No momento eu estava acordando, era um dia cheio, porém muitos dias estavam sendo cheios para mim a mais ou menos 1 mês.
Minha vida de repente virou de cabeça para baixo, tive que regressar as pressas de Nova York, isso não seria problema nenhum, pois já voltaria mesmo... Fui estudar, me preparar, porém não voltei porque estava na hora certa, ou porque queria voltar para casa, voltei porque perdi meu pai em um acidente de carro.
A um mês estava voltando para enterrar meu pai e foi o que fiz. Também reencontrei Mauricio, meu melhor amigo, na verdade era como um irmão me ajudou a enfrentar tudo com garra e depois de 1 mês já estava mais conformado, na realidade para mim era mais fácil pois já passei por coisa semelhante quando tinha apenas 16 anos perdi minha mãe que no auge dos seus 34 anos teve um derrame fatal.
Voltando ao início, estava acordando na mansão enorme na qual cresci, escovei os dentes e desci dando de cara com Maurício.
-- Lendo o jornal?
-- Sim e mais uma vez saiu notícias da morte do seu pai. -- Falou e depois pegou a caneca e tomou um pouco do café.
-- Novidade? Já não aguento mais.
-- Calma Bryan, você sabe muito bem que isso iria acontecer, vocês são uma das famílias mais poderosas do país.
Sentei ao lado dele no balcão da cozinha e coloquei café para mim, conversamos mais um pouco.
Mauricio era de família pobre, estudou na mesma escola que eu no colegial porque conseguiu uma bolsa com mérito e foi uma das melhores pessoas que já conheci. Honesto, nobre e sério.
Depois de tomar o café da manhã me despedi da Bernadete que acabara de chegar, era governanta e a conhecia desde que me entendo por gente, era como uma avó para mim.
No momento saíamos, ia para o hospital que meu pai administrava, ele construiu e deu o nome da minha mãe “Victoria Vasconcellos Lafaiete”, o Lafaiete é do meu pai, pois tem descendência francesa.
Estava saindo do meu carro quando vi na rua um garoto saindo de um carro acompanhado de um segurança, entrou no shopping que ficava em frente.
-- Nossa, que garoto lindo – Falei para Mauricio que estava ao meu lado.
Ele olhou também.
-- O filho menor dos Bittencourt, não me admira você ter notado ele!
-- Como assim?
-- Esse é o garoto mais admirado, todos miram nele, mas nunca são aprovados pela família, o pai dele sempre manda uma resposta com um não.
-- Aqui no nosso meio ainda tem esse lance de “casamento arranjado”? Que ultrapassado!
-- Você sabe que sim e sabe muito bem o porquê, nenhuma família de renome vai querer ver seu herdeiro casando com um pobretão! E também tem que haver interesse dos herdeiros, logo não é a força.
-- Voltando o assunto, e porque ele é tão admirado assim?
-- Você viu o garoto? Ele é perfeito, A cidade toda fala nele. "O garoto mistério".
Eu ri.
-- Como assim mistério?
-- Ele não sai, não frequenta ambientes sociais ou escolas. Estudou em casa, toca vários instrumentos e é simplesmente lindo.
Eu e Mauricio somos bissexuais desde a adolescência.
E lá vem ele novamente com sacolas na mão, antes de entrar no carro olhou diretamente para mim por uma parcela de segundos e senti meu coração acelerar. Seus olhos verdes olhando nos meus me hipnotizaram e não sabia como reagir perante a isso.
-- Bryan?
Acordei do meu transe.
-- Sim, sim vamos.
Os dias se passavam e simplesmente não conseguia esquecê-lo. O via sempre andando pela cidade, porém apenas passeios rápidos e sempre acompanhado... por exemplo: Dentista, supermercado, comprar algo no shopping etc. Era muito estranho, o via de longe e rapidamente, porém não conseguia esquecê-lo.
Estava no notebook do meu pai, precisava saber de tudo sobre o hospital, entrei no seu e-mail e tive um choque, ele tinha o contato do Sr. Bittencourt, olhei por um instante...
Pensei em uma loucura...
Comecei a digitar, as palavras simplesmente saíam dos meus dedos:
“Caro Sr. Bittencourt, sou Bryan Lafaiete, desculpe o incômodo, porém gostaria de expressar meu total interesse em conhecer melhor seu filho Benjamim, não quero ser desrespeitoso por eu mesmo está enviando este e-mail pelo meu pai, porém o senhor sabe que ele não poderia e mesmo se pudesse já tenho idade suficiente para tomar minhas próprias decisões. Espero uma resposta. “
Passei um tempo encarando a tela e apertei em enviar. Já era, estava feito!
No dia seguinte...
-- Você fez o quê? -- Mauricio levantou exaltado. -– VOCÊ PERDEU A CABEÇA?
Gritou.
-- Calma!
-- Como calma? Você tem noção que praticamente pediu o garoto em noivado ao pai dele, não?
-- Só pedi para conhecê-lo melhor!
-- Ai Bryan, você passou todos esses anos fora e parece que esqueceu como as coisas funcionam aqui.
-- Não seja exagerado!
-- Exagerado? Vamos ver. Diferente de você vivi minha vida toda aqui e sei como funciona!
Falava com ele enquanto mexia no notebook, entrei no e-mail e dei um pulo quando avistei sua resposta.
-- Oh meu Deus! -- Exclamei.
-- O que foi?
-- Ele me enviou uma resposta.
-- O que tem na resposta?
-- O número do telefone, pediu que o chamasse.
-- Você não vai fazer não é?
-- Claro que vou!
Peguei meu iPhone rápido e disquei o número, coloquei na minha orelha e ouvi chamar...
Mauricio me olhava com indignação.
Em poucos minutos ele atendeu...
-- Sr. Bittencourt?
-- Sim?
-- É o Bryan...
Antes que falasse meu sobrenome ele me interrompeu.
-- Garoto eu sinto muito pelo seu pai, não pude ir no enterro, mil perdões, mas foi muito doloroso perder um amigo tão querido.
Não sabia o que responder, simplesmente não tinha ideia da amizade dos dois.
-- Seu pai era um grande amigo Bryan, nos conhecemos quando você já tinha ido.
-- Que surpresa Senhor, eu não sabia.
-- Me chame de Bruno, por favor. Eu não acreditei quando vi seu e-mail, muitos garotos tem interesse no meu filho, mas você foi uma surpresa, pois sempre seu pai e eu brincávamos que seria ótimo casar nossos filhos.
É, o Mauricio tem razão, e lá estava eu, falando em casamento com o pai do meu "pretendente".
-- Quer mesmo conhecer o meu filho?
-- Sim, gostaria muito.
Era involuntário, as palavras apenas saíam da minha boca, simplesmente não parava de pensar nele.
-- Ótimo, esse fim de semana vou dá uma festa, venha e conhecerá meu filho.
-- Irei, pode ter certeza.
Olhei sorrindo para Mauricio e ele fez cara de negação, como se estivesse fazendo a maior burrada da minha vida.
Será que estava mesmo?
A semana passou voando, e logo o fim de semana chegou. A festa seria no sábado, as 8 horas.
-- Ainda dá tempo de desistir.
-- Não mesmo. – Falei sorrindo.
Descemos do carro e entramos pelo grande portão, passamos pelo jardim e um dos mordomos nos levou para dentro do grande salão de festas.
Os dias que passei desde que tive a conversa com o pai dele, passei pesquisando sobre a família, que era bem discreta por sinal, nada de escândalos, de serem vistos em boates, bares, nada. Ou viviam na rotina de sempre ou viajavam para o exterior.
Logo seu pai veio me atender.
-- Olá garoto? -- Me abraçou.
-- Olá senhor.
-- Deve está sendo difícil para você passar pela perda do seu pai, mas espero que consiga constituir sua própria família e que esta seja com o meu filho. Sério Bryan, adorava seu pai e seria um privilégio tê-lo na família.
Sorri para ele.
Sem querer ele tocou na ferida. Bem, não havia pensado por este lado, estava só no mundo, meus pais haviam morrido e não seria ruim ter alguém do meu lado me apoiando, talvez fosse mesmo a hora de constituir a minha família.
Maurício preferiu ficar longe, apenas observando.
Fui até a mesa onde estavam sentados seu filho maior e a esposa que era jovem e bonita. Nos cumprimentamos.
De repente uma mulher loira e elegante desce vestida em um longo vestido branco, era a mãe dele.
Sr. Bitencourt levantou e passou o braço pela cintura da esposa apresentando-a.
Beijei sua mão e sorri.
-- Benjamim já está pronto querido.
Olhei para a escadaria e o vi descer. Usava uma camisa social branca com um terninho por cima sem gravata.
Meu Deus como ele era lindo, seus olhos verde oliva me encantavam, seu cabelo cacheado e desgrenhado... Eu não sabia o que estava acontecendo comigo, uma fixação talvez?
O pai dele o apresentou e falou que iria tocar.
Benjamim se dirigiu ao piano e começou a tocar “O lago dos Cisnes – Tchaikovsky”. Foi ali que me encantei, seus olhos fechados, seu corpo mexendo em cada nota que tocava como um pêndulo para frente e para trás, de um lado para o outro, parecia que sentia a música, fiquei hipnotizado assistindo-o, olhei para os lados e parece que não era apenas eu a está hipnotizado por aquele garoto alí naquele momento.
Em alguns minutos ele acabou e abriu os olhos diretamente para o salão, todos aplaudiram e ele sorriu tímido.
Seu pai foi buscá-lo, parecia orgulhoso, o levou até a mesa.
-- Benjamim este é Bryan filho de um amigo. Ele estava fora do País mas acabou de voltar.
Ele não falou na morte do meu pai, percebi alí que era um homem de caráter e educação, me sentiria péssimo em falar do meu pai naquele momento e ele sabia disso.
-- Olá?
Peguei em sua mão e meu corpo todo pareceu vibrar, não estava me reconhecendo. Sorri para ele e nos sentamos.
A partir dalí fiquei encarando-o, não me importava se pareceria falta de educação, só queria olhá-lo.
Adorava quando ele sorria e nasciam covinhas nas suas bochechas e quando parava para pensar em algo e olhava para cima, quase igual aos desenhos animados. Seus olhos não eram só verdes, tinham alguns raios amarelados que saltavam da íris.
Ele não me olhava muito, ficava olhando para cima pensando em algo, enquanto seu pai contava histórias de viagens que fizeram para o Alaska e Rússia para esquiar e quando algo engraçado era dito que todo mundo ria olhava para mim sorrindo fingindo ter prestado atenção na história. Adorava quando isso acontecia.
Algumas vezes seu pai me perguntava algo, puxando assunto e eu respondia, porém percebia que ele não prestava muito atenção.
Em dado momento, quando todos estavam indo dançar ele levantou e foi para a sacada, fui ao seu encontro.
-- Olhando o quê? – Puxei assunto.
Ele virou olhando direto nos meus olhos, parecia não fazer ideia de como seu contato visual me afetava.
-- Nada, vim só tomar um ar. – Olhou para o céu.
-- Está aborrecido?
-- Muito, odeio essas festas.
Na verdade eu também, porém estava alí por ele, então valia o sacrifício.
-- Eu também, mas não custa nada fingir por educação certo?
Rimos.
-- Não quero parecer indiscreto, mas quantos anos você tem?
Havia falado na mesa, porém percebi que ele não prestou atenção em nadaAcabei de terminar meu doutorado e voltei para cá, faz anos que fui embora para os EUA.
-- Tenho 18 e nem sei o que quero da vida ainda, mas sendo honesto não quero me matar de estudar em livros, amo arte, musica, escrever...
-- Sou médico, estudei anos de medicina, foi o que sempre quis, salvar vidas, mas você deve seguir seu sonho.
-- Sim, papai sempre me diz o mesmo, porém ainda não sei qual é o meu sonho.
Sorri para ele, na sua idade também não sabia bem o que queria.
O pai dele veio nos chamar, algumas horas se passaram e eu só sabia olhá-lo, porém ele parecia não se importar nem querer está alí.
A festa acabou e nos despedimos formalmente.
Já lá fora...
-- E então? – Maurício perguntou curioso.
-- Ele não demonstrou um mínimo se quer de interesse.
Ele riu.
-- Graças a Deus!
O olhei com raiva.
-- Vocês saíram por um minuto, achei que tinha rolado algo.
-- Ele saiu e o segui, só trocamos algumas palavras.
-- Certo de desistir?
-- Não sei Mauricio.
Voltei para casa em silêncio.
Estava perdido, ele não demonstrou um mínimo interesse porém eu estava sentindo algo que jamais havia sentido antes, será amor?
No dia seguinte...
Acordei, escovei os dentes e fui tomar café da manhã, Bernadete já estava lá.
-- Bom dia Bete?
A abracei e dei um beijo em sua cabeça, como toda manhã. Ela era baixinha, cheinha, cabelo grisalho e curto.
-- Oi meu amor? Dormiu bem?
-- Nem tanto.
-- Ele está de coração partido Bete. – Mauricio adentrou falando esta frase.
Mauricio tinha a chave da casa e sempre entra a hora que quer.
-- Como assim?
Começamos a explicar tudo a ela, Mauricio exagerando e eu desmentindo, claro.
Após uns 3 dias eu continuava pensando nele, mas era óbvio que não era recíproco, estava na sala sozinho quando me ligam, vejo na tela ser o pai dele.
-- Alô?
-- Bryan, gostaria de te entregar a mão do meu filho para um noivado.
-- Mas ele...
-- Meu filho aceitou encantado.
Achei estranho.
-- Pense OK? Quero que compreenda que o Ben é bastante tímido, nunca namorou ninguém, sempre foi reservado e por isso tem dificuldade de demonstrar seus sentimentos, ele gostou muito de voc. Sempre fizemos festas para nosso filho conhecer pretendentes, recebo bombardeios de propostas como a sua, você não foi o primeiro por quem fizemos isso porém ele nunca demonstrou interesse, agora por você sim. Então, te dou dois meses para pensar, certo?
-- Certo, penso sim.
Eu jamais imaginei que aquilo aconteceria, estava completamente perdido.
Mauricio veio mais tarde e resolvi contar a ele e a Bete...
-- O QUÊ? -- Mauricio gritou.
-- Senti vontade de dizer o mesmo, vai por mim.
-- Oh Deus, meu menino vai casar, estou tão contente... Gostaria de ver a foto dele.
-- Tem em alguns sites Betinha, olha.
Mostrei no iPhone.
-- Meu Deus como é lindo!
Sorri para ela, ele realmente é lindíssimo.
No dia seguinte liguei para perguntar se poderia vê-lo algumas vezes, antes de tomar minha decisão, porém me falaram que Ben havia viajado e só voltaria após minha decisão.
Nossa, também não precisava uma superproteção daquelas.
Os dias foram passando e minha indecisão aumentando, porém minha solidão era eterna, precisava preencher o vazio que minha vida havia se tornado, tentei sair com algumas pessoas, Mauricio me aconselhou para ter certeza se realmente o amava e estava pronto para casar.
Saí com uma garota e o papo estava legal, porém não me sentia confortável, não sentia nada. Saí com um cara e senti a mesma coisa.
Na verdade só conseguia pensar nele, procurava ele nos outros e quanto mais o tempo passava, mais certeza eu tinha de aceitá-lo.
Os dois meses se passaram voando, estávamos na ultima semana e recebo um e-mail do pai dele, nele tinha um vídeo.
Abri e era um vídeo dele tocando violão, pegaram pesado comigo.
Ele tocava no jardim da casa dele e sorria para e tela, suas covinhas eram perfeitas.
Passei o resto do dia pensando e pensando, assisti mais vezes.
No dia seguinte bateram na minha porta, fui atender e era um mensageiro, tinha uma caixa, assinei peguei e dei uma gorjeta.
Abri a caixa e era um álbum, vinha assinado com um bilhete da mãe dele: Que isso te ajude a se decidir.
Tinham fotos dele bebê, em fase de crescimento, tendo aulas de piano e assim fui vendo todo o seu amadurecimento.
Ben era lindo, quando era criança sua mãe podia até ter contatado agencias de modelos para crescer neste meio.
Passei o dia vendo o álbum e a noite mandei um e-mail falando que minha resposta era sim e que poderiam fazer um jantar para eu pedir a mão do Ben.
Já não aguentava mais aquilo tudo, precisava dele em minha vida, precisava de alguém para amar e ser amado, que me dê apoio, que se transforme em minha nova família...
E parece que meu coração o escolheu.
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Oi gente?
Obrigado pelos comentários na primeira parte, espero que estejam gostando.
Beijos.