Observação:
Esse capítulo tem dois narradores.
Narrador:Vitor
Dali a conversa rodou em torno da morte do Nicolas e caiu sobre o Júlio,pai do Daniel.
-Nunca mais vi o Júlio e nem quero ver.-Henrique disse com rancor após o que contei a ele.
-Você ainda não se esqueceu...-Tentei falar.
-Esquecer?...Será que você conseguiu apagar da mente o que o Julio fez naquela noite?-Ele perguntou me encarando irritado.
-Fazem tres anos Henrique!-respondi não querendo entrar naquele assunto.
-Podem fazer dez...mas o que ele fez naquela noite foi desumano,absurdo e imoral Vitor.-Ele disse enquanto batia na mesa com força.
-Você não pode contar isso pra o Daniel!Está me entendo?-Perguntei sério após ver o ódio em seus olhos.
-Minha promessa ainda tá de pé.-Ele disse após alguns minutos em silêncio,sem olhar pra mim.
-Eu tenho que ir...mas tarde passo por aqui.-Disse apos um minuto em silêncio,me levantando e indo em direção a porta.
Caminhei rápido pelo corredor e cheguei na recepção,em seguida sai para fora e entrei no meu carro que estava estacionado perto.
-Você demorou!-Laura reclamou.
Não me importei com ela e dei partida,indo em direção a escola do Júnior.Quando chegamos lá,peguei minha carteira e tirei uma quantia e entreguei a Laura.Junior pediu para ver uma das notas e pareceu facinado,depois pediu que eu abrisse a carteira.
-Tio Vitor tem muitas notinhas.-Ele disse após ver o que tinha dentro da minha carteira.
-Só que não sou milionário,muito menos rico... Agora desce senão vai perder a aula.-Disse o empurrando na direção da Laura que já tinha descido.
Laura bateu a porta e levou um baita tempo até que ela voltasse,o que me deixou bastante irritado.Dei partida e logo estávamos no hospital,aonde entramos sem falar um com outro.O dia se passou sem grandes novidades,apenas trabalho e mais trabalho.
O fim do dia chegou e eu estava estressado e sem saco pra nada e nem pra ninguém,só pensava em ir pra casa e dormir.Quando cheguei ao estacionamento vi um rapaz branco alto,de cabelos pretos e magro.
Me aproximei do carro e abri a porta do passageiro,ele entrou sem falar nada.Em seguida ocupei o lugar ao lado dele e dei partida.
-Você está bem?-Perguntei estranhando o fato dele estar calado.
-Não,briguei com a Débora.-Eduardo respondeu sério.
-Tá com essa cara de cu por isso?Deveria ficar feliz por se livrar daquele projeto de vadia.-Disse irritado tentando prestar atenção na estrada.
-Não fala assim dela!-Ela reclamou me olhando com raiva.
-Meu filho você é cego?Ela tá interessada no que eu te dei,não em você.Débora e o tipo de mulher que você mete o pau na buceta dela e vaza.-Disse impaciente.
-CALA A BOCA!-Ele gritou.
-EU SOU SEU PAI E VOCÊ ME RESPEITA!-falei enquanto dava uma freada brusca e o encarava.
Ele me olhou com os punhos cerrados e por um minuto pareceu que ele ia me dar um soco,mas apenas olhou para o outro lado.Dei partida no carro e respirei o mais fundo que pude,tinha que aprender a controlar a raiva que eu sentia a maior parte do tempo.
-Como é que diz?-Perguntei.
-Desculpe!-Ele respondeu sem olhar pra mim.
-Não ouvi!-Disse enquanto fazia uma manobra com o carro.
-Desculpa pai,eu não queria gritar com você,nem mandar você calar a boca.-Ele disse parecendo uma criança depois que faz birra e apanha.
-Tá...mas se fizer de novo,vou te por de castigo e ainda vou te dar as palmadas que esqueci de dar.-Disse sem olhar pra ele.
-Eu sou de maior pai!-Ele reclamou parecendo indignado.
-Foda-se!-Disse colocando um ponto final naquela conversar.
Uma música tocou antes que ele disse mais alguma coisa,e ele puxou o celular do bolso.
-É a Débora!-Ele disse enquanto olhava para o celular.
Sem pensar tomei o aparelho das mãos dele e atirei pela janela do meu lado que estava aberta.
-Você sabe quanto custou esse aparelho?-Ela perguntou parecendo desesperado.
-Claro,foi eu quem paguei essa porra.-respondi sem me importar.
Ele me lançou um olhar de fúria e em seguida passou para o banco de trás aonde se sentou de braços cruzados.
Após um tempo estacionei em frente a clínica do Henrique e desci,Eduardo me acompanhou sem dizer uma palavra.Andamos pela clínica e encontramos o Henrique na sala dele,Eduardo passou a minha frente e se sentou no sofá de cara feia.
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Narrador:Daniel
Fazia um tempo que estava acordado,mas não fiz questão de me levantar.Não sentia vontade para nada,nem para continuar vivendo.
Helena já tinha vindo e tentou me falar que tinha visto o corpo do Nicolas,mas a dispensei sem querer ouvir.Afonso tentou falar sobre os detalhes do enterro,mas com grosseria mandei ele ir se catar.
Me virei de um lado para o outro,mas sentia um incômodo que não conseguia explicar.Saber que o corpo do Nicolas estava ali tão perto,me causava em um momento,a vontade de vê-lo e no outro,a vontade de fugir dali.
Uma batida forte na porta me arrancou dos meus pensamentos,mas ignorei,não queria ver ninguém.
A pessoa empurrou a porta e entrou,era um homem branco,alto,muito alto e de cabelos pretos arrepiados.Seu físico era musculoso,más seu rosto não agrada,por mostrar uma expressão rígida.Seus olhos verdes sem brilho me observaram e percebi que ele procurava o que falar.Eu o conhecia de vista,já o tinha visto no meu apartamento algumas vezes e o Nicolas falava sobre ele de vez em quando,era o irmão bastardo do Nicolas.
-Você está bem?-Ele perguntou após um longo tempo me observando.
Bem?Eu tinha perdido o meu Nick e tinha que ouvir as pessoas toda hora falando disso e de como iriam enterra-lo,então como poderia estar bem?Preferi não responder e continuei calado.
-Eu...-Ele tentou falar parecendo não estar a vontade.
-Você está bem?-interrompi agora o encarando.
-Como é que é?-Ele respondeu surpreso.
-Vitor como você se sente com a morte do Nicolas?Como esta se sentindo com a morte do seu irmão?-Eu perguntei em tom acusatório,enquanto me sentava na cama.
-Bem,eu...Eu estou triste,eu acho.-Ele respondeu após um minuto em silêncio,passando as mãos pelo cabelo.
-Eu quero a verdade!-pedi sentindo uma raiva apertar a minha garganta.
Ele me olhou como tentasse entender o que eu tinha dito e em seguida se sentou ao meu lado na cama.Ele usava uma camisa branca e uma calça social preta,então começou a enrolar as mangas da camisa.
-Eu tô aliviado e grato por aquele miserável ter ido antes de mim.Se eu pudesse soltaria fogos e promoveria a maior bebedeira que essa cidade já viu,só pra mostrar o quanto estou feliz.-Ele disse sarcástico.
Cada palavra que saia de sua boca me causava um embrulho no estômago e a raiva queimou por dentro.
-Você veio aqui se vangloriar sobre o corpo dele não foi?Seu desgraçado.-Eu disse enquanto dava tapas seguidos nele.
-Sou bom demais para fazer isso.-Ele disse sem se importar.
-Eu tenho nojo de você!...SAI DAQUI...SAIII!-Gritei enquanto o empurrava.
-Não!-Ele disse sem olhar pra mim,se levantando e se encostando na parede a frente da cama.
Procurei algo pra jogar nele mas naquela droga de quarto não tinha,então me levantei e avancei nele o esmurrando,ele segurou meus pulsos e seus olhos encontraram os meus.
-Já chega com esse showzinho de quinta.-Ele disse em um tom de voz que me causou um certo arrepio.
Tentei falar algo,mas ele puxou meu braço com força e me fez deitar novamente.
-Eu vou buscar algo pra você comer!-Ele disse indo em direção a porta.
-NÃO QUERO NADA...NÃO QUERO VOCÊ AQUI,NÃO QUERO NINGUÉM ME FALANDO DE PORCARIA DE ENTERRO.NÃO QUERO FAZER VELÓRIO,NÃO QUERO O MEU NICK MORTO...EU QUERO ELE COMIGO!-Disse enquanto me levantava e virava a cama que não estava presa,de pernas pra o ar.
Sem me importar,chutei as outras coisas que havia ali e não poupei nada,so quería que tudo sentisse a mesma dor que eu estava sentindo.
Vitor saiu e logo voltou,senti seus braços em torno de mim,apertando com força e então vi um rapaz que estava de costas.Quando ele se virou percebi que segurava uma seringa.
-Quietinho!-Ele disse no meu ouvido quando tentei me debater.
-ME SOLTA SEU MISERÁVEL,ME SOLTAAA...ME...SOLTA!-Gritei tentando sair dos braços dele de qualquer maneira.
Naquele momento senti uma dormência no meu corpo,e a raiva se esvaiu como por encanto.Vitor me soltou e eu cai sentado no chão,era como se minhas forças tivesse sido sugadas.
-O que você fez comigo?-Eu perguntei deixando que lágrimas escorresem pelo meu rosto.
-É só um calmante.-Ele respondeu enquanto virava a cama e botava no lugar junto com o colchão.
O Rapaz me levantou e me ajudou a me deitar,em seguida saiu.
Eu não conseguia parar de chorar e me encolhi,abraçando a mim mesmo.Me sentia tão sozinho,tão deslocado que só conseguia chorar.
-Eu sinto muito!-Vitor disse sem nenhum pingo de emoção que demonstrasse isso.
-Mentira!...Você vivía perseguindo ele,inventando coisas falsas e provocando.Você o humilhava e mesmo assim ele tentava ser seu amigo,e você só o maltratava...Eu te odeio,odeio,odeio.-Disse com a voz embargada sem olhar pra ele.
-É incrível,eu não consigo me irritar com você,só consigo sentir pena.-Ele disse terminando de colocar o resto das coisa no lugar.
Aquelas palabras entraram como ferro em brasa na minha pele e eu me sentir pior.
-Vou trazer algo quente pra você comer.-Ele disse parecendo não estar nem aí pra mim.
-Eu não quero!-Disse chorando com mais intensidade.
-Não perguntei se você queria.-Ele disse saindo pela porta e me deixando sozinho.
Continua...
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Olá pessoal!
Perdoem a demora,mas agora vou passar a postar todos os dias e espero que gostem.
Obrigado aos que comentaram e aos que leram.
Peço que deixem seu comentário,é bom saber o que vocês estão achando e me incentivam.
Uma boa tarde a todos e até a próxima.