A doutora sorriu. Um sorriso que indicava ser mais por obrigação do que por gentileza. Os olhos dela eram com dois abismos negros, profundos o suficiente para qualquer um que a encarasse demais se afogar.
–Dr. Tess Lirian– Ela apresentou-se, com um rápido aperto de mão enquanto olhava para a proa do navio. Vários caixas estavam empilhadas com negras siglas “TLK”– Equipamentos– Respondeu a doutora, como se imaginasse a mesma conclusão minha ao olhar para as caixas.
–Equipamentos?– Sussurrei.
–Não faz ideia de quantos adoecem com as mudanças de temperatura durante o cruzeiro– Ela sorriu mais uma vez, novamente parecendo ser mais por obrigação do que por gentileza. Observei mais uma vez as pontas amareladas dos dedos dela e as marcas do tempo em seu rosto. Ela deveria aproximar-se dos seus cinquenta anos e estava com tantas olheiras que parecia não dormir há dias.
–Está me analisando?– Dessa vez, o sussurro foi dela. Tess inclinou levemente a cabeça enquanto perguntava com espanto se estava certa do meu ato.
Pensei por alguns segundos se deveria confessar que analisara sua fisionomia e personalidade. Sorri.
–Sim.
–Por favor, poderíamos conversar enquanto te acompanho até sua cabine.
Sorri mais uma vez, um sorriso torto como os que ela tinha dado até agora. Olhei para a mala no meu lado e as pessoas passando ao nosso redor, visivelmente eu tinha esquecido que estava atrapalhando a passagem dos outros. Concordei com um aceno de cabeça e comecei a caminhar ao lado da doutora.
–Tenho certeza que, como um bom observador, você deve ter notado minhas marcas de cansaço– Comentou ela– Faz alguns dias que comecei meu doutorado e, é muito mais cansativo do que imaginara.
Deduzi imediatamente que o capitão deveria ter autorizado que ela trouxesse seus equipamentos para continuar os estudos.
–Mesmo assim– Comecei, divagando enquanto escolhia as palavras. Queria perguntar porque o capitão não escolhera outra médica para fazer parte do cruzeiro, mas seria algo muito grosseiro e indelicado para a mulher inteligente que me encarava. Mudei a pergunta– É casada?
Ela sorriu.
–Sabemos a resposta.
Sim, sabíamos. Não foi difícil notar a falta de aliança nos dedos ou a marca levemente apagada no anular esquerdo. Passamos direto do segundo andar para o terceiro.
–Passageiros com bilhetes C e D ficam aqui. Creio eu que seja essa a letra da sua passagem.
–Isso é estranho– Murmurei enquanto começávamos avançar por entre os corredor do terceiro andar. Olhava entre o rosto velho da doutora e os números nas cabines. Minha cabine seria a C27– Em meio a tantos primitivos, surpreende-me encontrar alguém tão analítico quanto eu.
–Primitivos?– Repetiu a doutora com uma risada– Somos da mesma espécie!
–Não da mesma intelectualidade– Rebati na hora. Passávamos em frente as cabines C25. Cinco passos e passávamos pela C26. Um passo, dois passos, três passos...
–Não discordo, nem concordo.
–Por favor, não pense que menosprezo a importância deles. Ou da nossa espécie. Apenas acho irritante a superficialidade e alienação de muitos.
A doutora suspirou, seu olhos negros pareciam engolir toda a luz. Seus lábios ríspidos, finos, apertaram-se algumas vezes antes de voltar a falar.
–Haverá um jantar privado essa noite, adoraria sua presença.
Abri a boca, surpreso. Não conseguia imaginar nem processar todas as informações na última frase dela. Inclinei minha cabeça para baixo, observei o carpete vermelho do chão e voltei a encarar a doutora.
–Será um prazer.
–Ótimo– A doutora virou-se para ir embora, estávamos parados em frente a minha cabine. Ela caminhou alguns passos até lembrar-se de algo e voltar-se uma última vez para mim– Essa tarde haverá uma palestra do Dr. Slomman. Ele é um ótimo cientista e estará no jantar mais tarde. Se estiver interessado, a palestra será no primeiro andar.
Ela sorriu para mim, o primeiro sorriso gentil e verdadeiro desde que nos conhecemos. Voltei a olhar para minha cabine. A porta era branca, como as paredes do corredor. Em uma placa de bronze dourada, a letra e o número correspondente da cabine estavam impressos.
–C27– Murmurei mordendo os lábios. Abri a porta e entrei.
O quarto era relativamente grande quando comparado as cabines que vira em filmes. As paredes eram revestidas com madeira teca incrustada, um enorme tapete persa revestia todo o chão. Não diferente do piso e das paredes, móveis vintages adornavam a cabine. Um armário com bordas detalhadas e antigas, como se saídos da casa de alguma velha senhora, ficava na parede esquerda. No lado direito ficava a cama de solteiro com colchas beges, aparentemente costuradas à mão. Na parede oposta da porta ficava uma escrivaninha rústica, de carvalho, iluminada pela luz natural vinda da vigia redonda, típica dos navios.
Fechei a porta atrás de mim e corri até a vigia, podia enxergar no horizonte o mar azul, um barquinho branco à vela tingia como única cor que excedesse o azul do céu e do mar.
Sorri, claramente a entrevista feita dois dias antes fora meu melhor acerto na vida. Seriam dois meses preso no tempo naquele cruzeiro enorme. Evidentemente não fazia a mínima ideia de em quantos lugares eles ancorariam até chegar no Caribe, onde passariam duas semanas antes de voltarem. Apenas sabia que subiríamos do porto do Paraná até no de São Paulo, onde haveria pequenas manutenções.
Deitei na cama de solteiro e descansei. Era fantástico reviver o passado naquele navio. Jamais teria condição de uma viagem dessas, ainda mais desempregado. Me levantei da cama, joguei minha mala inteira dentro do armário e abri a cabine. Do lado de fora, pequenas duplas e até trios caminhavam conversando alegres.
Fui até a proa, com certeza aquela era a parte mais visitada do navio. As poucas pessoas que sorriam abobadas olhando para a água, deixavam estampadas nas suas caras que, assim como eu, era a primeira vez que viajavam num navio.
Uma brisa bateu em mim, trazendo um cheiro de mar. Junto dela, veio um cheiro forte de perfume masculino. Olhei para o lado, sorrateiramente um soldado havia parado junto de mim, ele encarava o mar com um sorriso de garoto.
–Espero não ter lhe incomodado– Sussurrou tão baixo que apenas vi seus lábios se moverem. Ele era poucos centímetros mais alto, moreno de barba rala. Um soldado com barba para fazer. Essa era nova.
–Não, não incomodou– Respondi em inglês, afinal, o soldado era americano. Ele se virou para me olhar, um segundo sorriso brotou nele enquanto seu olhar malicioso exercia uma força invisível contra meu corpo.
Pelo seu uniforme eu podia ver o formato do seu pau, grande e grosso, virado para o lado direito. Ele voltou a falar, sua voz rouca ainda era baixa.
–Fará algo de interessante essa tarde?
–A Dra. Tess me sugeriu uma palestra do Dr. Slomman.
As sobrancelhas do soldado se juntaram, seu rosto exibia uma expressão de confusão. Diferente da médica que tinha encontrado mais cedo, ele não conseguia nem tentava me analisar.
–Dra. Tess Lirian?– Ele perguntou, aproximando-se de mim e pegando nos meus braços quase inconscientemente. Ele me chocalhou levemente– Como a conhece?
–Esbarrei nela– Respondi apressado, mas pelo olhar do soldado americano minha resposta não havia sido satisfatória– Ela parecia muito fria e calculista.
O aperto das mãos dele no meu braço diminuíram, sentia o sangue voltar a circular. Voltei a olhar o mar. Me aproximei do guarda-corpo de metal e olhei para baixo. Duzentos metros de altura me separavam das pequenas ondas do mar calmo.
–Me perdoe– Falou áspero e sincero, o soldado atrás de mim. Sorri para o vazio, como se ele pudesse enxergar minha expressão. Pela falta de resposta, ele aproximou-se por trás de mim– Não quer me apresentar sua cabine?
A primeira coisa que senti foram as mãos dele circulando minha cintura, depois a Glock presa num cinto tocando na minha bunda junto com seu pau duro. Prendi a respiração, ainda sentindo o pau duro dele na minha bunda. Era uma mistura de prazer e medo que me embriagava. Fazia seis anos que não transava. Apenas um homem havia me penetrado.
As mãos do soldado, muito atrevido para um completo desconhecido sem nome, subiram até meu pescoço e apertaram levemente minha garganta enquanto seu dedo indicador ia até minha boca. Gemi baixinho. Chupei o dedo dele, grande e másculo como todos os homens.
–Sabe quanto tempo estou em alto-mar?– Sussurrou o soldado no meu ouvido, sua voz tão rouca e baixa arrepiou minhas costas. Com um solavanco, o corpo dele espremeu-se mais ainda no meu. Senti meu corpo inclinar-se levemente para fora do guarda-corpo do navio enquanto o pau dele parecia querer rasgar minha roupa– Ajude esse soldado tão longe do seu país. Qual a sua cabine?
–C27– Escapou da minha boca. Imediatamente o soldado me soltou. Me voltei para ele, que com um menear de cabeça apontava para o interior do cruzeiro.
Ainda via seu pau duro saliente na calça.
–Sempre tive uma queda por soldados.
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Essa história já foi escrita, portanto, vou deixar para vcs o link de um arquivo pdf (com capa) caso vcs queiram ler tudo de uma vez:
https://www.dropbox.com/sh/yqdnoym4c4a1axk/AACn_umpe_FfNL-MuVpsfXM4a?dl=0
TLK será publicado de segunda a sexta-feira as 3:00 da tarde. Sábado e domingo sem hora definida.
Espero que gostem,
Com amor, B.