Sem nada responder, levantei da pedra e fui até o tal ''boi''. Após eu entrar, o branco da cicatriz e o parceiro me acompanharam.
- Tu ta com sorte que eu não to com o ovo virado. (disse o cara tirando a bermuda). Poderia fazer um desenho na tua cara.
O outro cara seguiu os passos do amigo e começou a se despir também.
- abaixa aqui. (dizia ele apontando para sua frente).
Eu - velho, vamos conversar cara. (dizia eu me afastando até minhas costas tocarem na parede do minusculo banheiro).
O cara riu em silencio e deu dois passos até chegar a mim.
- conversa com minha rola. (e me empurrou contra o chão).
Tentei levantar, mas o cara fez força contra o meu corpo, e tentou colocar seu pau em minha boca.
Eu - Sai velho. (falei desviando minha cabeça).
- fica quetinho aí caralho. (disse ele apontando o dedo em minha direção).
O pau do cara já tava meia bomba. Ele segurou minha cabeça com suas duas mãos, e tentou, mais uma vez penetrar minha boca com seu membro.
Trinquei os dentes, e colei um lábio no outro, o cara pareceu ficar irritado, e mandou o comparsa me segurar. Este obedeceu de imediato, tentando laçar meu pescoço para que eu não me move-se.
Eu - Me solta, me solta. (aumentei o tom da voz).
Eles não temiam, apenas debochavam daquela situação.
Eu - eu vou gritar pelos guardas.
O cara parou com aquilo e me olhou de cima pra baixo.
- ele disse que vai fazer o que? (o cara da cicatriz perguntou para o amigo).
- eu não entendi, mas eu acho que ele vai gritar pelos guardas. (disse ele com um sorriso irônico).
Minha respiração estava aguda.
- ah, ele disse que vai gritar pelos guardas? (disse o branco da cicatriz).
- foi isso que entendi. (respondeu o outro).
Branco da cicatriz - vamos pedir pra ele repetir? eu ainda tenho duvidas.
O outro ria, atrás de mim, com suas mãos cercando meu pescoço.
- Repete aqui no meu ouvido. (ele abaixou-se ali na minha frente, girou o pescoço, e apontou com o dedo indicador para o seu ouvido).
Vendo que eu fiquei calado, apenas respirando e o observando, ele gritou.
- vai porra, fala que eu quero ouvir.
Mesmo com medo, eu repeti o que havia falado minutos antes.
Eu - eu vou gritar pelos guardas.
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O sino havia tocado, e era indicio que o primeiro tempo de aula iria começar.
- E aí vagabundos. (disse Raul se esbarrando em mim no corredor).
- fala putão.
Naquele dia eu me sentia tenso.
Raul - Fui na tua casa e tu não estava.
Eu - dormi na casa do Otávio.
Raul - vocês se comeram? (disse ele com um sorriso no canto da boca).
O Raul tinha umas piadas um pouco violentas.
Otávio - vá tomar no seu cu. (disse Otávio apontando o dedo do meio).
Nós rimos e continuamos caminhando até adentrar a sala.
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Branco da cicatriz - então chama, chama pelo guarda. (e mais uma vez ele voltou a apontar a arma branca em minha direção).
Eu - vai me matar? (o suor já escorria pelo meu rosto, e eu apenas passava a mão para me livrar).
Branco - matar não é castigo pra fila da puta como tu não.
Eu - não chama minha mãe de puta. (falei furioso).
Branco - e tu vai fazer o que se eu chamar? Abarcar o cu na minha pica?
Os dois riam.
Estiquei meu pé direito e consegui acertar de raspão um chute no cara, que cambaleou para trás. Ele me olhou sério e acertou um soco no canto da minha boca.
Passei a língua no canto e senti o sabor do sangue.
Eu tinha medo, e naquele momento passei a sentir raiva. Eu não podia ser forçado a fazer algo contra a minha vontade.
Branco - chega de conversa. (disse ele firme). Abaixa a roupa dele aí.
Enquanto o branco tirava sua cueca, ficando completamente pelado, eu travava uma luta contra o outro para não perder minha roupa.
- para, para. (meu desespero aumentava, mas era inútil). Ficava imaginando como poderia estar acontecendo algo daquela proporção e ninguém intervir, até que eu ouvi uma pancada na parde.
- Que porra ta acontecendo aqui? (era o moreno das tatuagens).
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O professor de inglês pediu para que nos dividíssemos em quarteto. Assim fizemos, e ele nos deu o comando de um trabalho.
- ta decidido mesmo? (perguntou Otávio a meu lado).
Eu apenas balancei a cabeça que sim.
Otávio - por que você não pede para ele sair de casa?
Eu - a casa é dele.
Otávio - então por que você e sua mãe não saem de casa?
Nós quatro havíamos formado uma pequena roda.
Eu - porque não tem pra onde a gente ir. O dinheiro da minha mãe e a bolsa que eu ganho no curso da mal pra comida do mês.
Otávio - tua situação é complicada demais mano.
Eu - fora as surras que a gente leva quase todo dia.
Otávio - eu não sei como tua mãe aguenta.
Eu - eu já desisti de entender minha mãe quando se trata do José.
Otávio - mudando de assunto, tu vai dormir lá em casa, hoje, novamente?
Eu - se puder, sim.
Otávio - claro que pode pô.
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O cara que me segurava, pelas costas, me soltou no chão e levantou-se.
Moreno - perguntei que porra vocês estão fazendo. E o que o novato ta fazendo pelado aí no chão?
Meu pescoço doía muito.
- a gente só tava brincando com o cara. (disse o branco da cicatriz).
Eles tentaram rir, mas o moreno não deixou.
Moreno - e por que não vão brincar com os pais de vocês seus filas da puta?
Ele veio em minha direção e recolheu minha roupa, as colocando em minhas mãos. Enquanto eu me vestia, meu dois agressores me fuzilavam com os olhos
Moreno - enquanto a vocês dois. (disse o moreno apontando para cada um). Têm um minuto pra sair daqui.
Os caras não gostaram de receber ordens, mas não puseram resistência, colocaram suas roupas, e em menos de um minuto já não estavam mais no ''boi''.
Eu havia me vestido, mas ainda custava a acreditar que aquilo estava acontecendo. Sabia que minha vida seria um inferno, mas não ao quadrado.
Moreno - ta tudo legal, blayboyzinho? ( O cara abaixou-se e me olhou nos olhos).
Eu balancei a cabeça indicando que não. Meu rosto estava suado, meus olhos molhados e avermelhados, meu pescoço havia ficado marcado pelas mãos do cara que me segurava.
Moreno - como foi que isso aconteceu?
Eu estava sentado com as costas pregadas na parede, o cara sentou em minha frente e fez o mesmo.
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Chegando na comunidade, depois da saída do colégio, fomos direto ao bar da dona ''flor'', como era conhecida a Margarida. Era comum alunos aqui da região se encontrarem nesse local para comer e beber alguma coisa. Fizemos nosso pedido no balcão e depois sentamos à mesa.
- Tó. (disse Heitor me entregando varias folhas de caderno rabiscadas).
Eu - ta doido? (falei o encarando). Que porra é essa?
Heitor - o trabalho pra tu e o Otário, ops Otávio, passarem a limpo (ele fez um trocadilho com o nome do Otávio). Passaram a aula conversando e eu e o Raul malhando o cérebro.
Raul - isso aí. (disse Raul cumprimentando o Heitor).
Eu - ta certo! (Joguei as paginas no peito do Otávio). Pra ti Otário, ops Otávio. (repeti o trocadilho do Heitor).
Otávio - por que pra mim, se ele disse nós dois?
Eu - em primeiro lugar , nem computador em casa eu tenho. (falei dando uma mordida em uma fatia de bolo).
Otávio - Entendi. E em segunda lugar?
Eu - não tem, só tem o primeiro.
Todos rimos, e Otávio me mostrou seu longo dedo do meio.
Otávio era um ano mais velho que eu, ele tinha 18, e por mais que morasse na comunidade, ele tinha uma situação financeira melhor que a minha, já que seus pais eram estáveis financeira, e emocionalmente falando. Otávio era um cara alto, mais ou menos 1,90, branco, corpo liso sem músculos exorbitantes, apenas uma gordurinha saliente. Seus olhos eram negros, seu cabelo idem, negro e liso.
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Contei toda a situação do que estava acontecendo comigo para o Moreno.
- Toda vez que chega novato é assim cara. Você tem que aprender a se impor, se não eles vão abusar de você até o ponto de você não aguentar mais. Ta ligado?
Eu - como eu vou me impor velho se o cara tava com um canivete a centímetros de distancia do meu rosto? ( eu ainda estava na mesma posição).
O cara ficou pensativo.
moreno - cola em mim. (disse ele). Perto de mim, eles não vão ter coragem de ti fazer nada.
O cara levantou do chão e me estendeu a mão.
- Vem. (disse ele vendo que eu não estava disposto a sair dali agora).
Eu - to com vergonha de sair daqui. (disse olhando para seus olhos).
Moreno - vergonha de que? Tu não fez nada playboy, não tem porque ter vergonha.
Minha mão, tremendo, chegou até a sua, e ele me puxou pra cima.
Moreno- Vou te esperar la fora. (disse ele dando um soco de leve em meu peito).
Eu - hey. (falei antes de ele sair do ''boi'').
Moreno - o que é? (disse ele olhando para trás).
Eu - é que eu ainda não sei teu nome.
Moreno - pra que quer saber meu nome?
Eu - é que somos parceiros, e eu ainda nem sei seu nome. Não somos parceiros? (falei com cara de cachorro).
Moreno - claro! claro que somos. (respondeu ele sem graça). Meu nome é Tiago, mas pode me chamar de ''papa léguas''.
Eu ri.
- Papa léguas? (perguntei ainda sorrindo).
Tiago - qual a graça?
Eu - é um apelido diferente. Por que papa léguas?
Ele me olhou e sorriu.
Tiago - vacila com teus pertences que tu vai descobrir.
Eu - o meu é Felipe.
Tiago - beleza Felipe. (ele acenou com a cabeça, tocou em minha mão e saiu do boi).
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Íamos subindo a ladeira, já havíamos deixado Heitor e Raul em suas respectivas casas, e agora eu iria para a residencia do Otávio.
Otávio - tu come hen!? (brincou Otávio).
Depois de a conta ter sido paga, eu ainda peguei uma fatia de pizza com uma latinha de refri.
eu - tava com fome.
Otávio - percebi. Qual sabor dessa pizza?
eu - piroca. Tu quer piroca? (falei tentando meter a pizza na boca dele).
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- a cerca é minha. (gritei ao lado do espaço destinado ao jogo de futebol).
Todos me olharam, e continuaram jogando.
- Hey urubu. Entra aqui no meu lugar. (disse o Tiago a um amigo).
Assim que o cara entrou em seu lugar na partida, Tiago, veio ate mim.
- Vamos dar uma volta. (disse ele).
Eu - por que tu não me colocou no teu lugar mano? Eu falei que a cerca era minha.
Tiago - ta maluco? Quer que esses caras ti quebrem aqui mesmo?
Eu - é só uma partida de futebol. (falei abrindo os braços).
Tiago - então beleza meu fi. Cai dentro, mas não quero que tu venha me procurar chorando. ( ele falou com a cara fechada e saiu andando).
Dei uma corrida e o acompanhei.
Eu - Tu acha mesmo que eles iriam me quebrar? (falei tocando em seu ombro).
Ele deu de ombros.
Eu - só tava querendo jogar, tem nada pra fazer aqui. (falei enquanto caminhávamos).
Tiago sentou em um banco próximo a um grupo de rapazes, e eu sentei a seu lado.
- Tem da boa ai? (disse ele com um dos rapazes da roda.
O cara lhe passou algo que parecia ser um cigarro. Tiago acendeu e começou a fumar ali mesmo.
Eu - então isso que é o banho de sol?
Tiago confirmou com a cabeça enquanto brincava com a fumaça do cigarro.
O banho de sol era como se fosse um momento de lazer fora das celas.
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- então tu ta decidido mesmo? (perguntou Otávio dentro do seu quarto).
Eu - sim
Após o jantar, na casa do Otávio, tomei um banho, peguei a arma do ''pitbull'', coloquei em minha mochila e estava decidido a ir ate minha casa.
Otávio - mano. (disse ele com as costas na parede e os braços cruzados, me encarando enquanto eu terminava de me aprontar). Não faz isso cara. Ta tudo tão de boa, você ta aqui tranquilo, tua mãe também deve ta.
Eu - não ta mano. Minha mãe apanha todo dia. Se coloca no meu lugar.
Otávio - eu no teu lugar não faria isso.
Eu - já bati o martelo. (coloquei a mochila nas costas e estiquei o braço para me despedir do meu melhor amigo).
Otávio ficou me encarando, mas não me cumprimentou.
Otávio - se você fizer isso mano, esquece que eu existo. (disse ele sereno).
Eu - ta acabando com nossa amizade?
Otávio - eu não quero ter um amigo assassino.
Eu - eu não tenho outra escolha.
Otávio - tem, você sabe que tem. (disse ele aumentando o tom da voz).
Eu balancei a cabeça que não.
Eu - qualquer dia a gente se esparra por aí. (falei saindo do seu quarto).
Ouvi Otávio me chamar varias vezes, mas ao passar tranquei a porta e ele não veio atrás de mim.
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Já a noite eu sentei no lugar de sempre e Tiago disse que eu poderia usar seu cobertor para deitar.
Eu agradeci, mas disse que estava sem sono.
Tiago - beleza, mas quando precisar, pode usar.
Eu - valeu.
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Caminhei pela rua pouco movimentada ate chegar a minha casa. Tentei abrir o portão de madeira, mas estava no cadeado. Resolvi então bater palmas. Não demorou muito tempo e minha mãe abriu a porta.
- Mãe?
- Felipe?
Eu - sou eu. (falei baixo).
Mãe - meu filho. (minha mãe correu só de camisola, abriu o portão e me deu um abraço apertado). ah meu filho, por onde tu tem ficado?
Eu - eu to na casa do Otávio.
Mãe - volta pra casa filho. (dizia ela com o rosto colado no meu. Eu conseguia sentir as lágrimas que eram derramadas dos olhos de minha mãe).
Eu - não posso mãe, o José não me quer aqui e a senhora sabe.
Mãe - é só você não contraria-lo meu amor. (minha mãe era muito pacifica).
Eu - mas mãe, não tem como a gente continuar convivendo com o José, ele é muito explosivo.
Mãe - é só a gente ignorar que no final tudo vai dar certo. (dizia fazendo carinho em meus cabelos).
Eu - ignorar como? Apanhando todo dia que ele quiser bater em alguém?
Quando, finalmente, saí dos braços de minha mãe, vi uma mancha roxa em seu rosto.
Eu - isso foi ele? (falei passando a mão no local).
Mãe - não. Isso foi na casa da dona Sofia. ( ela tentou me ludibriar).
Eu - na casa da dona Sofia né? sei. Cade esse filho da puta? (falei passando por minha mãe e correndo entrei dentro de casa).
Mãe - Felipe, Felipe... (minha mãe gritava correndo atras de mim).
Fui direto ao quarto que minha mãe dividia com o José. Dei um chute na porta fazendo o cara levantar assustado.
Eu - acorda vagabundo. (falei o encarando).
José - que tu quer aqui?
Abri o bolso da mochila e tirei a arma de dentro.
Eu - vamos acertar as nossas contas, e tu nunca mais vai bater em mulher na tua vida.
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Os caras já haviam dormido, e o cansaço começou a pesar em meu corpo. Levantei do chão ,gelado, e puxei a coberta do Tiago. Coloquei parte da coberta no chão e parte sobre o meu corpo.
Após deitar, não consegui dormir de imediato, e fiquei pensando na vida.
O Tiago se mexia um pouco na pedra, até que sua mão sem querer veio parar no meu abdomen. Tiago parecia procurar alguma coisa, até que suavemente ele pegou minha mão e a levou até a parte interna de sua cueca.
Olhei para o rosto do Tiago e ele parecia estar dormindo. Seu membro começava a criar volume, e discretamente tentei puxar minha mão para não acorda-lo. Ele a segurou firme e sem abrir os olhos, cochichou em meu ouvido.
- Soca uma pra mim dormir.
Continua...