…
A reunião familiar na casa de Rogério estava melhor do que ele pudera imaginar. Gostava bastante de poder ter sua família reunida. No começo, estava preocupado com Pillar. A relação da esposa com o sobrinho não era muito boa. E o loiro também não fazia questão de mostrar o desprezo que sentia pela tia. Então, tinha motivos de sobra para ficar ansioso. Pillar era daquele tipo de pessoa que julga qualquer outra que não esteja dentro dos seus “padrões”. E, desde pequeno, Fred sempre foi o seu maior alvo. Honestamente ele não entendia do por que sua esposa implicava tanto com o sobrinho. Ele era um doce. E também sempre muito preocupado com a família. O fato de Fred ser Gay para Rogério era completamente normal. Quer dizer, ser Gay é normal como qualquer outra coisa nesse mundo. E achava lindo que seu filho tinha o melhor amigo do mundo sempre com ele. Na criação de seus filhos, Rogério sempre martelou na questão de que ninguém é melhor do que ninguém. E sempre foi muito orgulhoso de ver como eles tinham crescido. Estava ali, perdido nos pensamentos que nem escutou Dante o chamando.
-Pai? - está ai?
-Sim meu filho, estou. Estava perdido em alguns pensamentos.
-Sei. Então, eu sei que essa talvez não seja uma boa hora, mas, o que o senhor acha de eu trabalhar na empresa?
-Eu acho uma ótimo idéia, filho. Eu posso ver com o seu irmão e ele mesmo poderia contratar você. Em qual parte da empresa você gostaria de trabalhar?
-Em qualquer lugar, pai. Eu só não aguento mais ficar dentro de casa. Sei lá, quero me sentir útil.
-Eu entendo, filho. Faremos o seguinte, na segunda feira você vai pra empresa comigo e lá nós vemos o que podemos fazer.
-Combinado pai.
Humberto estava chegando perto deles na mesma hora.
-Beto - exclamou Dante - segunda feira eu vou pra empresa junto com o pai, ele disse que teria algum trabalho lá pra mim.
-Que notícia boa, pai! - sorriu.
-Pois é Beto, e eu disse que você poderia contrata-lo para algum cargo lá.
-Com certeza Dante! Veremos o que tem lá e o que se encaixa no seu perfil.
Dante sorriu.
-Gente, muito obrigado. - disse Dante puxando o pai e o irmão para um abraço.
Fred estava sentado no sofá do outro lado da sala conversando com Samantha. Não conseguia parar de pensar no que a prima havia dito. Será que aqueles dois estariam tendo algum tipo de caso? E se sim, o que de mal teria nisso? Humberto era um homem livre. E beeeem mulherengo. Enfim. Levantou e foi saindo pra fora para fumar sem notar que estava sendo observado.
Chegando no quintal, acendeu um cigarro e respirou fundo. Estava bem consigo mesmo. Sabia que não deveria reprimir Beto por conversar com quem ele quisesse. Mas lá no fundo sentia uma pontada de ciúmes.
-Oi meu loiro!
Fred se virou e viu Humberto. Ele estava sozinho.
-Oi baby!
Só cinco palavras entres os dois. Mas os olhares falavam por si mesmos.
-Você vai dormir aqui hoje? Amanhã poderíamos passear juntos.
-Eu não sei se devo.
Humberto encarou o loiro.
-E por que não?
Fred respirou fundo.
-Não quero atrapalhar você é a Alessandra. Eu sei que não tem nada entre vocês, mas eu tenho que dar o seu espaço.
-Na verdade eu e ela subimos pro meu quarto e demos uns beijos, mas descemos logo. Minha mãe estava me chamando.
E aquilo doeu fundo. Bem fundo na alma do loiro. Humberto não era 100 por cento dele.
-Ah é? Eu… eu achei que… achei que vocês… - respirou fundo de novo. - Quer saber, deixa pra lá.
-Eu gostei dela sabe?! Beija bem, tem um corpão.
Fred não queria mais ficar ali. Não ali naquela conversa. E sim naquela casa. Naquela situação. Precisou contornar e sair à francesa.
-Fico feliz por você! Mas eu preciso ir ao banheiro. - soltou uma risada sem graça.
-Vai lá. Eu te espero aqui fora então.
-Tudo bem!
Fred entrou e Humberto ficou encostado na parede bebendo uma cerveja.
O loiro passou rápido pela cozinha pegando sua bolsa e seu celular. Saiu pela porta da frente sem ser notado. Chamou um táxi e ficou esperando por ele. Enquanto isso, mandou uma mensagem para sua mãe.
“- Oi mamãe. Me desculpe ter que sair assim. Mas preciso ir pra casa. Quando você e o papai chegarem eu conto tudo. Amo você.”
O táxi chegou. Fred entrou e seguiu para casa.
Em questão de minutos, todos na casa de Rogério começaram a dar falta do loiro. Humberto, é claro, era o que estava mais desesperado.
-Gente, se acalmem! -exclamou Rogério. -Ele deve estar lá na rua fumando ou falando ao telefone.
Desirée estava tão desesperada que nem notou que havia uma mensagem no celular. Leu e ficou mais aliviada. No meio daquela muvuca, chamou o marido e Humberto para um canto.
-Gente, se acalmem. - disse Desirée. - Ele está em casa.
-Em casa? Como assim? Há 10 minutos eu estava conversando com ele. Ele ia dormir aqui tia!
-Eu não entendo. O que será que deu nele meu bem?
-Acho que o Humberto pode responder isso, Gian Carlo!
Os dois olharam para Humberto.
Claro que ele sabia da resposta.
-Ai, que droga! -ditou Beto. - Eu disse pra ele que tinha ficado com a Alessandra.
-E por isso ele foi embora? Francamente! O Fred não é de fazer isso. Essa atitude é de gente mimada.
-Calma Gian Carlo. - disse Desirée. Ele vai ficar bem! Eu gostaria de falar com o Beto um pouco, posso?
Gian Carlo respirou fundo.
-Claro, claro. Vou encontrar o Rogério. Com licença.
Desirée olhou para o sobrinho.
-Aconteceu alguma coisa, tia?
-Não Beto. Mas pode acontecer se você continuar dando esperanças para o Fred!
Beto ficou confuso.
-Como assim? Do que a senhora está falando?
-Beto, sabe que o Fred ama você mais do que eu e o Gian Carlo não sabe?!
-Sim tia! E eu também amo ele.
-Eu sei muito bem disso. E te admiro por isso! Mas tem que esclarecer para o meu filho que você não O ama como homem! Por que ele acha que vocês dois irão ficar juntos um dia! Não me importaria se isso for acontecer. Darei todo o apoio do mundo pra vocês. Mas preciso saber se ele será correspondido! Não quero que ele sofra, Beto.
Beto estava confuso.
-Olha tia, eu amo o seu filho. Mas não desse jeito.
Desirée suspirou aliviada.
-Entao eu peço por favor que você diga isso à ele!
Beto suspirou.
-Eu direi sim. Espero que não esteja chateada comigo.
-De maneira nenhuma, meu anjo. Eu so quero que a amizade de vocês prevaleça para sempre.
-Sim! Eu também. O Fred faz parte de mim. Peço perdão se fiz ele acreditar que pudesse rolar alguma coisa entre a gente.
-Beto, o seu primo é uma pessoa muito emotiva! O seus gestos de carinho que você tem com ele vem do fundo do seu coração, acredito nisso. Só que meu filho está confundindo as coisas!
-Entendo. Está sugerindo que eu pare com os abraços, com os beijos no rosto e etc?
-Sei que não tenho o direito de te pedir isso. Mas seria melhor para ele!
-Tudo bem tia! Vou fazer isso sim. E mais uma vez me perdoe.
-Venha aqui Beto.
Desirée puxou Humberto para um abraço. O amava como um filho. E sabia que Humberto e Fred sofreriam com isso. Mas era melhor para ambos.
-Bem, agora vamos entrar e esclarecer o que aconteceu.
-Vamos sim, antes que todo mundo surte!
Os dois riram.
Quando entraram na sala, notaram que todos falavam sobre Fred. Só não contavam com uma coisa.
Do nada, todos foram surpreendidos por gritos.
-FRED, FRED, FRED, FRED, FRED!!!! EU NÃO AGUENTO MAIS OUVIR ESSE NOME DA BOCA DE VOCÊS! SERIA ÓTIMO SE ELE SUMISSE OU MORRESSE PRA VOCÊS PARAREM DE FALAR SOBRE ELE!
Pilar surtou! Rogério estava incrédulo e envergonhado ao mesmo tempo. Desirée queria voar em cima dela. Samantha e Humberto também. O resto da turma olhavam sem acreditar no que ouviram.
Rogério puxou Pillar pelo braço e saiu com ela para o quintal. Desirée estava com os nervos em colapso mas não estava surpresa. Humberto chrgou perto dos tios apavorado.
-Gente, pelo amor de Deus, eu sinto muito por tudo isso. Eu. Ao sei o que deu nela! Eu…
-Esta vendo por que eu disse pra você não dar esperanças para o Fred, Humberto? -Interrompeu Desirée. -Não quero que ele tenha que passar por isso com a sua mãe. Eu sempre soube a víbora que ela é.
Humberto não teve reação. Ficou ali, parado prestando atenção nas palavras da tia.
Desirée pegiu sua bolsa e foi em direção do quintal. Lá estavam Rogério e Pillar discutindo.
-Escute bem, Pillar! Se algum dia você fizer alguma coisa com o meu filho, eu mato você! Enquanto eu estiver viva vou fazer um inferno na sua vida. Você não presta, Pillar. Não adianta se esconder nessa imagem de mulher educada que eu sei muito bem a boa puta que você é! NÃO SE APROXIME DO MEU FILHO! - Desirée estava com ódio nos olhos. Pillar estava incrédula. Todos dentro da casa estavam na cozinha tentando escutar o que estava acontecendo.
Desirée foi em direção à sala.
-Vamos Gian Carlo, preciso sair dessa casa.
-Vamos sim, meu bem.
E saíram.
Rogério conseguiu alcançar o irmão e a cunhada.
-Gian Carlo? -Gritou Rogério.
Os dois viraram.
-Gente, por favor me desculpem pelo o que aconteceu lá dentro. Eu realmente não sei o que deu nela.
-Tudo bem Rogério. Não se desculpe. Você bao teve nada a ver com isso. Mas eu preciso ir embora daqui. Se não você vai ficar viúvo.
-Eu entendo. E mais uma vez me desculpe.
-Fique tranquilo meu irmão. - disse Gian Carlo. - Uma hora ou outra ela acabaria se revelando. Nos precisamos ir. Também quero saber o que aconteceu. Eu ligo pra você mais tarde.
Gian Carlo e Desirée se despediram de Rogério e seguiram para casa.
Rogério estava entrando e encontrou Beto na portal saindo.
-Aonde vai, Beto?
-Atras do Fred, pai.
Rogério segurou o braço do filho.
-Não é uma boa ideia, filho. Estamos todos de cabeça quente.
Humberto respirou fundo.
-Tem razão pai.
-De noite você liga pra ele. Aí vocês conversam.
-Tem razão. Agora vamos entrar.
Os dois foram para dentro. Aquele dia estava longe de acabar!
+++++++++++++++++++++
Obrigado pela leitura pessoal. Até mais. Beijão! :)