4 - Infidelidade ou Infelicidade?

Um conto erótico de Bib's
Categoria: Homossexual
Contém 6242 palavras
Data: 02/08/2016 21:52:55

O jantar foi à refeição mais incômoda de que Carlos teve o prazer de participar. A comida servida era maravilhosa, tanto de visualmente quanto de paladar, mas ele mal conseguiu comer. Ao final, Débora convidou-o a passar para a outra sala, para o café, enquanto James continuava à mesa, tomando vinho com queijo.

Para Carlos aquela ocasião tinha se tornado algo irreal e foi um alívio quando os Frontes chegaram. Pareceu-lhe que era a sua chance de se desculpar e retirar-se, antes que James voltasse.

Mas Débora não permitiu que saísse assim tão facilmente.

— Chegaram a tempo para o café — disse ela, assim que Irene e o marido entraram na sala. — David, quero lhe apresentar o jovem que sua mulher selecionou para nós.

Carlos forçou um sorriso ao reconhecer a mulher que o havia entrevistado. Irene Frontes devia ser alguns anos mais velha que Débora Borges e, apesar de seu vestido elegante, notava-se que era gordinha. O marido, por sua vez, era magro, não tão alto quanto James, cabelos grisalhos e olhos azuis muito vivos por trás dos óculos.

— Olá, Sr. Douglas. — Irene era polida e distante. Povo rico esnobe— Está gostando daqui?

— Ah, minha cara, ele teve um verdadeiro batismo de fogo — exclamou Débora, dramática. — Tivemos outra cena com Laura e James mandou-a para o quarto.

— Pobre Laura — disse David, tolerante, sorrindo para Carlos. — O que foi que ela fez agora?

— Não é assunto para brincadeiras, David — disse Débora, muito irritada. — Laura admitiu ter.. . ter tido relações com aquele homem.

A exclamação chocada de Irene foi abafada pela impaciência de James, que entrava na sala.

— Não acredito — disse ele, seco — que Laura tenha tido relações com Monteiro Será que não pode pensar em outro assunto para conversar?

— Na verdade — disse David depressa, para evitar que se formasse uma discussão —, passei aqui para ver se você gostaria de velejar comigo no domingo, James. É a Copa Pastoral e o Carney não vai poder participar da corrida porque torceu o pulso jogando ténis.

David e James começaram a conversar sobre a corrida, enquanto Irene e Débora murmuravam no canto. Carlos engoliu o café e pôs-se de pé.

— Se me dão licença, eu estou um pouco cansado.

Débora ia protestar, mas James falou antes;

— Claro! Boa noite, Sr. Douglas.

Talvez Débora e os Frontes tenham se despedido dele também, mas Carlos já nada ouvia depois de perceber o olhar intensamente fatigado de James.

xxxxxxx

Surpreendentemente, dormiu muito bem. A cama era confortável e, apesar de nunca ter dormido antes em lençóis de seda, adorou a experiência. Despertou com o canto agitado dos pássaros no jardim e ficou na cama alguns minutos, saboreando aquele prazer tranquilo, tão diferente do ruído do trânsito a que estava acostumado. Olhou o relógio. Ainda não eram oito horas, podia descansar um pouco mais.

A tensão da noite anterior o havia vencido, mas agora de manhã sentia a mente e o corpo descansados e alertas. Para sua surpresa, descobriu que estava entusiasmado com a tarefa que ia começar.

E as complicações? Seria realmente verdade que até a sua chegada James não sabia de sua identidade? Seria realmente verdade que ele não sabia que o rapaz empregado para ensinar sua filha era o mesmo que ele um dia tinha. . .

Se ele fosse ficar aqui, ele tinha que esquecer isso. Ele iria ser um modelo exemplar , de profissionalismo.

Empurrou as cobertas e levantou-se. O sol já brilhava através da cortina e ele a abriu sem pensar que podiam vê-lo do jardim. James vinha caminhando em direção à casa, vestindo seu roupão escuro, os cabelos molhados. Carlos imediatamente tornou a fechar a cortina, mas o ruído atraiu a atenção dele, que olhou para cima, a tempo de vê-lo ainda, nu, sem cueca e com a cara sonolenta.

Carlos fugiu da janela, protegendo o corpo com os braços. Claro, Débora tinha mesmo contado que James nadava todos os dias. Mas por que cargas d'água ele tinha que ter aberto a cortina justamente na hora em que ele estava passando? Começou a tremer e foi tomar uma ducha. Enquanto passava sabonete pelo corpo, pensou que seria realmente impraticável permanecer ali. Tinha de ir embora.

Porém, ao terminar de se vestir — uma calça jeans e uma camisa gola v verde, inconscientemente, realçava seus cabelos muito escuros —, ele já tinha se controlado novamente. James, afinal, era apenas o seu patrão, e o fato de vê-lo retornando de um mergulho na piscina não deveria despertar nele qualquer emoção. Precisava ter cuidado no futuro, para não agir impulsivamente. No futuro. . .

Parou o que estava fazendo para estudar aquelas palavras. Então tinha decidido ficar, afinal? Será que toda a raiva e indignação da noite anterior já tinham desaparecido? Ou será que as necessidades práticas tinham finalmente dominado o seu emocional? Se queria ficar naquele emprego ia ter de aceitar dois fatos. Primeiro, que James havia ficado realmente surpreso ao encontrá-lo em sua casa e, segundo, que estaria vivendo na casa de um homem que não tinha nenhum respeito por compromissos , incluindo o com a própria esposa. Será que podia acreditar na surpresa dele ao encontrá-la ali mesmo, naquele quarto? Será que teria forças para testemunhar quanto ele enganava a esposa?

Ele suspirou e prendeu o relógio no pulso. Por que deveria ficar ali? Mesmo que James agisse como se mal o conhecesse, ia ter de conviver com ele. Débora parecia afável, mas Carlos era suficientemente experiente para saber que as coisas nem sempre corriam tão bem. A casa e os hábitos ali eram luxuosos, mas isso não significava nada para Carlos. Por isso justamente é que tinha ido para Sri Lanka, onde vivera de maneira simples, satisfeito com isso. Talvez quisesse também aproveitar esse emprego para se afastar de Tim? Afinal, o que era que o atraía nesse trabalho?

A resposta surgiu em sua mente numa única palavra: Laura. Sua aluna. Era por causa dela que estava ali. Não ia ser fácil e poderia haver problemas maiores que os normais numa relação professor-aluno. Mas esse desafio o atraía, pois sentia que podia auxiliá-la. Alguma coisa naquela menina parecia pedir compreensão e ajuda; havia algo nela que impedia Carlos de simplesmente virar as costas e ir embora por causa de coisas que já deviam estar definitivamente enterradas no passado.

Um toque na porta arrancou-o de suas reflexões. Foi abrir, ainda apreensivo quanto a quem poderia ser. Mas era apenas Jenny, a criada, com uma bandeja na mão.

— Seu café, senhor — disse ela. — Quer que coloque na mesa?

— Não, não. Eu mesma posso fazer isso. — Carlos pegou a bandeja, consciente de que sua posição na casa era um tanto incerta.

Não era parte da família, mas não era também um simples empregado.

— O cheiro está ótimo. Obrigada.

— A Srta. Laura estará esperando pelo senhor na biblioteca às nove horas — disse Jenny, indiferente.

Carlos fechou a porta quando ele se foi e colocou a bandeja na mesinha da janela. Suco de fruta, cereal, bacon, ovos e salsicha, torradas, geleia e café. Para alguém acostumado a tomar apenas uma xícara de chá e uma bolacha de manhã, aquilo tudo era um luxo. Seu estômago não aceitaria tanto. Tomou o suco de fruta, comeu as torradas e tomou café. O resto esfriava no prato e Carlos suspirou. Os trabalhadores das plantações de chá no Ceilão poderiam alimentar toda a família por um dia inteiro com aquilo.

Às cinco para as nove desceu, levando a bandeja, e encontrou a Sra. Fatima saindo da sala.

— Isso não era necessário, Sr. Douglas — disse a mulher, pegando a bandeja. — Jenny poderia ter trazido quando fosse arrumar a sua cama.

— Eu já a arrumei — disse Carlos. — Posso cuidar do meu quarto. Estou acostumado.

— Não é preciso, Sr. Douglas. Gostaria que deixasse esse serviço para nós. Jenny tem suas funções.

— Como quiser, Sra. Fatima. — Carlos achou melhor não discutir.

Laura estava sentada a uma mesinha da biblioteca, debruçada sobre os braços, o olhar perdido. Mal levantou os olhos quando Carlos entrou e não respondeu ao seu "bom-dia". Vestia jeans e camiseta, que pareciam ser seu uniforme, e os cabelos castanhos estavam presos para trás.

Carlos fechou a porta e aproximou-se da mesa. Laura levantou o rosto então e, parecendo envergonhada, acomodou-se direito na cadeira.

— E então? — disse Carlos. — Que tal a gente começar a se conhecer, hein?

— Pensei que já sabia tudo sobre mim — disse Laura, encolhendo os ombros.

— Não, não. Eu não sei nada de você, Laura.

— É? Mesmo com a minha mãe contando para todo mundo que eu durmo com rapazes?

— Acho que é melhor a gente esquecer o que aconteceu ontem ã noite e começar tudo do começo.

— Eu já lhe disse ontem. . . — Laura examinava Carlos com os olhos apertados, igualzinha ao pai. — Vai perder o seu tempo comigo, Douglas. Eles podem prender o meu corpo, mas a minha mente eles não vão dominar!

— É a sua palavra final? — perguntou Carlos, sentando-se ao lado dela.

— É.

— Entendo — disse Carlos, apoiando o rosto nas mãos e os cotovelos na mesa. — E quais são os seus planos para o futuro?

— Não acho que você esteja realmente interessado— disse a menina, desconfiada.

— Tem certeza?

— Você é igualzinha a eles — disse Laura, contraindo o rosto. — Eu já estou cheia de ficar dando explicações.

— Não acha que está tirando conclusões precipitadas? — Carlos suspirou. — Ontem à noite você foi ao meu quarto para me pedir que fosse embora, só porque está. . . animada por um rapaz. . .

— Não é só animação!

Carlos tinha usado a palavra de propósito para provocar a menina, que agora prestava atenção ao que ele dizia.

— Bom.. . Seja o que for. — Prosseguiu: — Eu ainda não a conhecia e você veio me procurar com a história de que está apaixonada por um homem cujo principal atrativo para você é que pertence a uma classe social diferente da sua. E queria que eu tomasse o seu partido sem saber de nada, sem saber dos fatos!

— Pensei quesendo jovem você fosse entender.

— Entender? Entender o quê? O que é que há para entender? Você sente atração por um homem que seus pais não aprovam. .

— Eles nem o conhecem!

—E só por causa disso está decidida a jogar pela janela a oportunidade de receber uma boa formação!

— Eu já estudei bastante. Tenho dezesseis anos. Tenho notas altas. Muitas moças da minha idade já estão trabalhando.

— Eu sei. É necessário que existam vendedoras, balconistas, operárias, datilógrafas. Mas é isso o que você quer para si mesma?

— Não estou entendendo.

— Você já pensou que a maioria dessas moças que estão trabalhando na sua idade prefeririam continuar estudando e se agarrariam com unhas e dentes à oportunidade de ir para a Universidade e construir uma carreira?

— Problema delas.

— Sei. Então você resolveu que não quer mais estudar?

— Isso mesmo.

— O que é que vai fazer?

— O que eu posso fazer? — Laura mordeu o lábio. — Esperar até ter idade suficiente para ser independente.

— E daí o que vai fazer é casar com esse engenheiro?

— É.

— É isso o que quer? Ser mulher dele, mãe de seus filhos?

— É.

— Não acha isso meio antiquado? — Carlos falou com um certo desdém, o que despertou a atenção da menina.

— O que é que está insinuando? Que nós devíamos ir morar juntos?

— Por que não? Por que é que você acha que precisa casar? —

Carlos se acomodou na cadeira.

— Meu Deus! — Laura olhou para ele, perplexa. — Se minha mãeou meu pai souber disso! O professor é um anarquista!

— Não, não sou. — Carlos sacudiu a cabeça. — Mas essa me parece a solução mais razoável nesse caso.

— Como? — perguntou Laura, desconfiada.

— BomSeus pais não querem que se case com esse rapaz. Mas como você já se antecipou aos votos matrimoniais, por assim dizer, por que não continuar? Por que tanto barulho a respeito de uma coisa que no fim das contas não passa de mera formalidade?

— Sabe que se eu for contar à minha mãe o que está me dizendo — Laura estava vermelha até a raiz dos cabelos — ela bota você daqui para fora?

— E o que me importa isso? É o que você quer, não é?

— Você não liga?

— Se não vou ter ninguém a quem ensinar — Carlos deu de ombros —, acho melhor ir embora, mesmo.

— Não entendo você — disse Laura.

— Por quê? Pensei que era isso o que você tinha em mente.

— Mas não é, não — disse a garota, inquieta.

— Não?

— Não... — Laura hesitava e finalmente disse: — Sabe, eu não. . . quero dizer, John não... A gente não fez sexo de verdade. Quero dizer. . . não chegou até o fim. Eu, . . eu não quis.

— Ele pediu?

— Só uma vez — Laura disse depois de hesitar.

— E por que você recusou? — Carlos suspirou aliviado. Seu jogo estava funcionando.

—Não sei.. Acho que tive medo. Se eu ficasse grávida, papai era capaz de me matar. — Ela parou, depois continuou, agressiva: —Mas isso não quer dizer que eu vá negar sempre. Não sou nenhuma puritana, sabe?

— Claro! — Carlos pousou as mãos na mesa. — Então ... se eu acreditar que você ama mesmo esse rapaz, você precisa prestar atenção ao que eu vou dizer.

— O quê? — Laura estava desconfiada.

— Bom. .. Suponhamos que você tem dezoito anos e se casa com ele. Seu pai e sua mãe concordam e vocês vão morar sozinhos...

— É isso o que a gente quer. John não está interessado no meu dinheiro!

— Bom. Você e John se casam. Onde é que vão viver?

— John tem um trailer.

— E você está preparada para morar num trailer?

— Claro. Por que não? Um monte de gente faz isso.

— H— Carlos pensou um pouco. — Você faz ideia de quanto ganha um engenheiro?

— John me contou.

— E já percebeu que o que John ganha num ano, o seu pai gasta provavelmente em cigarros e bebidas?

— Eu não pretendo ser tão rica quanto papai e mamãe.

— É bom mesmo. Porque não vai dar nem para chegar perto. .. — Carlos se interrompeu. Estava se animando um pouco demais. —- Suponhamos agora que alguma coisa acontecesse. John fica doente ou perde o emprego. Do que é que vocês vão viver? E se vocês tiverem um filho?

— Ai, pare de ser tão pessimista! — Laura fez uma careta. —. Seria muito azar!

— Mas isso acontece, não é? Sobretudo em obras de construção, onde sempre há acidentes.

— Está bem. Onde é que você quer chegar, afinal?

— O que eu quero dizer — prosseguiu Carlos — é que, se você tiver de arranjar um emprego, o que é que vai fazer? Como é que vai sustentar uma família?

— Eu dou um jeito. — Laura cruzou os braços.

— Mas ia dar um jeito muito melhor se tivesse uma carreira, uma profissão definida. Comodar aulas, por exemplo.

— Ah, estava demorando — disse Laura, apoiando o queixo nas mãos sobre a mesa. — Assim você justifica o seu emprego aqui.

— Mas você não pode negar que é verdade o que eu estou dizendo, não é?

— Demora muito para tirar um diploma. Eu ia ter de ir para a Universidade.

— Claro.

— Isso me condenaria a mais alguns anos de estudos!

— E daí? Alguns anos que renderiam por toda a sua vida. Além disso, se concluir o colegial com boas notas, pode escolher outras profissões que não exijam Universidade. Apenas um técnico , Profissões úteis, sempre necessárias...

— Eu costumava pensar em jornalismo — disse Laura, suspirando.

— Então. . .

— Por que é que eles não podem me deixar no Primeiro Mundo? — protestou Laura. — Eu gosto daquela escola.

— Acho que eles fizeram bem em tirá-la de lá — disse Carlos com cuidado, depois de uma pausa. — Eles apenas estão evitando a tentação. Você não pode negar que, morando aqui, fica muito mais difícil se encontrar com John.

— Claro. Eles não deixam.

— Você mesma contou que uma vez ele tentou fazer sexo com você. Não acha que pode tentar de novo? Tem certeza de que" não ia acabar cedendo?

— Eu tenho de tomar as minhas próprias decisões. — Laura empinou a cabeça, com raiva. — Afinal, a vida é minha!

— Tudo bem, então vá em frente! — Carlos cruzou os braços. — Fuja com o seu Baiano. Eu não vou detê-la. Mas não vá ficar decepcionada se ele a abandonar quando se cansar da sua imaturidade.

— Você adorou dizer isso, não é? — Os lábios de Laura tremiam.

— Não. Não estou gostando de nada disso, Laura — Carlos respondeu, começando a perder a paciência. — Fui contratado como professor, não como psicólogo! Eu podia ir dizer para a sua mãe que você está resistindo e deixar que ela cuidasse do caso. Mas em vez disso fiquei aqui, ouvindo você desprezar as oportunidades que a maioria das moças da sua idade agarrariam com unhas e dentes. Mas já estou cheia disso!

Carlos se pôs em pé, cheio de raiva e impaciência. Olhou para Laura, que tinha o rosto contraído de ansiedade. Imediatamente viu nela os traços de James e, curiosamente, sua raiva desapareceu.

— Oh, Laura! — exclamou. — Eu não sou seu inimigo. Posso ser seu amigo! Gostaria tanto que você entendesse isso.

— Ninguém é meu amigo nesta casa!

— Eu posso ser... — Carlos tornou a sentar-se. — E então? O que é que vai fazer?

— Se.. . se eu resolver continuar estudando — disse a menina, suspirando —, você me ajuda a ir encontrar com John de vez em quando?

— Se você se esforçar — disse Carlos, quando conseguiu controlar a surpresa —, se me provar que está levando as coisas a sério, daí eu ajudo. Laura ficou em silêncio alguns minutos.

— E se eles não concordarem? — perguntou.

— Não acho que isso vá acontecer.

— Você não conhece a minha mãe!

— E não conheço o seu pai também — disse Carlos. — Mas isso não vem ao caso.

— Mas você conhece o papai, não é? — Laura perguntou, intrigada.

— Fui professor dos filhos de um amigo de seu avô, durante as férias, há alguns anos — Carlos respondeu, seco.

— Mas ele o chamou de Carlos, não foi? — Laura o estudava, pensativa.

— Vocês se conheceram bem?

— Claro que não — disse Carlos, conseguindo não ruborizar depois de um enorme esforço.

— Nós nos vimos só algumas vezes.

— Estranho como ele se lembrou de seu nome na horinha, não foi? Carlos! — ela imitou o tom do pai. — Meio agoniado, não foi? Como se você fosse a última pessoa do mundo que ele quisesse encontrar.

— Está imaginando coisas, Laura. — Carlos conseguiu sorrir, apesar do olhar e das palavras da menina o perturbarem. — Então, estamos combinados?

— Talvez sim, talvez não — disse Laura, suspirando. — Acho que a gente podia experimentar por um tempo e ver no que é que dá.

— Eu topo.

— Claro — disse Laura. — Não tem nada a perder.

xxxxx

Carlos saiu do restaurante e olhou de ambos os lados a rua principal. Àquela hora havia pouca gente, e o calor da tarde ondulava a imagem da cidade. Tinha tido um dia de folga inesperado. Débora havia ido a Vitoria e levara Laura para passar o dia com os avós. Carlos tinha decidido então ir até o vilarejo e experimentar o cardápio do restaurante recomendado por Gustavo.

Era estranho, mas fazia já duas semanas que tinha chegado, Era incrível como conseguira viver numa mesma casa com outras pessoas e praticamente não encontrá-las. Claro, estava sempre com Laura. E satisfeito com o progresso que faziam. Mas quase nunca via os outros membros da família. Ocasionalmente Débora vinha tomar chá com eles na pausa das aulas matinais, mas fora isso viviam vidas totalmente independentes.

Carlos sempre tomava o café da manhã no quarto. Era Jenny quem trazia a bandeja e, depois daquela primeira manhã, tinha se tomado mais afável. Talvez isso se devesse ao fato de ela ter percebido que Carlos não agia com nenhuma superioridade em relação aos outros empregados.

O almoço leve era servido a Carlos e Laura na sala, mas Débora nunca comia com elas. O jantar, depois daquela primeira noite, passara a ser servido no quarto de Carlos e, com isso, ele não precisava ter nenhum contato com James Borges. Pelo menos quanto a isso estava aliviado.

Estava parado na rua, aproveitando o sol que esquentava seus braços nas, quando viu um carro avançar e parar diante do restaurante. Era um carro esporte, verde-escuro, que ele já tinha visto algumas vezes estacionado na garagem dos Borges. Entrou em pânico e já ia se afastar quando uma voz o deteve:

— Sr. Douglas!

James e um outro homem desciam do veículo. Ele estava vestido de maneira informal: jeans justos e camisa de brim aberta no peito. O outro também estava vestido esportivamente, mas tinha cabelos avermelhados e bigodes compridos.

— Boa tarde, Sr. Borges — ele respondeu, polido, forçando uma expressão fria e desinteressada.

Como era seu dia de folga, não estava vestido como professor, e percebeu que o amigo de James o examinava, parecia interessado. Era uma situação que já havia enfrentado antes. O preceptor atraindo os interesses de um amigo ou amiga da família! Era até engraçado e ele não se abalou. Dificilmente qualquer situação envolvendo homens o assustaria agora.

— Onde está Gustavo? — perguntou James, olhando em torno. — Ele o trouxe de carro, não?

— Não. Gustavo foi levar sua esposa a cidade. Eu vim a pé.

— E Laura?

— Laura foi passar o dia com os avós.

— Veio a pé... — disse James, preocupado. — Essas estradinhas campestres podem ser perigosas.

— É, mas está tudo bem,

Carlos percebeu que suas respostas a James não soavam como deviam.. Mas, apesar de ser empregado dele, não conseguia falar de outro modo. Era até engraçado que ele manifestasse alguma preocupação por ele.

— Bem, pode voltar conosco — disse James, indicando o amigo. — Clive, esta é o Sr. Douglas, professor de Laura.

— Clive Lester — disse o rapaz. — Como vai, Sr., Douglas? Íamos tomar alguma coisa no bar do restaurante. Gostaria de vir conosco?

— Ah, não, obrigada. . .

— Por que não? — Clive levantou as sobrancelhas. — Acha que não ficaria bem tomar um drinque com o patrão? Muito bem, então eu o convido.

Ele já tinha tomado mais do que um drink com James.

— O Sr. Douglas deve ter compras a fazer — sugeriu JamesMas Carlos sentiu essa frase como uma provocação.

— Não — disse com cuidado. — Não tenho compras a fazer, não. Gostaria muito de tomar alguma coisa. Se o Sr. Borges não se importa, claro.

Ele percebeu que James respirou fundo, mas o amigo nada notou, satisfeito com a própria sorte.

xxxx

O bar estava quase vazio. Carlos sentou-se num banquinho e Clive acomodou-se a seu lado. James ficou em pé e ele podia perceber quanto estava incomodado. Mas não se deixou abalar por isso. Era convidado de Clive e, se James não gostasse, nada poderia fazer, pois não podia controlá-lo fora do horário de trabalho.

— Fomos velejar — contou Clive, tomando a cerveja. — Já velejou alguma vez, Sr. Douglas?

— Uma vez — respondeu Carlos, olhando para James que estava de costas, apoiado no balcão. — Eu tive um amigo que tinha um barco. Saímos algumas vezes.

— E gostou? — perguntou Clive.

— Gostei. — Carlos deu de ombros. — Como em tudo na vida, depende da companhia.

Clive riu, mas Carlos baixou os olhos. Podia sentir quase fisicamente o antagonismo de James.

— Não conheço nenhum bom rapaz que saiba velejar, geralmente velejo só — disse Clive.

— Sua esposa não gosta? — sugeriu Carlos.

— Esposa? — Clive riu. — Não tenho esposa, Sr. Douglas, Já tive, mas foi como a sua experiência em velejar. Não me impressionou muito. Percebi que ... gostava de companhias mais rudes.. se é que me entende.

— Sei... — Carlos mantinha os olhos baixos.

— Não que eu pretenda continuar sozinho — continuou Clive. — Mas até agora não encontrei ninguém que me interessasse. Ou que se interessasse por mim.

Carlos achou que já tinha ido longe demais com aquele assunto.

— Deve ser muito agradável poder velejar sempre que dá vontade.

— é, mas nem todo mundo tem tempo livre.

— Ah, então o senhor trabalha? — Carlos continuou, em tom de brincadeira.

— Claro! — Clive sorriu. — Trabalho com exportação. Transformo em dólares o déficit comercial. Posso parecer cigarra, mas trabalho como uma formiga.

— Acho melhor escrever isso — disse James finalmente, num tom divertido.

— Ah, pensei que você tinha feito voto de silêncio! — Clive riu, dando-lhe um soco de brincadeira. — Quer mais uma bebida?

— Não, obrigado — disse James, tomando o último gole de sua cerveja.

Tornaram a sair para o sol da tarde e James abriu a porta do carro. Apesar de não se sentir à vontade, Carlos não podia recusar sem ser rude. Sentou-se atrás, enquanto os dois homens foram na frente.

As janelas estavam abertas e o vento que batia em seu rosto bagunçando os cabelos, fazendo com que caíssem nos olhos. De repente, percebeu que James o olhava pelo espelho-retrovisor. Desviou o rosto para a janela, não se deixando intimidar por aqueles olhos frios.

Em seguida viu, aliviado, os portões da casa Borges se aproximando na estrada, mas para sua surpresa o carro passou por eles. Clive também se surpreendeu.

— Vou deixá-lo em casa primeiro, Clive — disse James. — Não vou poder ficar. Tenho trabalho a fazer em casa. Desculpe-me com sua mãe, está bem?

Clive Lester morava pertinho, numa elegante casa do período georgiano. Quando o carro parou na estradinha do jardim, ele saiu e se debruçou na janela.

— Obrigado, meu velho — disse. — Vamos nos ver de novo no domingo. Débora me convidou para jantar.

— É mesmo? — James perguntou. — Eu não sabia. Então até lá, Clive.

— Até logo, Sr. Douglas. Foi um prazer.

Ele conseguiu forçar um sorriso. Clive sentiu a impaciência do amigo e se afastou. James partiu imediatamente.

Carlos tinha certeza de que James ia dizer alguma coisa assim que estivessem a sós, mas ele não abriu a boca. Dirigia concentrado, e em poucos minutos estavam diante do portão da casa.

Mesmo sentado atrás, Carlos conseguiu abrir a porta e descer do carro antes que James pudesse dar a volta e abri-la para ele. Como sempre, as grandes portas maciças estavam abertas e Carlos entrou logo, aliviado. Mas esse alívio durou pouco.

— Venha até o meu escritório — disse ele formalmente.

Ele teve de obedecer. Nunca havia estado no estúdio dele antes e, segundo Laura, a sala era interditada até mesmo para ela. Carlos sabia que James trabalhava ali às vezes, mas, como nunca o via, não tinha a menor ideia de quando ele estava ou não em casa.

Empinou a cabeça e entrou na sala, sem nem notar a bela decoração. Apoiou os dedos na borda da escrivaninha, mantendo os olhos firmes, um tanto desafiantes.

James fechou a porta atrás de si e ficou parado um instante. Depois aproximou-se da mesa também. Naquelas roupas informais parecia mais jovem, mas o rosto demonstrava certa tensão. Observando disfarçadamente aqueles traços, Carlos sentiu despertarem as lembranças de como ele o havia perseguido, anos atrás. Ainda se lembrava bem da maneira como ele o procurara, conversando, levando-o para jantar, caçoando de seus sonhos e ideais.

Ambos sabiam, na época, que não terminaria bem, e todas as vezes que se via entre os braços dele ele desejava que isso não fosse verdade, apesar dos temores. James era o único homem com quem tinha tido intimidades e, por culpa dele, nenhum outro homem conseguira se aproximar depois. Carlos levara meses para entender que ele não tinha nenhuma intenção de se divorciar da mulher para ficar com ele. Essa certeza lhe viera de repente, naquela horrível noite de sexta-feira, num quarto de hotel, quando, pensando que ele havia abandonado Débora, ele entendeu que tudo o que ele queria era um fim de semana divertido. . .

— Nunca mais faça isso comigo! — disse ele em voz baixa, furioso.

— O quê, Sr. Borges? — Carlos forçou um tom casual que não correspondia absolutamente ao que sentia.

— Sabe muito bem do que estou falando. — Ele fechou os punhos; uma veia pulsava em seu pescoço.

— Clive Lester é meu amigo. Vamos deixar as coisas exatamente como estão.

— Não vejo como poderia ser de outra forma, Sr. Borges. — Carlos arregalou os olhos, irônico.

— Pare de me chamar de Sr. Borges! — ele rugiu, voltando-se para o outro lado.

— Como quer que o chame? — ele perguntou baixinho.

— James? Não creio que sua esposa aprovasse isso.

— Acho que é hora de esclarecermos isso tudo, não? — disse ele, encolhendo os ombros.

— O quê, exatamente? — perguntou Carlos.

— Não me venha com isso, Carlos. Você veio para cá de propósito?

— Não — ele respondeu, firme. — Sua amiga, a Sra. Frontesr, me contratou...

— Irene não é minha amiga! — ele protestou.

— Muito bem, amiga de sua mulher, então. O que me disseram foi que trabalharia para eles. Como é que eu podia adivinhar que sua esposa estava por trás disso?

— Entendo. — James respirou fundo. — E eu também não

sabia de nada.

— Eu nunca teria aceitado um emprego em sua casa, se soubesse! — Os olhos dele brilhavam de raiva.

— Mas resolveu ficar — afirmou, os lábios tensos.

— Sim, não tinha muita escolha. Já havia gastado parte do adiantamento que a Sra. Frontes me dera.

— Podia ter me pedido.

— Ah, é? E se eu tivesse pedido o que é que você faria? Me daria o dinheiro para eu devolver à sua mulher? Imagino como é que ia me cobrar depois.

James voltou-se bruscamente para ele, furioso. Carlos se envergonhou do que tinha dito.

— Desculpe — disse, relutante, sentindo-se de repente muito imaturo. — Você me deixou furioso.

Olhou para ele, consciente como nunca de sua proximidade. Olhou aquele peito liso, entrevisto pela abertura da camisa. No barco, anos antes, James vestia apenas o calção de banho e o tinha tomado nos braços e acariciado sua bunda por cima da sunga. . .

Ele cortou os pensamentos. Era o final daquele romance que tinha de lembrar sempre, e não os detalhes excitantes de uma relação que o abalara tão profundamente.

— Carlos! — disse ele com a voz incerta. — Por que é que você tinha de entrar novamente em minha vida?

— Eu não entrei em sua vida, James — disse calmamente, afastando-se para o outro lado da escrivaninha. — Estou aqui por causa de sua filha. Nada mais. O fato de... o fato de termos nos conhecido não importa.

— Será? — Ele tinha os lábios tensos.

— é assim que tem de ser. Seis anos se passaram. Eu amadureci desde então. Quando o vi de novoMeu primeiro impulso foi ir embora, mas depois que conheci Laura. . .

— é — dois sulcos marcavam a expressão dele —, você se dá bem com ela.

— Eu tento.

— Ela me contou. Gosta de você.

— Obrigada.

— Não me agradeça. — Ele passou a mão pelos cabelos, deixando-a pousada na nuca. — Seria melhor se ela o tivesse detestado!

— Sinto muito. — Carlos estava chocado pela facilidade com que ele podia feri-lo.

— Será que se importa? — Evidentemente ele não acreditava nele. — Você não liga a mínima para o que eu penso de você, não é?

— Não. — Carlos empinou a cabeça.

— Então sabemos em que pé estamos.

— Se pensa assim — ele disse.

James caminhou até uma das poltronas e deixou-se cair pesadamente, a perna sobre o braço da cadeira.

— Muito bem, pode ir agora.

— Sim, Sr. Borges. Obrigada, Sr. Borges.

Carlos não entendia por que sentia esse impulso de provocá-lo. Cruzou a sala para sair, mas ao passar diante dele James estendeu a mão e agarrou-o pelo pulso.

— Não faça isso, Carlos — ele avisou por entre os dentes.

— O quê, Sr. Borges? — Ele estava apavorado, mas não ia deixar que ele percebesse isso.

James suspirou, olhando o pulso que tinha entre os dedos.

— Não é fácil, claro, saber que você está debaixo do mesmo teto que eu. Acredite ou não, você foi o único homem que eu desejei. — Sem nenhum esforço ele impedia que ele se soltasse. — Não me provoque a fazer algo de que possa me arrepender depois. Não sei se poderei resistir por muito tempo.

— Como ousa me dizer essas coisas? — disse ele, conseguindo libertar-se. — Tem tanta certeza de que não vou revelar tudo à sua esposa?

— Não posso detê-lo. — James sacudiu os ombros. — Pode ir, se quiser.

— Não se importa? — Carlos o encarou, frustrado.

— Não mais. — James baixou os cílios longos, quase fechando os olhos.

Carlos voltou-se para sair, querendo terminar logo aquela conversa, mas a voz dele o deteve.

— Houve outros, Carlos?

— Não tem o direito de me perguntar isso! — Ele voltou-se para ele bruscamente.

— Por que não? — Havia chamas trêmulas brilhando naqueles olhos escuros. Ele se lembrava da excitação que conseguia provocar naquele homem, mesmo contra a vontade dele.

— Você não tem nada a ver com isso.

— Ora, Carlos. Você e eu fomos amantes. . . Talvez não tanto quanto gostaria . Mais , mesmo assim.

— Não se iluda!

— Não, não é ilusão. Havia algo especial entre nós. E você sabe disso. Muito bem, você diz que está tudo acabado. Mas isso não me impede de pensar em você, de imaginar se algum outro homem conseguiu tocar seu coração tão frio!

— Na verdade — disse Carlos apoiando a mão na maçaneta da porta —, houve outras relações. Se lhe interessa saber, posso lhe emprestar meus diários. Mas não tente me dizer como devo agir, Sr. Borges!

Ele abriu a porta antes que ele pudesse reagir. Seu coração saltava no peito e a visão da Sra. Fatima parada diante dele piorou ainda mais as coisas. Por um momento pensou ter surpreendido a governanta ouvindo atrás da porta, mas a mulher logo esclareceu tudo:

— Sr. Douglas, está aí um rapaz que quer vê-lo. — A mulher voltou-se para James, que surgia na porta. — Posso mandá-lo entrar, Senhor?

Carlos podia sentir a hostilidade de James parado atrás dele. Queria se afastar, mas a Sra. Fatima parada diante dele o impedia. A única pessoa em quem podia pensar era Tim, mas o que é que ele podia ter vindo fazer ali?

— Quem é, Sra? — perguntou James secamente.

— É o Sr. Monteiro — ela respondeu. Carlos ficou perplexo.

— Monteiro? — perguntou James, com uma tal calma que Carlos chegou a sentir medo.

— Sim, senhor. — A Sra. governanta parecia estar se divertindo com aquilo. — Devo levá-lo para a biblioteca?

— Estava esperando visita? — James perguntou a Carlos, sem disfarçar a raiva que havia em seus olhos.

— Não, não estava — Carlos respondeu, indignado. — Não conheço ninguém com sobrenome Monteiro.

— Acho que conhece, sim — disse James, irritado. — Muito bem, Sra. Fatima, leve o Sr. Monteiro para a biblioteca.

— Sim, senhor.

A governanta se afastou e Carlos encarou James. Ele o estudou por algum tempo.

— Muito bem — disse, finalmente. — O que é que John quer com você?

— Comigo? — perguntou Carlos, perplexo. — Eu não o conheço, já lhe disse.

— E acha que eu acredito? — James disse por entre os dentes.

— Pouco me importa se acredita ou não — ele quase gritou. — Não conheço John Monteiro. Já ouvi seu nome, é claro, e sei o que é que está pensando. Mas não tenho nada a ver com ele!

— Vai negar que convidou esse rapaz para vir visitá-lo justamente quando sabia que toda a família estaria fora? — Ele enfiou as mãos nos bolsos da calça, atraindo o olhar de Carlos para suas coxas musculosas.

— é isso o que acha? — Carlos perguntou, fixando os olhos no rosto dele. — É isso mesmo o que acha?

— O que mais posso pensar? — James estava furioso. — Meu Deus! E você quer me convencer de que veio para a minha casa por uma mera coincidência!

Carlos respirou fundo. O que tinha vontade de fazer era subir a escada, pegar todas as suas coisas e sair daquela casa para sempre. Mas alguma coisa, alguma emoção que não conseguia identificar, o impedia de desistir tão facilmente. Não ia permitir que James passasse o resto da vida pensando que ele havia tramado um jeito de penetrar na vida dele.

— Ouça. Eu não convidei esse. . . Monteiro — ele disse, cerrando os punhos. — Eu nem sabia que estaria de folga hoje. Sua mulher só me contou depois do café da manhã que ia sair com Laura.

— E o telefone da casa , celular? — James perguntou friamente.

— Eu não usei o telefone. E não tenho celular. Pergunte à Sra. Fatima, se quiser. Fui almoçar na vila.

— Podia ter telefonado de lá.

— E por que é que voltaria para cá? — Carlos mal conseguia conter a raiva que sentia. — Podia ter marcado um encontro lá mesmo.

— Fui eu quem insisti em trazê-lo para casa!

— Claro, E como eu sabia que você ia estar em casa, pedi que ele viesse até aqui! Carlos falava com enorme desdém. — Isso faz algum sentido? É ilógico!

— Então o que é que ele está fazendo aqui? — James o examinava com olhos intensos. — Por que é que mandou chamá-lo? Como sabe o seu nome? A não ser que. ..

— Que o quê? — Ele o encarava, de olhos arregalados.

— Laura... — ele murmurou, relutante.

— Laura! — Carlos respirou fundo. — Não tinha pensado

nisso. É logico.

— Nem eu. — James sacudiu a cabeça. — Meu Deus, se foi ela quem armou tudo isso, eueu. ..

— Você retira o que disse de mim , desconfiança idiota. Não ia elaborar um plano mirabolante , para se aproximar de você. Não se ache a ultima Fanta Uva do país— sugeriu Carlos secamente.

— Claro — disse ele, corando ligeiramente, os lábios tensos. — Eu o julguei mal. É melhor que eu vá vê-lo.

— Não! — A exclamação de Carlos fez voltar a suspeita ao rosto de James.

— Não, eu vou. Foi a mim que ele veio procurar.

— Se for algum truque. . . — James fechou a carranca.

— É isso o que pensa? — ele perguntou, com raiva.

— Já nem sei o que pensar — disse ele, passando a mão pelo rosto e pelos cabelos.

— Oh, James! — Por um momento Carlos se esqueceu de manter as devidas barreiras entre eles e apoiou ambas as mãos no braço de James, sentindo seus músculos tensos.

— Confie em mim, James!

Ele olhou a mão dele pousada em seu braço e sentiu como se sua carne queimasse debaixo daquele toque: Carlos retirou a mão e deu um passo para trás, percebendo o tormento que havia no olhar de James.

— Eu confio em você, Carlos — ele disse, baixo. — Mas não confie em mim!

Virou as costas, entrou no escritório e fechou a porta, deixando Carlos sozinho no corredor.

======================================================================================================

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 0 estrelas.
Incentive Bibizinha2 a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Comentários

Foto de perfil genérica

Gente to super mega gostando desse conto ansioso por + ñ demora pra posta PLIS 😍😍😍😘😉

0 0
Foto de perfil genérica

É duro para James não poder amar livremente o Carlos, por saber auê não se divorciada da Debora por conta dela estar presa a cadeira de rodas e tb não poder colocar tudo em pratos limpos com o Carlos, Laura na minha opinião está iludida com este engenheiro, posso até estar enganada, vamos ver como sairá este encontro entre o John e o Carlos. Muito bom

0 0