Cap.16
Ao ouvir aquilo eu simplesmente perdi a voz e o pensamento. Eu nunca imaginei que fosse ouvir algo assim dele. Nunca, em hipótese alguma. Aquele homem, que achava os gays um nojo, que queria eles longe, agora dizia que tinha quase certeza que gostava de homens. Como lidar com isso ?
-Ã... Eu acho que você precisa descobrir sobre isso, não ?
-Eu pretendo fazer isso...
-Como ?
-Vou viajar para Búzios esse fim de semana. Estarei de folga o sábado e o domingo, dá tempo de eu descansar e pensar um pouco sobre mim e o que tem acontecido comigo e os meus pensamentos...
-Ah... - continuei arrumando as coisas para o café – mas me diz uma coisa ? Quando você percebeu tudo isso Elias ?
-É a única explicação que eu posso ter... Desde tudo aquilo, não paro de pensar... Nunca mais consegui ficar e nem pensar em mulher nenhuma e... Sonhei com aquilo.
-Sonhou com o que ?
-Com nós dois na cama... - ao ouvir aquilo, corei- além disso, eu tentei esconder durante toda a minha vida mas não dá mais. Quando eu era adolescente eu senti atração por garotos. Mas sei lá... Todo aquele preconceito que imperava e os meus pensamentos, eu acabei esquecendo, ou ao menos escondendo dentro de mim o sentimento.
-Então, meu caro amigo, resolva isso – falei, me aproximando dele – e eu estarei aquilo, independendo da conclusão que você chegar... - falei, o abraçando.
-É, eu sei... - falou, colocando a mão dele sobre a minha. Estava feliz... Meu amigo estava de volta. Mas estava triste... Ele não era completamente meu como eu queria.
NARRADO POR ELIAS
Renato me fazia um bem tão grande. Eu sabia que ele era a única pessoa que eu podia confiar de verdade. Que ele sempre estaria lá, se eu precisasse. E nesse momento tão confuso da minha vida, eu precisava dele.
-Renato ? - chamava ele, que estava secando as louças que eu lavava.
-O que foi ?
-Você ainda tem aquele livro de romance que queria que eu lesse ?
-Tenho, porquê...
-Agora eu quero ele emprestado – ele riu...
-Qual foi o alienígena que mudou a sua mente ein ? - perguntou. Eu ri. Não lia livros de romance, mas daquela vez deu vontade. Não deu muitos minutos e ele voltou – aqui está... - falou. Porém, antes de me entregar ele ergueu o livro pro alto, não me deixando pegar – mas tome cuidado, quero meu livro intacto de volta ok ?
-Tá bom Renato, eu vou ter cuidado, agora...- eu tentei pegar, mas ele continuou com o braço levantado pra que eu não pegasse – me dá logo esse livro ! - estava querendo brincar comigo.
-Promete que vai cuidar ! - continuei tentando pegar, mas...
-Eu... - perdi a voz, quando percebi que estava cara a cara com ele. Estávamos tão pertos que eu podia sentir a respiração dele. Aquilo acelerou o meu coração. E percebi a mudança de feição dele – prometo... - fiquei sem jeito, e então ele me deu o livro. Porquê meu coração acelerou tanto ?
TEMPO DEPOIS
E então eu parti rumo a Búzios. Estrada ligeiramente agitada, mas cheguei lá sem grandes contra tempos. Escolhi ficar num hotel que eu já conhecia, e que ficava perto da praia. Logo quando estava fazendo o meu check-in, percebi o olhar incomum de um homem no canto da sala. Parecia ser jovem, com um corpo bonito, uma pequena e arrumada barba e algum estilo. Mas eu não reparei, apenas notei que ele estava me olhando de uma forma estranha. Apenas deixei minhas coisas no quarto e decidi correr para a praia, afim de tomar um banho. Apenas atravessei a rua do hotel e logo estava na praia. Era a praia de João Fernandes. Estava linda como sempre, e tinham diversas pessoas, mas aquilo não me incomodava. Corri para o mar e quando mergulhei, a água estava gelada como sempre. Fiquei lá durante alguns minutos, sentindo a beleza e a maravilha que é mergulhar no mar. As águas sempre me acalmavam, e acabavam fazendo eu refletir um pouco sobre os meus problemas.
-Quem diria que uma noite de amor me deixaria assim tão confuso... - dizia para mim mesmo... Olhava para os homens ao redor, e percebia que aquilo que eu sempre tentei evitar, notá-los, acontecia. E cada vez mais eu lembrava de diversas vezes pela minha vida ao qual eu notei homens e fingia que não os notava. Tudo por medo, ou preconceito. Faltava algo assim acontecer para eu perceber a realidade. Sai do mar e fiquei sentado na areia apenas olhando as ondas irem e voltarem. Pensava comigo mesmo em tudo aquilo o que acontecia. - e se realmente eu for ? O que será que vai acontecer ? Será se eu vou esquecer as mulheres ? Será se eu só vou querer me relacionar com homens ? - estava bastante angustiado com aquilo tudo. No fundo eu sabia que dentro de mim a verdade já estava dita. Só faltava eu acreditar nela.
-O que um homem está fazendo sozinho numa praia como essa ? - uma voz completamente estranha para mim falou. Quando eu me virei, percebi que ela vinha daquele homem que estava a me olhar de forma estranha quando eu cheguei no hotel.
-Você falou comigo ?
-Falei sim – falou ele, se aproximando – me chamo Lucas... - falou ele, esticando a mão para me cumprimentar
-Elias... - retribuiu o cumprimento.
-E então ? O que um homem faz sozinho numa praia como esta ?
-Pensando na vida apenas... Nos problemas...
-É... Uma praia é sempre um bom lugar para pensar nos problemas. Eu que o diga...
-Tem grandes problemas ?
-Tenho... Perdi o grande amor da minha vida e... Para completar ele era um homem.
Continua
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