Era a primeira vez que eu via um casal brasileiro naquele site de webcam. Entrava neste site de vez em quando, ou porque estava com tesão mas sem poder sair pra caçar ou simplesmente por falta do que fazer. Em geral, escolhia as salas masculinas, com homens se exibindo. De vez em quando, nas de casais. Nas de mulheres era raro porque, embora eu também goste, a maioria das que se exibem tem aquela cara de puta americana, com todos os seus trejeitos artificiais.
Não que nos chats de homens e de casais também não tivessem putas e putos profissionais com o estereótipo broxante dos profissionais, mas nesses era maior a chance de encontrar simples internautas que se mostravam por mero exibicionismo, ainda que também para ganhar alguma grana (ou as duas coisas). Neste site, assim como em outros do tipo, os exibicionistas recebem prêmios pelas suas performances, em forma de “presentes” dados pelos que estão assistindo. Os internautas compram os “presentes”, com os quais pagam os que se exibem, e estes então convertem os “presentes” em dinheiro, abrindo mão de uma comissão para o próprio site. É, no fim das contas, uma forma virtual de prostituição.
Não escolhi aquele casal por ser de brasileiros, porque ainda nem sabia disso quando entrei na sala deles. Os próprios nomes que usavam – Lady e Bruce – indicavam que se tratavam de gringos. Entrei mesmo foi por causa do cara, um negro – daquela negritude mais clara, mas que é negro mesmo, e não mulato. Na miniatura do menu de câmeras, ele me pareceu bem apetitoso. A mulher era uma gordinha branca que, embora não fosse feia, era gordinha – o que não faz muito o meu tipo.
Comecei a assistir os dois, que não faziam grande coisa. O cara ficava se punhetando com um pau meio mole meio duro, enquanto a mulher, na cama ao lado dele, ficava com um teclado sem fio no colo, tentando algum contato com os poucos usuários que estavam na sua sala – não chegavam a dez, contando comigo.
A mulher estava com uma blusa sem mangas, com um generoso decote que insinuava peitos fartos, e uma calcinha rosa, de renda, sensual mas não excessivamente cavada. No gênero gordinha, estava com tudo em cima: parecia socadinha, com a pele bem tratada, sem flacidez.
O cara, na tela cheia, confirmou a gostosura que eu deduzi pela miniatura: estava totalmente nu, com um bom corpo e um belo cacete. Não era malhado: embora fosse possível ver sua musculatura sutilmente movimentar-se quando ele se movia, tudo levava a crer que a própria natureza lhe havia brindado com uma boa forma – sem gordura, barriga chapadinha, ombros largos e duas coxas apetitosamente grossas. Entre as pernas, um pau negro de cabeça avermelhada que se destacava pela grossura, embora o tamanho como um todo fosse bem acima da média. Mas o que não falta nesses sites de cam são caras com pau comprido – e, unicamente nesse aspecto, o dele nem se sobressairia muito. Mas era grosso e bonito: a pele lisa, de aspecto macio, com veias na medida certa e daquele jeito que só de olhar a gente sente como é pesado. Um tesão.
Como se pode notar, ele se expunha muito mais do que ela. E foi isso que, sem ainda perceber que eram brasileiros, me fez ficar observando mais do que dois minutos: era a primeira vez que eu via uma cam de casais na qual o destaque era o homem. Em todas elas, em absolutamente todas as que eu já tinha visto, a isca era sempre a mulher – mesmo quando ela não seguia o padrão de beleza estabelecido, como era o caso desta. Não só apenas o homem estava inteiramente nu, como ele é quem mudava de posição, se masturbava, se alisava, efetivamente se exibia. Ela, ao lado, parecia sua agenciadora, embora eles avisassem, em inglês, que ela estava pronta para mostrar o peito, a bunda ou a buceta e a transar com o cara – claro, em troca de grana.
Quando entrava nas “salas” de casais, era comum que o homem do casal me chamasse mais a atenção do que a mulher – inclusive porque eu me considero um gay que gosta também de transar com mulheres, mas não me sinto a vontade em me considerar um bissexual. Muitas vezes, essas visitas às cam de casais era frustrante, porque, como a tônica recaía sempre na mulher, os detalhes do cara quase não apareciam: o pau ficava quase todo o tempo dentro da buceta, ou ele simplesmente ficava de costas para a câmera ou atrás da mulher. Nem sempre era assim, mas era comum que fosse.
A situação que via na tela desta vez me excitou muito: um cara gostoso – e, mesmo sendo assim tão gostoso, com jeito de cara “normal”, desses que se pode encontrar em qualquer esquina – que estava sendo agenciado pela mulher. Fui para a página que vinham os dados deles, na esperança de confirmar que lá eles dissessem que eram efetivamente casados (mesmo que isso fosse uma mentirinha). Isso aumentaria ainda mais meu tesão: de um lado, a gordinha sortuda que havia casado com um negão e gostava de exibir seu troféu na internet e, do outro – e mais interessante ainda – o macho da branquinha que se deixava usar assim por ela. E, sim! Eles eram casados!
Diziam morar em Londres, ambos terem 23 anos e todo o resto da descrição... se referia a ele, e não a ela! Bom, os tais 23 anos nem levei em conta, porque era uma mentira óbvia: ele estava certamente por volta dos 30, e ela por volta dos 40. Essa diferença de idade dos dois tinha me chamado a atenção desde o início, e também foi uma das razões do meu interesse pelo casal.
A essa altura, eu já estava com o cacete pra fora, me acariciando enquanto os via na tela. Não faziam muita coisa: ele ora se inclinava para perto dela, ora se estendia na cama, às vezes sentava ou se ajoelhava por trás dela e lhe dava uns beijos na nuca. E ela, fora uma ou outra vez que pegava no pau dele, mantinha-se atenta ao chat, teclando meia-dúzia de palavras em inglês e visivelmente ansiosa pelo envio de “presentes” por algum usuário. O pau dele endurecia, depois fica a meia-bomba – lindamente repousado na cintura, sempre grosso e pesado – e assim se alternava. Um espetáculo, para quem gosta de homem.
Foi aí que veio a maior surpresa de todas: ela pegou de uma garrafa pet e tomou um gole de água mineral no gargalo: o rótulo era brasileiro! Então, comecei a reparar coisas que não tinham me chamado a atenção e que, por si só, não significavam nada – mas que, agora, passavam a significar muito: os poucos móveis que apareciam na tela eram semelhantes ao que se encontra em qualquer Casas Bahia, ambos tinham tipos físicos perfeitamente comuns no Brasil e a luz que entrava pela janela era de um sol forte, tal como a da minha própria janela, pois ainda eram quatro horas da tarde. Imediatamente, entrei no Google: naquele momento, eram oito da noite em Londres.
Mais ou menos neste momento, aconteceu algo que aumentou mais o meu tesão: pela primeira vez, um usuário começou efetivamente a travar um diálogo com eles – quer dizer, com a mulher. O negro logo se interessou e, atrás dela, passou a prestar atenção na tela do computador deles – que, tal como no meu, reproduzia os diálogos do chat. Então, num inglês meio furado de ambos os lados, o gringo começou a cantar a mulher explicitamente, chamando-a de gostosa e tudo mais, ignorando Bruce. Em qualquer outra sala de casal, isso seria absolutamente previsível, mas não nessa, onde o protagonista era, curiosamente, o macho, e não a fêmea. Fiquei acompanhando.
Não trocaram muitas palavras, mas num dado momento, o internauta pediu, inclusive com um “please”, que ela mostrasse os peitos. Apesar de “tits” ser um dos itens da tabela de preços da sala (algo muito comum), ela não aguardou que ele enviasse os “presentes”. Atendeu imediatamente, fazendo com que duas belas tetas – durinhas, com bicos grandes e muitas carnes – pulassem para a tela. Bruce, por sua vez, passou os braços por baixo dos dela e os acariciou, para excitar o freguês. Não demorou muito para que ela pusesse os peitos novamente para dentro da blusa – mas foi notório que Bruce resistiu a tirar as mãos, tentando com o gesto que ela prolongasse um pouco mais a exibição.
Esta cena me fez despertar para uma suspeita sobre o perfil do casal, mas eu ainda não tinha tantos dados assim para confirmar. Foi então que, após mais umas duas trocas de frases, com elogios bem sacanas por parte do gringo, ele parou de teclar. Os rostos de Bruce e Lady não esconderam a decepção. Para minha surpresa, meu gostosão voltou com as mãos aos peitos de Lady e baixou o decote, começando a acariciá-la. Ela voltou o rosto para ele e, embora a sala não tivesse som, foi perceptível que estranhou e se mostrou contrariada. Ele parecia muito excitado com a situação e insistiu, agora rodeando com os dedos e apertando os biquinhos dela.
Como boa agenciadora, Lady chamou pelo gringo no chat umas duas vezes, enquanto Bruce se empenhava em agradar o desconhecido. Eles deviam saber que ele ainda estava on line – pois, como freqüentador do site, eu percebera há muito tempo que os exibicionistas têm controle sobre isso –, mas ele não se manifestava. Bruce então falou alguma coisa com ela, próximo a seu ouvido. Ela relutou um pouco mas acabou esticando-se de lado na cama e tirou a calcinha. Ainda atrás dela, Bruce começou a acariciar seu grelo, e em alguns segundos estava explicitamente masturbando a mulher para o outro.
Mas isso não durou muito, e creio que o gringo deve ter abandonado o chat. Eu estava louco para também escrever alguma coisa, mas necessariamente em português: queria fazer contato com eles, saber de que cidade eram. Talvez, quem sabe, não gostariam de algo na real? Pelo que vi, Bruce não se importava de ter sua mulher admirada por outro homem e até parecia gostar de oferecê-la – e, certamente, tampouco se importava em exibir-se e ser admirado por homens. Mas eu temia que, ao teclar em português e assim desmascará-los, eles me bloqueassem da sala (o que também é um recurso dos que se exibem). Afinal, se a sala deles era toda em inglês, inclusive quando teclavam, e o perfil dizia estarem em Londres, é porque queriam esconder que estavam no Brasil.
Quando eu me decidia a travar contato em inglês mesmo – que é ruim, mas o deles, afinal, também parecia ser –, veio a terrível surpresa: eles desligaram a cam! Fiquei não apenas decepcionado, mas inconformado: o corpo dele, o papel dele na exibição, o modo como ela parecia liderar a sessão, o esforço dele em atender o macho que desejava a sua mulher... Tudo aquilo me deu um tesão tamanho que eu queria ver mais, ver outras vezes! E, coisa que nunca tinha feito, comecei a explorar mais o site. E descobri que, mesmo sendo um usuário simples, cadastrado mas restrito aos recursos que o uso gratuito me possibilitava, eu tinha como optar para ser avisado quando eles estivessem on line novamente. Não preciso dizer que deixei o computador ligado no site até a hora de dormir, na esperança que voltassem... Mas foi em vão.
Só uns cinco dias depois é que recebi a indicação de que a cam deles estava aberta de novo. É claro que não tinha passado estes dias todos pensando neles, mas continuava na expectativa de revê-los.
Estavam praticamente idênticos à primeira vez, no mesmo cenário – apenas uma cama de casal em frente a uma parede branca e uma janela ao lado –, nas mesmas posições, fazendo mais ou menos as mesmas coisas. Apenas a roupa dela havia mudado: a blusa agora era preta, e não mais branca, e a calcinha de renda era branca, e não rosa. Mas os modelos de ambas as peças era muito parecido com aqueles de antes. Também a atuação de ambos era igual: Bruce, com um ar sensualmente indolente que eu não tinha ainda valorizado, exibia-se na cama, com aquele caralho fabuloso e o corpo naturalmente bem torneado, enquanto a gordinha feliz – apesar de visivelmente ansiosa por “presentes” – administrava o teclado e os contatos com os interessados.
Novamente, eram poucos. E a razão era óbvia: o público daquelas salas era de homens heterossexuais que procuravam casais, e não de quem procurava por homens. Lady, além de ter um tipo físico cuja atração era restrita a uma parte muito específica desse público, ainda trazia como contrapeso um homem gostoso. Qual homem hétero iria se interessar por um casal desses? Mesmo os fãs das gordinhas deviam desistir logo ao entrar, já que, para tentar algo com ela, eram obrigados a assistir um macho mover pra lá e pra cá aquele cacete pesado – e, provavelmente, um macho muito mais atraente e mais dotado dos que estavam do lado de cá da tela.
A vida de prostituição virtual de Lady e Bruce não parecia nada fácil... E confesso que gostei disso. Se tudo desse errado para eles naquele chat, estaria dando certo para mim: eu os teria sem nenhuma ou muito pouca companhia. E havia tomado certas providências. Primeiro, criei uma nova identidade no site, desta vez com um nick que era um nome em português e que indicava claramente que eu era do Brasil (pus um “RJ” após o nome). E, segundo, tinha acionado um programa de gravação de vídeos na tela, que havia baixado muito tempo antes justamente por causa deste site, mas que havia me desinteressado depois de usá-lo umas duas vezes.
Meu plano era gravar aquela sessão, para que pudesse observá-los depois, com mais calma (e, se fosse como da outra vez, poder tocar umas bronhas assistindo-os várias vezes). E entraria na sala com este novo apelido, começaria a teclar com eles em inglês e aguardar a reação que teriam – deixando que eles mesmos puxassem ou não o assunto sobre as nacionalidades.
Lady estava mais saidinha desta vez, e não apenas acariciava e masturbava o membro de Bruce, como, sem que ainda lhe enviassem “presentes”, dava umas lambidas e chegava a abocanhá-lo. Mas só punha a cabeça na boca, e eu custei a crer se algum dia teria conseguido engoli-lo muito mais do que isso: Bruce era grosso demais e ela, por azar, tinha uma boca pequena, que parecia realmente não abrir muito mais do que aquilo.
Como previsto, comecei a teclar em inglês, elogiando-a pela chupada meia-boca. Ela ficou bem animada, assim como Bruce. Fiz um elogio discreto ao pau dele, mas logo pedi que ela me mostrasse os peitos. Ela negou, certamente por ver que eu não tinha “presentes” para lhe oferecer – coisa que é sinalizada pela cor com que o nick aparece no chat: ela varia de acordo com o valor que o usuário gastou comprando “presentes” para distribuir aos que se exibem. Minha cor indicava que eu não tinha “presente” algum para dar e que nunca tinha mesmo comprado algum. Fiz um certo charme, disse que daquela vez não teria como pagar, mas que eles me excitavam demais e, só por causa deles, quem sabe... (e não estava mentindo!).
Bruce, notei, não só tinha os olhos fixos no diálogo como estava com uma bela ereção, iniciada involuntariamente, sem que estivesse se masturbando. Lady concedeu o favor, sem no entanto deixar de observar que era apenas um aperitivo, para que eu me animasse a providenciar “presentes” para poder ter mais depois. E, para minha agradabilíssima surpresa, Bruce começou a masturbar-se olhando diretamente para a câmera – ou seja, para mim! Lady, coitada, que me desculpasse, mas pus meu pau pra fora em homenagem a ele, ignorando completamente os peitões suculentos dela.
A coisa não foi muito mais além disso, e Lady passou a me ignorar, embora não me bloqueasse. Fiquei assistindo até eles fecharem a sala – o que não demorou, dada a ausência de interessados que lhe dessem “presentes”. Isto me preocupou um pouco: era capaz de, com o fracasso que estava sendo aquele negócio, eles desistirem de vez. Eu tinha a gravação desta segunda sessão – que assisti logo em seguida, dando uma boa esporrada –, mas queria muito mais do que isso.
Depois de ver o vídeo pela primeira vez, com objetivos obviamente punheteiros, descansei um pouco e voltei a ele. Assisti umas duas ou três vezes (tinha apenas oito minutos). E, notando os detalhes, repetindo pequenos trechos para observar os olhares, os gestos, a própria postura física de cada um, confirmei o que era uma suspeita na primeira vez que os vi e que se tornou uma forte impressão na segunda.
Bastava observar bem para ver os sinais do que ocorria ali... Ora, Lady controlava o teclado, e Bruce sequer fazia menção de, por um instante que fosse, assumir um diálogo. Ela era visivelmente mais velha do que ele, e ele aparentava conformar-se em servir de isca para os “presentes” – cujo recebimento, afinal, dependia dela. Enquanto ela preservava uma certa reserva, protegendo suas partes mais íntimas mesmo que apenas sob peças pequenas de roupa, a Bruce cabia estar completamente exposto a quem aparecesse. Só o que não mostrava era a bunda, mas também ninguém pedira para fazê-lo – e eu tinha a esperança de que ainda não a tivesse visto apenas por obra do acaso.
Mas, além disso, as pausas na execução do vídeo e a câmara lenta me revelaram os olhares de cada um: Bruce guardava, aqui e ali, os olhos de quem obedece, enquanto Lady tinha sempre um olhar muito firme, muito objetivo, de quem tomou para si a responsabilidade de tudo o que ocorria. Seus ombros estavam sempre eretos, altivos, enquanto que agora eu notava que os ombros largos de Bruce disfarçavam um encolhimento dos braços que volta e meia surgia sutilmente. Com a mesma freqüência discreta, ele apertava as mãos entre as pernas, como numa espera paciente... pelo próximo comando que sua dona daria! Era claro! Observando com muita atenção e dando importância a detalhes fora da ação principal que aparecia na tela, os sinais gritavam. Havia ali uma relação de dominação e submissão entre eles, embora não explícita. Bruce era o macho obediente da gordinha dominante, e parecia estar resignado a este papel, esforçando-se nas suas tarefas.
O que me atraiu foi justamente a sutileza com que era demonstrada esta relação de poder entre eles. Nas salas masculinas também se exibiam casais – obviamente, casais homossexuais –, mas não era comum cenas de dominação. Já nestas salas de casais heterossexuais, de vez em quando eu via tanto homens se sobrepondo a suas parceiras quanto, em menor quantidade, elas na posição de dominação. Mas... eram sempre muito explícitas, sem muita magia, quase estereotipadas... Esta era a tônica destas salas: o internauta entrava nelas para conscientemente viver estas fantasias que eram voluntariamente exibidas pelo casal em questão – alguns até com a típica indumentária SM (roupas de couro, vendas, mordaças etc.). Era um jogo de cartas já marcadas, sempre previsível.
Fui tirando algumas conclusões, embora não tivesse ainda tantos dados para isso. Uma delas é a de que Lady certamente tinha plena consciência de sua autoridade sobre o jovem negro, mas eu arriscava que Bruce não tivesse isso tão claro. A sutileza com a qual expressava sua subordinação – não para a câmera, mas para si mesmo, em atos e gestos espontâneos e tênues – me parecia mostrar que ele ignorava o quanto esta subordinação estava no centro da relação deles.
Ele se exibia sensualmente – o que faria mesmo que não quisesse, pela virilidade própria de seu corpo e pelo calibre do que guardava entre as pernas – mas as expressões de seu rosto não seguiam o padrão dos exibicionistas “machos”, invariavelmente com caras e bocas desafiadoras ou afrontosas para conquistar o observador. A rigor, nem eram efetivamente provocantes. Às vezes, suas feições tomavam um ar meio abobalhado, outras vezes meio displicente, e não raramente... inexpressivas! Eu poderia interpretar estas expressões como uma manifestação involuntária de que ele não tinha lá tanto interesse em fazer aquilo e apenas cumpria uma obrigação em troca dos tais “presentes” que nunca vinham, mas o empenho com que se exibia negava essa hipótese.
Lady permanecia quase sempre imóvel comandando o teclado, só tomando alguma atitude mais provocativa quando instada por um internauta. Mas Bruce se preocupava em manter o cacete duro, masturbando-se continuamente, ou alisava o caralho de forma notoriamente convidativa, mexia-se pra lá e pra cá sobre o lençol, abraçava a mulher e a acariciava por trás, de olho na câmera... Era quase óbvio: Bruce não se exibia pelo tesão de conquistar quem o admirava, pelo tesão típico do exibicionista, mas pelo tesão de expor publicamente seu esforço em agradar a mulher que havia se apossado dele!
Não sou propriamente um dominador ou adepto do sadomasoquismo. Mas há muito tempo eu tinha consciência – e, algumas vezes, experimentado na prática – da atração que sentia por ter um homem sob o meu comando. Lady e Bruce acenderam esta fagulha de modo explosivo: talvez eu tivesse diante de mim a oportunidade de domar um belo macho hétero e fazê-lo comer na minha mão, desde que soubesse como levar no papo a sua mulher – com a qual teria que competir para ter o controle dele. Esta fantasia me enlouqueceu!
Eles não abriam a câmera todo dia, mas não passavam uma semana sem fazê-lo. Passei a usar meu cartão de crédito para abastecer-me de “presentes”. Não era tão caro como supunha, mas jamais eu havia sequer pensado em fazê-lo. Com meu nick bem brasileiro, comecei a pagá-los para atuarem para mim – até exclusivamente, com a câmera fechada para qualquer outro internauta, coisa que também tinha seu preço. Tal como eu torcia para que acontecesse, logo nas primeiras vezes Lady revelou que eram brasileiros. E, então... que era melhor nós teclarmos em português, pois ela não sabia muitas palavras em inglês. Perfeito.
Logicamente, procurava dissimular, fingindo que meu maior interesse era Lady, mas provocava Bruce a exercer seu talento para a obediência – fosse a ela ou, com o andar da carruagem, diretamente a mim mesmo. Porém, sempre mantinha a coisa num limite de sutileza que não tornava sua subordinação explícita, e muito menos a minha autoridade ou a dela. Eu me expressava com gentileza; às vezes, usava a expressão “por favor”. Não usava o verbo “mandar”, mas em vez disso escrevia coisas como “Lady, pede pra ele...”. Bruce cumpria, e com empenho.
Quando eu pagava para Lady despir-se para mim, simulando strip-teases, notava como os olhares dele brilhavam para ela e, a princípio timidamente, para a câmera (para mim, portanto). Seu olhar pedia pela aprovação daquele desconhecido a quem ele não podia ver, mas a quem sentia necessidade de satisfazer. Em duas ou três sessões, mencionei – muito rapidamente e sem insinuar qualquer pedido – o quanto me desagradava homens que depilavam o pau, e este era exatamente o caso dele. Queria testar; ver o que aconteceria. E logo notei os pentelhos ressurgindo timidamente, até resultarem numa mata tão espessa quanto viril que passou a emoldurar aquele membro tão maciço.
Também os sorrisos de Bruce começaram a aparecer, e sempre para mim. Algumas vezes, entrei sem fazer “login” – ou seja, como internauta anônimo – para observar a performance deles na minha ausência. Ficava não mais do que cinco minutos assim, mas era o suficiente pra constatar, todas as vezes, que embora se mostrasse amistoso, mesmo que pouco expressivo, ele não sorria. Havia aos poucos abandonado aquele seu ar meio abobalhado quando se exibia sabendo que eu estava on line, mas, agora, acrescentava sorrisos – e, invariavelmente, era com um deles que me recebia quando Lady verificava que eu tinha acabado de entrar no chat.
Claro, essa mudança poderia ser apenas porque, afinal, eu era o seu melhor “cliente”, pois eles continuavam a fazer tão pouco sucesso quanto antes. Minha chegada era, mno fim das contas, a chegada dos “presentes” tão ansiados. Mas havia outros sinais de satisfação de Bruce que não eram diretamente ligados aos presentes, e o principal desses sinais era o enrijecimento imediato de seu cacete toda vez que ele executava um comando meu. Logicamente, eu sempre mandava que ele fizesse alguma coisa com Lady e nada que fosse apenas um ato solitário para mim (como acariciar-se ou tocar uma punheta, por exemplo). Mas era certeiro: seu pau empinava na hora, involuntariamente, sem que ele sequer o tocasse. E isso nas ações mais triviais, como quando pedi que Lady me mostrasse seus peitos e que ele, agachado ao lado dela, os acariciasse olhando pra mim. Ora, por que um pau a meia-bomba iria crescer em segundos por causa de uma carícia tão boba, mais ainda se tratando de um casal que não se conheceu ontem?
Em outra situação, paguei a Lady para que ele a fudesse de quatro. Ela, de frente para a câmera, com Bruce já metendo por trás, leu quando pedi que ficassem de costas, para que eu pudesse observar melhor a penetração. Mas foi Bruce – que acompanhava atentamente o diálogo enquanto a comia – quem imediatamente saiu de dentro dela e tomou a posição que eu queria, expondo-se logo de costas para a câmera. E, quando o fez, exibiu sua bunda durinha para mim – o que era o real objetivo da minha ordem. Era impossível que ele não tivesse notado as conseqüências do que estava fazendo.
Essa foda demorou um bom tempo, sem que ele tenha demonstrado – antes, durante ou depois – qualquer constrangimento de se oferecer assim. E nem mesmo vi em seu rosto qualquer expressão negativa quando, já encerrado o número, perguntei se ele, já que raspava o pau, também raspava o cu, pois não tinha dado para ver direito. Lady foi concisa: “não, deixa natural”. Mas sua resposta não me acanhou em acrescentar: “que bom, porque cu de homem tem que ser peludo”. E, depois de lançar essa, avancei, antes que ela desviasse teclando sobre algum outro assunto: “Fica mais gostoso, né, Lady?”.
Bruce, como sempre, acompanhava o diálogo, por trás dos ombros dela. Não sorriu, claro, mas não fez cara feia, não falou nada com ela. Apenas acompanhou, dócil e atento, o que teclávamos. Não teria percebido que eu explicitamente demonstrava que prestara atenção em sua bunda? Que estava interessado em como era seu cu?
Na sessão seguinte, fui mais fundo: paguei para que repetissem a posição, novamente por trás, mas acrescentei no meio do pedido: “Manda o Bruce te comer montado em você, com as pernas mais abertas, pra que eu possa ver melhor”. Propositadamente, não deixei claro exatamente o que eu queria que ficasse mais visível. Dava a chance, assim, de eles interpretarem que eu estava me referindo à penetração em si, e não ao cu do gostosão . Mas, no íntimo, eu desconfiava que ela – e também ele – sabia exatamente do que eu estava falando. E, assim, vi pela primeira vez o cu peludinho de Bruce, em todo o seu esplendor, ali na minha tela, bastante próximo. E, na gozada, aquele buraquinho apetitoso contraiu-se graciosamente pra mim!
Só perguntei em que cidade eles estavam quando já vivíamos essa situação há quase dois meses. Por uma ou outra referência que Lady deixou escapar, e por algumas gírias muito peculiares, eu desconfiava que estivessem no Rio. E estavam mesmo.
Na sessão seguinte, pela primeira vez propus que fizéssemos aquilo ao vivo. Eu os pagaria diretamente (e, portanto, não teriam descontada a comissão do site), arcaria com todas as despesas no motel e permaneceria na posição de voyeur, sem tirar a roupa e sequer me masturbar. Eles se entreolharam; comentaram alguma coisa. Prestei muita atenção nas expressões de Bruce e, depois, confirmei na gravação – que em nenhuma sessão deixei de lado – que quem demonstrou alguma contrariedade tinha sido Lady. Ele apenas esperou pela decisão dela (lógico...).
Ela não negou, disse apenas que iria pensar – e já estávamos com tanta liberdade que não teve qualquer preocupação em fingir que o macho comedor participava da decisão: “vou pensar e depois que eu decidir eu falo”, respondeu. Bruce, obviamente, já não contava muito: o assunto só competia à “diretoria” – ou seja, eu e ela.
Não insisti, e foram eles quem voltaram ao assunto – e digo “eles” porque, dessa vez, Lady teclou incluindo Bruce: “a gente vai aceitar aquela tua proposta”. Quando os encontrei pessoalmente no bar, não me decepcionei. Ela era uma gordinha bem socadinha, que sabia valorizar suas formas generosas sem parecer oferecida (ainda que meio breguinha...) nem cair no ridículo. O macho confirmou ser um homem ainda mais atraente do que na tela: era mais alto e mais corpulento, embora ainda longilíneo. Seus gestos aparentavam displicência, mas logo percebi ser uma displicência estudada – e muito charmosa: não me passou despercebido que, embora não fosse nenhum galã, ele estava habituado a chamar a atenção em qualquer lugar onde fosse. Eram simpáticos, embora ambos comedidos. Para minha surpresa, ele não se restringiu à posição de mero ouvinte, como eu imaginava dado o seu perfil de parte mais fraca do casal.
No quarto do hotel, Lady acabou concordando que Bruce dividisse uns uísques comigo – embora, no bar, ela volta e meia o censurasse por pedir mais um chope. O clima inicial foi de um certo constrangimento, apesar de tudo o que tínhamos vivido virtualmente, e o cacete meia-bomba de Bruce evidenciava isso. Ela acabou seguindo minha ponderação de que um pouco de álcool o liberaria mais e, no fim das contas, o mesmo aconteceria a todos nós, o que seria ótimo. A esta altura, depois de nosso papo no bar – não tão longo, mas também não apressado –, eu e Bruce estávamos numa relação de camaradagem, comum entre homens. Talvez justamente por isso ele tenha inicialmente se travado.
Ele a comeu divinamente para que eu me satisfizesse. Ficou em todas as posições que mandei – sem que em nenhum momento eu caísse na tentação de assumir um tom autoritário – e, sem que eu mesmo falasse nisso, de vez em quando tirava todo o cacete e arreganhava a buceta de Lady, mostrando-a para mim. Mas o melhor veio vindo depois. A esse delicioso número, ele acrescentou outro gesto: o de dar atenção também à exibição de seu cacete recém retirado da mulher. E, após fazer isso em umas duas ou três ocasiões, peguei num flagrante seus olhos buscando o volume na minha calça.
Uma boa dominação – eu estava aprendendo na prática, por pura intuição – se faz aos poucos. Assim, nem em nosso segundo encontro – uma semana depois, no mesmo motel – eu tomei a iniciativa de me despir. Também não disse para Lady que repetissem aquela posição de ela dar de quatro, com Bruce montado nela e de costas para mim. A vontade foi grande, mas sabia que haveria o momento certo para ver aquele cu ao vivo.
E o momento certo foi quando, após a quarta ida ao motel, nosso encontro foi, por iniciativa deles mesmos, no próprio lar do casal. Era num bairro distante do meu, pouco valorizado, num apartamento que, embora limpo e organizado, mostrava pela modéstia o porquê de eles fazerem os shows na cam e a ansiedade pelos “presentes”. Lady trabalhava em expediente integral, num emprego compatível ao único diploma que tinha: o do ensino fundamental. E, para confirmar meus devaneios sobre aquele belo macho de peitoral largo e membro grosso, Bruce era um faz-tudo: vivia de bicos, ora como pintor, ora como eletricista, peão de obra, gazista... Quando soube disso, ainda num dos nossos encontros no motel, meu cacete deu uma pulada braba de tanto tesão, mas a calça impediu que tanto entusiasmo fosse notado. Qual gay não tem fantasias com um trabalhador braçal?
Foi Lady quem preparou algumas coisinhas para comermos, mas quem arrumou a casa, organizou pratinhos e talheres e comprou as bebidas foi Bruce. Nesse dia, compartilhei mais intimamente o modo como se dava a relação do casal, que em ocasiões seguintes se confirmaria: ele desfilava sua sensualidade involuntária pela casa, muitas vezes sem camisa, sempre solícito, pacífico, atendendo aos desejos dela sem demonstrar qualquer esforço pra isso, absolutamente convencido de que a ela cabia tomar as decisões e decidir as tarefas. Lady, por sua vez, era muito segura de sua posição, e nunca a vi ser rude com ele. Apenas dava as orientações, e ele as seguia. Era a ordem natural das coisas entre eles. Estar neste ambiente me excitou tremendamente, e me convenci ali mesmo que tínhamos de deixar de lado o motel e passarmos a nos encontrar naquele apartamento, onde a sujeição de Bruce se manifestava patente, espontânea, absolutamente pura.
Aos poucos, a altivez e o comedimento de Lady vinha cedendo espaço a uma outra forma de lidar comigo, que eu identificava com um misto de um óbvio interesse financeiro com sinceros sentimentos de gratidão e de amizade. Já Bruce havia baixado a guarda comigo desde os encontros no motel, agindo com aquela cumplicidade amistosa de dois homens que se veem como parceiros. Só faltava me chamar para um futebol no fim de semana.
Aquele inesperado convite para que eu fosse à casa deles naquela noite de sexta-feira só confirmava a evolução das coisas: cada um a seu jeito, eles se esmeraram em me receber, como quem quer agradar um amigo querido. Havia um uísque de boa qualidade, cuja garrafa eu vi ser tirada da caixa, e ainda tivemos algumas garrafas de um vinho bastante bom, mesmo tendo um preço razoavelmente acessível, do qual eu falara uma vez com Bruce. Concluí, muito satisfeito, que ele havia anotado a marca naquele mesmo dia, já que era um nome de difícil memorização e, evidentemente, do qual ele nunca ouvira falar. Não creio que o fizera pensando num futuro jantar a dois com Lady, mas justamente para um dia poder oferecer a mim.
Tal como o uísque e o vinho, eles capricharam na performance. E, já que o clima estava tão receptivo, no meio do espetáculo pedi, sem dar muita importância ao fato, que Lady deixasse Bruce montá-la, de costas para mim. Ela atendeu, e então tive diante de mim aquele belo cu virgem de macho, escancarado para que eu pudesse apreciar as pregas e a masculinidade de seus ligeiros pelos negros. Salivei enquanto o via movimentar-se para frente e para trás lentamente. Sim, ele o fez lentamente – sem que isso fosse sugestão minha.
Vinho, uísque e a percepção de que estava chovendo na minha horta me fizeram ousar um pouco mais, e me levantei da poltrona com o pretexto de orientar Bruce a posicionar-se sei lá como para que eu pudesse ver melhor. Com isso, fiquei bastante próximo dele. Pela própria posição em que estava, seu corpo impedia que Lady visse o que ocorria por trás dela. Mas não parei aí: percebendo que toda hora ele virava o rosto para mim, a fim de se certificar que estava cumprindo a risca o meu desejo, eu simplesmente inclinei a cabeça para assumir um ângulo que demonstrasse sem rodeios que eu não estava olhando penetração alguma, mas sim o cu mesmo.
Ele não teve qualquer reação de inibição. Até hoje, não tenho certeza se deu mesmo uma breve paradinha para que eu pudesse contemplar melhor seu botão ou se isso não passou de mera impressão minha. Mas, se não o fez, pouco depois me deu um outro sinal – este, inquestionável – de que meu objetivo maior não estava tão longe assim. Comigo ali ao seu lado, francamente interessado na apreciação de seu cu e ele já metendo em Lady com mais força e ritmo, deixou escapar num fio de voz: “Me chama de Nilo. Meu nome é Nilo...”. Mas rapidamente corrigiu o lapso, dirigindo-se a Lady sem um tom tão baixo: “Já tem tanto tempo, vamos dizer os nomes de verdade; ele já tá até aqui em casa”.
Depois de tudo encerrado, não tive muita dúvida de que, se quisesse, teria dormido no apartamento com Nilo e Miriam – esse era o nome dela. Provavelmente, Míriam me poria no sofá-cama, cuja segunda função havia sido aposentada depois que eles se mudaram do antigo quarto-e-sala e agora ficava na sala. Poderia ter sido a chance de, durante a madrugada, as coisas se adiantassem definitivamente. Mas não o fiz: mantive o ritmo de não ir com tanta sede ao pote e, mesmo com o convite deles (talvez uma mera gentileza protocolar, mas que eu poderia ter aproveitado), fui embora quando já eram quase três da manhã. A parte financeira da transação não foi constrangimento, tal como nas vezes no motel: antes de irmos para o quarto, eu já havia deixado discretamente (mas sabendo que estava sendo observado) um envelope com o pagamento pelo show que ainda iria assistir sob um vaso da cômoda da sala.
Fomos ainda algumas vezes ao motel, mas tratei de, como quem não quer nada – sem fazer alarde, pra não parecer pedante –, sugerir que poderíamos fazer nova festinha doméstica com coisinhas mais sofisticadas para degustarmos, como produtos de delicatessen que nunca tinham ouvido falar, vinhos mais caros para que eles conhecessem etc. Cheguei até mesmo a presenteá-los com um conjunto de taças e copos de cristal para que bebêssemos juntos com a classe que eles mereciam. A situação era complicada, porque era óbvio que eu estava usando do meu poder econômico, mas não queria que eles se sentissem humilhados nem que aqueles oferecimentos todos fizessem parte do pagamento por se exibirem para mim. Queria era estar na própria casa deles, porque era muito excitante ver aquele varão domesticado no seu próprio habitat, e ao mesmo tempo demonstrar uma sincera afeição por eles. A primeira parte acho que não suspeitavam, mas a segunda creio que compreenderam, e correspondiam na mesma medida.
Assim, os encontros no apartamento foram se tornando cada vez mais frequentes, e o clima mais liberal que tomara aquela primeira ida se consolidou: sempre em posições que Míriam não pudesse ver (e sem que Nilo e eu falássemos coisa alguma sobre este detalhe importante, numa combinação surda), ele me deixava apreciar seu cuzinho. Ficar de costas para mim deixou de ser um tabu. Ele não só tinha aberto a guarda sobre sua bunda como me parecia claro que tinha plena consciência de que, embora não tão explicitamente como com seu cu, eu a admirava sempre que podia. E eu fazia isso mesmo quando Míriam poderia me flagrar, embora nessas situações eu tivesse um cuidado redobrado. Nilo parecia seguro, confiante de que eu saberia como apreciá-lo sem pôr tudo a perder. Talvez essa cumplicidade não tenha realmente existido, mas nada também me indicou que tenha sido apenas uma fantasia minha.
Foi numa dessas vezes no apartamento, e sem demorar muito, que Nilo surpreendentemente deu mais um passo rumo ao destino que, agora, eu via como inevitável: metendo em Míriam de frente pra mim, após me olhar por um longo tempo fingindo estar em transe com os olhos semicerrados (sim, ele era ingênuo...), voltou-se para a mulher e pediu que ela deixasse eu tocar punheta enquanto assistia. Ela não recusou, já que o argumento dele era indiscutível: naqueles quase quatro meses, eu já provara ser um cara bacana, amigo, e era uma injustiça impedir que eu me aliviasse.
Desafivelei o cinto, desabotoei a calça e abri o zíper sem olhar para Nilo, para que ele não se inibisse caso quisesse acompanhar meus movimentos – propositadamente lentos e sensuais. Ainda com o rosto voltado para o que fazia, levantei-me, saquei o cacete e pus também os culhões pra fora, ajeitando de forma que ao sentar-me expusesse bem o material sem que me fosse incômodo. Já há vários encontros eu dispensara o uso da cueca, de modo que, se quisessem, Míriam e principalmente ele pudessem admirar o volume. Nenhum dos dois havia comentado a novidade, embora eu desconfie que Míriam aceitava muito mais para me fazer um agrado e não perder o agora seu único cliente do que propriamente porque não se importasse.
Comecei a me punhetar muito lentamente, por vezes apenas percorrendo meu membro de cima abaixo com os dedos, numa carícia que suplantava a simples masturbação. E o fiz encarando Nilo, que a princípio se manteve alheio. Mas a um primeiro olhar de canto de olho seguiu-se um olhos-nos-olhos que ele rapidamente desviou, para depois aceitar a imagem que tanto queria ver. Um novo desvio de olhar e, finalmente, um olhar fixo, concentrado, admirando meu caralho enquanto simulava que o tesão que sentia era pela buceta de Míriam, que ele continuava penetrando. Sem avisar, como normalmente fazia, e numa expressão entre o êxtase e a surpresa, ele gozou logo em seguida.
Depois de descansar um pouco, agiu com a naturalidade de que nada de novo havia acontecido: desceu pelo corpo de Míriam e foi até a buceta esporrada dela, lambendo o grelo para fazer com que sua dona tivesse um último gozo, como era de lei. Eu me aproximei para olhar melhor, como já algum tempo passara a ser comum. Ainda alternando carícias e masturbação no meu cacete em riste, cruzei meu olhar com o dele, que continuou na sua tarefa de excitar a mulher. Inclinei um pouco e vi que entre suas pernas o cacete a meia-bomba voltava a crescer. Voltei a encará-lo, e ele ainda me olhava. Ficamos assim até Míriam, que se mantinha de olhos fechados enquanto apertava e fazia carinhos nos seios, explodir num novo orgasmo.
Quando seu gozo terminou, fiz um breve cafuné nos cabelos dela, numa das poucas vezes que ousei tocá-la (coisa que também jamais fazia nele). Retornei para a poltrona, sem me voltar para Nilo ou manifestar, mesmo que sutilmente, qualquer desdobramento de nossa longa troca de olhares. Já havia guardado o cacete e suspendi a calça. Fechei o zíper e, já sentado, tomei um gole do copo de uísque que, como sempre, estava sobre um banquinho ao lado, junto com a garrafa e um balde de gelo, com o qual eu os presenteara. Nilo saíra do quarto, indo ao banheiro lavar-se. Míriam permanecia deitada, exausta e satisfeita.
O silêncio de Nilo sobre o que acontecera e seu esforço até o fim da noite para agir normalmente foi a confirmação de que eu estava a um passo de alcançar meu intento. Na semana seguinte, marquei com Míriam um novo encontro para dali a alguns dias, no horário de sempre – cerca de uma hora após ela chegar do trabalho. Mas, desta vez, fiz diferente.
Arrisquei chegar ao bairro deles três horas antes do horário habitual – ou seja, duas horas antes de ela estar em casa. Poderia não dar em nada, mas, se desse, aquele seria o dia da cartada final da conquista mais demorada e mais tesuda de toda a minha vida; a caça e a presa que havia saboreado mais lentamente em tantos anos de putaria.
Do celular, liguei para o fixo deles. Nilo não tinha um horário de trabalho; vivia de bicos. Muitas vezes, sem serviço, passava o dia todo em casa, quando aproveitava para fazer a faxina, pôr as roupas para lavar etc. Era possível que estivesse em casa, assim como era possível que não. Eu saberia caso o telefone fosse atendido.
Se atendesse, eu diria que tinha ido a um compromisso de trabalho ali perto – afinal, eu era um engenheiro de obras; poderia perfeitamente ter supervisionado o andamento de uma construção nas proximidades. E, já que eu estava tão perto, poderíamos aguardar a chegada de Míriam batendo um papo, bebendo alguma coisa – obviamente, no apartamento.
Mesmo que não acreditasse, eu agora tinha certeza que ele fingiria acreditar piamente. Aquele comedor estava no papo. Queria tanto quanto eu, e queria o que eu queria que ele quisesse.
Seria nossa primeira oportunidade a sós. Mesmo no motel ou no apartamento deles, nunca tínhamos estado juntos mais de um minuto sem a presença de Míriam – não sei se por mero acaso ou porque ela preferia manter sua vigilância sobre ele.
Bastaria que Nilo atendesse o telefone para que dali a pouco ficássemos frente a frente, finalmente sem qualquer obstáculo.
– Alô? – ouvi, satisfeito.
Era a voz da presa que eu estava salivando para abater.