.
-Aconteceu ? Aconteceu ? Como que nós fomos parar na cama ! Você me enganou, você me seduziu, é isso ?
-Seduzi o quê ! Eu sou um homem, você esqueceu, como é que eu iria te seduzir...
-Você me levou para a cama enquanto eu estava bêbado !
-E você foi ! Ninguém vai para cama com alguém se não quer Elias, mesmo bêbado !
-Eu devia espalhar para todo mundo que você é gay !
-Isso, espalha ! Mas antes diz que você também é ! - André agora se meteu.
-O que você está dizendo ! Eu gosto de mulher...
-Gosta de mulher mas parou na cama com o meu irmão...
-Então você sabia que ele é gay ?
-Sabia, e tenho orgulho dele. Se você transou com ele, assuma Elias, ninguém vai pra cama e come alguém se não quer !
-Mas eu não queria...
-Não parecia ontem a noite – agora foi a minha vez de falar – quem me beijou foi você !
-O que você está dizendo ? Eu te beijei, não seja idiota !
-Mas é a verdade ! Se você disser uma palavra, eu vou dizer que foi você que me atacou primeiro, e então todos saberão que eu não sou o único gay dessa história... - ele apenas olhou para mim, enraivecido. Parecia que ia explodir. E então saiu, batendo a porta fortemente. Eu então desabei em lágrimas...
-Acabou André... Agora acabou de vez... Ele nunca mais vai olhar na minha cara...
Continua
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