Alguns dias depois, a porta da suíte de Zane se abriu e o rei Hassan entrou, seguido por uma secretária, um guarda-costas e dois dos príncipes.
Zane pôs de lado o livro que estava lendo e olhou para eles. A felicidade estampada no rosto do rei, o brilho dos seus olhos e a maneira como o abraçou lhe confirmaram o que ele tinha medo de saber.
— Está pronto — ele anunciou.
Zane sentiu um aperto na garganta.
— O resultado do exame de sangue? — ele perguntou com a voz apertada.
Hassan o soltou, sorriu e o puxou para ele novamente.
— Sim. Confirmou o que você e eu já sabíamos. Você é meu filho com minha adorada Fiona. Como estou feliz!
O rei passou o braço pelos ombros de Zane e olhou para seus acompanhantes.
— Esta é o príncipe Zane, nome do meu bisavô. Espalhem a notícia.
Zane sentiu o chão fugir sob seus pés e levou vários segundos para parar de tremer. Seria sua imaginação ou a sala estava ficando às escuras?
Céus! Ele era realmente filho do rei e, consequentemente, uma príncipe. Que conto de fada do caralho.
Zane olhou para todos desesperado e sentiu alívio ao ver que Rafe entrara na sala, provavelmente para saber o que estava acontecendo. Ele era o único que poderia lhe dar segurança e não pôde evitar desejar de estar sendo abraçado por Rafe. É ele tinha uma quedinha por Rafe.
— Há muita coisa para ser providenciada. Hassan disse animado.
— Um pronunciamento à imprensa — um dos príncipes sugeriu.
Era difícil para Zane reconhecer os príncipes, pois eram todos altos, bonitos e de cabelos escuros.
Ele reconheceu a princesa Sadik. Ela caminhou até ele e lhe pegou a mão.
— Bem-vinda, meu irmão. Não tenha medo, os meninos não o atormentara como fizemos com Rafael quando descobriram que era gay. Disse rindo
— Agradeço.
O rei fez um sinal para que sua secretária se aproximasse.
— Marque uma audiência com a imprensa. O mundo precisa conhecer nosso novo Príncipe.
Hassan continuava falando sobre providências a serem tomadas.
— Você precisa de um guarda roupa digno de um Príncipe — ele disse, sorrindo. — E terras.
Terras? Ele piscou.
— Isso não é necessário — Zane contestou.
Hassan fez um gesto com a mão para que ele não dissesse mais nada.
— Sim, terras. Talvez muito petróleo. Você gostaria disso? — Sem esperar pela resposta ele continuou: — Há jóias maravilhosas que pertenciam a meu bisavô e bisa. Como você tem o nome dele, serão suas.
Zane se desvencilhou do rei.
— Majestade...
— Prefiro que me chame de pai. Talvez não imediatamente, pois ainda estamos nos conhecendo, mas com o tempo. Certo?
— Eu... — Ele engoliu em seco.
O rei Hassan era seu pai. Ele tinha um pai! Agora era verdade. Puta merda
A sala pareceu rodar novamente. Felizmente ninguém pareceu notar o que se passava com ele.
— O senhor não tem de me dar nada. Não foi por isso que vim procurá-lo. -
— Eu sei, querido. — Ele segurou-lhe o queixo. — Mas isso me faz feliz. Permita que um velho possa realizar seus desejos. Você é meu filho e um membro da família real. Qualquer negligência minha seria um insulto a você, a mim e ao nosso povo.
Zane sentiu um calafrio. Eles tinham um povo? Deus... O que estava acontecendo?
Os minutos seguintes passaram sem que ele notasse. Mais pessoas chegaram, telefonemas foram dados, gente entrava e saía, sem parar. Os príncipes saíram, e Rafe permaneceu, embora afastado.
Zane tentava ficar atento. Marcaram hora para que lhe fosse apresentado um guarda-roupa completo. Hassan perguntou a Raf o nome do seu estilista, o comunicado do rei à imprensa foi gravado e, durante todo o tempo, Zane se sentiu como se estivesse preso em uma armadilha, em um universo desconhecido.
Quando tudo terminou, Hassan o abraçou mais uma vez e saiu, levando todos com ele. Zane permaneceu sentado, aturdido demais para se mover. Rafe se sentou ao lado dele no sofá.
— Você não me parece bem — ele falou.
— De fato, não estou. Muitas coisas ainda devem acontecer por aqui?
Ele confirmou.
— O circo apenas começou.
--Vai ser muito ruim? — Zane perguntou.
— Não sei. Apenas me faça um favor. Não exija que eu continue a ser seu guarda-costas. Foi um capricho do rei, mas quero voltar ao meu trabalho.
Zane estava odiando esse dia.
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Zane tentou parecer normal enquanto o cabeleireiro trabalhava com seus cabelos. Cortando eles mais curtos
— Você não me parece bem — Rafael disse da cadeira ao lado, no salão do cabeleireiro. — Tomou um gole de água da taça de cristal que a recepcionista lhes trouxera e acrescentou: — Relaxe.
— É fácil de dizer — Zane resmungou.
“Beleza é sofrimento”, Fiona sempre lhe dissera.
Sem os óculos, Zane piscava muito, como se houvesse algum cisco o incomodando. Teria que se acostumar às lentes de contato. Nas últimas quarenta e oito horas, tudo havia mudado de uma só vez.
Dois dias atrás, Rafael entrara na sua suíte, logo depois de o rei ter saído. Vinha com uma secretária e uma lista para organizar os primeiros dias de Zane como príncipe.
A primeira visita foi ao consultório do oftalmologista, para providenciar as lentes de contato. Em seguida foram a várias butiques. Não conseguia se lembrar do que comprara, escolhera ou descartara. Rafael escolheu a maioria dos itens: roupas para o dia, roupas de gala, social, formal, sapatos e acessórios.
Zane passou a mão na calça de linho branco que estava experimentando na última loja. Rafael a combinou com uma camisa turquesa de mil fios de algodão de algum lugar. Tudo muito elegante e caro, nem queria imaginar o preço de tudo aquilo. Teoricamente, como filho do rei, preço não era problema, mas ele ainda era filho de Fiona, com quem aprendera a economizar cada dólar.
— Você não pode evitar um pronunciamento à imprensa — Rafael disse, pegando um caderno que sempre carregava consigo.
Hassan já fizera o anúncio formal, e a imprensa queria conhecer o novo Príncipe.
— Entretanto... — Rafael continuou — . . .podemos limitar a participação e o número de perguntas. Falaremos também para algumas revistas. Talvez uma ou duas semanais e algumas mensais. Isto deverá satisfazer a necessidade do público de saber detalhes sobre o novo Príncipe.
O cabeleireiro largou a tesoura e pegou o secador.
Era impossível falar devido ao barulho do secador. Assim, enquanto Sabrina tomava notas, Zane olhou ao redor. O salão era grande, decorado em preto e vermelho com toques de branco, e Zane não duvidava de que seria gasto ali mais do que seu orçamento de um mês.
Em seguida, voltaram ao palácio. O próximo compromisso seria o pronunciamento à imprensa, marcado para a manhã seguinte.
Zane pensava em Cléo. Ela adoraria estar ali, participando de tanta agitação, e teria tornado tudo muito mais simples. Mas Cléo havia voltado para Spokane e, nas duas vezes que Zane lhe telefonara, a irmã lhe parecera distraída.
Três horas depois, Rafael comeu sanduíches, bolos e tomou chá na suíte de Zane. A suíte estava repleta de caixas, o banheiro cheio de cosméticos e produtos para os cabelos, e, claro, perfumes caríssimos. Zane calculou que levaria metade da noite para guardar tudo aquilo.
— Bem... — disse Rafael. — Você é um Príncipe e não pode se esquecer disso. Foi criado em uma família normal, mas agora tudo é diferente. Onde estiver, será representante da Bahania. Um insulto a você é um insulto a todo o povo.
— Não estou acostumada a ter um povo — Zane murmurou. — E não tenho certeza se eles se importarão comigo.
— Eles o adorarão — Sabrina lhe assegurou. — Basta ser você mesmo. Precisará também de uma secretária particular e pode contar com a ajuda da minha auxiliar durante alguns meses, até você se sentir mais seguro.
Zane se sentia desconfortável e cansado.
— Dependendo da quantidade de viagens que fará, precisará também de uma assistente. Alguém para ajudá-lo com as roupas que deverá levar, fazer e desfazer as malas — continuou o irmão.
Zane pegou sua xícara de chá. Rafael agia como se ele fosse ficar permanentemente na Bahania. E o seu emprego em Washington? Trabalhara muito para cursar o doutorado. Ia desistir de tudo?
Sua cabeça latejava. Zane pôs a xícara sobre a mesa e massageou as têmporas.
— Acho que preferia me manter desconhecido.
— Creio que agora é tarde demais — Rafael disse com gentileza. — Meu pai anunciou sua existência ao mundo todo.
Zane balançou a cabeça. Vira o pronunciamento do rei na televisão. Pedira para não estar presente, mas teria que se pronunciar na manhã seguinte. Rafael já a ajudara a escolher a roupa e os acessórios que deveria usar, e o rei lhe mandara uma pulseira e um anel ,que pertenceram a seu pai.
Rafael olhou para seu relógio de pulso e resmungou.
— Estou atrasado. Kardal vai me matar.
— Duvido — Zane respondeu, levantando-se. — Ele o adora.
Rafael sorriu feliz.
— Eu também o amo muito. Você vai ficar bem? Eu ficaria com você esta noite, mas Kardal marcou um jantar e não posso faltar.
— Você tem sido muito gentil, Raf. Vá se divertir com seu marido.
Rafael se levantou, acenou e saiu apressadamente.
Zane se jogou no sofá e lutou para não dormir. Não podia fazê-lo antes de tirar as lentes de contato.
Alguém bateu na porta. Zane se endireitou, e seu coração disparou. Seu primeiro pensamento foi para Rafe. Como o guarda-costas de Rafael os tinha acompanhado durante as compras, ele não o vira o dia todo. Se Levantou rapidamente e alisou a calça nova. Ele notaria a diferença? E claro que notaria! Mas iria se importar com isso?
Abriu a porta, e seu coração se acelerou ainda mais ao vê-lo vestido com um terno. Por mais que soubesse que ele não queria envolvimento algum, não podia evitar de querê-lo em sua vida.
— Olá, Zane...
Ele calou-se e olhou-o fixamente. Ele deu um passo para trás, e Rafe pediu para ele dar um giro. Ele o atendeu enquanto passava os dedos por entre os cabelos. Zane se sentia mais glamoroso. Com a mudança dos cabelos e as roupas novas, Zane se sentia quase bonito. Mas foi a aprovação que viu no olhar de Rafe que o convenceu de que estava atraente pela primeira vez na sua vida.
Rafe assobiou baixinho.
— Impressionante — ele murmurou. — Você já era bonito, mas agora está um verdadeiro príncipe. A última vez que um homem lhe fez um elogio, você ficou furioso. Vai ficar bravo comigo também?
Ele riu, lembrando-se de Byron.
— Não... Acredito que Você esteja sendo sincero.
— Estou mesmo.
Ele deu um passo em sua direção, Zane prendeu a respiração. Rafe assegurara que nada podia haver entre os dois, mas sabia que ele o desejava, e esse desejo o tornava fraca e ansioso. Queria estar em seus braços e fazer amor com ele. Se isso não era possível, pelo menos queria passar algum tempo na companhia dele.
— Como você está? — ele perguntou.
— Não sei. E tudo tão estranho. Sinto-me como se estivesse no meio de um tornado. Acho que eu preciso de um boquete.
— Acalme-se, tenha certeza de que tudo melhorará. E nada de boquete, se comporte. Rafe disse rindo
— Espero que você esteja certo. Estraga prazer.
— Eu não sou o homem que sabe tudo? Algumas vezes eu erro também. E só estou cuidado de você
Ele riu novamente.
— Parece que sim. Você se recusa a ceder e me foder na sacada.
— O que vai acontecer esta noite? — ele quis saber ignorando o comentario. — Encontrei Rafael no corredor, e ele disse que você tem o dia livre.
— Pretendo ficar em casa. Tenho muita coisa para ler antes do pronunciamento à imprensa, amanhã cedo.
Rafe balançou a cabeça, concordando.
— Quer um pouco de companhia até a hora de trabalhar? Podemos jantar aqui na suíte.
Zane adorou a ideia de passar algumas horas com ele. Apesar do pulso acelerado, ele relaxou. Era exatamente de um bom amigo que ele estava precisando.
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Flashes estavam no rosto de Zane que, apesar de não enxergar nada, tentava não piscar.
Quase trinta repórteres faziam perguntas, enquanto Zane tentava se manter calmo. Rafael o havia alertado de que seu primeiro pronunciamento seria o mais difícil. Era tudo novo para ele, e os membros da imprensa estavam determinados a descobrir o máximo sobre sua vida. Zane devia ignorar as câmaras de televisão, no fundo da sala.
Por sugestão de Rafael, ele estava de pé sobre um pódio.
É mais fácil de escapar quando você achar que já falou o suficiente. Além do mais, quando for hora de sair, ninguém o surpreenderá com alguma foto inconveniente para a capa de alguma revista.
O rei Hassan ficou com ele nos primeiros vinte minutos, dizendo como Zane aparecera na sua vida e de como estava feliz em tê-lo ao seu lado. Infelizmente, um almoço com o embaixador da Espanha fez com que ele saísse mais cedo, deixando Zane à mercê da imprensa.
Todos continuavam a fazer perguntas, como se estivessem atirando pedras. Ele escolheu a pergunta que achou mais fácil.
— Estou gostando muito da Bahania — Zane disse com voz clara. — O país é lindo, e o povo muito amável e hospitaleiro.
— O que acha do rei?
— Encontrou com os príncipes?
--- Você é gay?
— O rei vai arrumar casamento para você?
— No momento, estou conhecendo toda a família — Zane respondeu. — Os príncipes têm sido muito cordiais, Em especial Rafael tem me ajudado muito. Sem a assistência dele eu teria ficado aterrorizado ao ver todos vocês aqui.
Muitas pessoas riram, o que deixou Zane mais calma. Mesmo assim, tinha vontade de se esconder daquela multidão.
Respondeu perguntas durante mais uns dez minutos, antes de procurar por Rafe com os olhos. Ele percebeu e rapidamente foi em sua direção. Depois de pegá-lo pelo braço, o retirou da sala e o levou para a área privativa do palácio.
— Sinto falta de Cléo — ele disse, enquanto caminhavam em direção da suíte. — Gostaria que ela estivesse aqui, comigo.
Rafe nada comentou, e Zane nem esperava que o fizesse. Aquele era um problema que ele deveria resolver. Ele deveria ter ficado nos EUA. Se arrependimento matasse.
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Bom , está ai. Agora deixa eu arrumar a minha moradia. A noite posto o outro. Beijinhos
Aaaaah, mais uma vez obrigada pelos comentários. Bjss