Estrela guia de minha nau errante | 04

Um conto erótico de Lipe.Bourbon
Categoria: Homossexual
Contém 1791 palavras
Data: 12/06/2016 16:31:48
Última revisão: 12/06/2016 17:12:32

Estrela guia de minha nau errante | 04

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“Perto do mar no outono,

o teu riso deve erguer

a sua cascata de espuma,

e na primavera, amor,

quero o teu riso como

a flor que eu esperava,

a flor azul, a rosa

da minha pátria sonora.” (Pablo Neruda)

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- O que conversavam? Questionou Felipe, o Diretor.

- Que? Devolvi, ainda me recuperando do questionamento abrupto.

- O que você e o estagiário conversavam quando entrei na sala?

- Sobre a rosa.

Felipe pareceu desgostoso.

- Só isso? Felipe continuou o interrogatório.

- E sobre o amor.

Senti tristeza no rosto de Felipe.

De minha parte, senti-me estúpido. Poderia ter editado a resposta, mas não sabia que essa seria a reação dele.

Naquele momento, notei que a minha sinceridade excessiva nem sempre era positiva, para mim ou para terceiros.

- Pensei que você só fosse conhecer o estagiário hoje, Lipe. Foi isso que me disse semana passada.

- Mas, é verdade. Primeira vez que dialoguei com ele foi hoje, quando cheguei aqui.

- E em tão pouco tempo já debatem sobre a SUA ROSA (o Diretor fez questão de frisar que a rosa era minha!) e sobre amor?!

- É, ué. Sabe que sou sociável, Felipe. Não me furto a conversar.

-Sei, é uma qualidade sua, mas, por vezes, me dá certa dor de cabeça ver você socializando por ai.

- Sou sociável, Felipe. Mas, não leviano com os sentimentos. Faço colegas, mas amigos só o tempo e a confiança constroem.

- Está certo. E não conversou mais nada com o estagiário?

- Falávamos de literatura também.

- Meu Deus do Céu, Lipe!!!! Outro assunto pelo qual você é apaixonado.

- Sim...

- Mas eu não posso descuidar um minuto de você, que já aparecem pessoas querendo roubar toda a sua atenção e dedicação.

- Felipe, não precisa se preocupar, pois você tem local garantido em meu coração.

- Que bom, Lipe, que bom! Ainda assim, preocupo-me de aparecer alguém e passar a ser seu...

- Meu? Indaguei.

- Seu melhor amigo!

Felipe, o Diretor, respondeu com um suspiro ao final.

- De qualquer forma, Lipe, confirmada nossa saidinha pós-trabalho hoje, certo?

- Sim!

- Ótimo!!! Vou ligar para a Rosa e pedir para ela repassar o convite aos demais.

Aqui, um esclarecimento: Claudia não era nossa única secretária. Havia outras e uma delas era Rosa.

Rosa era uma senhora mais velha, de pouco estudo formal, mas de muito conhecimento de vida. Preguiçosa, porém hábil com as palavras e em cativar as pessoas. Sim, sabia bem bajular e puxar o saco das pessoas, principalmente daqueles que detinham maiores cargos.

Como eu comecei ali no Setor na condição de estagiário, ou seja, base da pirâmide social, vi Rosa fazendo suas traquinagens, sem disfarces. E, do lado dela, eu sendo estagiário, nada podia ofertar, logo a feição dela por mim tendia a ser verdadeira.

Por fim, mas não menos importante, Rosa era sensitiva. Até corria uma fama de bruxa pelos corredores do nosso local de trabalho.

Saí da sala do Diretor e voltei a minha mesa.

Lá estava aquele par de olhos azuis, azuis de encanto, azuis de hipnose. E para acompanhar um sorriso, de uma alvura a desmontar qualquer defesa.

- Voltei, Pedro.

- Tudo bem. Aguardava-te ansioso.

Outro sorriso dele! E um sorriso meu.

Daí virei-me para frente e vi Felipe, dentro da sala dele, de olhar sobre mim, raivoso, e com cara de poucos amigos.

Certo, melhor eu me concentrar no trabalho!

- Ok, Pedro. Retomemos os trabalhos, pois o prazo corre e não nos espera.

E assim fizemos, trabalhamos bastante. Passei a rotina do trabalho para o Pedro, ele retornou a mesa dele e começou a efetuar o necessário, questionando-me quando havia dúvidas.

Centrei-me em minhas atribuições e assim passou o restante da manhã. Quando dei conta, o relógio marcava 14h.

- Clau, vamos almoçar? Perdi noção do tempo trabalhando.

- Eu também, meu querido. Vamos sim, Lipe. Estou com muita fome.

- Combinado! Você passa aqui na minha sala e daqui seguimos para o almoço, OK?

- Fechado.

Desliguei o telefone e comecei a salvar os arquivos de computador que estavam abertos.

- Lipe?

Era Felipe, o Diretor, querendo falar comigo.

- Pois não, Felipe.

- Vamos almoçar juntos?

- Já marquei de almoçar com a Claudia.

- Poxa, Lipe, você nunca almoça comigo. Nunca tem vaga em sua agenda para mim.

Ri e respondi:

- Não é assim. Sabe que tenho costume de almoçar com ela e faz muito tempo.

- Mas sempre com ela?

Felipe fez aquela carinha de menino contrariado. Limitei-me a sorrir.

Ele ainda disse:

- Dessa vez está perdoado, Lipe, pois hoje teremos aquela happy hour e terei você só para mim à noite.

Ai ai! Senti um arrepio, um frenesi.

Felipe andava mexendo muito comigo, com essas frases de muitos sentidos.

- Licença, mas a Claudia está aqui e te aguarda, Lipe. Disse Pedro, nosso estagiário, logo após entrar na sala do Diretor, onde este e eu estávamos.

O clima que ali estava se desfez.

- O Dr. Felipe já vai, Pedro. Respondeu Felipe, seriamente.

- Começo a duvidar da decisão de aceitarmos esse estagiário que a Lais contratou. Felipe disse a mim.

- Vou almoçar, Felipe.

Saí daquela sala e notei que Vanda assistia a toda aquela cena, com muita atenção.

Encontrei a Clau e fui almoçar. Foi bom andar um pouco, útil para respirar.

Quando retornei do almoço, a notícia do happy hour já estava alastrada no nosso Departamento. Muita animação e muita falsidade de alguns.

Todos sabem que esse tipo de evento, além da tentativa de aproximar os colegas de trabalho, acaba sendo tido por alguns como oportunidade de xavecar, de bajular e de se auto vender.

Mais para o final da tarde fui fazer um café fresco. De repente, sinto alguém se aproximar, era Vanda.

- Lipe, meu querido, mesmo tendo crescido tanto aqui dentro, não perde o hábito servil de estagiário e continua a fazer o café. Por que não deixa para alguma das secretárias?

- Vanda, fazer café em nada desabona ou qualifica meu serviço. Faço de bom grado. Coleguismo e educação no trabalho são isso.

- Se você diz....apesar que, você pode estar fazendo café para evitar que o estagiário novo o faça. Protegendo seu novo queridinho, Lipe?

- Qual é a insinuação do dia, Vanda? Diz logo!

- Insinuação nenhuma, criança! Bem vi a sua interação com o Pedro, o estagiário.

- Ele é um dos nossos colegas e merece atenção e respeito como todos os demais.

- Explique isso ao Felipe, o Diretor, e o ciúme que ele está sentindo. Talvez você esteja dado demais com o estagiário novo...ele é bonito mesmo, forte e de traços agradáveis.

- Respeite-me, Vanda! Você pensa que está falando com que tipo de pessoa?

- Com você mesmo, moleque desaforado! Você é muito novo para apitar tanto aqui. Eu tenho muito tempo de casa e sei que vou ser prejudicada em breve. Nada me tira da cabeça que isso é obra sua. Você anda fazendo a minha caveira!

- Fique você aí com seu veneno. Tenho mais o que fazer.

- Conversamos mais à noite, na happy hour. Tenho a impressão que será inesquecível.

Não vi mais Pedro durante aquele dia de trabalho, pois já havia dado o horário de saída dele.

A noite chegou e o cansaço também.

- Lipe, estou pensando em encerrar o dia. Bora para a happy? Perguntou-me o Diretor.

- Vamos, eu já estou cansado também.

Felipe, o Diretor, avisou os demais funcionários e os preparativos para encerrar os computadores e para a partida ao barzinho tomaram conta do ambiente.

- Vai de carona comigo, Lipe? Felipe me indagou.

“Mas é óbvio, né!”, ouvi Vanda dizer ao fundo.

- Vou sim, Felipe. Obrigado!

Nem olhei para a falsa da Vanda.

No caminho para o bar, Felipe ia muito animado. Contava-me novidades de sua família que havia visitado no último final de semana.

Naquele momento, Felipe era feito de sorriso. E muitos sorrisos dele eram feitos para mim. Acompanhados daquele olhar sincero de menino feliz, me deixavam encantado.

O carro tinha o cheiro dele: másculo e elegante.

Felipe ia falando e, por vezes, tocava em mim. Alguns toques no meu braço, outros em minha coxa.

Eu? Seguia encantado, envolto no calor que cada toque dele provocava em mim, no perfume dele, no olhar dele, no sorriso dele, enfim, na felicidade dele.

Naquele momento, o mundo se limitava a ele.

Eu também ia observando Felipe. Realmente a academia fez muito bem a ele. Estava bem mais forte de quando o conheci e olha que ele já malhava à época.

Felipe flagrou-me observando-o e sorriu maroto.

Pronto, lá estava eu vermelho de vergonha.

Felipe também leu minha mente.

- E aí, estão notórios os resultados dos meus treinos?

- Você está mais forte Felipe. Você cresceu.

- Está me achando grande, Lipe?

Só havia malícia no olhar e nas palavras de Felipe.

- É fato evidente. Eu sequer preciso achar qualquer coisa, Felipe.

Felipe riu gostosamente de mim.

Óbvio que ele sabia que respondi de supetão e de forma assertiva, ainda sob a sensação de admirá-lo e de ser pego no flagra.

Para completar, assim que parou o carro no estacionamento do bar, Felipe soltou seu cinto, veio em minha direção e sussurrou em meu ouvido:

- Então, a partir de agora, serei seu grandão e você o meu “petit” (pequeno), mon cher (meu querido)!

Cheiroso e sensual! Felipe tinha plena ciência de minha admiração pela língua francesa e de como eu a acho charmosa.

No mais, ainda ali com os lábios próximos a meu ouvido, Felipe destravou a porta atrás de mim para que eu pudesse sair do carro, e voltou ao seu assento.

Ele desceu do carro e eu ainda tive que respirar e achar forças para descer do carro.

Desci.

Felipe aguardava-me na porta do bar. Veio a meu alcance e, por um minuto, pensei que fosse pegar em minha mão para entrarmos de mãos dadas no local.

Se tivesse feito isso, acho que daria minha mão de bom grado.

Mas, não! Felipe apenas me abraçou, passando um braço sobre meu ombro.

Dois camaradas. Ou não...rs!

Não era de mãos dadas, mas chegamos assim, juntos, no bar e no espaço reservado para happy hour, exclusivo, aquela noite, para nosso Departamento.

E todos os colegas de trabalho nos viram chegar, juntos e abraços.

Felipe ainda, antes de seguir para interagir com os demais, desfez o abraço, deu-me um beijo na bochecha e, pela segunda vez na noite, sussurrou em meu ouvido: chegamos, petit!

Fiquei ali, por um instante, recuperando o juízo.

Vi Vanda vindo em minha direção. Seu olhar, que era de fúria naquele outro momento em que Felipe me deu um beijo na bochecha, agora era um olhar de víbora. Havia vingança. Havia arapuca no ar.

- Lipe, sempre bem acompanhado pelo Chefe, e sempre recebendo muito carinho.

Abraçou-me e, após, disse:

- O melhor ainda está por vir, criança.

Ouvi o chocalho da cascavel. Era evidente: a cobra estava preparando o bote.

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Comentários

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Tomara que morra mocreia !!!!😋🐮

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"Safirynha", "Faspan", "Martines", "Maravilhosa2015", "Ru/Ruanito", "Atheno", "ze carlos", "shay16", "prireis822", "paipertrovao" e aos demais leitores: meus maiores e sinceros agradecimentos pela leitura do conto, pelos comentários e pelos elogios. São valiosos para mim e me incentivam muito.

Esse conto é pautado em acontecimentos reais em minha vida, que continuam a desdobrar até hoje. A escolha por escrever na data de hoje (dia 12 de junho), não é mera coincidência.

E por serem fatos de minha vida que ainda acontecem, aliados com a questão do tempo pouco livre, acabo escrevendo com pouca regularidade. Por isso, peço desculpas!

Mas escrevo de coração, por isso o grande incentivo ao ver a leitura e os comentários.

Mais uma vez: muito obrigado!!!!!

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