Quero agradecer a todos que estão acompanhando a história. Recebi alguns emails e estou muito feliz com a repercussão. Realmente quase não se encontram romances onde o protagonista é uma pessoa gordinha, então espero que curtam esse romance escrevo com tanto prazer. O conto é semana, mas como muitas pessoas gostaram do primeiro capítulo decidi postar o segundo agora. O terceiro será postado apenas no Sábado (6), a noite. Obrigado pela atenção.
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Queridos Pai e Mãe,
Então, nossa primeira semana foi agitada aqui em Manaus. Desculpem, o Richard quase se machucou e a culpa foi minha. Depois da confusão no banheiro, a Tia Olívia redobrou o cuidado conosco. Ela cogitou até mesmo contratar uma babá. Graças a Deus, que nos 45 minutos do último tempo, ela desistiu da ideia.
***
Obras e mudanças dentro da casa se tornaram a palavra de ordem. A imobiliária mandou uma equipe para reformar as coisas maiores. Ainda bem que foi rápido, eu não aguentaria mais uma semana.
— Tia. — falei fazendo uma cara de tédio e ouvindo os sons dos grilos que vinham de fora.
— Oi? — ela perguntou sem tirar os olhos das planilhas e documentos.
— Podemos ir ao Centro da cidade? Estamos morfando aqui dentro.
— Hoje à tarde. — disse titia. — Deixa os funcionários da imobiliária irem embora.
— Tudo bem.
Sem TV a Cabo e internet, o que três menores podem fazer nessa situação? Comecei a ouvir música, no caso, "House of Cards", do Radiohead. Olhei para o lado e vi algumas coisas velhas nos fundos da casa. Decidi aproveitar uns móveis antigos que haviam e reformar para usar no meu quarto.
Sempre fui bom com marcenaria e reformar coisas usadas. A minha tia sempre utilizava os meus dons de arrumar coisas. Percebi que não haviam instrumentos necessários para trabalhar. Fui atrás de uma loja de material de construção, por um milagre de Deus o sol não estava tão forte. No caminho, esbarrei com Letícia.
Que garota bonita. Ela tem o perfil das mulheres de Manaus. Morena, cabelos longos e lisos, rosto afilado e olhos castanhos. Letícia usava um vestido provocante, mas tentei não ser tão indiscreto.
— Desculpa por acertar a bola em você. — ela se desculpou pela segunda vez.
— Relaxa. Eu estou acostumado. Afinal, sou um alvo muito grande para ser ignorado. — tentei levar na boa e consegui tirar um riso abafado da Letícia.
— E você está indo comprar o quê?
— Pregos, tintas e alguns materiais para reformar uns móveis que o antigo dono da nossa casa deixou. — expliquei caminhando ao lado dela.
— Ah, bacana.
— E você? Toda arrumada... — parei de falar ao perceber que estava sendo indiscreto.
— Vou para uma agência de modelos. Coisa da minha mãe. Ela gosta que eu tenha uma atividade fora jogar futebol com os meninos. — dessa vez, foi a vez dela de se explicar.
Que conversa legal. A Letícia me informou onde existia uma loja de material de construção próxima. Ela também falou sobre alguns pequenos trabalhos que fez no universo da moda. Infelizmente, a Letícia precisou ficar na parada de ônibus.
Nota mental, no Rio de Janeiro, chamamos de ponto de ônibus. Já em Manaus, o nome é parada. Expliquei a diferença para Letícia, ela não sabia. Mas achei legal essa diferença.
— Ei, Yuri. Hoje vamos nos reunir no Fred's. — convidou Letícia.
— Fred's? — questionei.
— Aquela lanchonete vermelha. — ela disse apontado para uma lanchonete com um letreiro escrito "Fred's".
— Claro que horas?
— Umas 19h. Vai lá. A galera vai se reunir.
— Tudo bem. — falei me despedindo dela.
Letícia era linda, mas um pouco rústica. Com treino e prática ela se tornaria uma ótima modelo. Será que ela e o Zedu se pegavam? Por que, eu estava pensando no Zedu? Ele também é um cara bonito e rústico. Uma pele bronzeada que lembrava a dos garotos do Rio de Janeiro.
Voltei com às compras e para a minha surpresa o Zedu estava me esperando. “Tá, Yuri. Segura a onda”, pensei. Na verdade, o meu desejo era pular naquele pescoço gostoso e devorá-lo sem piedade. Em seguida, volto para a realidade, porquê o meu Deus grego chamava.
— Vamos apagar qual incêndio hoje? — ele perguntou escorado no muro de casa.
— O incêndio no sol dessa cidade. Sério, Manaus deve ter um sol só pra ela. — falei abrindo a porta.
— Na verdade, um sol para cada habitante. — Zedu riu sozinho de sua piada.
— Eu percebi. — soltei.
— Qual a missão de hoje? — ele perguntou pulando a mureta.
— Transformar uma mesa e armário em coisas apresentáveis. — expliquei.
— Vamos lá.
Passamos uma tarde agradável. O Zedu era muito prestativo. Um cara do bem e parecia bem diferente das pessoas com o estilo dele. No Rio de Janeiro, por exemplo, alguém como o Zedu nunca se aproximaria de mim. A minha tia estava feliz, pois, eu havia conseguido um amigo.
— Viu, Giovanna? O teu irmão já está fazendo amigos. — ressaltou tia Olívia observando a gente trabalhar.
— Titia. Olhe para mim? Olha para as meninas dessa rua? Pelo amor de Deus. Tem uma diferença muito grande. Quando eu começar na escola nova…
— Giovanna. Não vá fazer como na outra escola e….
— Titia. Não tenho culpa se a Michelle caiu da escada e quebrou o pé. Alguém tinha que ser a Rainha do Baile de Outono.
A minha irmã era, na verdade, um projeto de Abelha Rainha. Na escola, ela conseguiu desbancar as veteranas no cargo, mas acabou fazendo besteira e quase matou uma colega de classe. A situação ficou tão feia que quase rendeu um processo para a titia. A Giovanna foi a menina mais nova a prestar serviço comunitário no Brasil. Quer dizer…
RIO DE JANEIRO - UM ANO ATRÁS
— Eu já disse que não vou pegar nessa sacola suja. Gabrielzinho, junta pra mim. — pediu minha irmã toda manhosa para um colega de serviço comunitário.
— Eu não...
— Puxa. — ela se aproximou de Gabriel e fez seu drama básico. – Eu estou tão cansada.
— Tá bom.
MANAUS – DIAS ATUAIS
É tão bom conhecer pessoas novas. Enquanto, a gente trabalhava procurava conhecer mais sobre o Zedu. Fiquei fascinado com alguns fatos sobre ele. Como, por exemplo:
- Irmão mais novo;
- Tinha dois irmãos mais velhos;
- Adora qualquer tipo de esporte;
- Já quebrou o braço;
- Nunca terminou de ler um livro;
- Está no primeiro ano do ensino médio;
- Pintou os cabelos de loiro, mas não deu muito certo;
O tempo passou tão rápido que nem percebemos. O sol começou a se pôr e várias aves começaram a sobrevoar nossa casa. De acordo com Zedu, eram Araras. Esses pássaros são conhecidos por ter o mesmo parceiro para o resto da vida.
Os móveis ficaram maravilhosos. Pintamos a mesa de azul e o armário de branco. O Zedu arrumou o que estava quebrado. Colocamos em uma parte protegida para secar e sentamos no chão. Não queria que o dia acabasse, mas tudo pode melhorar.
— Nossa. Tô imundo. Posso me molhar na mangueira? — ele perguntou tirando a camiseta.
— Cla… cla… — não conseguia falar, apenas sentir.
Ele era perfeito. Filho da mãe. Fazer isso perto de mim, porquê? Na minha imaginação, eu pulava em cima dele e beijava cada parte perfeita daquele corpo. Chupava o pescoço, os mamilos e tudo mais. Como minha cabeça viaja em sonhos impossíveis.
— Você não vem? — ele pergunta jogando água na minha direção.
— Não. Tá quase na hora de tomar banho, então…
Titia acabou com o clima. Ela trouxe uma bandeja de sanduíches e suco. Que merda. Odeio comer na frente dos outros, principalmente, dos crushes. Sentamos no chão e começamos a lanchar. O Zedu estava todo molhadinho, e eu tentava fingir costume com aquela situação.
— Zedu. Você gostaria de nos acompanhar no Centro amanhã? — titia perguntou escorada na porta do quintal.
— Não, tia. Ele não pode ir. Deve ter mais coisas para fazer e… — tentei evitar, mas o Zedu foi mais rápido.
— Eu adoraria. — ele respondeu todo educado. Nossa que vontade de socar esse garoto.
— Graças a Deus. Não sei andar aqui ainda. Só um minutinho. GIOVANNA!!!! RICHARD!!! ESTOU ATRASADA!!!!!!! Então, pois é, eu não sei andar em nada.
— Credo tia. Não estamos surdos. — saindo de casa com um guarda-chuva na mão e entrando no carro. — Tá impossível de ficar nesse veículo. Essa cidade é um crime contra a chapinha!
— Olha, Giovanna. — titia reclamou, mas entrou no carro para ligar o ar-condicionado. — Já princesa. RICHARD!!! NÃO VOU CHAMAR DUAS VEZES!!!!
— Ela grita alto, hein. — Zedu comentou rindo.
— Pois é. Você se acostuma. Nem tímpanos eu tenho mais.
Falei para o Zedu sobre o convite feito por Letícia. Ele garantiu que seria legal conhecer a turma na lanchonete. No meu quarto, os móveis ficaram lindos e posicionei em um lugar estratégico. Reformar era uma forma de desestressar, sabe, colocar a energia em alguma coisa.
A imagem do Zedu se molhando na mangueira continuava a orbitar na minha cabeça. Infelizmente, lembrei do meu. Um corpo peludo, branquelo e sem qualquer atrativo. Mesmo se o Zedu fosse gay, não teria chance nenhuma.
Sou um cara básico. Meu estilo é camiseta preta e calça jeans. A galera aparentava ser legal, pelo menos, o Zedu e Letícia. Por isso, queria causar uma boa impressão. Pela primeira vez, eu tinha uma chance real de ter amigos e não inventar amizades para alegrar a minha tia. Algo de bom que Manaus me trouxe.
Cheguei pontualmente às 19h. Eles já estavam lá. Sentei e fiquei apenas observando, afinal, o que mais pode-se fazer em um ambiente completamente novo? Eles eram legais, falaram coisas sobre a cidade, algumas informações úteis como ter cuidado com os motoqueiros e os melhores lugares para comer. Não consegui uma conexão boa com o Brutus, ele é totalmente diferente de mim, bonito, mas um pouco tapado.
— E as gatinhas cariocas, Yuri? Tinha muitas namoradas? — perguntou Brutos, antes de tomar um gole de refrigerante.
— Idiota. — disse Zedu jogando um guardanapo amassado na direção do amigo.
— Eu quero saber oras. — se defendeu Brutus.
Como poderia definir o Brutus? Um corpo maravilhoso. Tá, sei que é errado pensar desse jeito, só que é a pura verdade. Ele começou a malhar aos 15 anos e passou a ganhar bastante massa muscular. Seus braços são grandes e tem veias saltadas. Sua camiseta parece que vai rasgar de tão apertada que está.
Ramona: - Credo, garoto. Só pensa nisso. Não se preocupa, Yuri. Tem momentos que ele presta. — disse Ramona sorrindo.
A Ramona é uma garota baixinha e com os cabelos encaracolados. Ela usa bastante creme, pois, o ventilador do lanche está atrás dela e recebo toda a fragrância de morangos silvestres no rosto.
— Somos disfuncionais, mas funcionamos bem. — garantiu Letícia pegando na minha mão e sorrindo.
— Falando em disfuncional, o meu aniversário é nessa semana e tenho uma ótima notícia.
— Você ganhou na loteria? — perguntou Zedu.
— Melhor. O meu pai vai nos levar para Presidente Figueiredo. — anunciou Ramona levantando os braços.
De repente, aquilo virou uma comemoração coletiva. Fiquei no vácuo, porém, o Zedu explicou que se tratava de um passeio para uma cidade conhecida por suas belas cachoeiras. A Ramona acabou me convidando também. Achei legal a atitude dela.
— Vai ser perfeito para você conhecer um pouco mais do Amazonas. — afirmou Ramona toda sorridente.
— Claro, quer dizer, vou falar com a minha tia.
— Tenho certeza que ela vai deixar, grandão. Não conheço a sua tia, mas o pouco que o Zedu falou fez ela parecer alguém legal. — assegurou Brutus.
— Espero. Estou tão ansioso para conhecer mais daqui. — tive que mentir, pois, o fato de ir para uma cachoeira me deixava aterrorizado.
Droga. Eu ia para uma cachoeira, ou seja, as pessoas tomam banho na cachoeira com suas sungas e biquínis atraentes. Acho que a última vez que fiquei sem blusa na frente de alguém foi antes do acidente dos meus pais no aniversário de um primo. Após uma noite legal e cheia de amizades novas, tive que ir para casa.
Encontrei a titia assistindo uma série na TV da sala. Ela baixou vários filmes no trabalho e conectou o notebook na televisão. Sentei ao lado dela e curti um pouco do filme. Acabei comentando sobre a viagem para Presidente Figueiredo e o convite que recebi. Para a minha surpresa, a tia Olívia achou uma ótima ideia viajar com pessoas da minha idade.
— Mas, tia, não quero preocupar a senhora. Se eu não puder ir prometo que vou entender. — usei a máscara do adolescente compreensível.
— O pai da tua amiga vai? — ela perguntou tirando os óculos e olhando para mim.
— Sim.
— Então, você pode ir.
Droga. Traidora. Eu ficaria sem camisa na frente do Zedu. E agora? O que eu vou fazer? Não posso. Será que eu consigo emagrecer 30 quilos em quatro dias? Para de viajar, Yuri. Droga. Eu posso dizer para eles que sou evangélico e, por causa da religião, não posso ficar sem blusa.
Os dias passaram voando, e em vez de fazer dieta, eu comi dobrado. Estava nervoso. Não tive culpa. O dia da viagem chegou, minha tia fez um café reforçado e me levou ao ponto de encontro. A galera parecia muito feliz, eu pelo outro lado, queria morrer. O pai da Ramona era legal. Um coroa bonito até, ele era divorciado e tinha o tempo livre para fazer os caprichos da filha.
A gente viajaria em uma kombi branca. Segundo Ramona, o xodó do seu pai. Coloquei minha mala na parte traseira. Cumprimentei meus novos amigos e entrei no veículo. Sentei ao lado do Zedu. Ele vestia uma camiseta sem manga e um short do flamengo. Eu por outro lado, optei em usar uma camisa branca e uma bermuda preta.
— Seu Walter, obrigada por cuidar do meu sobrinho esse final de semana. — cumprimentando o pai de Ramona.
— De nada. Qualquer amigo da minha bebê é bem-vindo. Vamos lá? — ele perguntou batendo na carroceria da Kombi.
Minha primeira viagem no Amazonas. Será que encontraria algum animal selvagem? Ou algum índio? Estava tão nervoso, que comecei a pensar besteira, principalmente, quando lembrava que ficaria sem camisa na frente daquelas pessoas.
Apesar de legais, todos eram estranhos para mim. Ainda tinha um tempo para pensar em um plano. Paramos para tomar café em um restaurante muito bonito. Comi tapioca com queijo e banana frita. (Nota mental: lembrar de acrescentar leite condensado. Deve ficar mais gostoso ainda).
— Está gostando Yuri? — perguntou seu Walter tentando tirar uma foto nossa do celular.
— Sim. É um lugar adorável. A comida também está ótima. Obrigado, tio. — agradeci pela gentileza.
— Você precisa ver as cachoeiras. Vai amar. São lindas. — ele ressaltou, ainda concentrado na missão de tirar fotos nossas.
— Será que não é perigoso? Tipo, aparecer um animal, como uma cobra, onça ou jacaré? — questionei, mas só depois me toquei da pergunta idiota que fiz.
Todos riram da minha pergunta, mas acabei disfarçando e rindo com eles. Só que o pai da Ramona não descartou a ideia de encontrarmos um animal selvagem e pediu cautela de todos. Ok, acho que não devo me preocupar, né? Espero que não.
Seguimos viagem. E, depois de alguns minutos, finalmente chegamos em Presidente Figueiredo. No roteiro estavam cinco cachoeiras: Iracema, Pedra Furada, Onça, Santuário e Maroaga. Eu não sou o tipo de pessoa que gosta de me aventurar, por isso, depois que desci do carro passei protetor solar e bastante repelente. Fiquei mais branco do que eu já sou.
Caramba, o Brutus e Zedu já tiraram suas camisetas no estacionamento. As meninas tiveram que trocar de roupa dentro da Kombi. Seguimos em rumo à primeira cachoeira. Senhor, como é quente dentro da floresta. Estava derretendo, me senti a bruxa de "O Mágico de Oz", mas ao invés da água, a Dorothy a jogou dentro da floresta amazônica.
Tive muitas dificuldades, mas quase solto um palavrão quando eu vejo um obstáculo. Era uma pedra gigante que alguém teve a ideia de escavar uma escada. Fiquei apreensivo ao passar. Senhor, porquê não fiz uma dieta?
— Pode vir, Yuri. — pediu seu Walter passando na frente. — Quer ajuda?
— Estou bem. — falei passando com dificuldade pela rachadura na pedra. — Consegui. — comemorei soltando um riso abafado.
— Muito bem grandão. Só tira essa aranha do seu ombro. — alertou Zedu passando por mim.
— Credo. — soltei dando tapinhas no meu ombro.
O Zedu e Brutus estavam suadinhos. Jesus. Que visão era aquela. Nunca havia reparado em como o Brutus é gostoso. Deve ser por causa da burrice dele que tira todo o charme. Dava para contar cada gominho e músculo daquele corpo.
O 'meu' Zedu não ficava para trás, ele era menor que o Brutus, mas não significava que era menos bonito. O Brutus na verdade era gostoso e não bonito.
— Vamos. — disse Letícia me tirando do delírio.
— Claro. Claro.
Os garotos foram os primeiros a pularem na água. Seu Walter até subiu em uma árvore e saltou. As meninas passaram seus produtos de beleza, pois, queriam ganhar uma marquinha de sol. Eu não tinha um corpo bonito igual ao Brutos e nem a beleza do Zedu. Peguei o meu kindle, arrumei uma cadeira e fiquei lendo.
— Você não vem? — quis saber Ramona.
— Daqui a pouco. É que meu corpo ainda tá quente. — usei a primeira desculpa que veio na cabeça.
— Letícia, a última que chegar na água é mulher do Brutus. — desafiou Ramona correndo na direção da água.
— Deus me livre!!!!
O lugar era realmente lindo, mas estava muito quente e a minha camisa estava ensopada de suor. Ainda bem que trouxe umas cinco na mochila. Era divertido ver o meu novo grupo de amigos, na verdade, eles eram os primeiros. Nunca fui muito popular na escola, ainda mais quando eu mesmo me fechava para novas amizades. Minha tia se preocupava com esse meu lado que costumava se sabotar.
— Ei, Rio de Janeiro? A gente não te trouxe lá de Manaus para você ficar sentado e lendo Paulo Coelho. — falou Zedo balançando os cabelos na minha direção e um pouco de água cai sobre mim.
— Estou indo. — disse me levantando e deixando o kindle na mochila.
— Você não vai tirar a blusa? — ele perguntou.
— Eu não sei. Tem muita gente e...
— Você tá com vergonha? — ele questionou rindo. — Para de ser assim. Olha. — apontando para frente — Aquele homem deve ter uns 200 quilos e tirou a camisa na boa. Você não deveria se importar com a opinião das pessoas.
— Você diz isso porque é gostoso. — balbuciei baixo.
— Você disse algo?
— Falei que vou tirar. — tirando a camisa, dobrando e deixando próximo da minha mochila.
— Quem chegar por último é mulher do Brutus! — Zedu gritou correndo e se jogando na água.
— Até que não seria uma má ideia. — pensei.
Você já fez algo que se arrependeu muito? Eu já. Pulei na água de uma vez só. Puta merda! Pareciam mil facas furando o meu corpo. Como um lugar tão abafado pode ter uma água tão fria? Todos riram da minha reação. Mas, em relação ao meu corpo, não vi ninguém comentando ou olhando. Só o Zedu, porém, acho que foi por causa da nossa conversa. Ele acabou se afastando e resolveu subir no alto da cachoeira.
As meninas chegaram perto de mim e começaram a fazer mil perguntas. Contei sobre os meus pais que morreram, o motivo de vir morar no Amazonas, a minha antiga escola e sobre minhas namoradas, ou seja, nenhuma. Elas também falaram sobre sua amizade.
O primeiro a chegar na rua foi Zedu. Ele fez amizade com o Brutus ainda no ensino fundamental. Depois foi a vez de Ramona chegar, entretanto, ela só se aproimou dos garotos quando Letícia mudou. No fim das contas, eles passaram a frequentar o mesmo colégio e a amizade fortaleceu com os anos.
— Acho legal a amizade de vocês. Por causa das mudanças (e da minha falta de habilidades sociais), acabei fazendo nenhum amigo. Depois meus pais morreram, então, me fechei um pouco mais — confessei para as duas.
— Deve ter sido difícil perder sua família, né? — perguntou Ramona, fazendo uma expressão de pena.
— É uma dor que não diminui. Mesmo com toda a distância. — minha linha de raciocínio foi quebrada quando Zedu foi jogando na nossa direção.
— Trouxe o fugitivo! — gritou Brutus orgulhoso.
Rimos bastante daquela cena. Zedu emergiu e balançou a cabeça em nossa direção. As gotículas de água atingiram a todos. Infelizmente, o pai de Ramona chamou nossa atenção. Era a hora de desbravar outra cachoeira.
— Esperem! — Ramona pediu saindo da água para pegar o celular. – Vamos tirar nossa selfie um. — correndo com cuidado para não deixar o aparelho cair dentro d'água.
***
Brutus: (mostrando os músculos)
Ramona: (fazendo duque face e piscando)
Letícia: (perfil e arrumando os óculos escuros)
Zedu: (colocando os braços em volta de Yuri)
Yuri: (vermelho de vergonha e sorrindo)
***
A primeira selfie com amigos que tirei na vida. Não queria esquecer daquele momento, para a galera era apenas um foto, entretanto, para mim, de alguma maneira, significava uma mudança, uma boa mudança. Seguimos para as outras cachoeiras, todas lindas. O Amazonas era realmente um lugar maravilhoso. Assistimos ao pôr do sol em cima de uma grande rocha. Parecia um sonho.
Aquele dia ficou marcado na minha vida e no meu corpo. Mesmo passando protetor solar fiquei todo vermelho e ardido. No caminho de volta acabei adormecendo, acordei com a cabeça no ombro do Zedu, ele também adormeceu por causa do cansaço. Sério. Foi muito perfeito.
Quando chegamos, o seu Wilson pagou uma pizza de 70 cm. Fiz o educado e comi apenas cinco fatias. A casa da Ramona não ficava muito longe da minha, então, ficamos conversando por um bom tempo. Era legal se sentir incluído dentro de um grupo, apesar de não entender algumas piadas internas.
Ramona pediu minhas redes sociais para marcar meu nome nas fotos. Eles ficaram surpresos quando expliquei que não usava elas. Nunca fui de expor nada na internet, na real, achava uma perda de tempo. Confesso que já tentei criar um blog, porém, escrevi apenas um texto e apaguei em seguida.
— Passa o teu e-mail. Te encaminho as fotos hoje. — ela pediu me entregando o celular.
— Claro. — falei anotando o email. — Gente. Só queria agradecer a todos vocês. Hoje foi um dia incrível. — entregando o celular para Ramona.
Segui caminho com o Zedo, a casa dele era antes da minha. Fomos conversando sobre várias coisas, principalmente, a respeito da minha primeira experiência nas cachoeiras do Amazonas. Conversar com o Zedu era fácil, não precisava usar filtros, ele conseguia entender muito de mim. Algo que era fascinante e assustador.
— Quero te agradecer pelo conselho de hoje. É que pra mim ainda é difícil. — criei coragem e agradeci ao Zedu pela ajuda na cachoeira.
— Não se preocupa. Somos amigos, né? — Zedu pegou no meu ombro e tremi todo.
— Sim. Somos.
— Firmeza. Ah, essa é minha casa. — apontando para uma residência de dois pisos. — A gente se encontra amanhã?
— Sim. Quero conhecer mais a cidade. — soltei ansioso.
— Vamos te levar no Teatro Amazonas. Bem, Yuri, tenha uma ótima noite. Até mais. — ele desejou entrando na casa.
Respirei fundo e lembrei de todos os momentos que vivi naquele domingo mágico. Ainda mais no momento em que dormi no ombro do Zedu. Acho que nunca mais vou lavar o lado direito do meu rosto. Faltavam poucos metros para chegar em casa, quando um motoqueiro chega perto de mim e canta pneu.
Acelero e passo e o motoqueiro volta. Ele soube na calçada e fica acelerando sem sair do lugar. Meu coração começa a palpitar forte e tenho vontade de gritar. Que droga. Vou ser assaltado?
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