Eduardo arrumava suas coisas na bolsa, ao mesmo tempo em que reflexões viam em sua cabeça. Ele era um jovem solitário, de poucos amigos e via em sua vida pacata, uma prisão sem fim, ao qual ele mesmo traçou para o seu caminho. Possuía cabelos longos e loiros e o tom da sua pele parecia algodão. Sua beleza era exótica e ao mesmo tempo suave... Possuía uma família simples, onde a sua mãe era professora do Estado e o seu pai funcionário público. Ele tinha um irmão mais novo, de apenas 12 anos. Na verdade, ele sempre se sentiu sozinho, até mesmo por sua família. Era o típico garoto que fazia as coisas certas ou erradas e passava despercebidas pelos pais.
- Vamos lá Eduardo, mais um dia! – ele respirou fundo, apanhou seus pertences e seguiu para faculdade. Passou tão rápido por sua mãe, que chegou a esbarrar numa cadeira. – Poxa Rafael, não deixe a cadeira no meio da sala! Machuquei o meu pé! – ele brigava com o irmão, enquanto a sua mãe da cozinha, tentava acalmar os ânimos.
- Meu filho, não vai comer nada?
- Não mãe! Hoje tenho prova e preciso chegar cedo a biblioteca para dá uma estudada. Beijos!
Ele ficou meia hora esperando o ônibus que não passava nem por um decreto. A raiva ia tomando conta dele, até que finalmente conseguiu embarcar. Sentou-se no único banco vazio e que ao lado estava um senhor de meia idade com a cara emburrada. – Hoje o dia promete! – disse ele a si mesmo, antes de descer em frente à faculdade ao qual fazia o seu tão sonhado curso de Direito. Como já estava atrasado, saiu correndo pelos corredores para fazer a prova sobre direito civil, mas nem viu quando um homem alto, moreno claro, de cabelos lisos e pretos bem cortados e que acompanhava o desenho perfeito da barba cheia, passou ao seu lado carregado de papéis e claro, o pior aconteceu: Eduardo esbarrou naquele homem, e toda papelada foi ao chão.
-Ah meu Deus, me desculpa! Foi sem querer. – ele nem se deu o trabalho de abaixar-se para ajudar o belo rapaz, até porque o seu tempo estava curto.
- Bom dia professor! Posso entrar? – ele fez cara de súplica, e todos na sala virou-se para ele.
- Claro Sr. Eduardo, mas fique atento ao horário nas próximas vezes, ou não terá outra chance. Espero que ao menos tenha estudado, porque a prova está difícil.
Ele engoliu aquelas palavras em seco, e sentiu um tom ameaçador do seu professor. – Que se dane ele, pensou. Após duas horas de muita leitura, concentração e cansaço, ele terminara a prova. Saiu da sala direto para o banheiro, onde lavou o rosto e molhou os cabelos... Ao mover a cabeça, percebeu pelo reflexo do espelho que um homem o observava. Ele mordeu os lábios e ficou tenso, pois se tratava do cara do corredor, onde ele havia derrubado os seus papéis. Com mais calma e menos adrenalina, pôde perceber os traços marcantes daquele homem. Ele era alto, másculo, moreno e a barba lhe dava um ar de homem sério e maduro... Sim, ele era um homem perfeito no quesito beleza.
Eduardo sentiu um nó na espinha... quando sentiu a sua aproximação...
- Bom dia! Você é o famoso mal educado, que sai por aí esbarrando nas pessoas e nem se dá ao luxo de ajudá-las. Eu marquei bem o seu rosto rapaz. – a voz dele era grossa e rouca, e a sua expressão não era nada agradável.
- E-e-eu peço desculpas novamente. É que eu estava atrasado para... – ele foi interrompido.
- Não me interessa o que você ia fazer, e sim o seu comportamento de garoto mal educado e que não respeita o próximo.
- Escuta aqui, eu não sei o seu nome e nem me interessa saber. Já te pedir desculpas, e se acha isso pouco, é problema seu! E antes de sair julgando as pessoas, e olhe no espelho primeiro. Eu tenho mais o que fazer! – Eduardo o encarou sério, e nem se intimidou com o tamanho do outro, que segurou em seu braço.
- Vou procurar saber na secretária o seu nome, e sobre o seu comportamento nesta instituição...
- Vá se ferrar! – ele se soltou e saiu xingando meia dúzia de palavrões.
- Ai que ódio! Meu Deus, de onde surgiu este homem insuportável? Eu nunca o vi por aqui. Babaca! Me julgando sem me conhecer... Vontade de voar no pescoço dele. – ele ia para o ponto do ônibus falando sozinho, e para o seu azar uma chuva fina começa a cair.
Ele não esperava que o tempo fosse mudar. Aliás, era de mudanças que ele precisava. Não podia mais se isolar em seu mundo vazio, sem cores, sem movimento, sem diversões. Com 18 anos, ainda era um garoto virgem e ganhou um único beijo na boca, de uma garota na época do ensino médio, e mesmo assim, um beijo roubado por ela. Seu foco era inteiramente os seus estudos, a sua carreira, e um futuro melhor para a sua família. Era duro para o seu pai pagar com muito suor as mensalidades da faculdade, e por isso ele mantinha o foco somente em seu sonho.
O tempo aquela altura estava completamente fechado e a chuva fina se transformou num verdadeiro temporal. A pequena cobertura que protegia poucas pessoas que esperavam no ponto, assim como ele, já não era o suficiente. Eduardo tentou proteger a sua mochila, pois seu corpo estava ensopado. O celular não tinha mais bateria e ele estava à deriva aguardando o maldito ônibus passar.
De repente, um carro preto para em sua frente e começa a buzinar. Ele pensou que fosse com outra pessoa, até o vidro ser baixado e uma voz gritando em sua direção. - Entra! Te dou uma carona.
Inacreditavelmente, a voz nada mais era do que a do homem ao qual, horas antes o segurava pelo braço no banheiro da faculdade. Mas nem morto eu entro nesse carro, pensou ele.
- Entra rapaz! A chuva está cada vez pior.
Ele pensou: que cara maluco! Quase me agrediu e agora se faz de bondoso? Eu hein!
Mas naquelas circunstâncias, ele não tinha muita escolha, pois a chuva só piorava. Resolveu aceitar e deu a volta sobre o carro, sentando no banco da frente, com a roupa molhada e as gotas de água escorrendo por seu rosto angelical.
Os dois se olharam em um breve silêncio...
- Prazer, meu nome é Nicolas! – ele estendeu a mão.
- Prazer, Eduardo!
CONTINUA...