[GLUE] 24
Estava sentado na cama argumentando sobre o projeto enquanto Gabriel bisbilhotava minhas coisas do quarto. – Acho que você tem déficit de atenção só pode disse a ele. Ele mal prestava atenção em mim enquanto passava as mão pelos títulos do meu livro que estava na estante suspensa. – Nossa quantos livros, sabia que você era um daqueles nerds. Soltei um suspiro de indignação – Você não pode prestar um pouco de atenção no que estou dizendo. Ele se virou cruzou os braços e ficou me olhando. – Ok! O respondeu. – Bom, eu estava dizendo que seria bom nos também ampliasse o projeto sobre outras coisas, tipo como afetaria a biodiversidade entre outras coisas e qual impacto teria em geral no campo de... – O que aconteceu entre você e aquele garoto o perguntou. Eu fiquei em silencio, olhei pela janela. – Você devia perguntar o que não deveria ter acontecido respondi. Ele passou a mãos sobre os cabelo deixando eles bagunçado. – Porque vocês tem que ser tão complicados, porque vocês complicam tudo o disse. – Como assim vocês respondi. – Vocês humanos disse ele. Eu soltei uma gargalhadas – Nos humanos? Então quer dizer que você não se considera humano. – Claro que me considero o respondeu, mas pessoas completamente humanas machucam as outras, elas não se deixam levar pelas emoções. Fiquei olhando ele enquanto ele me olhava, me aproximei dele ouvi o barulho dele engolindo seco cheguei perto de seu rosto – Você não sabe de muita coisa sobre a vida não é disse a ele. Ele revirou os olhos como se eu tivesse dito a pior besteira de todas – Acho que está na hora de eu ir o disse, amanhã nos vamos a minha casa ok. Assenti com a cabeça e o acompanhei ele até a porta e nos despedimos. Minha mãe veio da cozinha e ficou me olhando – O que foi perguntei. – Nada a respondeu.
Ela estava voltando a cozinha quando parou no meio do caminho. – A proposito o Luan saiu do hospital e já está em casa, deveria ir visita-lo a disse. – Não, não deveria respondi a mim mesmo. Estava no quarto deitado olhando o gira-gira enquanto pensava na situação do Luan que provavelmente em uma hora dessas já deve ter ciência do ocorrido e de que eu sei da merda toda que eles fizeram.
Estava a caminho da escola no outro dia pensando em tudo que havia acontecido e essa história toda me deixava nauseado, entrei na padaria uma esquina antes do colégio para comprar um chá gelado fiquei parado diante a máquina para escolher um sabor até que ouvir alguém me chamando e quando me virei fui surpreendido coma a mãe do Luan. – Júlio meu Deus como você está? Não ouço notícias suas desde a última vez que te vi no hospital. – Me desculpe é que andei meio ocupado. Disse eu meio sem graça. – Nossa você tem que ir em casa o Luan já está lá, sua mão não te disse? A perguntou. – Sim, disse é que estou meio atrasado com as matérias da escola mas vou sim. “Mentira vou não pensei comigo”. – Okay a respondeu, a e estou trabalhando aqui agora sua mãe me arrumou esse emprego e diga a ela que não sabe como sou grata por tudo que tem feito. Com isso ela me abraçou de novo. Eu não poderia dizer nada a ela, não parecia justo a nenhum momento.
Me despedi dela e fui saindo da loja quando me dei de cara com o Marcelo novamente. Dei-me de costas e segui para o colégio. – Júlio, Júlio! Gritava ele. Até que senti sua mão segurando meu braço. – Por favor me deixe explicar, por favor. Eu fiquei olhando para seu rosto e a única vontade que tinha era de socar até meu ódio passar. – Não há nada para explicar Marcelo, você fodeu ela e o Luan assumiu a culpa fora de tudo isso não há nada a explicar. –Ele ficou imóvel por um momento. – Não pode acabar assim, não pode me deixar assim o disse enquanto apertava ainda mais meu braço. – Para Marcelo, solta meu braço ... o que você quer não há mais nada entre nós respondi.
Ele ficou me olhando e realmente não entendia o que passava por sua cabeça até que ele me beijou, ele me puxava contra ele aquilo foi me revirando o estômago. – Não Marcelo, não ... eu falei não!!!. O empurrei ele se afastou de mim e ficou me olhando. – Porque você não consegue me perdoar o disse, porque você não me perdoa? Eu te amo tanto. Eu apenas me virei e continuei seguindo caminho até o colégio, as lágrimas derramavam do meu rosto enquanto eu passava as mangas do moletom para seca-las.
Quando olhei para o lado da calçada tinha um carro me seguindo, quando abaixou o vidro vi que era Gabriel. – É ai meu nerd como está o disse todo alegre. – Ei, respondi e esse carro. Certeza que ele notou que eu estava chorando. – É meu o respondeu quer dar uma volta. Olhei para o resto do caminho do colégio, vi os alunos passando por mim, até que quando vi já estava entrando no carro. Estávamos do outro lado da cidade ele avançava devagar o silencio pairava no ambiente – Então o disse, não vai perguntar como consegui esse carro. Eu olhei para seu rosto que estava concentrado na avenida – Você o roubou respondi. Ele soltou uma gargalhada – Meu Deus como você é engraçado, não esse carro é meu, meu pai me deu quando eu completei 18 anos. – Dezoito anos? Respondi, quanto anos você tem. – Ele me olhou por um momento – Tenho 19 anos, e reprovei um ano já era para eu estar fora dessa vida de colégio mais minha rebeldia falou mais alto o disse. – Como você é irresponsável respondi. Ele sorriu e novamente o silencio tomou conta do carro. – Então você e aquele garoto qual é a dele o disse. Eu parei por um momento olhei pela janela – Nos namorávamos e ele me traiu e engravidou uma menina e agora quer perdão.
Ele ficou em silencio olhou pelo retrovisor – Vai perdoa-lo? O disse. – Não sei respondi, realmente não sei. Meus olhos marejaram de novo, passei as mangas do moletom – Vamos lá para minha casa o disse. Com isso ele apertou o pé no acelerador e tudo ficou mais rápido, fiquei olhando o passar dos carros pela janela, ele era habilidoso no volante paramos em um sinal enquanto eu olhava para o lado de fora até que do outro lado da rua vi algo que me deixou pasmo – Era o pai do Luan que estava sumido desde o incidente, ele estava sentado do lado de fora de um café, estava barbudo mais do que de costume eu fiquei o encarando de dentro do carro, até que a porta da cafeteria abriu e Juliana saiu e sentou do lado dele e começam a conversar. Que merda está acontecendo perguntei para eu mesmo, fiquei olhando os dois, peguei meu celular que estava na bolsa e coloquei o número do Luan parei meu dedo sobre o botão de ligação, desliguei o celular e coloquei na mochila de novo. O sinal abriu e continuamos a seguir para a casa do Gabriel eu estava inquieto com aquilo tudo, o que Juliana estava fazendo com o pai do Luan – O que foi Júlio? Algum problema perguntou Gabriel. – Nada, nada de mais respondi.
Chegamos ao bairro rico, era o nome que dávamos a esse lado da cidade que meros mortais como nós não frequentava. – Então se mora por aqui? O garoto rebelde e rico que clichê. – Cala a boca respondeu ele rindo. Passamos mais algumas quadras até chegar em uma casa sem portões e muros estilo americana. Ele estaciono e desceu do carro veio correndo do meu lado e abriu a porta. – Senhor bem vindo a minha residência o disse. Eu comecei a rir. – Palhaço você hein. Respondi. – Então o disse abrindo os braços essa é minha residência, provavelmente isso me pertencera se meu pai tiver dó de mim. Eu ficava o observando com um sorriso. – Vamos entrar. Segui ele até a porta de entrada ele tirou um molho de chaves do bolso enfiou na fechadura daquela grande porta pintada de branco. Entramos em uma sala gigante havia uma mesa dourada no canto seguido de um enorme espelho em vertical, me olhei por alguns momentos, no canto havia um sofá branco ao lado uma mesinha com algumas revistas a parede era impecavelmente branca não havia uma mancha se quer, um enorme lustre pairava sobre minha cabeça. – Impressionado o disse olhando para eu. – Um pouco respondi. – Vem vamos lá no meu quarto o disse segurando minha mão. – Chegamos em outra sala onde havia mais dois sofás e uma poltrona a sala era coberta de branco e dourado, havia pilastras de mármore que sustentava uma escada com um grosso corrimão em dourado, havia outro lustre mas esse era de forma oval, um grande pintura de guerra ao lado esquerdo da parede quebrando todo o branco e dourado da sala. – Vamos por aqui o disse me arrastando. Subimos a escada e chegamos a um grande corredor – Quantos quartos tem nessa casa perguntei. – Bom nesse corredor cinco, o do meus pais, três de hospedes e o meu, lá em baixo os dos empregados o disse. – Claro empregados respondi. Ele revirou os olhos. Continuamos até o final do corredor até chegar a última porta. – Preparado para conhecer minha batcaverna. – Para de graça abre logo respondi.
Adentramos o quarto, era maior que minha casa eu acho, havia uma enorme cama de casal as janelas de vidro eram extensas, havia vários pôster emoldurados Artic Monkeys, AC/DC, Iron Maiden entre outros, no canto havia um sofá de três lugares e uma enorme tv, ao lado seguia uma enorme estante de livros com alguns boxes de dvd’s havia uma cômoda onde se encontrava algumas fotos, cheguei perto ele me observava atentamente havia uma dele com o Mickey mais duas pessoas – Esses são seus pais perguntei. Deixa eu ver o disse aproximando do retrato – Sim, esses aqui meus avós foi ele dizendo apontando para outra foto. – Então o que achou do meu quarto o perguntou enquanto se jogava na cama. – Muito bacana respondi, enquanto caminhava até a estante de livros, comecei a passar os dedos sobre os títulos, alguns eu conhecia como os clássicos de Agatha Christie e outros não – Então você é nerd também fui dizendo. – Eu não, isso ai é só enfeite o respondeu. Eu continuava a vagar pelos títulos – Se sente melhor Júlio o disse. Eu me virei a ele e novamente veio Marcelo para minha cabeça, e a cena do pai do Luan com a Juliana. Fiquei pensativo por alguns momentos, ele se levantou da cama e veio em minha direção. – Ele segurou a minha mão e olhou nos meus olhos, engoli seco. Vi sua boca se aproximando da minha – Não, por favor não faz isso eu disse. Ele abaixou a cabeça – Desculpa, não custa nada tentar não é o disse.