Sentada em uma das poltronas do ônibus escuro e gelado devido a noite fria, porém era ele que me trazia novamente para minha cidade, onde talvez jamais deveria ter saído. Tudo que queria naquele momento era estar em minha cama, dormindo um sono tranquilo, mas estava ali, fazendo uma longa viagem, encolhida em um banco com os pensamentos '' a mil ''. . Não prestava mais atenção na música que tocava nos meus fones de ouvido, pela vidro da janela, olhava toda aquela paisagem que apesar de escuro, dava para apreciar boa parte dela e pensava comigo:
''tomara que não suba ninguém nas próximas rodoviárias para que não me atrapalhe '' .
Seria muita sorte , que naquele horário da madrugada, fazendo aquele trecho ninguém ocuparia a poltrona ao lado, mas sabemos que a esperança é a última que morre. Próxima parada, desceu algumas pessoas e outras subiram, para minha sorte nenhuma ocupou a poltrona vazia ao meu lado. Novamente coloquei meus fones, e começou tocar a música '' Lágrimas vão e vem'' , realmente não sei como ela foi parar entre minha play, mas a bendita fez com que meu choro ficasse descontrolado, e pela altura dos fones de ouvido não percebi de imediato. Naquela altura da madrugada, imaginava eu que todos aproveitavam o escurinho para '' tirar'' aquele cochilo gostoso. Enquanto enxugava minha lágrimas e tentava me acalmar, sinto uma mão no meu ombro e me assusto na hora, e ao mesmo tempo gostei do que vi. Uma morena linda, sentou-se ao meu lado, me pegou meio sem reação, fixou o olhar no meu, tirou meus fones de ouvidos e fez um carinho em meu rosto.
- O que faz uma moça tão bela chorar tanto?
- Desculpe, atrapalhei seu sono? O fone estava alto ... p..perdão - estava nervosa pela situação-.
- Imagina, me preocupei, pois noto que faz algum tempo que esta a chorar. Queres conversar? Desabafar? Sei que sou uma estranha... mas ..
- Nada que fale, vai mudar o que vivi moça, estou sem chão. Mas tudo se reconstrói não é ? rs
- Tudo nessa vida acontece por um motivo, hoje a tua dor pode ser terrível e podes não entender, mas futuramente quem sabe?
- Belas palavras. Para ondes vai ? Qual seu nome?
- Ah, me chamo Raquel, e vou me sacrificar até Porto Alegre, e você senhorita?
- Prazer Raquel, me chamo Débora, e vou descer uma parada antes da sua.
Raquel tinha um bom papo, conversamos sobre coisas diversas, e o tempo passou rapidinho, e quando vi o choro deu lugar a belas gargalhadas, e a olhares de passageiros que estavam querendo provavelmente nos matar. Ela era uma empresária, viajava bastante, e sem sorte em uma dessas viagens seu carro deu problema, o que fez ela utilizar o transporte coletivo,azar o dela, sorte a minha. Faltando apenas quinze minutos aproximadamente para chegar em minha cidade, trocamos nossos números, automaticamente whatsApp, e combinamos manter contato.
O ônibus parou, anunciou minha cidade, me despedi de Raquel com um beijo , abraço e um singelo agradecimento pela companhia. Desci, retirei minhas malas, olhei para o relógio que marcava 04:13 da madruga, e comecei pensar em como faria para ir pra casa, a rodoviária estava escura, não avistava sequer uma viva alma. Acendo um cigarro, minhas mãos estavam trêmulas, sinto o telefone vibrar e olho rapidamente, era uma mensagem de Raquel, preocupada por não descer mais ninguém comigo, e por estar em um horário perigoso.Á respondi , e liguei para um táxi, dois , três, quatro... na quinta tentativa consegui uma corrida, que me custou os olhos da cara. Cheguei em casa, tirei a roupa, entrei embaixo daquela água quentinha que parecia lavar minha alma, me esfreguei como quem quer arrancar a própria pele de raiva, mas logo cansei , enxuguei-me, me jogue na cama e adormeci .
No inicio do conto não me identifiquei, mas me chamo Débora, tenho 26 anos, moro no Rio Grande do Sul e namorava uma mulher de Santa Catarina. Não sou uma diva, sou uma mulher normal, feminina, cheia das frescuras, acima do peso , olhos castanhos, pele clara, 1,60 de altura, cabelos logos em tom castanho claro. Este é o primeiro conto que escrevo para postar realmente, ele é baseado em fatos reais em alguns aspectos, não todos.