A confusa evolução dos tempos.
(*) Texto de Aparecido Raimundo de Souza.
Fura Bolos.
- Você acredita Polegar, que meus filhos Mindinho e Minguinho me trocaram por uma folha de cheque?
Todo mês, chova ou faça sol, eles me pedem uma gorda mesada?
Polegar.
- Acredito, Fura Bolos. Infelizmente estamos vivemos as atrocidades que o século vinte e um vem nos impondo. Dessa forma, ou acompanhamos a evolução, ou perdemos o
bonde da historia.
Fura Bolos.
- Veja como são as coisas. Criamos nossos meninos com tanto carinho, cercados de mimos e cuidados, e o que ganhamos? Minha vida se resume a um pedacinho de papel escrito com um valor numérico, como se fosse um pagamento de pensão
alimentícia...
Polegar.
- Meu caso não diferencia muito do seu. A Anelar não ficou atrás e me trocou por um teclado de computador.
Fura Bolos.
- É o progresso, meu prezado, é o progresso. Precisamos nos curvar a ele.
Polegar.
- Quem imaginaria que eu seria, um dia, trocado por essa droga de Internet e pelos MSNs da vida?
Fura Bolos.
- E eu? Como o amigo acha que me sinto?
Polegar.
- O que adiantou eu trazer minha única cria debaixo das rédeas curtas, sob meu olhar e o de minha mulher, como égua no cabresto?
Fura Bolos.
- Falhamos, com certeza, em algum lugar. Só não sabemos precisar onde, ou em que ponto da estrada.
Resumindo: não conseguimos segurar nossos animaizinhos no pasto que levamos a vida inteira construindo...
Polegar.
-... Tenho que concordar plenamente com você!
Fura Bolos.
- Somos verdadeiros heróis, se olharmos por um lado. Todavia, por outro angulo, não passamos de um bando de energúmenos com carteirinha de sindicato e tudo. A gurizada, hoje, só quer saber de viver metida em E-mails, Facebook, antenada no Instagram, Sonico, Linkedin, ou, quando não, dependurada no Twitter e não sei mais o quê. Sem mencionar outras tantas ervas daninha que aparecem, no dia a dia, e invadem nossas casas sem o mínimo pudor e compostura.•.
Polegar.
- No nosso tempo... No tempo da nossa infância, nossos pais passavam a maior parte do tempo com a gente. Recorda dessa fase? Eu me recordo muito bem dos finais de tarde, no velho campo de aviação -, a gente soltando pipa, ou na beira da rodovia, num terreno abandonado, batendo uma bolinha. À noite, pipoca na praça da matriz, churrasco na casa dos amigos e refrigerante
no Bar da pracinha da matriz. Bons tempos, aqueles!... Hoje, meu caro, nos tornamos obsoletos... Superados...
Fura Bolos.
-... Arcaicos e antiquados.
Polegar.
- Sem dúvida, sem dúvida. Acredito que ninguém da nossa velha turma escapou dessa desgraça da globalização.
Fura Bolos.
- Por certo não mesmo. Nosso compadre, o Pai de Todos serve de exemplo. Está vivendo dias
de intenso terror com Mata Piolhos.
Polegar.
- Me falaram, porém, na hora não levei a sério e nem acreditei. Pai de Todos não é muito de sair de casa, nem de falar da sua vida privada. Afinal, Fura Bolos, o que Mata Piolhos está aprontando? Vamos ver se bate com o que me trouxeram aos ouvidos.
Fura Bolos.
- Mata Piolhos arranjou um namoradinho e o pai flagrou o sujeitinho beijando o filho na boca enquanto lhe masturbava o pau.
Polegar.
- Então tem fundamento o que me contaram. Fiquei sabendo dessa situação aqui pela vizinhança, que Pai de Todos, igualmente, pegou o filho no quarto dando o cu. Procede, também essa história?
Fura Bolos.
– Infelizmente.
Polegar.
- Então, meu caro Fura Bolos, devemos por as mãos para o céu e orarmos ao Pai Maior. Em vista do que vemos por ai, em outros lares. Temos, de fato, que nos ajoelharmos e agradecer. Sobretudo, nos sentirmos contentes e satisfeitos.
Fura Bolos.
– Verdade, meu amigo. Graças a Deus, Mindinho e Minguinho gostam de boceta. Se você for em casa, verá, a cada dia, uma racha diferente desfilando no pedaço...
Polegar.
-... Anelar só falta chupar a pica do namorado na minha frente e na presença da mãe.
Fura Bolos.
- Essa pouca vergonha faz parte do cotidiano. Temos que abaixar a crista e deixar a coisa rolar. Dos males, o menor. Acho que daria um tiro nos miolos se soubesse que meus filhos empurram quibes ao contrário.
Polegar.
- E eu pularia na frente de um carro, se a Anelar tivesse preferencia em chupar uma xereca. Imagine...
Fura Bolos.
- Mas cá entre nós, amigo Polegar. Uma bela e bem cuidada bocetinha, limpinha e cheirosinha, não faz mal a ninguém. Concorda comigo?
Polegar.
- Plenamente. Por tocar nesse assunto, faz tempo que não damos as fuças no puteiro da Margarida. Soube pelo Indicador que tem umas gatas novas, de fechar o comércio. Ando precisado de comer carne nova... Lamber um rabinho empinado...
Fura Bolos.
- Fale baixo. Se nossas esposas chegam de repente da feira e nos escutam, estamos ambos, no mato sem cachorro.
(*) Aparecido Raimundo de Souza, 63 anos, é jornalista.
(**) Texto escrito especialmente para a "CASA DOS CONTOS".