Cap.9
Olhei nos olhos dele, ele nos meus. Não diziamos uma palavra que fosse mas milhões de coisas passavam entre nós. Ele apenas baixou o olhar, desviou-se de mim e continuou a andar, ajeitando o jaleco. Olhei para trás para vê-lo seguir. Vi que ele estava com um leve hematoma no rosto. Tomei-me de remorso e culpa quando vi aquilo. Estava começando a me arrepender de ter batido nele.
MINUTOS MAIS TARDE
Já atendendo no meu consultório tentava enfim esquecê-lo. Sem pensar nele, nem no que aconteceu e no fato de tê-lo visto
-E então doutor, quando devo retornar ? - o paciente perguntava
-Só deve retornar se essa dor continuar. Se o tratamento fizer efeito não precisa retornar...
-Ah, tudo bem então. Obrigado doutor...
-De nada senhor... Vai querer um atestado ?
-Sim, vou... - então abri a gaveta aonde guardava o meu bloco, e para minha surpresa, encontrei um cartão ali. Quando peguei, logo percebi de que se tratava. Era um cartão do Renato, já com alguma idade, de quando ele viajou para a Disney e me mandou como lembrança. Me perguntava porquê guardava aquilo. Olhei para o lixo naquele momento, mas algo dentro de mim não deixou que eu jogasse fora. Virei o cartão e li o que estava escrito.
“Hello Elias. Não pense que eu me esqueci de você. Está um calor enorme aqui em Orlando, mas estou amando tudo isso. É tudo lindo, você precisa vir visitar. Espero que goste deste cartão. Abraços”
-O que foi doutor ? Algum problema ? - o paciente perguntou.
-Ã... Não, nada... É que eu não tava encontrando o bloco – falei, em seguida passando o atestado. Assim que carimbei, entreguei e ele saiu do consultório. Parei para pensar e um sorriso de canto se formou no meu rosto.
NARRADO POR RENATO
Depois de vê-lo no corredor, fiquei ligeiramente atordoado. Entrei na sala dos funcionários afim de beber um café para ajudar-me a manter acordado e também comer algo. Assim que entrei, lá encontrei Ed, um enfermeiro que vivia tentando algo comigo.
-Olha só quem está aqui... - falou ele, entrando na sala assim que eu entrei.
-Oi Ed... - disse, em seguida pegando café na cafeteira.
-Ué, tá tudo bem ?
-Mais ou menos... - falei, tomando um gole – nossa, tá quente !
-Claro... E então, o que te aflinge ?
-Nada, o estado de alguns pacientes, só isso...
-Em falar em pacientes, o seu Antônio queria falar com você. Disse que o problema dele consiste.
-Ok... Vou vê-lo depois desse lanche...
-Vem cá... E aquela noite ? Não rola de novo ? – certo dia eu cedi as cantadas dele e fomos parar na cama da minha casa. Não foi ruim, mas não foi excepcional.
-Quando ?
-Depois do nosso plantão...
-Tá bom... - ele sorriu
-Que ótimo – falou, beijando a minha nuca...
-Ed ! - aquela atitude dele ganhou um sorriso meu. No auge da minha raiva depois de espelhar uma paixão que dificilmente aconteceria, eu acabei aceitando ficar com ele.
TEMPO MAIS TARDE
NARRADO POR ELIAS
O meu plantão terminou pela manhã cedo. Arrumei todas as minhas coisas e me preparei para ir embora e descansar. Entrei no carro, sai dirigindo enquanto ouvia o rádio. Como conhecia os caminhos e sabia aonde haveria trânsito, fui pela rua do apartamento do Renato. A minha surpresa foi ver ele caminhar lado a lado com um homem ao sair do carro. Assim que vi, parei, estacionei o carro e fiquei olhando.
-Quem é aquele homem ?
Eles caminharam juntos, o homem parecia ter intimidade com ele. E então os dois entraram no prédio juntos. Aquilo me intrigou.
-Eu nunca o vi. Quem será ele ?
Continua
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