GLUE 26
Eu estava encostado sobre a porta da cozinha enquanto Ana estava em umas das cadeiras minha mãe fazia claro os assuntos – Então, aluguei o clube municipal e comes e bebes, e quando digo comes e bebes não quer dizer alcoólica, e não poderei estar na festa porque haverá um congresso e eu sou umas das responsáveis foi dizendo ela. Ana torceu o nariz – Mas nem uma bebidinha só para dar uma animada. Minha mãe a olhou e nem se fez a responder. – Vamos Ana não adianta eu disse, seguimos para o meu quarto. –Então foi ela dizendo se está sabendo que a gravidez da Juliana agora é de risco e é por isso que ela não está indo mais a escola. Eu me joguei na cama – Não me importo respondi. Ela franziu as sobrancelhas enquanto passava o dedo sobre meus livros. Ela foi na mesinha de canto pegou um caderno e uma caneta – Vamos ver os convidados. Eu revirei os olhos. -Você acha que eu vou deixar qualquer um entrar na festa, se está loco. – Não me importo de quem entre contanto que o Gabriel vá. Ela deu um sorriso de canto de boca – Então posso chamar quem eu quiser, isso inclui o povo do noturno que conheço? Posso, posso foi ela dizendo numa insistência. – Ana pode chamar quem você quiser contanto que deixe os dois de fora. – Você acha que eu chamaria eles, tá loco claro que não a disse. Passamos a tarde inteira imaginando como vai ser minha festa, fizemos uma seleção enorme de música que vamos tocar no dia. No começo da noite Ana já havia ido embora, eu me perguntava se as coisas com o Gabriel poderiam dar certo.
No outro dia segui o caminho de sempre até o colégio seguia o caminho com receio de outra abordagem desastrosa do Marcelo, passei em frente da padaria que a mãe do Luan trabalha ela estava atrás do balcão, fui o refrigerador peguei um chá gelado e me dirigi ao balcão – Oi Júlio tudo bem com você, sua mãe te contou que vou com ela no congresso que está por vir foi dizendo ela num tom animado. – Ela falo que ia mas não disse que você ia com ela respondi. – Então a continuou está na hora de retribuir tudo que o povo da igreja fez por mim e resolvi começar por ai. Assenti coma a cabeça estava de saída – A e sua mãe também conto que nesse dia o Luan vai ficar lá na sua casa? Eu estremeci, meu estomago revirou a insatisfação me acertou na cara. Eu me virei a ela enquanto ela ainda sorria – Ele vai ficar lá em casa porque? Perguntei. Nem eu tinha notado meu tom de arrogância na pergunta. – Bom, vocês são amigos não é, então não queria deixar ele em casa sozinho até eles acharem o infeliz, espero que não tenha problema a disse num tom sem graça. – Não, não tem não disse eu num tom mais sem graça ainda.
Sai da padaria, perdi até a vontade de tomar o chá, como minha mãe faz uma coisa dessas e nem fala pra mim, apesar
de que ela não sabe de nada. Ouvi alguém me gritando ao longe era Ana vindo correndo me encontrar – E ai dona da festa foi dizendo ela, como está? A insatisfação pairava no meu rosto. – O que foi Júlio? – A Minha mãe vai com a mãe do Luan para o congresso e adivinha onde ele vai ficar? Ela arregalou os olhos – Não acredito. – Então, o que vou fazer Ana? Paramos no meio do caminho, as pessoas passavam por nos apressadas. – Calma Júlio, só trata ele com indiferença, e nem adianta chegar na sua casa e tentar argumentar com sua mãe porque se não vai ter que contar tudo o que aconteceu pra ela. – E ai pessoal como estão? Foi dizendo Gabriel chegando. Agora era dois com cara de insatisfação eu e a Ana. – O que foi o perguntou. Depois de explicar o ocorrido ele estava com um ar de seriedade – Não sei se posso te ajudar com isso o respondeu. Eu já estava pensando em dizer que iria com minha mãe ao congresso só para deixar essa história com o Luan a finco de nada mas até parecia loucura fazer algo assim, e também não posso cancelar a festa isso envolvia mais gente do que minha vontade própria. – Esquece pessoal, eu resolvo respondi. Eles pareciam que concordavam comigo pelo fato de que não adianta pensar muito porque no fim o Luan ia ficar lá em casa. Seguimos para a aula foi a mesma coisa de sempre, até que a professora disse que alguém estava me chamando na porta. Quando cheguei lá era o Marcelo novamente, minha cara de insatisfação foi na hora. – Espera o disse, antes que você saia ou grite, eu só quero entregar isso. Com isso ele tirou um papel do bolso e me entregou e saiu. Voltei para dentro, Ana me olhou – Quem era? A perguntou. – Marcelo, respondi. Ela revirou os olhos. Chegou a hora do intervalo fiquei na sala enquanto Ana se retirava com suas amigas, tirei o papel do bolso e comecei a ler.
“Não há nada mais doloroso que é te ver todo dia e não poder se aproximar, queria que você entendesse que isso tudo não partiu só de mim e que a mais pessoas envolvidas, fico pensando até que dia vai ficar com raiva de mim o quanto isso vai durar, porque está me matando pouco a pouco. Espero que um dia possa me perdoar por tudo que fiz a você”
Terminei de ler uma ponta de ressentimento passou por minha cabeça por esta fazendo aquilo com o Marcelo mesmo que ele tenha provocado tudo, pensei em perdoa-lo mas não hoje e não agora.
Estávamos a caminho de casa Gabriel não falou nada o caminho inteiro e eu também não, quando estávamos nos despedindo ele me olhou – Você ainda gosta dele Júlio. Eu fiquei em estática ele estava tão sério. Fiquei um momento em silencio – Eu ... fui eu dizendo. – Júlio não foi uma pergunta o disse. Senti um aperto no peito. – Você não se vê mas quando você fala dele você fica todo perdido, sem controle é como ele fosse algo que você quer perto mas tenta afastar com qualquer custo, é como se ele fosse uma droga e você em abstinência. – Gabriel eu... – Não precisa dizer nada, eu estou te falando isso porque depois da sua festa estou indo embora, vou morar no Rio vou terminar o resto do colegial lá. Uma mistura de sentimento me revirou ele apenas deu um sorriso e deu as costas.
Eu fiquei ali parado tentando digerir tudo que aconteceu e na verdade ele estava certo ele não entendia muito de outras coisas mas ele estava certo eu realmente gosta do Luan apesar das merdas que ele fizera de todo sofrimento eu ainda gosta dele e não adiantava eu negar porque ia ser mais uma mentira. Cheguei em casa me joguei na cama fiquei ali pensando na minha vida e o quanto deixava as pessoas em minha volta me afetar. – Algum problema foi dizendo minha mãe entrando no quarto. Apenas dei um sinal de negativa com a cabeça. – Então a continuou, está tudo certo para a semana que vem o clube o que comer e beber e você já está sabendo que o Luan vai ficar aqui não sabe. Eu apenas virei a cabeça para o lado da janela. – Vai entender vocês hoje em dia, um povo sem preocupação que fica botando problema onde não tem a disse. Ela ficou ali por mais uns momentos até sair.
Fui para o banheiro tirei minha roupa liguei o chuveiro me encostei na parede e fiquei pensando no Gabriel e todas as coisas que ele falo e ele estava certo em me dizer aquilo era melhor do que ele entrar de cabeça na minha vida e depois eu acabar fazendo ele sofrer. A semana foi seguida de aulas e preparativos para o Grande dia. Eram sete da manhã ouvia minha mãe correndo pelo corredor abri a porta e lá estava ela se dando uma olhada no espelho, com uma saia de giz até a altura dos joelhos um sapato preto e uma camisa com uma passada perfeita. – Como estou a perguntou. – Bonita respondi. Ela deu um sorriso veio em minha direção e me beijou. – Bom não vou estar aqui hoje porque o Senhor precisa de mim, então não fique bravo. Realmente eu não estava; - Tem café pronto, o salão vai começar a ser arrumado as cinco da tarde, você e aquela doida da Ana já resolveram quem vai tocar na festa a perguntou. – Sim respondi, um amigo da Ana que é Dj. – Misericórdia disse ela imagino que tipo de música vai tocar lá ainda mais vindo dos amigos dela. Eu dei uma risada, assim voltei para o quarto.
Escovei meus dentes segui direto a cozinha quando passei pelo corredor vi que Luan estava sentado no sofá. Fiquei ali parado olhando ele, ele estava com uma regata conseguia ver as faixas ainda em sua volta engoli seco, ele estava entretido com a Tv, segui diretamente a cozinha – Então o café está pronto foi dizendo minha mãe e já estou indo com isso ela saiu da cozinha se despediu do Luan e se foi. Fiquei ali na cozinha passando os dedos entre a xicara de chá ficava pensando o que aconteceria hoje aquela sensação de que eu queria sumir naquele momento. – OI o disse vindo por trás de mim. Me virei a ele, ele estava parado sobre a porta havia cortado o cabelo, estava mais bonito. – Não vai fala nada o perguntou. Eu continuava em silencio. – Olha não foi minha ideia vir pra cá minha mãe e sua mãe inventaram essa história de congresso e eu ... – Não tem problema respondi.
Ele fico em silencio. O cômodo foi tomado por um voide de quietude. – Tudo bem então o disse com isso ele se virou para voltar a sala. – Luan disse eu. Ele se voltou a mim ficou me olhando como olhava antigamente, meu coração começou a se apertar a sensação de não me reconhecer, de tentar se forte ao longo do tempo e ceder no final das contas foi efetiva. E do nada comecei a chorar, não sei de onde vinha e nem a razão por aquilo talvez seja pelo fato de o Gabriel ir embora amanhã, ou o fato de que estou sem o Marcelo, ou por tudo aquilo foi me preenchendo, e sempre na frente dele era como eu esperasse ele me salvar, me tirar desse fundo que cavamos por tanto tempo, ou simplesmente me dizer que vai ficar tudo bem porque era tudo que eu precisava. Eu continuava de cabeça baixa minhas lágrimas se chocavam contra o chão parecia que conseguia ouvir cada splash que elas faziam. Senti seus braços me envolvendo sua respiração em mim, seu cheiro que há muito tempo não sentia toda aquela sensação de eu já tive isso tudo para mim.
Ele me abraçou cada vez mais forte minhas mãos foram subindo até chegar em seu ombro estava tão pesadas, eu me sentia tão pesado sentia seu ombro molhando cada vez mais, sua mão sobre meus cabelos – Vai ficar tudo bem o disse, vai ficar tudo bem. Então comecei chorar mais ainda. – Calma garoto o disse, não chore assim eu estou aqui, eu sempre estou aqui por você.
