Espero que gostem dessa parte. Muito obrigado a todos que lêem e pelos comentários. Adoro escrever pra vocês!! Beijão... ;)
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Resolvi que iniciaria minha pós-graduçao no início do ano. Trabalhar com o Mauro exigia muito mais que eu poderia oferecer como profissional. Mesmo ele e o Seu Ivan me elogiando, eu sabia que dava pra melhorar
O mês foi extressante e cansativo. A gente só conseguia se desprender do trabalho nos fins de semana. Eu passava o dia todo com o Mauro, indo de lá pra cá e tinha que me policiar para não soltar um "claro amor, sim amor, tudo bem amor", na frente das pessoas. E posso dizer que é muito difícil não se confundir, mas eu mantinha a postura.
Era fim de tarde de uma quinta-feira. Tinhamos acabado de chegar do Fórum. Uma audiência rápida a tarde, mas ficamos presos na burocracia. Eu fui bater meu ponto e pegar minha mochila em minha sala, quando o Murilo entrou.
— como foi lá? — ele me perguntou enquanto eu guardava uns processos no arquivo
— hoje, por incrível que pareça, foi tranquilo.
— não sei como você consegue passar o dia todo com o Mauro. — eu o encarei, mas fiquei calmo.
— não vejo problema algum.
— bom, eu não vim aqui pra falar do Mauro. Vim pra te chamar pra beber alguma coisa.
Oi? Tudo que eu não esperava, ainda mais do Murilo, era um convite pra beber. Desde que entrei no escritório trocamos poucas palavras e somente sobre trabalho, nada além disso. Bom, tive que sair pela tangente.
— eu até iria se não tivesse cansado e tanto trabalho pra revisar. Mas podemos marcar outro dia.
— ah sim, claro. Não tem problema. Qualquer dia desses a gente combina.
— você já está indo?
— já sim, e você?
— eu ainda tenho que entregar esse relatório pro Mauro.
— vixi, ele vai ficar te segurando...ele fazia isso comigo, sempre. Falava, falava e mais trabalho eu tinha que levar pra casa. Só porque ele não tem uma vida, não deixa ninguém viver também. Dizem que... — eu o interrompi.
— olha, me desculpe, mas não me interessa o quê os outros pensam do Mauro, da Roberta, do Seu Ivan e do Orlando. Eu apenas quero fazer meu trabalho e ir pra casa, não gosto de fofocas porque a corda sempre arrebenta no lado mais fraco.
— me desculpe, eu não falava por mal. Bom, eu vou indo. Até amanhã.
— até amanhã.
A porta da sala do Mauro estava aberta e ele terminava de assinar uns papeis. Fiquei encostado no batente e ele ficava tão charmoso de óculos que fiquei esperando ele terminar, só olhando ora ele. Quando me viu ali parado, deu um meio sorriso e pediu que eu entrasse. Enteguei a pasta, me sentei e perguntei se eu poderia ajudar em mais alguma coisa.
— não. Por hoje é só. Vou te levar pra casa.
— não precisa. Pego o ônibus aqui perto e chego rapidinho.
— eu não estou pedindo sua autorização, vou te levar e pronto. Sabe, não tem como a gente estar juntos e ficar fingindo que você não existe. Eu não estou suportando essa situação. Chega ser irónico, porque sou eu quem não se assume, mas ao mesmo tempo eu tenho vontade de dizer que te amo pra todo mundo.
Ele estava nervoso. Fui até a recepção e disse que a Ana já podia ir pra casa, pois eu ficaria ajudando o Mauro e depois ele fechava o escritório. Esperei ela pegar suas coisas e assim que saiu, tranquei a porta.
Quando voltei, ele estava sentado no sofá, olhando pra cima com as mãos atrás da cabeça. Ele me estendeu a mão e me fez sentar em suas pernas. Pedi que se acalmasse e o beijei.
— eu tenho que resolver minha vida, mas pra isso eu preciso me desligar de tudo isso aqui.
— o que pensa em fazer?
— já estou fazendo. Eu só preciso explorar você um pouco pra que dê tudo certo.
— me fala o quê é.
— rsrs, é coisa boa. Pode ter certeza. Na verdade, venho fazendo mesmo antes de te conhecer. Você, agora, está me dando forças pra continuar meus projetos. Leva tempo, mas o resultado final valerá a pena e não terei que ficar envolvido com o escritório e com meu pai. Eu preciso de liberdade.
— seja lá o que for. Vou torcer pra que você consiga.
— e eu vou. Não admito fracassos. Por isso fico nervoso. Não posso fracassar contigo e com a nossa relação que é tão bonita. Eu vou te levar pra casa, afinal, eu já te segurei tempo demais aqui.
— eu não me importo. Desde que eu esteja com você.
Fechamos tudo e ele foi pegar o carro no estacionamento. No outro lado da rua vi o Murilo num barzinho. Ele olhou na direção do escritório e me viu. Tentei disfarçar, mas ele fez um aceno e dei um jóia. Ele brincou, apontou seu relógio, como se estivesse me dizendo: ei, eu não disse que o Mauro ia te segurar ai.
O que ele não sabia, era que eu pouco me inportava em ficar até mais tarde.
O Mauro estacionou e entrei no carro. Talvez eu deveria contar a ele sobre o convite do Murilo, mas e se ele ficasse chateado?
Dizem que a base para uma relação duradoura é a sinceridade e confiança, então, resolvi dizer.
— Mau...
— fala amor...
— se eu te contar uma coisa, jura que não vai surtar?
— juro. Não me traiu, né? — eles disse rindo.
— nossa, homem...claro que não.
— eu sei, foi só pra descontrair e aguentar o baque. Pode falar.
— (eu respirei) bom, o Murilo me chamou pra tomar alguma coisa hoje, depois do expediente. — ele me olhou confuso.
— o Murilo? Aquele bebê chorão?
— sim ele. Porque bebê chorão?
— porque quando ele começou no escritório, ele trabalhava comigo, mas disse que eu não deixava ele viver. Aí me cansei e tirei ele do caso dos Robinson. Lembra?
— caramba, claro que me lembro. Victor Robinson foi condenado por matar a mulher e as duas enteadas. Não se falava em outra coisa no Continente. Ainda mais depois que ele se suicidou na cadeia.
— sim. Foi um dos casos mais complexos que eu já peguei, mas conseguimos por ele na cadeia. Então, depois que tirei o Murilo do caso, ele foi reclamar com meu pai. Disse que eu não tinha uma vida e não queria que ele tivesse também.
— incrível como as pessoas querem sucesso sem sacrificio.
— exatamente. E eu precisava de muita ajuda na época, foi muito cansativo. Enfim, ele está afim de você ou só queria uma social com o colega de trabalho?
— acho que só beber mesmo. Eu não ia te contar, mas...
— mas achei incrível da sua parte. E não vou surtar por isso, fica tranquilo, mas estou de olho nele. Não quero ele rondando a tua sala.
— minha nossa, serei vigiado agora? — disse rindo e ele socou meu ombro.
— não vou te vigiar, vou te cuidar. Chegamos!
Meu pai estava no jardim, mexendo em suas plantas e veio até o portão. O Mauro me beijava e ouvi um barulho na minha janela. Era o meu pai. Abaixei o vidro e perguntei o que ele queria.
— fica pro jantar? — meu pai convidou o Mauro.
— não vou incomodar? — fiquei surpreso pelo Mauro ter aceitado.
— que nada. Eu imaginei que você traria o Éric e já deixei tudo organizado. Ele disse que você adora Fricassê de frango.
— não dá pra recusar...fico sim.
Meu pai ficou tão feliz e voltou pro jardim. Fechei o vidro e o Mauro tirava o cinto.
— sério que vai ficar?
— você não quer?
— claro que eu quero. Por vim você viria aqui todos os dias.
— gosto daqui. Gosto da convivência que você tem com seu pai...me sinto bem aqui.
— que bom saber disso. Vamos?
Ele desceu do carro e por Deus, ele abriu a porta pra mim.
— você existe? — desci do carro rindo.
— existo. Quer dar uma mordidinha pra ter certeza?
— toma jeito. Eu vou tomar um banho e...
— hum...que delicia. Vai ficar cheiroso...
— que safadeza é essa? Morre de medo quando fico te provocando no escritório...
— não estamos no escritório. Estamos na sua casa e seu pai é nosso aliado.
— hahaha...tudo bem. Vamos entrar?
— vamos...vai na frente, meu gostoso.
Entramos e ele ficou conversando com meu pai enquanto fui tomar banho. Saber que o Mauro se sentia bem na minha casa, me deixava muito feliz. Era como se nada pudesse nos atingir e de certa forma, ele se sentia seguro em nossa relação por ter meu pai no nosso lado.
Vesti um pijama cumprido. Tudo bem, meio sem graça, mas eu não ia ficar fazendo média só porque ele estava em casa. Fui pra sala e me sentei ao lado dele no sofá grande. Meu pai estava na cozinha e me aninhei em seu corpo.
— estou me sentindo um velho pervertido.
— porque?
— vendo você com esse pijama, parece um garotinho.
— cruzes, vou la trocar.
— hahaha, brincadeira. Fica aqui. Está frio, me esquenta.
— vou pegar um cobertor pra gente.
Corri no meu quarto e peguei um edredom. Cobri as pernas dele e meu corpo. Senti que ele estava inquieto e perguntei se ele estava bem.
— o que você tem?
— seu pai...ele pode não achar legal você desse jeito comigo.
— Mau, eu só estou sentado do teu lado, nada de mais.
— está bem.
— relaxa...
— estou relaxado...acho que nunca me senti tão relaxado na casa de alguém, mas não posso abusar.
— vou te dar um beijo...
— rsrs, não vai...
E beijei. Sem chance de reação. Ele se entregou, não teve jeito. Eu estava ajoelhado no sofá, segurando seu rosto. Ele não resistiu e me abraçou, me fazendo sentar em seu colo. Numa fração de segundos meu corpo se uniu completamente ao dele. Ele parou de me beijar e olhou em direção à porta da cozinha. Encostei a cabeça em seu peito e comecei a rir. Ele me apertou conta seu corpo, me sufocando e mordeu meu pescoço.
— será que ele viu?
— não amor... deixa de ser paranóico.
— você é bruxo, caramba. Fica jogando esses feitiços em mim. Pare com isso, porra.
— rsrs, que feitiço?
— cara de pau...esses aí de me beijar. Aí não aguento, né? Te beijo mesmo.
— tem que beijar mesmo, senão outro beija. — pra quê fui brincar.
— sei...tipo o Murilo. Eu estou de olho naquele pateta. Bom ele não se meter contigo. E não me venha com essa desculpa de fazer social contigo porque sei muito bem o que ele quer.
— uma coisa é ele querer. Outra coisa sou eu aceitar convite dele pra qualquer coisa. Já te disse que não sou moleque. Sei o que eu quero e está bem aqui na minha frente. E vou te beijar de novo.
Dessa vez fomos surpreendidos pelo meu pai nos chamando pra jantar. Se não fosse minha habilidade em saltos rápidos ele teria pego eu no colo do Mauro, mas não era pra tanto, eu só deslizei e me sentei ao lado dele quando ouvi meu pai se aproximando.
Nada que meu pai nunca tenha visto. Um beijo, seguido de um carinho sincero no meu rosto e um sorriso bobo da parte do Mauro, só isso.
Fomos para a cozinha e ajudei meu pai por a mesa. Por segundos senti falta da minha mãe. Ela poderia estar li, mas acredito que estaria feliz por mim, esteja onde ela estivesse.
O jantar seguiu tranquilo. Conversamos sobre trabalho, assuntos do dia a dia e sobre minha Pós.
Era quase 21:00, quando o Mauro disse que ia embora. Pedi que ele me acompanhasse até meu quarto. Ele pediu licença pro meu pai e o puxei pela mão.
— o que tem de tão importante pra me mostrar?
— senta aí, na cama.
Ele me olhou meio ressabiado, mas se sentou. Eu tranquei a porta e fui em sua direção. Suas mãos alcançaram meus quadris e fui puxado de encontro a ele. Me sentei em seu colo, mas ele foi deitando devagar me levando consigo. Fiquei sobre seu corpo e puxei um cobertor. Ele me abraçou, não com safadeza, mas de um modo terno. Ali eu fiquei por trinta minutos, sentindo seu cheiro, beijando seu rosto e recebendo mordidinhas no queixo. Sendo mimado e amado por um homem maduro, de atitude, mas com os mesmos medos de um adolescente.
Ele olhou o relógio e disse que tinha que ir. Ainda teria que revisar uns processos.
Meu pai assistia TV na sala e o Mauro agradeceu a hospitalidade e se despediram, mas antes de sair, perguntou ao meu pai se teria problemas se ele viesse em casa de vez em quando.
— Mauro, quero que se sinta em casa. Fique a vontade.
— bom, eu só tenho que agradecer.
Meu pai nos deixou a sós e nos despedimos rapidamente. O levei até o portão e ele disse que me ligaria antes de dormir.
Para a alegria de todos já era quinta-feira. Véspera de feriado de 02 de novembro. Todos estavam radiantes no escritório. Feriado prolongado sempre causava alvoroço. Eles combinaram com o pessoal que não ia sair da Ilha, de fazer um churrasco no sábado a noite. Eu ouvia o falatório da minha sala e com a desculpa de falar com o Mauro, levei uns processos pra ele revisar. Passei pelo pessoal e o Murilo me parou no corredor.
— e aí, você vai fazer alguma coisa no sábado? — ele me perguntou com um sorriso besta e eu tinha que pensar rápido.
— vou. Vou pro Continente ficar com meu namorado. — foi a única coisa que me veio a cabeça.
— namorado? Não sabia que namorava... — ele me olhou com espanto.
— a gente ta se conhecendo... bom, vou levar esses documentos pro Mauro e obrigado pelo convite.
— que nada, bom fim de semana pra vocês. — não senti muita sinceridade em suas palavras.
— ah, obrigado. Pra você também.
Entrei e fechei a porta. Ele estava no banheiro, pois ouvi o barulho da descarga..Me sentei e ele veio secando as mãos e sorrindo.
— então você vai no Continente ver seu namorado? — ele disse rindo.
— ah, você ouviu...pois é.
— as paredes tem ouvido. Por isso temos que falar bem baixinho. — ele foi baixando a voz enquanto falava.
— sim...eu sei.
— okay, esqueça seu namorado...o quê tem aí pra mim?
— nada... só peguei esses papeis pra poder te ver um pouco. Fiz mal?
— rsrs, claro que não. Fez muito bem.
— vai fazer o quê no fim de semana?
— eu ando tão cansado que só quero paz e tranquilidade. Vou ficar em casa mesmo, com meu namorado, se ele quiser.
— rsrs, eu quero. Sexta, sábado e domingo pra mim ou vai tirar um dia pra família?
— só pra você, mas amanhã bem cedo vou ver minha mãe. Meu pai disse que ela anda meio carente. Vou almoçar com ela e preciso falar com meu irmão sobre a boate...
— falar o quê?
— burocracia. Ele contratou um gerente decente, dessa vez.
— então você não vai mais lá?
— não e não é meu trabalho. Só estava indo pra dar uma força pra ele.
— entendi. Mudando de assunto, como eles reagiram quando souberam de você?
— rsrs, pro meu irmão tanto faz. A gente quase nunca fala sobre isso. Meu pai disse que era coisa da minha cabeça e minha mãe não liga. Eu quase não tive relacionamentos.
— e a Roberta? Vocês transavam...você gostava?
— é estranho, porque eu sempre pensava em homens quando ia pra cama com ela. Eu sei que ela gostava muito de mim, mas meu desinteresse em manter a relação era visível. Ainda não sei como conseguimos nos arrastar por quase cinco anos.
— que droga isso. Já pagou por sexo alguma vez?
— rsrs, com mulheres? Nunca tive nenhuma mulher antes dela e nem depois. Com homens também não. Só aquela época que namorei aquele cara que te falei. É um interrogatório?
— hahaha, mais ou menos.
— quer um café?
— quero.
Ele pediu a copeira que nos levasse café e quando ela abriu a porta, notei que o Murilo e mais alguém passou olhando.
Ficamos conversando o resto da tarde sobre nossas vidas e trabalho.
Fui bater meu ponto e já estava quase saindo quando o Murilo e o Jorge se aproximaram. Senti um tapinha no meu ombro esquerdo e alguém me abraçando de lado com certa intimidade.
Era o Jorge.
— com licença. — disse e o empurrei.
— então é você o protegido do chefe? — ele disse e o Murilo pediu pra ele parar.
— eu não sou protegido por ninguém.
— cara, o Homem pediu até café pra vocês tomarem. O cara é um chato de marca maior.
— é você quem está dizendo, não eu. E por favor, não estou interessado na sua opinião.
— calma, só estou brincando. — ele disse e o Mauro estava saindo, pronto para ir embora.
Os dois se afastaram e fui em direção a porta. Meu celular vibrou e era o Mauro me mandando mensagem.
" meu amor, não posso te levar hoje. Estou esperando meu pai sair, preciso conversar com ele. Quando eu chegar, te ligo. Arrume suas coisas e me espere amanhã depois do almoço. Amo você!"
Fiquei um pouco chateado em não poder ao menos lhe dar um beijo. Peguei minhas coisas e decidi voltar a pé pra casa. Fazia algum tempo que eu não caminhava pela orla e aproveitei para tomar uma água de coco. Fiz o pedido e senti uma mão em meus ombros. Quase sorri feliz, mas fiquei sem reação quando me virei e era o Murilo.
— só pode ser perseguição! — pensei.
Ele perguntou se eu não me importava se ele me acompanhasse e lhe ofereci asento, mesmo a contragosto. Pedi licença, disse que precisava mandar uma mensagem.
" estou no quiosque da praia, posto 15. Adivinha quem acabou de chegar?"
" não acredito que esse bebê chorão está aí. Ainda estou no escritório, meu pai está em reunião com um cliente. Quer que eu vá aí?"
" hahaha, claro que não. Ele vai estranhar se você aparecer. Eu vou ser rápido e ir pra casa. Quer saber? Vou dar corda pra esse chato e saber logo o que ele quer."
" olha lá, heim. E se ele estiver afim de você? Sei não..."
" Mau, eu preciso saber o que esse cara quer comigo. Porque nem somos amigos e de repente ele vem puxando papo? "
" tudo bem, me liga se ele estiver te incomodando."
"ligo."
Sorri, como se estivesse aliviado. Ele perguntou se eu estava com problemas e disse que estava falando com meu pai. Pedi mais uma água de coco. Ele sorriu, na certa pensando que estava sendo agradável, mas pela primeira vez na vida reaolvi ser dissimulado. Puxei um assunto qualquer e depois de meia hora ele já parecia meu amigo de infância. Dado momento ele me perguntou sobre o caso que estávamos trabalhando. Fiquei meio incabulado e respondi que estava nos dando um pouco de trabalho, mas o Mauro estava confiante.
— o Mauro e você se dão bem, né? Acho que você é a primeira pessoa que ele trabalha sem reclamar.
— a gente se entende. — resolvi ser falso. — mas as vezes ele me dá nos nervos. Eu relevo, afinal...preciso do emprego.
— eu te avisei, ele é meio bipolar.
— nunca vi ele namorando...deve ser mal-amado. — resolvi apelar.
— e nem vai ver. Dizem que ele é gay e que a Roberta terminou porque ele tinha um caso com um cara. Dizem que o Seu Ivan o ameaçou de tira-lo do escritório se ele se relacionasse com homesn. Ele nunca te assediou?
— não. Não que eu tenha percebido. Mas ele não faria isso, será?
— vai saber...fica de olho.
— vou ficar. Bom, o papo está bom, mas eu preciso ir. Amanhã vou pro Continente.
— foi um prazer conversar contigo. A gente podia marcar e vim aqui mais vezes.
— claro.
Vi meu ônibus vindo e decidi aproveitar a carona pra chegar logo em casa. Minha intensão não era demorar, mas ele ficou conversando e me atrasou. Nos despedimos com um aperto firme de mão, da minha parte e subi na sardinha enlatada. O cobrador nem me deixou passar a roleta, sabia que logo eu desceria. Pouco mais de um quilómetro e meio e estava eu na porta de casa.
Meu pai conversava com a vizinha. Dei "oi" e entrei. Fui tomar banho e na ducha fiquei pensando na conversa com o Murilo.
Ele não estava afim de mim. Estava interessado no caso que a gente estava trabalhando e interessado em saber o que eu achava do Mauro. O porquê eu ainda não sabia, mas ia descobrir.
Assim que sai do banheiro meu celular tocou. Era o Mauro. Queria saber o que tinha acontecido e pedi pra ele ficar calmo. Contei a conversa toda e ele começou a rir.
— acabei de saber que tinha um amante.
— você da risada, mas se esse boato rolou, é porque alguém comentou alguma coisa.
— sim, mas quem?
— pode ser a Roberta. Ela deve ter comentado com a Ana. As duas vivem conversando.
— não, ela é muito discreta. Não seria capaz de comentar justamente com a secretária.
— elas são amigas, amor. Esquece hierarquia fora do ambiente de trabalho. Não vê a gente? Sou eu quem te domino...
— hahaha, só que não. Enfim, me decepcionei agora. Sei lá.
— bom, já passou e vocês nem estão mais juntos. Amanhã conversamos melhor sobre isso.
— se eu não fosse te buscar amanhã, ia aí te dar um beijo.
— ta com saudade?
— estou. A gente precisa conversar, mas amanhã.
— Aluma coisa que eu fiz?
— claro que não. É coisa minha, aquele meu projeto que te falei.
— tudo bem. Boa noite.
— boa noite, amor.
Ouvi a porta da sala bater e era meu pai entrando. Ele foi até a cozinha e pegou um pouco de café. Ele saiu e uns dez minutos depois ele voltou com um sorriso estupidamente idiota na cara. Era óbvio que ele estava interessado na vizinha. As vezes ela pedia dicas sobre o jardim pro meu pai — aquela conversa mole de sempre — e ele se sentia o máximo.
Ele se sentou a meu lado, perguntando como eu estava e comecei a rir.
— está rindo do quê?
— desse seu sorriso bobo.
— ah, qual é?
— ela é solteira?
— viúva, sem filhos, independente e muito inteligente.
— e o senhor está de queixo caído...
— ah, sim. Até porque...é só você que pode ficar aos beijos aqui em casa, né? Estou só de olho.
— rsrs, foi só um beijinho...
— e precisa sentar no colo pra beijar?
— o senhor viu...
— vi. Fazer o quê? Como ele te trata?
— me trata muito bem. Não é como namorar alguém da minha idade...é bem melhor. Pela maturidade...acho.
— é meio estranho ver vocês dois juntos, mas se você está feliz com ele...eu também estou feliz. E você tem quarto, pode usar quando ele vier aqui...
— hahaha, muito obrigado.
— rsrs, de nada. Você ficaria chateado se eu não for ao cemitério amanhã?
— não. Você vai ao cemitério porque quer. Ela foi cremada. E já faz tanto tempo. Sei que nunca vai esquecer o que viveu com ela e também sei que está tudo aí nesse coração. Nos lembramos dela todos os dias e isso é importante.
— eu sei. Está na hora de seguir em frente.
— também acho. Então comece convidando a vizinha pra um encontro.
— será que devo?
—claro, te dou todo apoio.
Jantamos e ficamos até tarde vendo TV. Fui fechar a janela do meu quarto e uma brisa gelada bateu no meu rosto. O clima da Ilha era totalmente biruta. Coloquei a cabeça pra fora e nuvens de chuva se materializaram sobre minha casa. Que beleza, pensei. Fui dormir, estava cansado, mas antes, dei uma olhada no meu celular e respondi uma mensagem de boa noite que o Mauro tinha me mandado.
Por milagre acordei depois das nove. Meu já tinha feito o café da manhã perguntou se eu iria pra casa do Mauro. Disse que sim e que ele me buscaria depois do almoço.
— vocês não se cansam de ficarem trancados naquele apartamento?
— é o preço que pagamos por ele não ser assumido, mas eu prometi esperar, ser compreensivo e sabe, não me arrependo. Ele me trata muito bem, é carinhoso e eu estaria perdendo tudo isso se não fosse compreensivo.
— bom, como eu vou ficar sozinho...vou convidar a Camila pra ir almoçar comigo. Se importa em almoçar sozinho?
— claro que não. Eu esquento alguma coisa pra comer.
Tomei meu café e coloquei umas roupas pra lavar. Meu pai chegou todo feliz, dizendo que a Camila tinha aceito o convite pro almoço e foi se arrumar.
Enquanto a roupa lavava eu fui arrumar meu quarto. Organizei uma papelada na minha mesa e guardei no armário umas roupas que não tinha usado e estavam jogadas sobre uma cadeira.
Depois de tudo limpo, tomei um banho e arrumava minha mochila quando meu pai apareceu todo bonito no meu quarto.
— estou muito cafona?
— claro que não, pai. Está lindo, como sempre foi.
— tanto tempo que não saio com alguém...vai que perdi a prática?
— rsrs, não começa. Já está indo?
— já. Estou bem, mesmo?
— está...vai logo.
Depois que meu pai saiu fiquei vendo TV. Não o que passava de tão ruim pra eu ter pego no sono e acordei com o Mauro abaixado ao meu lado. Ele sorriu, mas eu fiquei meio assustado. Dormi demais e nem vi ele avisando que já estava vindo.
— dormi. — eu estava só com um olho aberto.
— rsrs, estou vendo. Te mandei mensagem, liguei e nada. Como não tenho o número do seu pai, vim correndo. Ai cheguei e a janela estava aberta e a porta destrancada... fui entrando.
— estou sozinho. Ele saiu.
— sozinho? Hummm...que gostoso.
— hahaha...vem, deita aqui comigo e me esquenta.
Ele se enfiou embaixo do cobertor comigo e era tão bom sentir seu corpo perto do meu que desabotoei os botões da sua camisa. Cheirei ele todo, passei a palma da mão pelo seu abdomem e enfiava a mão na calça quando ele me parou.
— suas coisas já estão arrumadas?
— estão. Espera eu almoçar primeiro?
— almoça lá em casa. Faço alguma coisa pra você comer. Agora tira a mão daí.
— porque?
— porque estou quase gozando.
— mas eu nem fiz nada.
— rsrs, fez sim. Fica me cheirando, passando a mão em mim...fico todo excitado.Meu cacete ta estourando a calça.
— deixa eu ver...
Tirei o cacete dele pra fora e estava duríssimo...
— olha ai, é só você chegar perto que ele fica assim. — ele disse rindo.
— tudo bem, vou deixar ele quietinho por enquanto. Me ajuda a pegar minhas coisas lá no quarto?
— claro.
O fim de semana foi ótimo. Evitamos um pouco de sair juntos do apartamento e quando saímos, era ele quem descia. Eu não me importava; só queria ficar com ele.
Pressioná-lo a se assumir não seria a melhor opção, visto que nossa relação era baseada no companheirismo e sinceridade que pra mim, não fazia diferença.
Na segunda de manhã, cheguei no escritório e o Mauro estava na recepção e conversava com o Murilo. Dei bom dia e fui pra minha sala guardar a papelada e organizar meus relatórios. De repente o Mauro entra e fecha a porta. Ele me olhou, suspirou e se sentou.
— você falou mal de mim pra ele. — era só que me faltava: fofoca logo cedo.
— falei e ele veio correndo te contar, né? Sabia!
— foi a primeira coisa que ele fez quando cheguei. Você é bem esperto...
— e deu certo. Ele não está afim de mim. Ele quer é tomar meu caso, esse filho de uma mãe, safado...
— acredita que ele se ofereceu a ajudar? Bom, eu disse a ele que ficaria de olho em você também...
— rsrs, você sempre está de olho em mim. — disse mordendo o lábio.
— não provoca...estou de olho, mãos e todo o corpo em você.
— vai parando. Vamos trabalhar?
— rsrs, foi você quem começou. Ah, se arruma que vamos encontrar um cliente. Já venho te chamar, vou organizar uns papéis.
— sim senhor, meu marido.
Ele se levantou e saiu. Não deu dez segundos e voltou. Perguntei se tinha esquecido alguma coisa e disse ter gostado de tê-lo chamado de marido. Fiz uma careta e ele foi pra sua sala, definitivamente.
Peguei tudo que eu precisava e o Mauro me interfonou, pedindo que eu o esperasse na recepção. Eu vestia meu casaco quando bateram na minha porta e perguntei quem era. Era o Murilo. Só podia estar de brincadeira, pensei.
Eu já estava começando a ficar de saco cheio, mas resolvi jogar o jogo dele e pedi que entrasse.
—tudo bem contigo? — ele perguntou e se sentou.
— tudo bem, porque?
— só pra saber. Vi o Mauro saindo daqui...
— ele é meu chefe, entra aqui sempre que precisa de ajuda.
— sim, claro. É...então... vão em algum lugar? — ele já estava me irritando.
— vamos encontrar um cliente. O papo está bom, mas preciso ir.
— tudo bem. Qualquer coisa, pode contar comigo.
" Sim, seu babaca. Vou contar contigo pra ferrar a minha vida." — pensei enquanto ele sorria tão falsamente.
Uma coisa eu já sabia: teria que tomar cuidado com o Murilo. Ele estava disposto a me passar pra trás e isso eu não ia permitir.
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Continua...