Barão passou a mão na testa, e limpou um pouco do suor que pingava. Enquanto alguns corriam para longe, outros se aproximavam para ver o que estava acontecendo.
- então é isso? (perguntou ele olhando para mim).
Barão falava como se quisesse encontrar ar para respirar.
Arthur - o que?
Barão - você vai estar sempre salvando minha vida?
Pela primeira vez vi uma lágrima escorrer dos olhos do barão.
Aproximei-me dele, e tentei falar algo, mas fui interrompido pelo barão.
- Vai pra casa, Arthur. (disse ele).
Arthur - eu não vou.
Barão - to mandando você ir. (disse ele com autoridade).
Arthur - já disse que eu não vou. Quero ficar aqui com você.
Barão - você tem noção do que pode estar acontecendo aqui?
Arthur - claro que eu tenho, por isso mesmo quero ficar aqui com o senhor.
Barão - pelo mesmo motivo eu quero vá. (ele era rígido com suas palavras). eu não sei quem pode estar por tras disso tudo, e você aqui ta correndo risco.
Arthur - eu não ligo.
Barão - mas eu ligo. Agora vá embora. (ele gritou nessa ultima oração).
Eu apenas balancei a cabeça que não.
Um táxi que passava no momento foi parado pelo barão, este abriu a porta traseira e me colocou dentro, mesmo contra a minha vontade.
Já dentro do veículo, olhei pela vidraça e vi algumas pessoas se aproximando do barão, provavelmente perguntando se estava tudo bem.
- amigo? (falei com o taxista).
Vi quando ele me fitou pelo retrovisor.
- para o carro pra mim, por favor, eu vou descer.
Percebi que ele não gostou muito, então lembrei do dinheiro que o barão havia colocado no bolso do meu short, e entreguei a ele.
Antes que o homem falasse qualquer palavra, eu abri a porta e retornei para onde havia deixado o barão.
Lá chegando, vi Nícolas sentado, falando com alguém ao celular, e o carro dos bombeiros se aproximando.
Assim que Nícolas finalizou a ligação, veio a meu encontro.
- você não vai embora mesmo né!?
Arthur - Não! eu não vou deixar o senhor sozinho.
Barão engoliu a seco.
Olhamos para os bombeiros tentando conter as chamas, e eu ficava imaginando o quem teria interesse em matar o barão.
Um homem de preto aproximou-se e começou a conversar com o barão; eu sentei na calçada e apenas os observava.
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Assim que o barão terminou de dialogar com o estranho, eu o esperava com uma garrafa de água mineral.
Barão engoliu a água quase que em uma golada só.
- Quem era esse cara? (perguntei assim que ele jogou a garrafinha fora).
barão - é da policia. Terei que ir ate a delegacia registar um boletim de ocorrência.
Arthur - vou com o senhor. (falei levantando e sacudindo a areia do short).
Barão me olhou sério, e apenas balançou a cabeça em conformidade. Acho que eu havia o vencido pela insistência.
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Assim que Damião chegou entramos no carro e seguimos para a delegacia.
Barão encostou a cabeça no banco, e fechou os olhos. Sua aparência estava cansada, abatida.
A viagem foi toda em silencio. Eu não me atrevia a perguntar nada, acho que naquele momento o silencio era o melhor remédio.
Assim que o Damião estacionou o carro, descemos e adentramos o estabelecimento policial.
Barão entrou em uma sala, e eu fiquei esperando do lado de fora. Através da porta aberta, eu via a noite aparecendo.
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Depois de muito tempo esperando, o barão saiu. Sem falar nada, apenas com a leitura de seu rosto, eu entendi que ele estava me chamando para ir embora.
Entramos no carro e Damião seguiu viagem.
Ainda dentro do carro o barão ligou para sua casa querendo saber noticia dos filhos.
Barão - Damião? (falou ele assim que desligou e telefone e o guardou no bolso da calça).
Damião - senhor, patrão? (disse o homem olhando por baixo dos óculos).
Barão - primeiro vamos deixar o Arthur em casa.
Eu o olhei de imediato, mas não questionei, se era assim que ele queria, assim iria ser.
Damião - sim senhor! (disse o homem).
Damião seguiu para minha casa, e eu e o barão não trocamos palavra alguma.
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Barão - Arthur? (disse ele assim que o carro estacionou e eu abri a porta traseira).
Arthur - senhor? (falei antes de sair do carro).
Barão - obrigado por hoje.
Arthur - por nada. (falei calmo).
Barão - eu vou dar uma passada em casa para apanhar meus filhos, e os deixarei com a mãe, no momento é o melhor.
Eu balancei a cabeça que sim.
- depois ainda não sei o que vou fazer, por isso não tem como você ir para minha casa hoje. (continuou ele).
Arthur - sem problemas. (eu estava decidido, não iria mais me humilhar para o barão). Boa noite. (finalizei e saí do carro em seguida).
Ainda vi o carro desaparecer, e só depois entrei no apartamento.
Assim que abri a porta vi minha mãe, Julia e o Fred sentados no sofá.
- Arthur, aonde você estava filho? (disse minha mãe levantando e vindo a meu encontro).
Arthur - tava na praia, mãe.
Joana - mas ate essa hora?
Olhei no relógio e percebi que já passavam das 20.
Arthur - perdi a noção do tempo.
Joana - seu amigo esta lhe esperando a horas. (disse ela olhando para o Fred).
Fred - Não tem problemas, senhora. (disse Fred, como sempre, muito simpático).
Arthur - desculpa, Fred. (falei o cumprimentando).
Fred - tranquilo Arthur.
Julia parecia concentrada na programação da tv.
Joana - filho?
Arthur - senhora?
Joana - aconteceu uma tragédia com o Nícolas.
Arthur - o que aconteceu? (falei, parecendo surpreso).
Joana - parece que colocaram uma bomba dentro do carro dele.
Arthur - serio? como a senhora sabe disso?
Joana - foi noticiado em todos os jornais.
Arthur - mas como é que sabem que foi uma bomba?
Joana - estão suspeitando dessa possibilidade.
Arthur - mas como chegaram a essa conclusão?
Joana - Por ele ser um homem rico, é comum que tenha muitos inimigos.
Arthur - faz sentido. Mudando de assunto, a senhora já conversou com o Fred sobre a possibilidade dele ficar me assistindo?
Joana - já conversamos.
Arthur - e aí? (perguntei ansioso).
Joana - ele ira ficar atendendo você, até que estejas melhor.
Sorri, e Fred retribuiu.
Arthur - bacana.
Joana - eu vou ter que sair com a Julia. (disse minha mãe mudando de assunto).
Arthur - vão aonde?
Joana - vou leva-la ao aniversario de uma coleguinha.
Arthur - entendi.
Antes de sair minha mãe foi ao quarto que dividia com minha irmã.
Fred - não sentiu dores? (perguntou Fred sentado no sofá).
Arthur - um pouco de dores nas costas.
Fred - já tomou remédio hoje?
Arthur - o ultimo que tomei foi naquela hora que tu me deu.
Fred - mas já era pra ter tomado, Arthur. São dois por dia.
Arthur - eu esqueci completamente.
Minha mãe retornou do quarto e já foi se despedindo da gente.
- Fred fique a vontade viu? (disse ela).
Fred - obrigado dona Joana.
Joana - e você vá tomar um banho que ta parecendo uma escultura de areia.
E eu estava sujo mesmo.
- Vou já. (falei sorrindo).
Minha mãe me deu um beijo no rosto e saiu. Ficamos Fred e eu.
- cade aquele comprimido que tu tomou pela manhã? (disse Fred).
Arthur - deve ta dentro da minha mala, ainda não tive tempo pra arrumar minhas coisas.
Fred - da uma procurada lá, só falta uma pilula, e você ta livre desses remédios.
Arthur - eu vou tomar um banho primeiro, estou muito sujo, você pode dar uma procurada pra mim?
Fred - claro. Cadê sua mala?
Arthur - ta no quarto.
Fred se levantou e me acompanhou ate o quarto.
Arthur - se esse comprimido veio, deve estar por aqui dentro. (falei lhe entregando a pequena mala).
Fred - pode deixar que eu procuro. Vai la tomar seu banho.
E assim eu fiz. Peguei apenas uma toalha e entrei no banheiro.
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Assim que liguei o chuveiro me veio a mente a imagem do barão. A explosão do seu carro havia sido um impacto muito forte para mim. Olhei para o chão e vi os fios de areia saindo do meu corpo e sumindo pela ralo. Encostei minha testa na lajota da parede e me deu uma vontade chorar. Afinal o que eu sentia pelo barão? Será que o Ben tinha razão? Eu realmente gostava do poder que o barão representava?
Minha cabeça estava confusa.
Depois de estar completamente com o corpo lavado, enrolei-me com a toalha e saí do banheiro.
Fred não estava no quarto, mas em cima do criado mudo havia um copo com água e uma pilula.
Troquei de roupa, tomei o remédio e fui até a sala.
Fred estava sentado no sofá vendo tv.
- Tomou o remédio? (foi a primeira coisa que Fred perguntou).
Arthur - agorinha. (falei sentando no sofá). Quer comer alguma coisa?
Fred - pode ser. (respondeu ele).
Fui ate o fogão e comecei a abrir as panelas procurando por comida, não gostei muito da cara, e resolvi pedir uma pizza.
- Essa semana eu vou agendar um exame de sangue pra você. Beleza? (disse Fred assim que eu retornei ao sofá).
Arthur - isso é mesmo necessário?
Fred - com certeza.
Arthur - beleza, é só agendar que eu vou.
Fred - e eu consegui marcar fisioterapia pra você, só que é na rede publica. Tem problema?
Arthur - tem não. Quero é ficar sarado meu amigo. Quero procurar emprego e voltar cem por cento aos treinos.
Fred - devagar Arthur, não vá com tanta cede ao pote.
Arthur - sou realista, Fred, mas eu sinto que em breve vou ta com minha força máxima.
Fred - também penso assim, mas não quero que você fique frustrado.
Arthur - tranquilo cara. Eu não vou ficar.
Conversamos por mais algum tempo, até a pizza chegar.
Sentamos a mesa da cozinha e retomamos nosso papo.
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Fred - caralho. Que pizza louca é essa?
Arthur - tu pegou qual? (falei colocando um copo de coca).
Fred - essa! (apontou ele para a pizza).
Arthur - essa é furiosa pô! (falei sorrindo).
Fred - minha boca ta queimando.
Eu ri.
Arthur - é pimenta porra.
Fred - quero calabresa.
Servi uma fatia para o Fred.
Fred - agora sim. (disse ele engolindo um pedaço da pizza).
Após terminarmos de comer, Fred teve que ir.
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- amanhã eu retorno. (disse ele pegando a chave do carro).
Assim que nos cumprimentamos, minha mão colou na mão do Fred, e ficamos ali por um tempo.
Puxei minha mão, sem graça.
Arthur - ate amanha então.
Fred - é... até amanha.
Percebi que Fred também ficou sem graça.
Assim que Fred passou pela porta, eu sentei no sofá. Depois de um bom tempo percebi que a caixa do barão, ainda estava fechada. Olhei por um lado pra ela, notei que ela também olhou pra mim. Peguei a caixa nas mãos e comecei a desfazer sua embalagem.
- um celular? (pensei).
Abri a caixa, e sim, era um celular.
- era o minimo que ele podia fazer, depois de ter quebrado o meu.
Imediatamente procurei pelo meu antigo celular, e coloquei o chip no novo. Recuperei alguns contatos, mas outros ficaram no celular.
Resolvi ligar para o Bem.
****
- Oi Arthur! (disse ele atendendo).
Arthur - e aí ben, já ta nos teus esquemas?
Ben - nada. Acabei de tomar banho, ia começar a me arrumar agora.
Arthur - já sabe o que aconteceu com o barão?
Ben - sim. Vi na tv, ainda pensei em te ligar, mas lembrei que tu tava sem celular.
Arthur - pois é, foi na hora que eu tava lá. Será que foi o Loupan?
Ben - acho que não, o Loupan não teria coragem de fazer mal a ninguém, além do mais ele ainda esta hospitalizado.
Arthur - mas pode ter sido alguém mandado por ele.
Ben - tenho certeza que não.
Arthur - to preocupado com ele.
Ben - com quem? com o barão?
Arthur - sim.
Ben - pode ficar despreocupado. (disse ele do outro lado da linha). Ele vai saber se virar.
Arthur - por que fala com tanta certeza?
Ben - são anos trabalhando com aquele cara.
Arthur - mas as vezes você parece que sabe tanto da vida dele.
Ben - apenas o que todos sabem.
Parecia que Ben sabia algo a mais, mas eu não iria descobrir naquele momento.
Arthur - eu vou deixar você terminar de se arrumar, depois nos falamos. Tocom celular novo já, qualquer coisa é só ligar.
Ben - beleza. Amanhã a gente se fala.
Arthur - falou Ben, boa noite.
Ben - Boa noite Arthur.
*****
Desliguei o telefone, e deitei colocando o celular em cima da barriga. Eu estava me sentindo inquieto por estar em casa sem ter nada pra fazer. Após um tempo apaguei deitado no sofá, acordei com o celular tocando. Olhei no visor e não reconhecia aquele número.
*****
Alô. ( falei despertando).
- Arthur? (falou a voz do outro lado da linha).
Arthur - é ele! quem fala?
- é o Nícolas. Você tem um tempo pra mim?
Poderia dizer que não. Era o mais sensato a se fazer, mas talvez ele estivesse precisando de mim.
Arthur - claro.
Barão - to aqui em frente a teu apartamento. Pode vir aqui?
Arthur - to indo. (falei respirando fundo).
Barão - te espero.
calcei apenas uma sandália e desci.
Havia apenas um carro estacionado, e eu supus que era o do barão.
Aproximei-me e bati no vidro da janela, que rapidamente foi abaixado.
- Oi. (falei ainda do lado de fora do carro).
Barão - entra. ( uma garrafa de wisky estava ao lado do barão).
Arthur - aconteceu alguma coisa?
Barão - Não! (disse ele calmo). eu queria apenas dar uma volta.
Arthur - o senhor ta bêbado?
Barão - Não. Apenas relaxando.
Arthur - entendi.
Barão - não precisa ter medo. Este carro foi todo revisado.
Arthur - eu não to com medo, é que estou sozinho em casa.
Barão - cade sua mãe?
Arthur - levou minha irmã a um aniversario.
Barão - Hum! eu posso subir pra gente conversar?
Hesitei um pouco.
Barão - só quero conversar.
Confirmei com a cabeça.
Barão desligou o carro e saiu com sua garrafa de wisky.
Eu fui na frente e ele me acompanhou.
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- já jantou? Tem pizza! (falei assim que sentamos no sofá).
Barão - estou sem fome. (disse ele dando uma golada na bebida). Onde é o banheiro?
O senhor pode usar um que tem dentro do meu quarto. (Falei apontando para o local aonde eu dormia).
Barão colocou a garrafa de wisky sobre a mesinha de centro e saiu com as mesas cambaleando.
Depois de um tempo ele retornou apenas de calça.
- então esse é seu quarto, Arthur?
Arthur - sim. (respondi).
Barão - posso descansar um pouco na sua cama?
Arthur - po...pode. (falei gaguejando)
Barão retornou ao quarto, e eu fiquei na sala tentando entender o que estava acontecendo.
- você vai ficar aí? (disse ele parado na porta).
Arthur - vou ficar assistindo. (falei mudando de canal, fingindo que estava entretido).
Barão foi até a sala, tomou o controle da minha mão, e me conduziu ate o quarto.
Continua...