Meu problema era que eu tinha a memória de um elefante. Quando eu deitei na cama durante horas pensando Sam Kage, tudo que eu conseguia lembrar era como eu tinha me sentido quando ele saiu. Assim, por mais que meu coração desse pulos e cambalhotas ao pensar nele... meu cérebro manteve a razão. De jeito nenhum eu o deixaria chegar perto de mim outra vez. Acabaria comigo pela segunda vez.
Quando eu finalmente caí no sono, fiquei contente com minha decisão e com o fato de que eu não iria vê-lo novamente. Sam era ótimo para prometer coisas que não podia cumprir, então eu o afastei de minha mente e me concentrei no trabalho. Foi o último pensamento que eu tive antes de adormecer. Bem, o penúltimo. A voz de Sam me dizendo que ele era louco por mim foi o último. Minha idiotice não conhecia limites.
Dylan estava doente na manhã seguinte e então ela ligou para que eu fosse trabalhar em sua casa. Levei scones e chocolate quente para ela, café extra-forte para mim. Nós terminamos o trabalho cerca de 11 horas e passamos o resto do dia fazendo compras de roupas de bebê. Você tinha que ser realmente disciplinado para ser independente e, ultimamente, nós não estávamos conseguindo.
Voltei para o escritório por volta das quatro e retornei telefonemas e e-mails e confirmei compromissos para a semana seguinte. Eu estava no telefone quando Sam entrou pela porta da frente. Ele entrou sem aviso prévio, já que Sadie já tinha saído.
“Uau,” eu disse, tentando não sorrir quando ele parou na frente da minha mesa. “O que você está fazendo aqui?”
“Você disse que poderíamos sair para comer.”
“Na verdade, eu não achei que você fosse aparecer.”
“Por quê?”
“Por causa do que você faz.”
“Eu tenho que arrumar tempo para você, J.”
Eu olhei para ele enquanto o telefone tocava em minha mesa.
“Você vai atender ou apenas olhar para mim?”
Eu atendi o telefone porque odiei o tom presunçoso em sua voz.
“Jory, é T,” meu amigo Tracy disse, nervoso, do outro lado. “Olha, eu sei que é em cima da hora, mas Wes acabou de ligar e me dar o cano.”
“Onde você está?”
“Estou na festa de aniversário de Shane, no Hyatt.”
“Não estou vestido para uma festa.”
“Você sempre está bem, J. Eu só preciso de um parceiro.”
Era uma escolha: passar o tempo com Sam, ou tomar o caminho mais fácil e cancelar para ir a uma festa com meu amigo em necessidade. Foi uma escolha fácil de fazer. “Tudo bem,” eu concordei.
“Obrigado, cara – te devo uma. Quando pode estar aqui?”
“Em quinze minutos.”
“Eu já te disse ultimamente que te amo?”
Eu desliguei na cara dele e olhei para Sam. “Sinto muito, mas o dever chama.”
Ele acenou com a cabeça. “Quando você terminar, então.”
“Pode ser tarde. Vamos tentar de novo amanhã.”
Ele balançou a cabeça.
“Vamos lá. Vou encontrá-lo no Dundee para jantar depois de passar na academia. Por volta das 19:30?”
“Ok.”
Levantei-me, sorrindo para ele. “Obrigado, Sam, eu...”
“Vamos, eu te levo.”
“Ah, não, tudo bem. Eu posso...”
“Eu vou te levar.”
“Não é necessário.”
Mas a mão pesada no meu ombro me disse que, para ele, era muito necessário.
* * * * *
Três horas depois, eu disse a mim mesmo que não devia me preocupar. O homem não pertencia a mim. E, ainda assim, toda a mulher que se aproximava de Sam Kage e colocava a mão em seu ombro me incomodava. Todo homem que se apoiava no bar ao lado dele e o olhava me irritava ainda mais. O fato de que ele estava ali, sentado – tendo me dito que, já que estava em um bar, ele poderia muito bem tomar alguma coisa – cuidando de sua própria vida, estava lentamente me deixando louco. Para tentar atenuar a dor crescente na boca do meu estômago, eu estava bebendo.
Quando meu amigo Tracy se aproximou por trás de mim e colocou as mãos sobre os meus ombros, eu rolei de modo que ele teve que me soltar.
“O que há com você?” ele se virou para mim.
“Nada,” eu disse distraidamente, de pé. “Eu acho que vou embora, no entanto. Vi Scott e Jerry, você não precisa mais de mim.”
“Sim, eu sei,” disse ele, me empurrando de volta para a cadeira.
“Eu preciso de você.”
Meus olhos dispararam para Sam e eu o vi encostado no bar, as longas pernas cruzadas nos tornozelos. Ele era a imagem da calma, e eu estava todo contraído apenas de olhar para ele.
“Jory, querido, venha dançar.”
“Eu não estou com vontade.” Forcei um sorriso, drenando meu terceiro Chivas. “Eu só quero ficar sentado.”
“Você vai deixar que alguém se sente com você?” ele perguntou, inclinando a cabeça para o assento ao meu lado, onde estava minha jaqueta de couro. “Há muita gente morrendo para sentar aqui, mas você definitivamente não está sendo muito convidativo agora.”
“Ah, não?” Eu sorri para ele, o álcool lentamente se infiltrando nas minhas veias. “Eu me sinto muito bem.”
“Sim, eu aposto,” ele acenou com a cabeça, inclinando-se para descansar sua testa na minha. “Mas o jeito que você está agindo não é amigável. Está liberando uma vibração de 'foda-se' por todos os poros.”
“É mesmo?”
“Sim, eu contei nove caras que tentaram se sentar e foram ignorados.”
Eu grunhi, estendendo a mão e envolvendo seu pescoço. “Você quer ser o número 10, T?” Eu suspirei, deixando meus olhos se fecharem. “Você quer me levar para casa e me foder?”
“Jory, você é um provocador,” ele estalou, recuando quando eu ri. “Nós dois sabemos que você nunca sequer me deixaria beijá-lo.”
Eu comecei a beber meu quarto drink, que o garçom tinha acabado de deixar na mesa. “Há sempre uma primeira vez.”
“Jory...”
“Com licença.”
Nós dois olhamos para o homem alto, de cabelo escuro, pairando sobre nós.
Ele apontou para a cadeira onde o minha jaqueta estava. “Posso me sentar?”
“Claro,” eu disse, agarrando a minha bebida, pegando meu casaco na cadeira, e saindo rápido. Eu andei até uma mesa diferente, maior e com bancos ao redor, e me sentei.
“Jory, você é um idiota,” Tracy me repreendeu enquanto caminhava ao meu lado e se inclinou sobre a mesa. “Aquele cara era muito quente e ele totalmente queria falar com você.”
“Que seja” Eu resmunguei, apoiando o queixo em minha mão para olhar para ele. “Então você quer ir buscar algo para comer? Eu estou morrendo de fome.”
“Jory, eu estou aqui para conhecer alguém. Ao contrário de você, é um trabalho para mim. Eu...”
“Não, não é,” eu assegurei a ele. “Não há nenhuma cara aqui que você não possa ter.” Eu disse, olhando em volta, meus olhos encontrando Sam Kage. “Exceto ele. Você não pode tê-lo.”
Ele riu. “Você não pode tê-lo também, J. Ele é hetero.”
“Você acha?”
“Olhe para ele,” disse ele como se eu fosse louco. “Sim, J, olha a vibração de procriador que ele exala.”
Eu olhei para Sam Kage e meu estômago deu uma volta lenta.
“Até você deixa um cara como ele se sentar com você, hein, J?”
“Talvez eu deixasse,” disse eu, quando Sam me pegou olhando e sorriu.
“Oh merda,” Tracy gemeu, observando Sam se afastar do bar e atravessar a sala, com os olhos em mim o tempo todo. “Você o conhece?”
“Sim, eu conheço.”
“Deus, Jory, o quão quente é ele?”
“Você não tem ideia,” eu assegurei o meu amigo.
Ele estremeceu quando Sam Kage entrou ao meu lado, a mão na parte de trás do meu pescoço.
“Eu quero que você saia comigo e entre em meu carro agora.”
“Eu não posso fazer isso,” eu disse a ele. “Estou aqui com amigos.”
“Isso é besteira. Você tinha um encontro comigo primeiro.”
“E algo aconteceu.”
“Isso não é algo. Isso é você me ignorando.”
“Então vá embora.”
“Não.”
“Sam, você...”
Ele rosnou. “Só venha falar comigo lá fora por um segundo. Está quente aqui.“
“Um pouco,” eu concordei, olhando em seus olhos escuros.
“Vamos lá.”
“O que você ainda está fazendo aqui?”
Ele sorriu devagar e vi o flash em seus olhos. “Você ainda está aqui.”
“Jory, me apresente ao seu amigo.” Tracy pediu, interrompendo-nos.
“Eu não sou amigo dele,” Sam corrigiu. “Eu sou muito mais do que isso.”
Eu vi seus olhos ficarem enorme. “Como assim?”
“Ele não é,” disse a Tracy.
Sam puxou minha cabeça para trás e olhou em meus olhos.
“O inferno que eu não sou,” ele disse quando se inclinou para me beijar, sua mão apertada no meu cabelo. Eu o empurrei e, no processo, perdi o equilíbrio, quase caindo do meu banco. Foi talvez a coisa mais descoordenada, mais deselegante que eu já tinha feito, mas ele me pegou, me esmagando contra ele e acariciando minha bunda antes de me colocar de pé.
Eu estava confuso quando ele riu de mim. “Você não pode simplesmente...”
“Eu adoro quando você ficar irritado.” Ele sorriu preguiçosamente. “Você fica todo vermelho e seus olhos ficam escuros e brilhantes... é realmente algo.”
Eu murchei. Como é que eu ia ficar indignado quando ele estava me olhando assim? Como se eu fosse a coisa mais incrível na qual ele já tinha posto os olhos?
Gentilmente, ele correu o dorso de seus dedos no meu queixo. “Coloque o seu casaco. Eu quero ir.”
“Eu...”
“Vamos lá, bebê,” ele disse suavemente, implorando.
Senti-me embriagado, e quando olhei para Tracy eu vi o sorriso completamente extasiado.
“T?”
“Deus, Jory, ele é louco por você.”
“Sim, eu sou,” concordou Sam, puxando minha camisa. “Só venha falar comigo.”
“Não, não há porque,” eu disse, agarrando meu casaco e minha bebida, pronto para me mover novamente.
“Ei, menino bonito.”
Olhei para a mesa ao lado e havia um cara sentado ali, sorrindo para mim. Ele era jovem, coberto de tatuagens, e sua camisa estava aberta, revelando peitorais tonificados e abdômen definido. A única palavra que o descrevia era quente, e o olhar que ele estava me dando disse que ele estava mais do que interessado em conhecer-me.
“Vem cá. Eu quero falar com você.”
Mas não havia nenhuma maneira que eu fosse conseguir me afastar de Sam Kage, mesmo se eu quisesse, mesmo que eu estivesse tentando provar um ponto. De jeito nenhum.
“Sem chance, cara,” Sam disse para o homem, sua voz profunda, ameaçadora.
Suspirei e olhei para Sam. “O que você quer?”
“Eu disse a você... Eu quero falar com você lá fora.”
O jeito como ele estava olhando para mim, como seus olhos estavam sombrios... ele não aceitaria um não como resposta. Ficaríamos ali a noite toda se eu discutisse com ele. “Tudo bem.”
Eu o segui no meio da multidão, andando lentamente, até que chegamos à porta da frente. Lá fora, eu fiquei na frente dele e esperei.
“Vamos comer. Eu sei que você está morrendo de fome.”
“Eu não estou...”
“J, você bebeu o seu jantar. Deixe-me alimentá-lo.”
Eu só olhei para ele.
“Vamos lá,” ele riu. “Eu prometo pegar leve.”
Eu continuei a estudar seu rosto por um segundo e assenti antes de sugerir que experimentássemos a lanchonete da esquina. Ele me deu um sorriso torto e começou a andar. Foi bom quando ele começou a falar sobre nada, a puxar conversa sobre o último filme que tinha visto, como ele tinha passado o último sábado limpando as calhas de sua mãe, e sobre um caso no trabalho, onde um cara tinha disparado no pé de seu melhor amigo por causa de uma partida de golfe.
“Eu sou sempre surpreendido com as coisas que as pessoas fazem,” eu disse a ele.
“Você e eu,” ele riu, segurando a porta aberta para mim para que eu pudesse entrar restaurante familiar, onde o especial do dia era pot roast .
O jantar foi muito bom. Nós rimos, conversamos e ele manteve conversa leve. Quando eu estava tomando uma xícara de chocolate quente com marshmallows de sobremesa e ele comendo uma fatia de torta de nozes e café, ele me pegou olhando.
“O que foi?”
“Nada.”
“Vamos, J,” ele disse suavemente, persuadindo, inclinando-se para perto de mim, seu joelho batendo contra o meu sob a mesa, com o braço atrás da cabeça, caído sobre a parte traseira da cabine. “Diga-me.”
Eu dei de ombros. “É... você. Você parece exatamente o mesmo. Não mudou nada.”
“Eu mudei muito,” ele me assegurou. “Eu prometo a você.”
Eu não quis me aprofundar. Soava como um assunto perigoso para conversar.
Enquanto caminhávamos de volta para o clube, ele me perguntou se poderia me levar para casa.
“Provavelmente não é uma ideia muito boa.”
“Por que não?” ele perguntou quando chegamos ao seu SUV enorme.
“Eu pensei que nós fôssemos jantar amanhã e...”
“Eu não quero jantar com você de novo,” ele me disse. “Eu quero você.”
“Eu pensei que você disse que ia pegar leve?”
“Que se foda,” ele rosnou para mim. “Eu estou cansado de você dizer que não.”
Afastei-me alguns metros dele. “Não vai ser como você quer, então talvez você deva desistir.”
Depois de um minuto de olhar para mim, ele acenou com a cabeça.
“Eu simplesmente não posso, Sam.” Eu disse, engolindo em seco, o nó na garganta quase doloroso.
“Ok.”
Soltei uma respiração profunda e me virei para ir embora.
“Ei.”
Eu parei e olhei por cima do meu ombro para ele.
“Eu te vejo por aí, tudo bem?”
Eu sorri para ele e continuei a descer a rua. Não tinha certeza de como me sentia. Aliviado? Triste? Repleto de pesar, vingado, ou cheio de esperança? Difícil imaginar que eu fosse se apaixonar por outro homem do jeito que eu tinha sido apaixonado por Sam Kage. No entanto, não era necessariamente uma coisa ruim. Estar tão profundamente apaixonado era realmente assustador.
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