Os dias iam se passando e o Bruno estava trabalhando mais a cada dia. Tinha dias que a gente ficava até sem se falar. Ele tinha prometido pegar mais leve no trabalho pra ficar mais tempo comigo e com a Sophie, mas não era isso que estava acontecendo. Eu vivia cansado, afinal, ele não me ajudava mais em nada em casa. Tudo, exatamente TUDO caiu nas minhas costas. Semanas se passaram e nós continuamos nessa situação.
Antes, a gente dividia as tarefas, dividia os cuidados com a Sophie, pois nós dois tínhamos nossos compromissos no trabalho. Eu vivia me arrastando pelos cantos de tanto cansaço, emagreci drasticamente por que eu quase nunca parava em casa e quando parava ou eu estava cuidando da Sophie ou eu estava tentando descansar ou eu estava cuidando de algo da casa, era pia que quebrava, cano que entupia, chamar jardineiro para cuidar do jardim, mercado a ser feito, orientações a dar para a dona Cacilda...
Eu tinha aulas a planejar, avaliações a corrigir, cadernetas a preencher... Era muita coisa só para uma pessoa. Com esse excesso de atividades, eu fui ficando cada dia mais estressado e mal-humorado.
- Oi! – Bruno disse ao chegar em casa num dia mais cedo
- Oi! – Eu disse sem nem olhar para ele, eu estava morto! Eu tinha trabalhado o dia inteiro, e quando eu cheguei em casa e tive uma luta para dar comida para a Sophie que não queria comer de jeito nenhum, ela estava bem enjoadinha, pois estava gripadinha.
- Tudo bem?
- Unrum! – Eu estava deitado no sofá com os olhos fechados
- O que tu tens?
- Não fala comigo agora, Bruno, por favor! – Falei de forma ríspida
- Nossa o que foi que eu te fiz?
Eu nem dei atenção ao o que ele falou, eu estava tão exausto que não queria brigar naquele momento. Eu não mexi nem o dedo sequer, eu continuei deitado e de olhos fechados.
- Cadê a Sophie?
Não falei nada.
- Antoine?
Continuei do mesmo jeito.
- Amor?
Eu me levantei e fui para o meu quarto, lá eu me deitei na cama e me cobri com as cobertas.
- O que tu tens? – ele sentou ao meu lado na cama
- Bruno, já disse... não fala comigo agora, eu estou extremamente cansado, não quero falar.
- Vem cá, vem?
- Tu não ouviste o que eu falei?
- Eu faço uma massagem em ti.
- Não, obrigado! Eu só quero dormir se tu deixares.
Ele não falou mais nada, se levantou e saiu do quarto.
E do jeito que eu estava, fiquei até a manhã do dia seguinte. Eu estava tão morto que dormi como um tronco de arvore, não mexi um musculo sequer. Não sabia nem se ele tinha dormido ao meu lado, quando eu acordei ele já tinha ido trabalhar.
Eu me obriguei a sair da cama, tomei um banho ultra gelado e fui pegar a Sophie no quarto dela que já estava acordada. Dei banho, dei café, dei umas voltinhas pelo bairro com ela, pois ela tinha que pegar o sol fraquinho da manhã.
Quando voltamos para casa, eu a deixei brincando enquanto eu planejava as aulas da tarde. Não sei o que seria da minha vida sem a Dona Cacilda, sem ela eu morreria de fome por que eu não tinha nenhuma disposição para fazer comida.
- Seu Antoine?
- Oi, Dona Cacilda!
- Precisamos fazer mercado.
- Mas já?
- Já sim, senhor.
- A senhora fez a lista?
- Fiz, sim!
- Então me dê que amanhã eu vou lá.
Ela foi até a cozinha, pegou a lista e me entregou.
- O senhor está bem?
- Tô, sim!
- Tem certeza? Não tá com uma carinha muito boa, não. É bom ir ao médico.
- Ai, dona Cacilda, só se eu for de madrugada, por que é o único tempo livre que eu tenho.
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Os dias se passavam e o Bruno já estava praticamente morando no hospital. Eram raríssimas as vezes que ele vinha cedo para casa.
- Oi! – Uma noite ele chegou às 23h, eu estava no escritório tentando corrigir umas pilhas de provas, mas eu estava com tanto sono que eu lia três ou quatro vezes a mesma avaliação e não entendia nada.
Ele falou comigo e eu nem respondi.
- Ei, tô falando contigo. – Ele fazia gestos com a mão na minha frente, tentando chamar minha atenção.
- Hum... oi!
- O que tá acontecendo contigo?
- Não tô afim de falar agora.
- Tu nunca tá afim de falar comigo ultimamente.
- Tu nunca estás aqui ultimamente.
- Isso tudo é por que eu estou trabalhando? É isso?
Eu nada respondi, eu desliguei o computador com raiva e sai do escritório o deixando lá irado de raiva.
- Ei, eu estou falando contigo! Tu estás com raiva por que eu estou trabalhando? É isso mesmo, Antoine? – Ele veio atrás de mim
Eu virei de frente para ele.
- Já te disse, não tô afim de falar.
- Eu não acredito que tu estás chateado comigo só pelo fato de eu estar garantindo o teu conforto e o da nossa filha.
Eu virei as costas e subi para o nosso quarto, ele veio atrás de mim.
- ANTOINE! VOLTA AQUI! – Ele gritou, ele nunca tinha gritado comigo.
Eu realmente não queria gritar, nem brigar... primeiro, eu não tinha forças para isso. Segundo, não tinha vontade. Eu sabia que ele queria brigar, que ele queria falar comigo, queria que eu fosse um doce mesmo ele estando ausente há semanas. Eu decidi ir para a casa dos meus pais. Entrei no banheiro, liguei para o taxista que sempre fazia corrida para mim e pedi para ele vir me buscar, por sorte ele estava perto e não demoraria. Eu sai do banheiro, fui para o quarto. Ele estava lá sentado na cama afrouxando a gravata. Peguei uma mochila e coloquei algumas roupas minhas, fui ao quarto da Sophie, ele veio atrás, e coloquei umas roupinhas para ela também.
Eu joguei a mochila nas costas e peguei minha filha que estava dormindo.
- ANTOINE! – Ele gritou novamente
- Cala a boca! Não grita perto da minha filha!
- DA NOSSA FILHA, ELA É NOSSA FILHA! – Ele gritou de novo
A Sophie acordou assustada e chorando, ela não era acostumada aquilo. Eu tentei acalmá-la enquanto eu descia as escadas.
- Pra onde tu vais?
- Vou para a casa da Mamam.
- DE JEITO NENHUM, MINHA FAMILIA NÃO VAI SAIR DAQUI!
- Bruno, cala a merda dessa boca. Eu vou para a casa da minha mãe, não vou ficar aqui aturando teus chiliques após semanas sem falar comigo. Não vem atrás de mim e não te atreve a me impedir. – Eu falei bem baixinho, mas bem firme para ele me entender perfeitamente.
- Tu não vais para lá!
- Tenta me impedir. – Eu ouvi a buzina do taxista
Eu sai de casa e ele me segurou pelo braço.
- Não vai, por favor. Por que tu estás saindo de casa?
- Olha só, eu tô muito cansado para bater boca agora. Me deixa ir, amanhã eu tenho outro dia cheio para variar, não tenho condições física e psicológica para ficar aqui contigo. Tchau, boa noite!
- Eu vou ficar sozinho aqui?
- Aproveita a solidão, pois eu a tenho curtido há semanas. – Eu saí e fui para o taxi, ele não me impediu.
No meio do caminho, eu tinha pensado em ir para a casa da Jujuba, mas lá a Sophie não teria o conforto da casa da Mamam, então eu fui para a casa dos meus pais mesmo. Seu Fernando já sabia o caminho, pois ele sempre ia buscar ou deixar a Sophie comigo. Eu paguei a corrida, o agradeci e desci do carro.
- Oi, filhote! O que fazes tão tarde aqui? – Papa já estava com roupa de dormir quando veio atender a porta
- Vim dormir aqui.
- Por que? O que aconteceu?
- Nada, ué! Só não queria ficar sozinho lá em casa.
- Hum... entra, então.
- O senhor já ia dormir?
- Já!
- O quarto de hospedes está limpinho?
- Tá!
- Então, eu estou indo para lá com a Sophie, amanhã nós conversamos, tá?
Eu realmente estava tão cansado que não queria falar com ninguém, eu só queria (e precisava) dormir. Eu fui para o quarto, deitei a Sophie na cama que dormiu no meu colo durante o caminho da minha casa até a casa dos meus pais. Bruno ligou para o meu celular, mas eu não atendi. Depois de arrumar minha filha na cama e me certificar de que ela não cairia, eu me deitei e dormir. A vida estava tão louca e eu tão cansado que bastava eu deitar para dormir.
Quando acordei no dia seguinte, Sophie estava deitadinha na cama, acordada. Era gostoso demais acordar com ela ao meu lado. Nós dois descemos para tomar café já tomados banho.
- Oi, mon p’tit!
- Oi, Mamam! – Dei um beijo na minha mamam
- Oi, princesinha da vovó! – Ela pegou a Sophie do meu colo e esqueceu que eu existia, eu aproveitei para tomar café.
Jamais irei reclamar que minha filha me dá trabalho, mas era bom tomar café um dia sem ter que ficar correndo atrás da Sophie pela casa enquanto eu tentava mastigar algo. Mamam cuidou da Sophie para mim, deu o café dela. Ela ainda estava meio enjoadinha para comer graças a gripe, mas a Mamam conseguiu faze-la comer algo.
- O Bruno ligou, meu filho.
- Foi? O que ele queria?
- Saber se vocês estavam bem.
- Hum...
- Vocês brigaram?
- Não! – Eu não estava mentindo para ela
- Mas me parece que sim.
- Mas não brigamos, não. Ele tem trabalhado muito, Sophie e eu temos ficado muito sozinhos, aí a gente veio dormir aqui ontem. Só isso.
- E por que o Bruno ligou para mim?
- Meu celular descarregou e eu esqueci o carregador.
- E por que não pediste o meu?
- Eu só queria dormir, ontem, Mamam.
- Tu estás bem?
- Mais ou menos...
- Tu tens que comer direito, Antoine!
- Eu tento, Mamam.
- Não, eu digo que tu tens que parar com essas dietas malucas e comer direito.
- Eu não faço dieta, Mamam. Eu só como comida de verdade, só isso.
- Tu já te olhaste no espelho, meu filho? Tu estás magrinho demais, tu só ficas assim quando tu estavas doente.
- Opa! Não estou doente, ok?
- Eu fico preocupada contigo, tu sabes que tu não podes vacilar...
- Eu sei... mas é só que eu tenho trabalhado bastante, aí às vezes eu não consigo comer.
- Mas não pode fazer isso...
- Eu sei... – Eu suspirei
Papa veio até mim e me deu um beijo na testa e se despediu, afinal ele estava indo trabalhar. Eu continuei tomando meu café no mundo da lua e depois de um tempinho Mamam pergunta:
- Tem alguma coisa errada, não tem?
- Nada muito sério, Mamam.
- O que está acontecendo?
- O Bruno tem trabalhado até de madrugada, eu não o vejo mais. Há semanas que eu não falo com ele, duas vezes ele chegou mais cedo em casa e isso já era quase 0h. Ele queria falar comigo, mas eu estava tão cansado, mas tão cansado que eu não queria falar com ninguém, só queria me deitar e dormir.
- Mas por que tu estás tão cansado?
- Antes a gente dividia tudo, Mamam. Dos cuidados da casa aos cuidados com a Sophie... agora, tá tudo nas minhas costas. Eu tenho que cuidar da Sophie, do meu trabalho, da casa, de tudo. E isso tá me matando.
- E por que tu não conversas com ele?
- Poxa, será que ele é tão idiota que não percebe isso?
- Vocês são sempre idiotas, meu filho. Tá na genética do homem.
- Ontem nós só não brigamos feio por que eu estava exausto. Quando ele começou a querer a brigar, eu chamei um taxi e vim pra cá.
- Ah, então, foi por isso que ele me ligou.
- Foi...
- Tu sabes que vocês têm que conversar, né?
- Eu sei, sim. Mas o problema é que ele só quer conversar tarde da noite, na hora que ele chega e nesse horário eu só quero dormir.
- Bom, liga pra ele e pede para ele chegar mais cedo. Simples!
- Vou fazer isso! A senhora tá muito ocupada, hoje?
- Não, por que?
- Quer ir ao mercado comigo? Tenho que fazer compras lá pra casa, e não quero pegar taxi.
- Tá mais do que na hora de tu teres teu carro.
- É... tenho que tirar a carteira, mas agora é humanamente impossível.
- Tu queres ir agora no mercado?
- Se a senhora não tiver nada para fazer, sim. Tem menos gente esse horário.
- Ok! Vou me arrumar, então.
Mamam levou a Sophie lá para cima com ela, e eu aproveitei para terminar de tomar meu café tranquilamente. Meu celular tocou. Era o Bruno. Eu pensei várias vezes se eu atendia ou não, resolvi atender.
- Oi!
- Amor?
- Oi!
- Desculpa, tá?
- Pula essa parte, Bruno. O que tu queres?
- Saber como tu estás... – Ele falava baixinho
- Bem!
- E a Sophie?
- Ótima!
- Poxa, fala direito comigo?
- Gritando serve?
- Antoine, desculpa...
- Vou desligar, Bruno. Eu tenho mil coisas a fazer, já que sobra tudo pra mim agora, né?
- Do que tu estás falando? Me desculpa, vai?!
- Tchau, Bruno.
- Eu vou ai contigo, tu estás na casa da tua mãe?
- Se tu quiseres falar comigo, chega em casa como uma pessoa normal, falando normalmente.
- Eu vou aí!
- Eu já estou saindo daqui.
- Pra onde tu vais?
- Vou ao mercado. Já te disse, se quiseres falar comigo, chega cedo em casa. Tchau! – Eu desliguei o telefone
Eu odiava brigar com ele, mas eu tinha ficado muito, mas muito puto mesmo por ele ter gritado comigo, nem meu pai grita comigo. E em determinadas situações, o excesso de desculpas dele me deixa ainda com mais raiva.
Mamam desceu com a Sophie e nós fomos ao mercado.
- O que é isso?
- Uma lista.
- Pra que isso?
- Para eu saber o que comprar, ora.
- E tu não conheces a tua casa, não?
- Conheço, mas assim eu evito gastar dinheiro com besteiras. Eu compro só aquilo que preciso.
- Tu arranjas tempo até pra isso? Por isso que tu estás cansando desse jeito.
- Não sou eu quem faz a lista, a Dona Cacilda sempre faz pra mim.
- Olha, que bom! Vou mandar a Jojo fazer isso também.
- Até parece que isso dá certo com a senhora... a senhora compra tudo aquilo que vê no mercado.
Eu fiz as minhas compras, e a Mamam comprou algumas coisinhas para a casa dela também. Depois, ela me deixou em casa.
- Tchau, coisa cheirosa da vovó. – Ela disse apertando a Sophie – Bem que tu poderias deixar ela passar a tarde com a vovó.
- Hoje, não, Mamam. Amanhã ela passa a tarde lá.
- Tu não vais trabalhar hoje, não?
- Não! Vão dedetizar a escola.
- Que escola é essa que para as aulas para fazer dedetização, por que não fazem no final de semana.
- Por que teve um surto de baratas e ratos. Próximo a escola tinha um terreno abandonado, aí limparam o terreno e os ratos e baratas vieram todos para a escola.
- Hum... Quer dizer que eu só vou te ver amanhã?
- Fala que sim, filha. Tchau, mamie! – Eu já estava com a Sophie no colo
- Bom, se é assim... beijo nos dois. – Ela nos beijou e foi embora.
Eu ficava maior parte do tempo só com a Sophie em casa. Os meninos já tinham se mudado para a casa deles, no final de semana teria até uma festinha lá para comemorarmos. E eu acho que eles estavam tão felizes com a casa deles, que eles quase nunca vinham na minha, apesar de ser ao lado.
- O que o senhor quer para o almoço.
- Qualquer coisa, dona Cacilda.
- Vou fazer fígado de galinha, então.
- Ai, credo, isso não!
- Tá vendo, não pode ser qualquer coisa.
- Olha como a senhora está engraçadinha...
- O senhor sempre fala “qualquer coisa” e eu nunca sei o que fazer.
- Mas tudo o que a senhora faz eu como, e bem. Então, faça qualquer coisa, menos fígado de galinha, por que eu sei que a senhora cozinha divinamente bem.
- Vou fazer fígado de galinha, só de maldade.
- Mas olha pra isso, gente. – Eu disse rindo e ela riu também.
- Se eu fizer uma macarronada o senhor come?
- Como, sim.
Ela foi para a cozinha e eu fiquei na sala com a Sophie, ela já estava querendo começar a andar. Ela já ficava em pé se segurando nas coisas. Eu fiquei brincando com ela até a dona Cacilda vir me chamar para almoçar. Eu fui para a sala de jantar com a Sophie, eu a coloquei na cadeirinha dela e dei o almoço para ela. Só depois eu fui almoçar, quando eu sentei para almoçar o Bruno chegou em casa.
- Oi, amor! – Ele me beijou no pescoço, eu não o tinha visto chegar, pois eu estava de costas para a entrada.
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Gente, ontem eu não postei por que um certo alguém não pagou a conta da internet e cortaram meu sinal. Será que eu fiquei com raiva?
Sei que não tenho respondido os comentários de vocês, por isso passarei a comentá-los logo que vocês escrevem. Portanto, após a leitura do conto, quem comentar volta para ver o que eu escrevi, tá?
Um beijo em todos! Ah, eu mudei meu numero, então, para quem falava pelo what, se alguém falar com vocês, não sou eu. É isso, até amanhã!