06- Infidelidade Ou Infelicidade?

Um conto erótico de Bib's
Categoria: Homossexual
Contém 7002 palavras
Data: 06/08/2016 14:17:49

Carlos escolheu um look preto, Igual seu espirito, para o jantar. Em sua própria opinião, não estava nada especial. Mas o preto acentuava a profundidade de seus olhos verdes e combinava maravilhosamente com sua pele extremamente clara.

Ao descer a escada, ouviu vozes na biblioteca e ficou tenso. Queria ter tido forças para resistir ao convite de Débora. Ele não estava sendo ele mesmo, ele estava se tornando um molenga.

A porta eslava aberta, mas mesmo assim ele hesitou na entrada, fechando os olhos por um momento.

— Sr. Douglas! Tudo bem?

Merda . Ele abriu os olhos, notando Clive Lester a seu lado.

— Claro — disse depressa, forçando um sorriso . — Só estava ganhando coragem para entrar.

— Não precisa de coragem, bonito desse jeito — ele observou, rindo. — Vamos. Eu o sirvo.

A sala lhe pareceu cheia, mas eram apenas os velhos Borges, o filho de Irene Frontes e Débora. Sentada em sua cadeira de rodas ela dominava o ambiente, muito elegante em seu vestido azul-escuro, de decote baixo, que revelava um magnífico colar de safiras. Não havia sinal nem de James nem de Laura e Carlos sentia crescer a tensão em seu peito. A sensação que tinha era horrível.

— Sr. Douglas! — exclamou Débora, forçando Clive a levá-lo até ela. — Como está bonito! Não é, Clive?

Havia uma admiração tão genuína na voz da mulher que Carlos sentiu vergonha por ter pensado que ela poderia ter feito o telefonema a John Monteiro. Ela era uma pessoa tão gentil.

— Acabei de dizer a mesma coisa — respondeu Clive, bem-humorado. — Devo cumprimentá-la pela escolha de meu acompanhante, Débora.

— Conhece todos, Sr. Douglas? — perguntou Débora, rindo. — Não, claro que não. Deixe-me apresentá-lo à minha sogra. Ah, e a Trevor também.

Durante as apresentações, James entrou na sala. Carlos continuou conversando com a avó de Laura, mas suas mãos começaram a suar e sentia um friozinho na espinha. Tim tinha razão, ele estava criando sua própria infelicidade.

Trevor era surpreendentemente simpático. Alto, forte, tinha passado dois anos trabalhando num laboratório na África do Sul. Débora deixou-os sozinhos, levando Clive para ver algo caro e desnecessário que ela tinha acabado de comprar. Trevor contou a Carlos que seu campo era a bioquímica e que pretendia trabalhar com genética. Carlos mostrou-se interessado e a conversa prosseguiu. Estavam faiando da importância da hereditariedade na determinação de características psicológicas quando Laura apareceu.

Ela parou um instante na porta, preparando-se para o que devia julgar ser uma entrada triunfal. Era a primeira vez que Carlos a via sem ser de calças compridas e o vestido comprido, estampado de flores, a deixava muito atraente.

Laura olhou em torno, aparentemente indiferente à atenção que havia despertado, e quando viu Carlos caminhou em sua direção. Só mesmo ao chegar a seu lado foi que olhou para o rapaz.

— Trevor! — exclamou, surpresa. — É você, não é?

O jovem corou ligeiramente e Carlos viu que Débora acompanhava toda a cena, interessada.

— Olá, Laura! — Trevor sorriu. — Não vá me dizer que eu mudei tanto quanto você. Nossa, antes de eu ir viajar você ainda usava uniforme de ginástica.

— E ainda uso, às vezes! — Laura riu, olhando incrédula para ele. — Mas você está tão alto. E tão forte! Desculpe, Sr. Douglas, mas Trevor e eu somos amigos desde crianças. Ele é quatro anos mais velho que eu, mas eu sempre subi nas árvores mais depressa que Trevor.

Houve um murmúrio de aprovação por parte dos avós e Laura, fingindo só agora notar a presença deles, virou-se para conversar com os velhos. Clive veio para o lado de Carlos e os Borges aproveitaram para atrair Trevor para o seu grupo.

— Bom... — disse Clive com os olhos brilhando. — Já cumpri o meu dever e fui gentil com a dona da casa. Agora posso começar a me divertir.

Carlos bebia seu coquetel, ouvindo distraído os comentários de Clive. James estava em pé, ao lado da cadeira da mulher, a cabeça inclinada, atento ao que ela estava dizendo. Em sua roupa escura e camisa formal ele parecia o bem-sucedido homem de negócios que era, em nada lembrando o sujeito atormentado que ele tinha encontrado naquela mesma manhã.

O jantar foi servido minutos depois e Carlos viu aliviado que seu lugar era entre o Sr. Robert e Clive. James e Débora sentaram-se um em cada ponta da mesa muito longa, arrumada com talheres de prata e copos de cristal, além de dois candelabros de três braços que forneciam toda a iluminação. Um pouco pomposo demais , mais ele queria o que? Esse era o mundo dos Borges.

A comida era maravilhosa e até mesmo Carlos conseguiu comer bem, concentrado no que Robert lhe dizia, evitando a todo custo olhar para James. Ele não queria fazer papel de idiota. A luz tênue das velas lhe dava, pelo menos, a segurança de que ele não conseguiria perceber seu estado ansioso.

Laura conversava animadamente com Trevor. Era evidente que os dois jovens tinham muito o que falar e que, momentamente, ela havia esquecido John Monteiro. Carlos viu que Débora também observava os dois jovens, muito satisfeita. Mas se a mãe estava pensando, que Laura iria desistir tão facilmente, ia ter uma bela decepção. Laura era teimosa , e ela ia insistir na historia com John.

Depois do jantar o café foi servido na sala de estar. Era um lugar que Carlos nunca frequentava, limitando-se a usar, no andar de baixo da casa, apenas a biblioteca para as aulas de Laura. A decoração, que ele já havia notado quando Débora o recebera ali, no primeiro dia, parecia-se muito com a dona da casa. Era elegante, mas incômoda.

Robert Borges comentava com Clive a notícia de uma firma que tinha ido à falência, e Carlos sentou-se numa cadeira, duro e empinado, tentando se interessar pelo ambiente. Mas a presença de James, servindo licores junto à janela, o deixava inquieto. De repente, ele veio até ele.

— Quer tomar alguma coisa? — Disse com uma voz muito sensual, ou pelo menos ele achou sensual.

— Não, obrigada — respondeu, trêmulo, mostrando a xícara de café que tinha na mão. — Basta o café.

James inclinou a cabeça, absolutamente controlado, mas Carlos notou que aquele cansaço da manhã não tinha desaparecido inteiramente de seu rosto. Por mais idiota que isso soasse, ele queria abraçar James. O confortar.

Finalmente, Clive Lester conseguiu escapar da conversa com Robert Borges e veio novamente falar com ele, agachando-se a seu lado.

— A Halld Têxtil! — ele exclamou baixinho. — Como posso me interessar pela falência da Halld Têxtil quando tenho um belo jovem com quem conversar?

— Você faz muito bem para o meu ego, sabia? — Carlos sorriu. Ele queria o seu quarto.

— Por quê? Porque o amo e senhor não aprova a sua presença na festa?

— Por que diz isso? — Então James não estava por trás do convite.

— Não sei. Talvez ele não aprove a minha presença também. Os olhares que ele nos lança. . . Amedrontadores..

— Está imaginando coisas!

— Talvez — disse Clive, olhando-o nos olhos. — Mas acho mesmo é que ele está com ciúme.

— Está brincando! — Carlos se controlava. — Essa informação o deixou inquieto.

— Carlos... Posso chamá-lo assim? Carlos, você não sabe o efeito que esses olhos verdes podem ter sobre os homens, hetero ou não. Neste momento, a única coisa em que consigo pensar é que gostaria de acordar toda manhã e encontrar seus olhos ao meu lado na cama.

— Só os olhos? — Carlos tentou brincar. — Ele deveria se calar quando estava nervoso, mas ele flertava.

— Não — disse ele suavemente. — O resto também. Cada pedacinho de você. De preferencia, sem essas roupas.

— Não quer uma cadeira, Clive?

A voz fria de James conseguiu separá-los como uma barreira física. Clive se pôs em pé, massageando os músculos das costas.

— Sempre atencioso, não é, James? — comentou o amigo cinicamente.

James sorriu, igualmente irônico, e Carlos percebeu exatamente o que ele estava pensando. Merda, ele sempre passava a imagem errada.

— Débora me disse que você foi velejar neste fim de semana — comentou Clive, arrumando a camisa.

— Fui até a cidade — respondeu James, impassível, diante da pergunta que deixara Carlos sem ar. — Tom está com o barco ancorado.

— Ah, Tom! — exclamou Clive. — Faz anos que não o vejo. Como está ele?

— Muito bem. Acaba de voltar de Fernando de Noronha. Foi visitar o filho.

O ruído das rodas no tapete anunciou a chegada de Débora e Carlos respirou, aliviado. Apesar da conversa entre Clive e James ser bastante amigável, ele podia sentir a antipatia que havia entre eles.

— E então? Estão todos satisfeitos? — A interrupção de Débora parecia bastante espontânea. Laura e James interpretavam mal essa mulher.

— Satisfeitíssimo — respondeu Clive, galante. — Também, depois daquela refeição maravilhosa.. . Você é sempre a anfitriã perfeita, Débora.

Os olhos dele brilharam irônicos na direção de James e por um momento Carlos pensou que Clive fosse dizer mais alguma coisa. Mas ele nada disse.

— Clive é muito gentil, não é, querido? — perguntou Débora, olhando afetuosamente o marido. — Não acha, Sr. Douglas? Notei que o nosso solteirão aqui está muito interessado na conversa com você. A conversar estava muito intima.

— O Sr. Lester e eu acabamos de nos conhecer — disse Carlos, incomodado.

— Ah, mas Clive não é de perder tempo, não é? — Débora sorria, maliciosa. — Já é hora de ele arrumar um homem ,e se firmar, não acha, James? Um homem precisa de um compromisso e de um relacionamento, independente da opção sexual. Não acha querido?

Pela expressão de James, Carlos percebeu que o terreno começava a ficar perigoso. Os olhos de James estavam tão frios , que estavam dando arrepios nele. Será que Débora não percebia isso?

— Clive não é do tipo que se casa — disse James finalmente, com a voz fria e controlada.

— Você pode estar enganado — disse Clive, olhando para Carlos — Débora tem razão. Já é hora de eu começar a pensar em assentar a cabeça.

— Decisão um tanto repentina, não? — O olhar de James desafiava o outro.

— Sabe como são essas coisas — disse Clive, provocador. — Um dia simplesmente acontece. . .

Carlos não conseguia mais aguentar aquilo. Pôs-se em pé e indicou o armário negro de ébano.

— Foi a senhora quem compôs essa linda coleção de jade, Sra. Borges?

Por um momento ficaram todos em silêncio. Débora molhou o lábio superior com a ponta da língua.

— Acho que estamos deixando o Sr. Douglas embaraçado, Clive. E eu que estava gostando tanto da conversa!

— Eu também — disse Clive, olhando fixamente para James.

— Podemos pôr uma musica , papai?

Felizmente, o confronto entre James e Clive acabou neutralizado pela interrupção de Laura. Trevor estava ao lado dela, e Carlos percebeu que nunca a tinha visto tão animada. Débora, no entanto, não pareceu muito contente com a permissão de James, que se afastou com os jovens.

— Acho que já está na hora de ir embora, Débora — disse Clive, procurando cigarros nos bolsos.

— Ah, não ainda! — protestou Débora. — Vai deixar a Sr. Douglas sozinho?

— Na verdade, eu estou mesmo cansado... — Carlos tentou dizer. Ele estava cansado, James estava mexendo com ele, ele queria sentir os lábios dele , o seu corpo no dele. Isso não era nada bom.

— Nada disso! — Débora interrompeu. — Talvez seja este ambiente tão fechado. Clive, por que não leva Carlos dar uma volta de carro? Saiam, aproveitem. Os dois estão solteiros.

— Oh, não. Eu estou mesmo. . .

— Boa ideia, Débora! — Clive parecia animado, ignorando a recusa de Carlos. — Não se importa se a gente sair?

— Claro que não. — Débora parecia animada também. — Afinal, vocês dois devem estar entediados. Dois casais velhos e dois adolescentes. Vão passear, vão. Divirtam-se.

Carlos sentiu raiva. Eles o tratavam como um garotinho. Tinha vontade de dizer, com firmeza, que não queria ir passear de carro com Clive, que estava cansado e ia dormir. Mas lembrou-se do comportamento de James e hesitou. Se se recusasse a sair, o que é que Clive ia pensar? Já parecia bastante desconfiado da atitude de James com ele. Não seria conveniente que ele começasse a suspeitar dele também. Não tinha escapatória. Por que é que Débora tinha de se meter? Afinal, ele era apenas o tutor contratado. Involuntariamente lembrou-se das coisas que Laura tinha contado sobre a mãe. Mas que interesse poderia Débora ter em tudo aquilo?

— Vamos, Carlos? — Clive segurou o braço dele.

— Ah. .. sim, vamos.

— Então é melhor pegar um agasalho — disse Clive, sorrindo.

— Meu carro é conversível e a capota está aberta.

Procurando evitar os olhos de James, ele saiu da sala. Ele estava ocupado, escolhendo um álbum com os meninos. Ao subir os degraus, Carlos ouviu uma melodia encher o ar. Love Hurts. Ironicamente, lembrou-se de que já tinha dançado aquela mesma música com James. Será que ele se lembrava também?

— Onde vamos? — perguntou Clive enquanto atravessavam os portões da casa.

— Onde você quiser — respondeu Carlos, mal humorado ,vestindo sua jaqueta de couro preta.

— Nada animador — disse ele, tomando a estrada.

— Eu sei que você não queria sair comigo, mas achei que era a melhor coisa a fazer.

— Como? — perguntou ele, surpreso.

— Sabe o que quero dizer.. . — Clive falava com segurança. — James! Você viu como ele estava bebendo? Em quinze minutos ia começar a falar. Segredos e desejos internos iriam ser revelados.

— O que você está dizendo ? Não sei do que está falando. — Carlos prendeu a respiração.

— Sabe, sim. É verdade que eu fiquei irritado também. Mas ele tem uma vida infernal com aquela bruxa e não o censuro por sentir atração por você. O que surpreende na verdade , apesar de saber da bissexualidade de James, ele nunca se interessou por nenhum homem.

— Onde vamos? — ele perguntou, não tão sutilmente, ignorando a conversa.

— Não adianta mudar de assunto, Carlos. Percebe-se um clima estranho entre você e James. Você não está pensando em ter um caso com o pai de sua aluna, está?

— Ai senhor, Clive claro que não. Acho que vocês tomou drinks demais. Temos mesmo de falar sobre mim? — Carlos olhou para fora da janela, tentando não demonstrar seu nervosismo. — Eu podia acreditar nas coisas que disse, sabe? — Disse tentando mudar de assunto.

— Que coisas, querido?

— Aquela história de querer assentar, por exemplo... arrumar um homem e se estabelecer — Carlos falava com certa hesitação, ele não gostava de ir por esse caminho, mas ele precisava tirar James dá conversar. — É um tanto direto, não? Sutileza não foi te apresentada.

— Talvez seja verdade. — Clive encolheu os ombros, — Débora tem razão, Carlos. Um homem precisa se estabelecer, não dá para viver na farra para todo sempre. E eu já me diverti o bastante em minha vida.

— Não vai agora querer me dizer que caiu de amores por mim logo à primeira vista, não é? Isso seria ridículo.

— Pode ser.

— Pare com isso! Vamos parar com essa conversar — Estavam entrando na cidade e as luzes do bar e restaurante brilhavam na noite. — Onde vamos?

— Quer tomar um drinque? Ou prefere uma balada?

— O que você quiser.

— Quanto entusiasmo! Você me vira a cabeça! Estou sendo contagiado por tanta alegria e animação. Iup — Clive disse irônico, Carlos não estava com nenhum entusiasmo para sair e ser sociável.

— É mesmo, Sr. Lester? — Carlos disfarçou o sorriso quase involuntário.

— È, sim. E meu nome é Clive, não Sr. Lester.

Surpreendentemente, Carlos passou a hora mais agradável que tivera nos últimos anos.. Clive era ótima companhia e os dois se davam muito bem quando deixavam de lado os assuntos pessoais. Ele se interessou pelo trabalho dele em Sri Lanka e Carlos contou detalhadamente a pobreza e a austeridade que tinha visto nos países onde foi ensinar. Foi só quando já o estava levando de volta para a casa dos Borges que Clive voltou a falar de James.

— James não vai nunca se divorciar dela — disse repentinamente. — Portanto, você não tem a menor chance. Está me entendendo? Ele não pode saltar para um relacionamento homossexual, ele teria muito a perder.

— Estou entendendo, só não entendo porque esta falando isso para mm — disse Carlos, baixando os olhos, tentando não ruborizar . — Por que acha que deve me dizer isso, Clive?

— Gosto de você, Carlos. Não quero você sendo iludido, pensando que pode ter algo, que claramente nunca terá— Ele suspirou. —Na verdade, Gosto mesmo de você, muito. Na verdade, eu diria mais. Podia facilmente me apaixonar por você.

— Ora, Clive...

— É verdade. Escute aqui, você é diferente de todos homens que conheci, eu sei que é clichê, mas é verdade. Para começo de conversa, você é generoso, ficou anos em um país pobre, ensinando de graça, apenas pelo aprendizado. Quem diabos faz isso? A maior parte dos homens acharia isso um horror. Não é fútil , e além disso , é lindo essa boquinha sua me enlouquece, e me dá um desejo imenso de ouvir você conversar o dia todo, sua voz é incrível.

Carlos apertou os lábios. Ele estava ouvindo Clive falar com ele, mais ele só conseguia pensar que James , sempre dissera , que amava a boca dele.

— Estou sendo sincero, Carlos — prosseguiu Clive, tentando preencher o silencio que Carlos deixou. — Você é um homem especial. É bonito, além de tudo. Como não posso me apaixonar. Só gostaria que não estivesse , trabalhando nos Borges.

— Por quê? — Carlos estava atordoado.

— Eu conheço James, Carlos. Sei que o casamento dele é extremamente infeliz. E detesto a ideia de James poder se aproximar de você e fazê-lo sofrer. E pode apostar, ele vai.

Clive avisou um pouquinho tarde demais, ele já tinha sofrido por James.

— James Borges não vai me fazer sofrer! — Ele estava se tornando um craque em negação.

— Tem certeza? — Estavam chegando aos portões e Clive diminuiu a marcha. — Mas Débora poderá criar problemas. . . Se ela perceber ,o que esta rolando ...

— Ah, por favor! — Carlos torcia a ponta da jaqueta. — Parece que você também bebeu demais.

— Está bem. Eu fico quieto. Posso vê-lo de novo?

— Ver-me de novo?

— Não se faça de idiota Carlos, Isso. Quer sair comigo de novo? — disse ele, parando o carro. —- Gostaria de apresentá-lo à minha mãe. Poderíamos jantar juntos.

— Sua mãe? — Ok, Carlos estava perdendo seu QI só pode, só estava falando uma palavra por vez.

— É. Eu tenho mãe. Acredite se quiser, mas eu nasci de um pai e de uma mãe, como todo mundo.

Carlos sorriu outra vez. Gostava de Clive, mas não alimentava ilusões por ele. Não era o tipo de homem por quem se apaixonaria, mesmo que. ..

— Muito bem, aceito — disse ele finalmente, ele precisava deixar claro para James, que a historia entre eles não ia se repetir . — Mas tenho de falar com a Sra. Borges primeiro.

— Ela não manda em você, manda? — perguntou Clive.

— Não, mas. . . trabalho aqui integralmente. Amanhã te ligo , está bem?

— Ótimo. James tem meu numero. —Disse com um sorrisinho, Clive pousou o braço nas costas do assento dele. — Posso beijá-lo?

— Sempre pergunta antes?

E ele o beijou, suave mas intensamente. James beijavam mais forte, com uma intensidade e ... Droga, James sempre atrapalhando sua vida.

— Hque bom — murmurou Clive. — Agora acho melhor eu entrar e me despedir dos donos da casa como um bom menino.

Na sala encontraram apenas Débora e os sogros. Carlos respirou, aliviado. James iria perceber na hora , que ele tinha sido beijado.

— James foi levar Trevor para casa — explicou Débora para Clive. — E Laura quis ir junto.

— E nós temos de ir também — disse a Sra. Borges. — Foi um ótimo jantar, Débora,

As despedidas não demoraram muito e Carlos ficou na sala enquanto Débora acompanhava os convidados até a saída. Mas quando a cadeira de rodas tornou a entrar, ele já estava pronta para sair. Fugir para seu quarto.

— Vai me deixar sozinha? — Débora perguntou quando viu Carlos em pé. — Não quer esperar para dizer boa-noite a meu marido? E a Laura, claro.

— Desculpe-me com eles, por favor, Sra. Borges — disse Carlos, sentindo as têmporas latejarem e atribuindo isso à ironia que sentia nas palavras da outra. — Eu estou com dor de cabeça.

— É mesmo? Pensei que tinha se divertido com Clive.

— Foi ótimo. Ele é muito simpático.

— É verdade. — As mãos de Débora agarraram subitamente os braços da cadeira de rodas, e seu rosto mostrou uma intensa dor, mas, quando Carlos fez um gesto instintivo na direção dela, a dor pareceu desaparecer e ela tornou a cruzar as mãos relaxadamente no colo. — Onde foram?

— Até um barzinho no centro — respondeu Carlos, ainda preocupado com Debora. — Tomamos uns drinques.

— Demoraram bastante.

— É que ficamos conversando. Nem notamos o tempo passar.

— Bom, acho que há coisas — disse Débora, fixando nele um olhar intenso — que a gente prefere não contar.

— Não entendo o que quer dizer, Sra. Borges. — Na verdade , entedia as insinuações sim, mais não estava acreditando, que Debora estava se metendo assim na sua vida privada.

— Não passei minha vida inteira presa a esta cadeira de rodas, Sr. Douglas. — Débora sorriu desagradavelmente e cinicamente. — Sei o que acontece quando dos homens gays solteiros se vêem sozinhos dentro de um carro. E alias , você chegou todo um pouco .. desalinhado e ofegante ...

— Desalinhado ? Posso lhe garantir. . . — Carlos mal podia acreditar no que estava ouvindo. — Eu mal o conheço!

— É, no meu tempo a gente não se era tão tímidos em relação ao sexo.

— Não estou sendo tímido, Sra. Borges. Só que ....

— E Clive não o beijou, Vai negar isso?

— Eu não disse isso...

De repente Carlos percebeu que não estavam sozinhos. Virou-se e viu James parado na porta, com o rosto contraído . Parecendo triste e nervoso , ao mesmo tempo.

Carlos tornou a olhar para Débora, enojado com a atitude dela. Débora sabia que James estava na porta e por isso tinha feito aquelas perguntas. Ela parecia saber , que James iria ficar assim , ao saber que Clive o tinha beijado.

— Estou muito cansado, Sra. Borges — disse Carlos ,disse frio , ele estava sentindo náuseas. — Com licença.

Caminhou com passos firmes para a porta. James recuou um passo para deixá-lo passar, mas ele não olhou para ele.

XXX

Ele estava decidido a partir dali na hora em que foi para a cama, mas de manhã, depois de uma noite de sono surpreendentemente tranquilo, sua determinação já havia afrouxado. Tinha de pensar em Laura e no efeito que uma partida súbita poderia ter sobre ela. Talvez isso não passasse de um pretexto tolo, e falso, mas Carlos sentia que Laura precisava dele, agora ainda mais que antes. Ele estava ignorando seu subconsciente , que estava dizendo, gritando, que ele não ia embora porque não queria deixar de ver James.

A garota parecia muito bem-disposta quando se sentaram na biblioteca para a aula, de manhã. Ainda estava sob o efeito do reencontro com Trevor e só quando o telefone tocou no hall foi que uma sombra tornou a aparecer em seu rosto.

— Não esqueci a promessa — disse, subitamente deprimida. — Vou entrar no face e mandar uma mensagem para John. Sobre sexta-feira.

— Então não se esqueceu dele. — Carlos sorriu.

— Por causa de Trevor? Claro que não! — Ela arregalou os olhos. — Eu sei que é isso o que a mamãe quer, mas não vai dar certo. Trevor e eu somos comocomo irmãos.

— É? — perguntou Carlos. Laura estava tão cega , que não via o obvio. John foi uma paixonite.

— Bom, não vamos começar com esses assuntos emocionais. Não estou com vontade. Está me deixando melancólico.

— Você se divertiu ontem à noite? Clive parecia muito impressionado — insistiu Laura. — Você devia continuar com isso. Ele é filho único e a mãe é bem rica. Moram numa casa linda. . . e ele é bonito e gay, e isso é raro. Gay, rico e bonito.

— Eu sei. Mas não estou interessado em compromisso, e nem quero me envolver com ninguém.— Carlos interrompeu.

— Agora chega, Laura. Que tal falarmos da Revolução Francesa?

xxxxx

A semana que se seguiu foi surpreendentemente tranquila, depois daquele fim de semana tão agitado. Carlos não viu James nem uma vez e cruzou muito pouco com Débora. Uma manhã ela veio tomar café com ele e Laura, mas não estava muito falante e Carlos ficou aliviado com isso. Ele não queria nenhum embate.

Porém, na quinta-feira de manhã, Clive telefonou cobrando o encontro. Que ele tinha esquecido. Carlos tentou recusar, mas ele insistiu tanto que ele acabou indo pedir a Débora permissão para jantar com ele e a mãe no sábado. Conforme era de se esperar, Débora não colocou nenhuma objeção. Carlos achou que não devia satisfação nenhuma a James. E talvez a sua amizade com Clive pudesse ajudar a convencê-lo de que nunca retomaria a relação com ele.

Na sexta-feira à tarde, Carlos estava fazendo a barba em seu banheiro quando Jenny veio avisar que alguém queria falar com ele no telefone residencial .

— Comigo? Tem certeza?

Colocou a toalha no pescoço e desceu a escada, esperando não cruzar com ninguém.

— É você, Carlos? — perguntou John Monteiro com seu sotaque baiano. — Que sorte encontrá-lo aí. — Ele parecia cínico

Carlos olhou em torno e, vendo que estava sozinho, falou em voz alta abertamente:

— Por que está telefonando de novo para cá? O que significa isso? Sabe que não é bem-visto aqui na casa.

— Isso não é jeito de tratar um amigo.

— O senhor não é meu amigo, Sr. Monteiro. — Disse friamente, esse cara estava forçando uma amizade inexistente.

— Ah, é? Pensei que fosse. Pareceu se divertir tanto comigo.

— O que quer, Sr. Monteiro?

— Deixe-me explicar — ele disse.

— Laura prometeu que ia lhe mandar uma mensagem para desmarcar o encontro — prosseguiu Carlos. — Entrou no seu face ultimamente?

— Por que é que Laura havia de me mandar uma mensagem?

— Para dizer que não ia encontrá-lo hoje. Recebeu a mensagem ou não?

— Ela mandou mensagem ontem, mas era com você que eu queria falar, Sr. Douglas. E como você não me deu seu numero ... Gostaria de sair comigo?

— O quê? — Sem querer, Carlos elevou a voz e tomou a olhar em volta, para se certificar de que estava sozinho, essa situação iria ser mal interpretada.

— Isso é um absurdo John!

— Por que absurdo? Eu já estou aqui na cidade . É meu dia de folga, sabe? Por que não posso convidá-lo a partilhar o meu jantar solitário?

— Se está se sentindo sozinho, Sr. Monteiro, eu não tenho nada a ver com isso. E não tinha nenhum direito de vir até aqui.

— Por que não? Estamos num país livre. Gosto de passear.

— Bem. . . muito obrigada pelo convite — disse ele enxugando a agua que estava escorrendo de seu cabelo molhado—, mas estou ocupado.

— Vai sair com outro?

— Tenho mais coisas a fazer do que sair em encontros.

Fez-se um longo silêncio do outro lado e Carlos pensou que ele tivesse desligado..

— Laura está aí? — perguntou John finalmente.

Trevor estava passando o dia lá e Laura estava com ele na piscina. À noite toda a família ia sair para jantar. Como é que ele podia chamar a menina para falar com John? Isso estava fora de questão. Além de estragar o dia de Laura, os pais dela ficariam furiosos se descobrissem. James principalmente.

— é impossível falar com ela agora — protestou Carlos.

— Está bem — disse ele, imperturbável. — Telefono mais tarde. ..

— Não. Não telefone. — Carlos estava inquieto, ele não deveria ficar ligando para a casa. — Laura não vai estar aqui. Como já disse, ela vai sair com os pais.

— Vou tentar assim mesmo. Alguém um momento alguém me atendera.

— Oh, John! — Carlos apertava o telefone com tanta força que seus dedos doíam.

— Muito bem. A que horas quer que o encontre?

— Está bravo comigo? — perguntou ele, depois de uma pausa.

— O que acha? Você está sendo teimoso e impossível.

— Desculpe. Mas não tinha outro jeito de convencê-lo, não é? Quer que vá buscá-lo?

— Não! Eu posso ir a pé — ele disse com firmeza, ele não precisava de Laura e James o vendo saindo com John. — Diga-me a que horas.

— Sete? Está bem? Assim podemos tomar um drinque antes de comer.

— Mas não aqui na cidade. Vamos mais distante.

— Como quiser. Espero você às sete no restaurante, então.

— Tudo bem.

Carlos desligou, sentindo o coração pesado. Sabia que não estava agindo direito, mas que outra coisa podia fazer? De nada adiantaria contar tudo a Débora. Era sua responsabilidade. Havia prometido a Laura ajudá-la e isso queria dizer evitar maiores atritos entre a menina e os pais. Mas tinha pensado que a história toda acabaria por terminar naturalmente, sem imaginar que John de repente fosse transferir suas atenções para ele. Sua posição era delicada e nebulosa. Desde a visita que John fizera à casa, James e Laura desconfiavam que ele o houvesse convidado. E sair com ele iria apenas reforçar essa desconfiança. Teria de conseguir convencer John que era perda de tempo tentar se aproximar dele ou de Laura.

Estava indo em direção aos degraus, arranjando a toalha, quando se sentiu observado. Voltou-se depressa.

James estava parado na porta da biblioteca.

— Costuma ouvir as conversas dos outros? — disse, irritado, projetando nele sua frustração. — Será que não se pode ter privacidade nesta casa?

— Desculpe — disse ele, endireitando o corpo. — Mas quando ouvi falar dos pais de Laura fiquei curioso.

— E concluiu que devia ser John, não é?

— Se é isso o que me diz.. .

— E por que acha que ele me ligou? — Ele arrancou a tolha dos cabelos, consciente da própria aparência descuidada. Sem camisa, com uma toalha no pescoço, provavelmente com espuma de barbear no rosto.

— Suponho que estavam combinando alguma coisa. Para esta noite?

— Isso mesmo — ele disse, sem se deixar perturbar pela frieza controlada dele. — Tem alguma objeção?

— Nenhuma — disse James, depois de soltar a gravata e desabotoar o colarinho. — Agora, se me dá licença, tenho de trabalhar.

— James ...

Ele se virou para Carlos, os olhos nebulosos.

— Sim Senhor Douglas?

—— Ele emudeceu.

— Carlos???

— Foi melhor eu ter ido embora. Foi melhor eu ter me afastado. Você iria fazer isso em algum momento mesmo. Só adiantei o inevitável. Eu .... queria que tivesse sido diferente .... mas

— Carlos , porque você está fazendo isso. Faça quer não quer nada comigo, mais insisti em voltar ao passado e mexer nas feridas. Sinceramente, você está se saindo um ótimo hipócrita.

Dito isso Ele entrou e fechou a porta da biblioteca. Carlos sentiu vontade de correr para James e contar tudo, como se sentiu, como ele sofreu , e ainda sofre, por ele, como nunca conseguiu namorar ninguém porque ele o amava, e odiava, em proporções iguais. Ele tinha que contar sobre John para James, para não dá problema para ele depois. Talvez ele fosse a pessoa certa para ajudá-lo naquela situação. Porém, que interpretação daria ao fato de ele tê-lo procurado? Não ousava encorajar nele qualquer ideia de que ainda pudessem voltar a se aproximar. Depois daquela cena perturbadora no cemitério, várias outras cenas semelhantes tinham lhe voltado à memória, e a única maneira de manter seu respeito próprio era evitar James a qualquer custo. James tinha razão , ele era um hipócrita.

xxxx

Às quinze para as sete ele desceu e encontrou Gustavo esperando no hall. Inicialmente pensou que ele ia levar a família para jantar, mas depois se lembrou de que James ia em seu carro.

— Vai sair, senhor? — perguntou o chofer.

— Vou sim, Gus.

— Quer uma carona? — ele perguntou. — Estou indo para a casa de minha irmã. Se está indo para a vila, eu vou passar por lá.

— Estava me esperando? — perguntou Carlos, intrigado.

— Não, senhor — disse ele ruborizado, colocando o boné. — Podemos ir?

Carlos não acreditou muito na resposta, mas foi. James mandou Gustavo o levar?

Quando Gustavo o deixou na frente do restaurante, Carlos viu que o namorado de Laura já o esperava, parado do outro lado da rua. Ele veio caminhando indolentemente em sua direção, sorrindo com certa malícia.

— Você é um garoto estranho. Primeiro recusa, se faz de difícil e depois chega pontualmente.

— Me poupe John .Vim de carona, como viu.

— Lindo carro, não? — Disse zombeteiro

— Pare de falar assim comigo. — Carlos não tinha a menor vontade de brincar. — Onde vamos?

John examinou-o da cabeça aos pés, passando a língua nos lábios dando mostras de que gostava do que via.

— Reservei uma mesa no Phoenix na cidade. Já que você não quer almoçar pela região— disse ele, enquanto avançavam para a moto. — Está com fome?

— Não. Só quero é terminar logo com isso — respondeu Carlos, colocando o capacete. — Vamos.

O Phoenix era um restaurante recém-inaugurado no centro da cidade. Carlos percebeu que não estava vestido apropriadamente para o ambiente um tanto elegante, mas John parecia não se importar com a aparência dele.

Pegaram dois drinques no balcão do bar e sentaram-se à mesa, para beber.

— Saúde — disse Johnny. — Então, qual é o problema?

— E é você quem me pergunta isso? Sabe muito bem qual é o problema. Você me chantageou para sair com você- Eu não devia ter acreditado quando você disse que era realista.

— Realista, sim, mas nunca disse que era bonzinho — disse ele, olhando a bebida. — Por que está reclamando? Preferia jantar com o atraente papai de Laura, não é?

Carlos tinha acabado de tomar um gole e engasgou. Tossiu até lhe saírem lágrimas dos olhos, ciente dos olhares que despertava nos outros clientes do restaurante. Uma reação nem um pouco sutil.

— O que quer dizer isso? — perguntou finalmente. — Laura lhe contou. . . insinuou alguma coisa nesse sentido? — Perguntou tentando compreender de onde ele tirara isso.

— Gostaria de escolher, senhor?

O garçom interrompeu, colocando dois enormes cardápios diante deles. John não se apressou em responder, mas percebeu que Carlos estava muito tenso e não tirava os olhos dele. Ele não era de fingir , as outras pessoas o liam como um livro de gravuras.

— É verdade? Você e Senhor Borges estão atraídos ?—- ele perguntou afinal.

— Claro que não! — ele respondeu, indignado.

— Então... o que vamos comer? Nunca estive aqui antes, por- tanto não posso recomendar nada especial. Que tal uma truta? Ou lagosta? Ou uma peça de bife ?

— John, quem foi que lhe deu essa informação? — ele perguntou, incapaz de sequer pensar em comer. Não percebia que a insistência dele , despertava a curiosidade do outro. — Tenho de saber.

— O que espera de mim? Que faça jogo duplo?

— Não sei do que está falando. Como assim jogo duplo? — Carlos ficava cada vez mais ansioso.

— Claro que não sabe. Mas eu sei e isso é o que interessa. Admito que é uma tentação. — Ele estudou o rosto dele, sorrindo, provocador. — Mas você já disse que não é verdade, portanto acabou-se.

— John, você não diria uma coisa dessas se não tivesse realmente pensado no assunto. — Carlos olhava fixamente para ele, a cabeça confusa.

— Que tal um filé?

— John — disse ele, cerrando os punhos sobre a mesa —, se não contar tudo agora mesmo eu me levanto e vou embora. E não volto!

— Você não vai gostar de saber — disse ele, suspirando e deixando de lado o menu.

— Você. . . você falou com James? — perguntou ele sem pensar.

— James? — ele repetiu, apertando os olhos — é esse o nome do pai de Laura, não é?

— Claro, você, sabe muito bem que é. — Ele agarrou a borda da mesa, nervoso. Merda , ele estava se entregando com seu nervosismo.

— E é assim que você o chama?

— Não. Quero dizer, às vezes— Carlos sentia o rosto queimando. — John, o que quer dizer tudo isso?

— Você costuma ter casos com homens casados?

Carlos sentiu aquela pergunta como um golpe físico. Tentou levantar-se e se afastar dele para sempre, mas John colocou a mão sobre o braço dele, detendo-o suavemente e se inclinando na direção de seu rosto.

— Sabe quem me contou? — ele perguntou baixinho. — Foi a mulher dele!

— O quê? — Carlos afundou na cadeira, olhando fixamente para ele. — Mas. . . você conhece a Sra. Borges?

— Não. Falei com ela pelo telefone.

— Pelo telefone? — Carlos não conseguia entender mais nada. — Quer dizer que foi ela quem o convidou. . .

— Não sei. Só sei que ela me contou isso faz uns dois dias. Que você e James , tinham um caso.

Carlos pousou a mão no pescoço. Quanta coisa, de repente! Era inconcebível que Débora tivesse recebido em sua própria casa alguém que suspeitava ter envolvimentos com o seu marido. Como poderia ela ter descoberto o que havia acontecido entre Carlos e James seis anos antes?

— O que foi que ela lhe disse? — perguntou Carlos baixinho.

— Por que acha que lhe contaria? — disse ele, examinando o cardápio à sua frente. — É verdade, não é? No começo eu não acreditei. Mas você se entregou, não imaginei que você fosse desses tipinhos. Mas agora. . . Eu não devia ter dito nada. Será que não dá para esquecer o que eu disse?

— Mas não é verdade, John. — Carlos empinou o corpo. — Admito que James e eu nos conhecemos, mas isso já faz seis anos. — Tentou tapar o sol com a peneira.

— Se conheceram? No sentido bíblico da palavra?

— Não! — Carlos estava enojado, ele sinceramente foi ingênuo no passado ao ter se entregado para James. Mas ele se redimiu ao ir embora. — Ele é casado, como você mesmo disse. E, ao contrário do que dizem, eu não costumo ter casos com homens casados. E nem solteiros, se quer saber.

— Isso é o que você diz.

— é a verdade! — Ele colocou a mão sobre o braço dele.

—John, pensei que gostasse de mim. . .

— E gostava. Mas agora não sei. .. Um pouco do brilho se perdeu.

— Será que não dá a chance de eu me defender?

— E você? Deu alguma chance à mulher dele?

— Não me orgulho do que fiz — ele disse, baixando a cabeça. — Minha única desculpa é que eu pensei que. . , pensei que James ia pedir o divórcio.

— E ele não ia?

— Não, — Era uma verdadeira tortura para ele falar sobre aquilo. — Ele só queriacaso, como você disse.

— Bom. , . — Ele sacudiu a cabeça. — Você não merece isso, Carlos. Qualquer homem que esteja disposto a sacrificar os outros só para se satisfazer não merece nenhuma consideração. — Ele pousou a mão sobre a dele. — Então, somos amigos?

— Conte-me por que Débora telefonou para você.

— Já escolheu, senhor?

John ficou evidentemente aliviado com a interrupção do garçom e levou um longo tempo conversando com ele até se decidir por filé, salada e uma entrada de frutos do mar. Carlos concordou, só para se ver livre do homem, mas na certa não ia ser capaz de comer nada.

— Por que foi que Débora ligou para você? — ele perguntou, assim que ficaram a sós.

— Eu não disse que ela me ligou...

— Mas. . . mas pensei que...

— Eu disse que nós conversamos faz uns dias

— Está bem. — Carlos mal conseguia controlar a irritação , Crescia dentro de si a suspeita de que ele tinha acabado de inventa tudo aquilo.

— Não importa quem ligou para quem. O que foi que ela lhe disse?

— Talvez ela quisesse apenas que eu o afastasse de lá — disse John indiferente.

— O quê?

— Isso mesmo. A Sra. Borges deve saber que, se estamos juntos, não vai lhe sobrar muito tempo para incomodar o marido dela, muito hetero dela. Ela quer você fora do baralho talvez.

— Mas o que é que ela sabe sobre James e eu?

— Não sei — disse John com uma careta.

— Além disso, se você se envolver comigo, vai ter menos chance de ver Laura também — disse Carlos amargamente, sem conseguir acreditar inteiramente nele. Parecia uma historia muito mirabolante.

— Pode ser — ele disse. — Mas o que é que interessa isso tudo? Ela já podia ter despedido você, se quisesse. Acho que talvez , ela não se importe.

Carlos estremeceu. Sentia que havia mais coisas que ele não estava disposto a revelar. Arrependeu-se de ter contado sobre James. Até aquele momento John provavelmente achava que tudo não passava de fantasias de uma mulher aleijada e frustrada. Mas agora devia estar acreditando no que Débora lhe dissera, fosse o que fosse.

— Você acha que conhece Débora? Como tem certeza de que ela não está apenas usando você?

— Para quê?

— Não sei. . . — Carlos sentia-se desamparado. — Ela é uma mulher estranha.

— E? — John não parecia muito interessado. — Estranha como?

— Não quero mais falar sobre isso. Vou sair daquela casa. Não posso continuar.

— E Laura?

— É.. . Laura. — Carlos sacudiu a cabeça. — Pobre Laura! 0 que é que eu faço com ela? — E James?, dizia uma vozinha dentro de si.

Carlos não conseguia comer e ficou virando a comida no prato, enquanto John tentava conversar sobre outras coisas. Ele não conseguia entender qual era o jogo de Débora. Por que teria contado a um estranho que o marido tivera um caso com o tutor da filha? Não fazia sentido. Ela assumia que foi traída , e que o amante era um homem. Se ao menos John fosse sincero com ele.. De qualquer forma, Débora havia descoberto e, mesmo assim, o contratara. Será que James desconfiava de que a esposa sabia? E se não, será que devia avisá-lo? Mas por que tentar proteger um homem que só tinha complicado a sua vida?

Terminado o jantar, tomaram mais um drinque no bar e John voltou a falar daquele assunto que, na verdade, não tinha saído da cabeça de nenhum dos dois.

— Você não vai deixar a Casa dos Borges , não é? — ele perguntou suavemente. — Não pode abandonar Laura.

— E o que é que você tem a ver com isso?

— Gostaria de encontrá-lo outra vez.

— Laura ou eu?

— Você. E se você sair de Lá, não te encontrarei facilmente.

— Está brincando!

— Não, não estou. Pelo menos quando estou com você não posso amolar e induzir Laura, não é assim?

— É uma ameaça?

— Acha que é?

— Ah, não sei! — Carlos começava a sentir dor de cabeça. — Estou confuso.

— Não fique, não — ele disse, serio. — Olhe, talvez a Sra. Borges só quisesse desabafar com alguém. E eu apareci bem na hora. Você ainda tem seu emprego. No que lhe diz respeito, está tudo na mesma. Ela deve compreender que agora você não oferece riscos a ela.

— Será? — Carlos sacudiu a cabeça. — Gostaria que fosse verdade.

John insistiu em levá-lo para casa, deixando-o diante do portão, pouco depois das dez. O carro de James não estava visível.

— Obrigada — disse ele, devolvendo o capacete.

— Foi bom. Então, na semana que vem, mesmo lugar e mesma hora?

— Talvez eu nem esteja mais aqui na semana que vem — disse Carlos, quase sufocado com a insistência dele.

— Acho que vai estar, sim — ele disse, inclinando-se e puxando ele para os braços e o beijando apaixonadamente .

Carlos se espantou , e quando ele foi empurrar John , ele se afastou.

— Boa noite, Carlos. Durma bem. Sonhe comigo.

Carlos estava chocado. A sua fodida vida, estava se transformado em uma fodida, novela mexicana.

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Comentários

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Eu em esse Débora e uma cobra 😡🐍🐍🐍espero que James e Carlos fiquem juntos😍😍😍

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Débora quer ferrar tanto o Carlos como o James e por tabela a Laura e Carlos com seu coração mole vai se deixar ser chantageado e humilhado por esta mulher mesquinha e amargurada com a vida, já que ela não é capaz de amar ninguém além dela mesma.

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kramba o carlos tem o que afinal um imã? todo kra se apaixona por ele lol e isso so o faz sofrer

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