3ª PARTE
CAPÍTULO 2
HELENAE aí, como foi? – Perguntou Helena dentro da sala dos professores para a moça em sua frente que tentava organizar papeis dentro da pasta.
- Você realmente quer falar sobre isso? Eu tô ocupada! – Respondeu sem manter contato visual.
- Ai por favor, você sabe que eu tô de olho nesse homem desde que ele começou a trabalhar aqui... Se você me falar alguma coisa de mal dele, eu posso finalmente... Me sentir bem por não ser notada, vai Elaine, por favor, me fala que ele é machista, que ele é fedorento, diz que ele tem mau hálito ou chulé! Ele tem chulé?!
Elaine fez careta.
- Chulé? – Riu . – Como eu saberia se ele tem chulé?
- Ele tem? – Insistiu Helena.
Helena era tão jovem quanto Elaine, também morena e de pele clara, era mais tagarela e possuía uma beleza atípica, era linda, entretanto tinha sua beleza ofuscada quando estava próxima a Elaine.
- Sim, tem tudo isso, Jorge é reclamão, chato, tem mal hálito, chulé e beija muito mal.
Helena levou um susto.
- Vocês se beijaram?
- Talvez! – Respondeu Elaine tendo pressa ao organizar seu material e voltar para a sala de aula.
- E como foi? – Perguntou Helena boquiaberta.
- Horrível! – Disse Elaine revirado os olhos ao lembrar, expressando novamente o sentimento de prazer.
- Você é uma péssima mentirosa, sabia? – Disse Helena zangada, seguindo Elaine pelos corredores.
- Você que me pediu pra mentir! – Riu Elaine apressando os passos.
- Você vai sair com ele de novo? Não quer dividir? – Perguntou Helena rolando os olhos em seus óculos.
- Dividir? – Riu Elaine – Nunca! Esse é meu, Helena, segue em frente! – Correu Elaine, entrando na sala e deixando Helena parada em meio ao pátioAurélio entrava na cozinha com uma caneca de café vermelha olhando pela janela.
- Ela tá vindo! – Disse Débora com os braços cruzados demonstrando nervosismo em sua voz:
- Ok – Disse Aurélio, agora na sala, pousando sua caneca sobre o criado mudo. – Que carrão – Disse Aurélio encarando o carro vermelho lá fora.
Os dois ouviram duas batidas na porta.
- Atende lá! – Disse Débora, exasperando nervosismo.
- Tá! – Correu Aurélio. - Bom dia Helena! – Disse abrindo a porta e encarando uma moça que aparentava alta, vestido apertado e curto, revelando um corpo em forma e bronzeado, óculos escuros que cobriam a metade de seu rosto, cabelos longos e ondulados e lábios e nariz retocados por cirurgia.
- Bom dia – respondeu prontamente entrando na casa.
- E aí!? – Disse Débora mais ansiosa passando a mão sobre a barriga, como se seu bebê também estivesse nervoso.
- Queridos, tenho boas e más notícias, qual vocês querem primeiro?
- Acho que a.... – Começou Aurélio.
- Boa? Ok! - Completou Helena – Sem olhar para Aurélio – A boa é que outros três compradores desistiram de dar oferta na casa, vocês só estão na luta pela residência com mais um casal.
- E a má?! – Perguntou Débora rapidamente.
- A má é que a oferta deles é mais alta que vocês!
- Mais alta, quão alta?
- Um terço a mais que vocês estão oferecendo!
- Droga! – Gritou Débora!
- Então, o que vai ser? – Quanto mais rápido, melhor! Olha, eu sei que aquela casa é a casa, mas ainda há várias outras casas amáveis eu vocês podem...
- Não! – Disse Débora - Aquela é a minha casa!
- Então vocês cobrem o valor? – Perguntou Helena séria, ainda com os óculos de sol.
- Só um momento, Aurélio, vem cá! – E os dois foram para um canto próximo da cozinha. – E agora, o que a gente faz? - Perguntou ela, séria para Aurélio.
- A gente pode vender alguma coisa, o carro talvez.
- Não... Você ama aquele carro estúpido!
- Você tem alguma ideia? - Perguntou Aurélio ignorando a ofensa.
- Talvez se a gente fizer um empréstimo... Não sei... Eu amei aquela casa.
- Ora, ora, ora... – Débora e Aurélio ouviram a voz de Helena, próximo da janela.
- O que foi? – Disse Débora! – Se aproximando da janela para ver o que a fez tirar os óculos escuro.
- Por favor me diga que aquele moço descamisado lá fora cortando grama é o Jorge.
Débora se aproximou da janela para conferir e viu a figura de Jorge na rua da frente a quase três casas dali.
- Sim, é ele mesmo! Ele foi padrinho no nosso casamento. Vocês se conhecem?
Helena encarou os dois por alguns momentos, apontando para os dois com as pontas dos dedos.
- Sério? – Disse chocada.
- Sim! Trabalhamos juntos durante anos. – Concluiu Aurélio – De onde vocês se conhecem?
- Não importa – Afirmou Helena. – Tenho uma proposta para vocês... Me arranjem um encontro com esse homem amanhã que a casa é de vocês!
Débora olhou assombrada para Helena demonstrando tamanha desaprovação.
- Ah, talvez você não saiba – Começou Aurélio, mas ele é g...
- Está livre amanhã! – Cortou Débora!
- Está? – Sorriu Helena, voltando a encarar pela janela.
- Vem cá! – Sussurrou Débora para Aurélio, retornando ao canto da cozinha.
- O que você está fazendo? – Perguntou Aurélio irritado.
- Conseguindo essa casa para gente! Isso é o que eu estou fazendo!
- Tá gênia! E o que ela vai fazer quando descobrir que o Jorge é gay, aliás como você sabe que ele vai querer sair com ela?
- Não importa! Ela disse que se a gente conseguir um encontro a casa é nossa, e o encontro a gente vai conseguir. Jorge vai topar sim, porque ele não me deu nenhum presente de casamento e esse será o presente.
- Enfim, eu tenho uma reunião, preciso ir, amanhã às 21h está perfeito para mim. Diga que eu venho buscá-lo e que por favor, coloque um terno... de preferência que seja fácil de tirar. - Riu - Até!:06h
- Liga!
- Não, liga você!
- Eu não vou ligar!
- Por que não!?
- A ideia foi sua!
- Eu não entendo porque você simplesmente não pode ir ali, é alguns passos!
- E por que não vai você!?
- É pela nossa casa!
- Ai, dá logo esse telefone!
- Qual o número?
- Tá na discagem rápida! Nº 1. – Débora revirou os olhos, ajeitou o cabelo, mexeu na barriga!
- Alô! Jorge?! – Disse Débora! Com Aurélio tentando escutar logo ao lado.
- Hey, Débora, tudo bom? – Respondeu Jorge!
Débora conseguia ouvir alguém falar lá atrás no ambiente que Jorge estava.
- Aí, agora estou aqui fora, pode falar! - Disse Jorge.
- Aham, eu só queria agradecer por você ter cortado a grama ontem, o Aurélio quer falar com você! – Entregou o celular na mão do Aurélio o deixando surpreso!
- Hã? – Perguntou Jorge do outro lado.
- Filha da puta! – Disse Aurélio baixinho!
- Oi? – Perguntou Jorge confuso.
- Então... Eu só queria que você soubesse que a Débora ainda está profundamente magoada por você não ter dado um presente à ela no nosso casamento... Mas há em suas mãos a chance de resolver essa desavença.
- Hummm – Disse Jorge sentindo que esse discurso era o início de um grande favor.
Aurélio falou. Jorge ouviu. Débora estralou os dedos.
Sabia que devia um favor para o casal, sabia que havia uma agente imobiliária que queria sair com ele aquela mesma noite e por pura pressão e chantagem emocional descarada era obrigado a aceitar, caso contrário, segundo as palavras de Débora e Aurélio: “Interromperia a felicidade de um futuro lindo de um casal”. Ele saberia dizer não com facilidade para Aurélio, mas era Débora grávida que o deixava sensível.
A conversa tinha acabado, Mike e Gabriel haviam acabado de sair, ainda sem entender ao certo pra onde eles iriam, Jorge exigiu de Mike a promessa de que não arranjaria confusão. Jorge entrou na casa, viu Débora sentada com Aaron assistindo tv e perguntou:
- Eu consigo me passar por hétero, certo?
Aquela tarde se passou com longas conversas entre Alice, Débora e Aurélio que haviam passado ali para mais informações. As conversas alternaram entre comportamento, assuntos e finalidade. Jorge não se via nervoso assim há tempos.
Até que o horário chegou e Jorge ouviu um carro estacionar.
- É ela? – Perguntou.
- É – Respondeu Alice ansiosa.
- Ela chegou! Tchau! - Disse Jorge para Alice.