Obs:Este capítulo tem dois narradores.
Narrador:Daniel
Após um longo tempo,senti minhas lágrimas secarem e uma sonolência tomar conta de mim.Quando estava quase dormindo,ouvi a porta abrir e senti tapas fortes na minha perna.
A contra gosto me virei e vi o Vitor em pé com uma bandeja na mão.Me sentei e fiz cara feia pra ele,será que custava me deixar em paz?
-Come!-Ele disse colocando a bandeija ao meu lado.
-Não tô com fome,obrigado.-Disse sentindo vontade de dormir.
-Não perguntei se estava com fome,mandei comer.-Ele disse parecendo irritado.
-Eu não quero!Me deixa em paz.-reclamei sentindo meus olhos pesarem.
Seu rosto ficou mais rígido e ele respirou fundo,em seguida pegou a bandeja e sentou na cama com ela no colo.
-Abre a boca!-Ele disse enquanto pegava uma colher e mergulhava numa tigela com um líquido marrom,assoprando logo em seguida.
Surpreso,tentei falar mas ele aproveitou e empurrou a colher na minha boca.O líquido era quente e reanimou meu corpo,aquecendo e despertando o meu estômago,que nem tinha me dado conta que estava vazio.
Peguei a tigela das mãos dele e mexi rápido para que esfriasse,depois comecei a beber devagarinho sob o olhar vigilante dele.
A porta se abriu e Afonso entrou,olhando surpreso para Vitor que continuava sentado ao meu lado.
-O que você está fazendo aqui?-Ele perguntou com um tom de voz que não era amigável.
-A sopa está boa?-Vitor perguntou ignorando o que ele havia dito.
-Como você permite que esse homem entre neste quarto depois de tudo que ele fez?Depois do inferno que ele causou na vida do nosso Nicolas?-Afonso perguntou enquanto me olhava irritado,antes que eu pudesse falar.
-Quem ouve você falando desse jeito,até acredita que você gostava do Nicolas.-Vitor disse com sarcasmo.
-O que está querendo dizer com isso seu imprestável?-Afonso perguntou o encarando pelas costas.
-Eu te conheço seu pilantra safado.Pode enganar o Daniel porque ele é besta,mas a mim não.-Vitor se respondeu agora se virando para olhar pra ele.
-Você não pode falar assim com seu pai.-Reclamei me sentindo ofendido por ele ter me chamado de besta.
-Não se importe Daniel,o Vitor é um filho ingrato.-Afonso disse enquanto se virava para a janela.
-Fala como se fosse um bom pai,mas não passa de um ordinário que tinha coragem de vender o propio filho.-Vitor disse se levantando e cruzando os braços,parecendo cada vez mais irritado.
-Do que você está falando?-Eu perguntei sem entender aonde ele queria chegar.
-O Nicolas não te contou o que o Afonso o obrigava a fazer?-Vitor respondeu se virando e me encarando serio.
-Cala a sua boca,seu desgraçado maldito...bastardo de merda.-Afonso disse furioso.
-Ele obrigava o Nicolas a se prostitutuir...Você oferecia ele para os seus amigos por trocados,não é Afonso?-Vitor perguntou ignorando o que ele havia dito,enquanto dava dois passos em direção a ele.
-ISSO É MENTIRA...VOCÊ ESTÁ INVENTANDO ISSO PRA QUE O DANIEL FIQUE CONTRA MIM.-Afonso disse apontando o dedo para ele.
-VOCÊ OBRIGOU ELE A DAR O RABO PRA O DONO DO MERCADO ONDE VOCÊ TAVA DEVENDO,ISSO É MENTIRA MINHA?-Vitor perguntou cada vez mais furioso.
Afonso deu dois passos para trás mas não falou.
-O NICOLAS SÓ TINHA 12 ANOS E VOCÊ O OBRIGOU A SAIR COM AQUELE SAFADO DO ANTÔNIO,ISSO TAMBÉM É MENTIRA MINHA AFONSO?-Vitor perguntou cada vez mais próximo dele.
Afonso não respondeu e olhou para ele apavorado.
-E AQUELA VEZ QUE VOCÊ ENTREGOU O NICOLAS POR DEZ REAIS E UMA GARRAFA DE CACHAÇA PRA TRES MARGINAIS,E ELE CHEGOU NA MINHA CASA SANGRANDO,TAMBÉM É MENTIRA MINHA?-Vitor perguntou descontrolado.
Afonso estava branco como um papel,e não falou nada.Eu estava em choque com que tinha ouvido,não conseguia acreditar que ele fosse capaz de tamanha barbaridade.Afonso sempre tinha se mostrado um pai tão amoroso...não podia ser verdade.
-RESPONDE PORRA...É MENTIRA MINHA?FALA CARALHO!-Vitor disse enquanto pegava Afonso pelo pescoço e o empurrava na parede.
Eu precisava fazer alguma coisa,não podia deixar que eles brigassem.Sem pensar desci da cama e sai correndo porta a fora,dando de cara com Henrique.
-O que está acontecendo?-Ele perguntou parecendo preocupado.
-Vitor...Afonso...brigando.-respondi nervoso.
Henrique fez sinal para uma moça que estava com ele e depois entrou no quarto junto com os outros dois rapazes que o acompanhavam.
A moça se aproximou de mim e me pegou pelo braço me levando até o lado de fora,caminhamos até onde ficava a parte de trás da clínica e entramos.Ela então me levou até um daqueles quartos de hospital e saiu para buscar algo.
As palabras que eu tinha ouvido naquele quarto giravam na minha cabeça e eu não conseguia imaginar que o Afonso fosse o tipo de pessoa que o Vitor tinha acusado.
Eu não podia acreditar no Vitor,ele era cheio de mentiras e aquela era só mais uma para machucar para causar discordia.
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Narrador:Vitor
-Dá pra me soltar?Que merda!-reclamei para dois que me seguravam pelos braços.
-Podem soltar e saiam por favor.-Henrique disse com a voz estranha por estar com um pano na boca.
Eduardo e o outro rapaz me olharam desconfiados,mas me soltaram e saíram logo em seguida.
-Cade o Daniel?-Perguntei percebendo que na cama só havia o Henrique sentado.
-Ficou apavarodo e saiu no meio da briga,não viu?-Henrique respondeu sem olhar pra mim.
-Não!-respondi
-Vitor aqui não é a casa da mãe Joana,é uma clínica de respeito.Se você queria brigar,que brigasse na rua.-Henrique disse após um minuto em silêncio.
-Eu sei,desculpe!-Disse arrependido por ter pedido o controle.
-Sorte a sua que foi aqui e não na parte de dentro da clinkca.-Ele disse irritado,enquanto ia em direção a porta.
Respirei fundo e em seguida o acompanhei.Logo chegamos a sala dele e me joguei numa cadeira e fechei os olhos.
-Vitor?-Henrique chamou.
Me sentei e olhei para ele que estava em pé ao meu lado,antes que pudesse falar algo ele me deu um soco no meio da cara.
-Perdeu o Juízo?-Perguntei depois de cuspir e ver que era sangue.
-Estou lhe devolvendo o soco que me deu.-ele respondeu voltando ao lugar dele.
-Nossa que soco fraco...Aprende a bater que homem seu viado.-disse enquanto o encarava.
-Vai a merda,pau no cu.-Ele disse colocando pressionando o pano contra a boca.
-Engoliu porra foi?Quer levar outro soco seu baitola?-perguntei agora o encarando.
Nós nos encaramos por um minuto e em seguida demos uma gargalhada juntos,como fazia tempos que não davamos.
-Vou ver como o Daniel esta.-Disse depois de me acalmar.
-Não quer saber do Afonso?-Ele perguntou em voz baixa.
-Não!-respondi indo em direção a porta.
Eduardo entrou e me olhou preocupado,mas passei por ele e fechei a porta.
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Narrador:Daniel
Me ajeitei melhor na cama e tentei dormir,estava mais tranquilo,só me sentia um pouco preocupado com o Afonso.Ouvi a porta se abrir e me sentei rápidamente,era o Vitor.
-Você tá legal?-Ele perguntou parecendo pouco a vontade.
-Sim!-respondi baixinho.
-Não tenha medo,eu não vou machucar você.-Ele disse enquanto se aproximava devagar.
-Cadê o Afonso?-perguntei
-Eu não sei.-Ele respondeu se sentando na cama.
As palavras que ele tinha dito ainda estavam me pertubando e decidi falar com ele.
-O que você disse no outro quarto,sabe?...Não pode ser verdade,o Afonso amava o Nicolas.-Eu disse mais para mim do que pra ele.
-Daniel é tudo teatro,apenas a interpretação de um bom ator.-Ele disse em voz baixa.
-Mas...-tentei falar sem entender bem o que ele havia dito.
-Daniel você conheceu eles a um ano,eu conheço a quase onze...O Afonso não presta,é um vagabundo que nunca gostou de trabalhar e faz tudo por uma vida boa...E ele não amava o Nicolas,até duvidava que era mesmo o pai dele,porque a Helena era mais rodada que pastel na feira.-Ele interrompeu parecendo impaciente.
-Eu e o Nicolas não tínhamos segredos,se isso fosse verdade ele contaria pra mim.-Eu argumentei.
-O que você estava vivendo não era real,era uma mentira criada pelo Nicolas.-Ele disse agora se levantando.
-Você é que está querendo encher minha cabeça com as suas mentiras.-Disse com os olhos cheios d'água.
-Eu odeio viado,não há coisa mais nojenta no mundo do que isso.Mas de você,eu só consigo ter pena.-Ele disse enquanto me encarava com a mão na maçaneta da porta.
Quando ele abriu dona Helena entrou e o encarou irritada.
-O que você fez com seu pai?-Ela perguntou com as mãos na cintura.
-Não dei nem metade da surra que ele estava merecendo.-Vitor respondeu -Como tem a coragem de falar assim com seu pai?Nunca aprendeu a ter respeito seu desgraçado nojento?-Ela perguntou o olhando horrorizada.
-Quando deitava na minha cama,me xingava de outras coisas.-Vitor disse com sarcasmo.
Helena deu dois passos pra trás e disse:
-Me respeite seu muleque!
-Agora sou muleque,um desgraçado,mas quando morávamos la na vila cansou de abrir as pernas pra mim,não é sua piranha?-Ele perguntou com um sorriso cínico.
-VAI EMBORA VITOR!-eu disse sem suportar vê ele tratando alguém tão bondosa como ela daquele jeito.
-Meus parabéns,você tem um belo par de sogros...O Vigarista e a Vagabunda.-Ele disse com sarcasmo ainda a olhando e em seguida saiu.
Desci da cama e fui até ela,em seguida a ajudei se sentar em uma cadeira que havia ali e segurei sua mão.
-Não de oportunidade para que ele se aproxime de você Daniel...Vitor e cheio de mentiras e armadilhas,vai acabar fazendo você sofrer.-Dona Helena disse após uns minutos em silêncio.
Continua...
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Olá pessoal...
Obrigado pelos comentários,que bom que estão gostando.Espero que este capítulo agrade a voces.
Deixem seus comentários por favor,isso me incentiva muito a continuar.
Obrigado a todos que leram e até a próxima!