Não era bem isso o que planejara, Zane pensou dois dias depois, enquanto cavalgava pelo deserto. Essa experiência se tornara um ponto entre uma cena de filme e um comercial de perfume. Imaginara o orvalho brilhando nas folhagens verdes, o sol se erguendo no leste, e ele cavalgando elegantemente ao lado de um homem bonito, através das colinas do deserto. Grande engano.
Para começar, o calor era terrível, mesmo ao amanhecer. Em segundo lugar, não havia vegetação verde no deserto e qualquer orvalho que pudesse haver teria evaporado. Por último, a experiência que tivera com cavalos de aluguel não tinha semelhança alguma com cavalgar um puro-sangue árabe.
— Como está? — perguntou Byron.
— Muito bem — ele mentiu mal acomodado na sela.
Byron cavalgava bem e estava vestido de acordo. Não era culpa dele se Zane achava Rafe mais atraente, Ele tinha o porte de um vencedor, era inigualável.
— Está uma bela manhã — Byron observou.
— Sim, linda.
Zane tentava manter o cavalo em linha reta, mas o animal não queria cooperar. Obviamente o cavalariço estava rindo as suas costas, pois ele prometera um cavalo dócil. Ou talvez não houvesse cavalos dóceis na Bahania. Felizmente, o animal parara de trotar. As nádegas de Zane doíam ,e não de maneira boa, e ele queria estar a quilômetros dali.
— Você está...
O restante da frase de Byron foi abafado pelo som de motores poderosos atrás deles. Zane tentou se virar para olhar o que era, e o movimento o fez escorregar e quase cair da sela. Teve de se agarrar à crina do cavalo para se equilibrar.
Eram três grandes jipes, cheios de guardas armados.
Zane olhou para Rafe, que cavalgava calmamente alguns passos atrás.
A segurança que ele convocara era exagerada. Toda vez que ele e Byron tentavam conversar, os veículos se aproximavam, tornando impossível ouvir o que diziam.
Zane puxou a rédea do seu cavalo. O animal parou, o que o surpreendeu. Byron fez o mesmo e os motores atrás deles também.
— O que foi? — Byron quis saber.
Nada neste homem o atraía, mas ele dissera ao rei que o daria uma chance. Assim, ali estava ele, mantendo sua palavra.
Achei que se parássemos, eles parariam de se aproximar tanto — Zane respondeu — Isso é irritante.
Byron se aproximou.
— Seu pai apenas cuida da sua segurança.
Zane disfarçou um gemido. O fato de Byron saber ou ter adivinhado seu parentesco com o rei não era surpresa. Mesmo assim, ficou desapontado.
Rafe se aproximou pelo outro lado.
— Está tudo bem?
— Sim. O duque e eu estávamos conversando.
Ele teve a audácia de sorrir e perguntar:
— Sobre o quê?
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Zane saiu do estábulo sem dizer nada. Rafe, que dizia ao treinador que nenhuma das selas havia sido colocada apropriadamente, interrompeu a conversa para ir atrás dele. A rigidez do andar de Zane e a posição altiva da sua cabeça eram sinais de que ele devia estar furioso.
Rafe reconheceu que provavelmente tinha ido longe demais com os jipes, isso para não mencionar os guardas armados. A possibilidade de um sequestro era mínima. Quase ninguém sabia a respeito dele. A notícia poderia se espalhar rapidamente, mas, no momento, ele estava seguro. Mas Rafe não resistira em chamar a tropa para dar ao duque motivo para pensar.
Entretanto, Zane não entendera a situação dessa maneira. Pior ainda, provavelmente odiara ter audiência quando mal se equilibrara na sela do cavalo. Ficara óbvio que não tinha muita prática em cavalgar um puro-sangue.
— Zane, espere.
Ele o alcançou no pátio que havia perto do estábulo. O sol já estava alto no céu e o calor era forte. Eles pararam na sombra, mas a temperatura ainda era demasiado quente.
Zane se virou para olhar para ele, os olhos escuros chispando de raiva.
— O que quer? — ele perguntou, empurrando os óculos para a testa. — Pensei que já estivesse satisfeito com a brincadeira de mau gosto.
Rafe se sentiu um tolo.
— Me Desculpe. Acho que fui longe demais.
— Sim, foi.
Zane respirou fundo e se sentou embaixo das árvores. Depois de encolher as pernas em direção ao peito, ele descansou a cabeça sobre os joelhos.
Estavam em meio a um arvoredo, protegidos da visão dos outros ,estavam completamente sozinhos.
— Mas o problema não é com você. Estou bravo com Byron.
Rafe se receiou que o duque houvesse tentado alguma coisa, mas não podia ser pois ele não os deixara sozinhos nem por um minuto.
— O que ele fez?
— Nada. Foi o que ele disse. — Ele ergueu a cabeça para olhar para Rafe. — Eu pareço uma pessoa estúpida?
— Não, de jeito algum.
— Nunca tive esse tipo de problema com homens. Geralmente eles me acham inteligente.
— O duque pensa o contrário?
— Aparentemente. — Ele massageou as têmporas. — Não posso ter certeza. Foi humilhante demais.
— Se ele o insultou...
— Ele insultou, mas não do modo como você está pensando. — Ele desviou o olhar. — Ele disse que eu sou lindo.
— O quê?! — Rafe franziu as sobrancelhas.
Rafe tentou ignorar a pressão que sentia no peito, sinal de que não havia gostado do elogio do duque.
— Foi isso mesmo que você ouviu.
Ele se sentou ao lado dele na grama.
— E o que isso tem de horrível? — Rafe perguntou. — Você não queria que ele dissesse coisas gentis?
Ele revirou os olhos.
— Não quero que ele minta para mim, esperando que eu acredite. Eu teria aceitado que ele me achasse bonito ou mesmo atraente. Mas lindo? É óbvio que ele pensa que sou idiota. Ou pensou que eu fosse ficar tão envaidecido que não iria contestar sua sinceridade.
— Acho que você está exagerando.
— É claro que você iria responder isso. Aposto que você já disse isso muito para levar algum pobre garoto ou garota para cama, mesmo não sendo verdade.
Rafe percebeu que estava pisando em um território perigoso e decidiu ir devagar e com cuidado.
— Você é um homem atraente, Zane. O conceito de beleza não é universal. Talvez Byron estivesse sendo sincero, no ponto de vista dele.
Rafe odiou estar defendendo o duque.
—Quando as pessoas se conhecem ou há ou não há atração. E você vê as qualidades das pessoa, mas não suficiente para ver os defeitos. Quero dizer que é óbvio que você sente atração por mim, pelo menos sentiu ao me beijar, e mesmo assim, você não disse que sou lindo.
Ele fez uma longa pausa. Nervoso, Rafe suava e não soube o que dizer.
Felizmente, Zane continuou a falar.
— Se Byron me conhecesse e houvesse passado algum tempo comigo, eu poderia acreditar. Mas ele está fazendo um jogo estúpido, e isso me aborrece. Vai ser sempre assim? Sempre pensei que namorar fosse difícil, mas agora acho impossível.
— Respire fundo e se acalme — ele aconselhou. — Em primeiro lugar, você ainda não se acostumou com a nova situação. Não será sempre assim confusa. Em segundo lugar, dê a você mesma algum crédito...
— Sei o homem que sou e sei o que os homens acham de mim. Sou inteligente e intimidador. Não sou lindo e nem sexy. Cléo é a atraente da família.
— Você está se desmerecendo.
Rafe o considerava tremendamente sexy, embora não pudesse confessar isso, pois isso criaria outro tipo de problema.
Ele balançou a cabeça com impaciência.
— É impossível. Nunca vou encontrar alguém que me queira.
Zane passara da raiva para a vulnerabilidade, e Rafe não se sentia capaz de lidar com o segundo estado de espírito.
Os ombros caídos e a expressão triste de Zane fizeram com que ele quisesse o estreitar nos braços e o confortar. Mas era perigoso. Ele era apenas seu guarda-costas.
— Você encontrará o homem certo — ele disse baixinho.
— De que maneira eu o encontrarei? E onde está ele? Se você tem alguns nomes, se sinta à vontade para dize-los.
Zane se levantou e, involuntariamente, Rafe o segurou pelo pulso para o ajudar. No momento que seus dedos sentiram a pele macia de Zane, ele percebeu que havia cometido um terrível engano. Seu autocontrole o abandonou, e ele o desejou intensamente.
— Rafe...
Ele sussurrou seu nome, e ele soube que ele também o desejava. Isto aumentou o fogo dentro dele, minando o que restava de sua resistência. Antes que pudesse fugir, o puxou para si.
Zane o envolveu com os braços, e ele o carregou no colo em direção ao tronco de uma grande árvore. O corpo de Zane encostado ao dele parecia estar em brasa. Ele era um homem desejável, e, nesse momento, Rafe sentiu que morreria se não o beijasse.
E foi o que fez. O Beijou intensamente, sentindo novamente o gosto da sua boca e o calor de sua língua. Ele lambeu seu lábio inferior.
Rafe resmungou, sabendo que esse era um jogo que não podia vencer. Mas a tentação superou a razão. Uma das suas mãos procurou a coxa de Zane e depois acariciou sua bunda, o puxando mais para si, roçava sua entrada por cima da calça de montaria.
Sentia uma mistura de prazer e dor.
Zane segurou o rosto dele e continuou a beijá-lo. Tremendo, sentiu sua ereção. No minuto em que Rafe se pôs a calcular a distância até um lugar mais privado, percebeu que cruzara a linha de segurança. O Afastou contrariado, mas decidido.
Zane foi pego de surpresa.
— Você não pode parar agora.
— Tenho que parar. — Rafe se virou de costas. Cada polegada do seu corpo doía de desejo, e ele tremia.
O que havia de errado com ele? Nunca acontecera uma coisa dessas em serviço. Isto poderia matá-lo!
— Sinto muito. — Ele gemeu. — Eu não deveria ter feito o que fiz.
Ele virou-se novamente para olhá-lo.
— Não torne a situação pior, se desculpando — Zane resmungou.
— É óbvio que existe uma grande atração entre nós, e ninguém precisa saber que nos rendemos a ela. – Zane estava quase suplicando
— Não é assim tão simples. Tenho a responsabilidade de te proteger, até de você mesmo. E, se isso não for razão suficiente, então tente ver as consequências que um ato desses poderia trazer. Você quer que sua vida pessoal seja explorada pelos tabloides?
Zane apoiou as mãos nos quadris.
— Essa situação é estranha para mim. Na realidade eu o provoquei e nunca fiz isso com homem algum.
— Eu nunca deixei minha vida pessoal interferir na profissional.
— Quer dizer que isso nunca aconteceu com você?
— Nunca.
— Isso me faz sentir um pouco melhor — Zane afirmou, esboçando um sorriso.
Ele se virou e começou a caminhar em direção do palácio. Parou de repente para dizer:
— Oh, mudando de assunto, Jean-Paul me convidou para jantar, e eu aceitei. Creio que terá que se vestir formalmente.
Rafe ficou olhando enquanto ele caminhava, cabeça erguida e rebolando discretamente. Readquirira o autocontrole e dera a última palavra. O Príncipe Zane... Zane Paxton, o professor, estava tornando sua vida impossível.
E, pior, ele estava gostando de cada minuto dessa nova vida.
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Hassan o encontrou no jardim. — Filho, há um assunto que quero discutir com você.
Seu tom de voz provocou arrepios em Zane. Ele o chamara de “filho”.
Seria realmente filho dele? Teria finalmente encontrado seu pai? Embora já estivesse havia uma semana no palácio, ainda era difícil acreditar.
— Majestade... — ele disse, sem perceber que o estava interrompendo.
O rei olhou fixamente para ele.
— E quanto ao exame de sangue? Não deveríamos ter o feito para termos a certeza?
— Eu tenho certeza, Zane.
— Sim, mas e a sua família? Eles também querem ter certeza. Do mesmo modo o governo da Bahania e seu povo farão perguntas.
Seu povo? Ele mal podia acreditar que dissera isto. Se Sentiu protagonista de um filme.
— Meu povo confia em mim.
— Estou certa de que sim. Mas não seria mais saudável que tivessem a prova?
O rei considerou suas palavras e concordou.
— Enviarei meus médicos a você, mais tarde. Eles colherão seu sangue e farão o teste. Isso o satisfaz?
— Sim. Obrigada.
Satisfação não descrevia totalmente a súbita pressão que sentia no estômago. Parte dele tinha medo de saber a verdade, que, no íntimo, já sabia. Sabia que sua vida mudaria para sempre.
— Bom. Agora preciso pensar no seu futuro. Depois que o exame de sangue comprovar aquilo que já sabemos, você será reconhecido por todos como meu filho. — Ele hesitou. — Rafael frequentemente me repreende pelo modo como digo as coisas. Ele diz que não é porque é gay que tem que ser tratado diferente dos outros irmãos.
Zane não tinha ideia do que ele estava falando, mas estava ficando nervoso.
— Fale tranquilo.
Hassan sorriu.
— Eu ficaria muito feliz em te arranjar um marido, o povo aceita a homossexualidade numa boa aqui , mas só se o casamento for arranjado imediatamente, e Sem querer ofendê-lo, você tem idade suficiente para já estar casado. É claro que a falta de um namorado ou noivo torna a situação menos complicada. E apenas questão de encontrar o homem certo. Posso oferecer várias sugestões.
Zane abriu a boca para logo em seguida fechá-la. Estava com falta de ar.
Sugestões? Ele queria sugerir um marido para ele? ELE QUERIA ARRUMAR UM CASAMENTO PARA ELE? COMO A PORRA DE UMA DONZELA?
Se Lembrou então que ele era o rei da Bahania e, sem dúvida nenhuma, podia fazer o que quisesse.
— Áhn... Acho que eu mesma posso encontrar um marido — ele finalmente conseguiu dizer com voz trêmula.
— Mas ainda não escolheu. Já teve algum namorado?
— Não . Ainda não. Não é simples.
Não ia contar a ninguém e muito menos ao rei a respeito de seu ex-noivo também muito passivo.
— Agora que está na Bahania, conhecerá homens diferentes. Você foi cavalgar com o duque de Netherton?
— Sim, fui, mas não estou exatamente procurando um duque
— ele disse ao rei. — E há ainda a possibilidade de eu voltar para a minha casa. E o que eu faria com um marido?
— Você está na sua casa, Zane — Hassan respondeu, olhando fixamente para o filho.
— Como assim?
Ele segurou seu o rosto.
— Você é meu filho. Aqui é o seu lugar. O palácio é sua casa, seu lar. Ficará aqui até se casar. É assim que as coisas funcionam para o filho e a filha do rei.
Antes que Zane pudesse pensar em algo, o rei se afastou, o deixando confuso e se sentindo preso em uma armadilha.
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Obrigada amores. fico feliz pelos comentários. Agradeço. Hoje ainda sai outro capitulo . Aguardem. Não deixem de comentar , é um prazer ler os comentários de vocês.