- Oi, sumido! – Eu disse atendendo a porta
- Oi! Tudo bem?
- Comigo? Tudo... E contigo?
- Bem também! Posso entrar?
- Claro que pode!
- E aí, o que te trazes aqui?
- Tu não lembras? A gente combinou há semanas?
- Combinamos o que?
- Nós combinamos de jantar hoje, Antoine.
- Caramba! Desculpa, Thi! Eu esqueci!
- Poxa, obrigado pela consideração, viu?
- Desculpa, Thi... tem acontecido tanta coisa ultimamente. Tu esperas 10 minutinhos? Eu me arrumo rápido e vamos jantar.
- Tá, vai lá!
Eu subi desesperadamente e me arrumei correndo. Só fiz tomar um banho e peguei qualquer roupa que eu vi na minha frente.
- Nossa, quando tu falaste dez minutos eu não acreditei... A Sophie vai assim?
- Vai! Eu vou deixa-la na casa da Mamam.
- Cadê o Bruno?
- Tá no hospital, ultimamente ele tem tirado muitos plantões noturnos.
- Mas ele já não tinha parado com esses plantões?
- É, mas ele voltou a fazê-los. Vamos?
- Vamos!
Nós primeiro passamos na casa da Mamam e eu deixei a Sophie com ela, depois fomos direto para o restaurante.
- Oi, Carol!
- Oi, seu Antoine!
- Carol, eu acho que a gente tem quase a mesma idade, esse negócio de “seu Antoine” não fica legal. Tu podes me chamar só de Antoine.
- Ok! Oi, Antoine!
- Oi! Meu primo está aí?
- Não, ele ainda não chegou?
- Tem alguma mesa disponível?
- Tem, sim senhor!
- Nossa, “senhor” também não fica legal! – Eu disse rindo
Ela nos levou para a nossa mesa, o garçom veio e nós fizemos o pedido. O Thi como sabia escolher vinho, escolheu um para nós.
- Se tu me matares no trânsito, tu sabes que meus pais e o Bruno te matam, né?
- E se eu morrer junto contigo?
- Isso significa que tu vais morrer duas vezes, meu amigo.
- Eu dirijo com cuidado, não te preocupas. E ninguém vai se embriagar, aqui, nós só vamos tomar umas taças de vinho.
- Olha, olha...
- Tu falaste que tem acontecido muita coisa ultimamente...
- Isso! Tu somes da minha vida, aí tu não sabes o que está acontecendo.
- Mas tu és o rei do drama mesmo, viu?
- Nem no aniversário da minha filha tu foste, ainda não te perdoei por isso, cretino.
- Eu te expliquei o motivo de eu não ir. Eu te expliquei, não. Nosso chefe te explicou, tu sabes que eu tive que ir à São Paulo.
- Cretino! Era só tu recusar...
- Recusar e perder o emprego, né?
- O que tu foste fazer lá afinal?
- Discutir novas diretrizes para o ensino na escola.
- Mas quem faz isso não é a pedagoga?
- É! Ela foi também!
- E o que tu foste fazer, então?
- Fui discutir novas diretrizes de ensino...
- Desembucha... o que aconteceu lá?
- Não aconteceu nada, maluco.
- Quando tu falas assim é por que tu aprontaste alguma coisa. Vai, pode falar...
- Foda-se, não dá pra esconder nada de ti. Tu estás pior que a Jujuba, meu.
- Não enrola Thiago! Fala!
- Bom, digamos que eu acabei ficando com a Camila.
- Com a nossa Camila? Com a pedagoga da escola? TU TÁ FICANDO MALUCO?
- Essa mesma! E não estou maluco.
- O que aconteceu com aquele papo de que tu és gay de verdade, não curte ficar com mulher e etc..
- Continua firme e forte... Tu não deixaste eu terminar de falar.
- Vai, me conta a cagada toda, então.
- Bom, a gente foi para a reunião do comitê da escola, nesse comitê tem os representantes de todos os estados onde tem a rede de ensino a qual somos vinculados.
- Pula essa parte, por favor. Isso eu sei, vamos para o sexo! – Eu fiz careta para ele
- Deixa de graça! Bom, nós passamos o dia trabalhando e decidimos tomar uns drinks a noite. Até aí tudo bem, nós bebemos pra caramba e acabamos ficando, só beijando, viu?
- Só isso?
- Até aquele momento, sim... Nós voltamos para o hotel e transamos.
- Ok!
- Ok?
- Ok!
- Só ok?
- Queres que eu fale mais o que?
- Não vais brigar, gritar, fazer drama?
- E adianta? Tu vais continuar cometendo o mesmo erro. Tu não sabes o que queres da vida, Thi. Tu não te decides, não sabes nem se gostas de homem ou mulher ou os dois. Não adianta eu falar nada.
- Porra, valeu aí...
- Só disse a verdade.
- Hum...
- E aí? Como foi?
- Péssimo, eu acho.
- Tu achas? Como assim tu achas?
- Eu estava porre, Antoine, tu achas que eu lembro como foi?
- Aaaaah vai... tu não lembras?
- Não, não lembro! Aí está o problema... Eu disse pra ela que não poderia acontecer de novo, pois eu gostava de meninos.
- E ela?
- Não acreditou! Tá achando que a transa foi ruim, que eu to evitando falar com ela, essas coisas de mulher. Que bicho complicado, viu?
- Mas tu já gostas de uma confusão viu, Thiago!
- Tu sabes que eu não gosto de quando tu me chamas de Thiago.
- É, mas tu estás merecendo ser chamado assim, THIAGO. Só faz merda, meu!
- Antoine, não tenho ninguém. Não é merda, só são alguns contratempos...
- Traduzindo: merda.
- Olha, eu estava com saudade de conversar contigo.
- Se tu não sumisses, tu não ficarias com saudade...
- Cara, tu gostas de me provocar, só pode.
- Gosto mesmo! – Eu disse rindo
Nosso jantar foi servido e começamos a comer.
- Não é por nada, não, mas eu prefiro a comida do meu primo.
- Deixa de frescura, tá tão gostosa quanto a dele.
- Pra mim, a dele é melhor.
- Fresco! Vai, me conta o que anda acontecendo, por que tu me esqueceste?
Enquanto nós comíamos eu fui contando a ele tudo o que tinha acontecido desde o aniversário da Sophie.
- Cara, eu não acredito que essa filha da puta resolveu aparecer agora. E esse viado irmão do Bruno, aaah vá pra puta que pariu...
- É a família dele, Thi. Eles só querem se reconciliar.
- Depois de tudo o que eles fizeram, se fosse eu, eu teria expulsado os dois da festa com um pé na bunda.
- Oooooh, falou o machão...
- Não, muita sacanagem isso. Eu dou toda a razão para o Bruno...
Eu deixei ele resmungar por looooooongos minutos. Fiquei feliz com a reação dele, isso demonstrava que ele realmente gostava do Bruno e que tinha superado o que tinha acontecido entre nós.
- Já? Parou de resmungar, velho?
- Já! Bando de filho da puta....
Eu só fiz rir. Nós terminamos de jantar e fomos embora. O Pi não havia chegado.
- Topa um sorvete?
- Acho que não, eu tenho que pegar a Sophie.
- Ela está com a tua mãe, Antoine. Deixa a Tata curtir a neta um pouco, deixa de ser tão pai coruja.
- Sou coruja mesmo!
- Vamos à sorveteria! E eu não estou te perguntando, estou falando que vamos.
Ele deu partida no carro e fomos para a tal sorveteria.
- Para onde vamos?
- Para aquela sorveteria lá da Orla.
Ele colocou umas musicas para tocar e nós íamos cantando que nem dois loucos. Era sempre muito divertido estar com o Thi. Nós chegamos na sorveteria e montamos nossos sorvetes e fomos para a Orla. A Orla de Macapá é suuuuuuuuper ventilada, muito agradável.
- Ei, sabe quando foi a última vez que nós saímos juntos?
- Foi em Paris ainda, né?
- Isso mesmo! Fazia muito tempo, eu gosto quando saímos só nós dois.
- Eu também gosto! Vamos marcar mais vezes!
- Concordo! Temos que marcar mais vezes!
Meu celular tocou e era o Bruno.
- Oi, amor!
- Oi! Como andam as coisas por aí?
- OIIII, BRUNO! – Thi gritou
- Quem é esse?
- É o maluco do Thi.
- Ah... que vento todo é esse?
- A gente tá aqui na Orla.
- O que vocês estão fazendo aí?
- A gente veio por o papo em dia, já que ele some por meses.
- Fala pra esse sem vergonha aparecer lá em casa pra gente tomar um vinho.
- Sem vergonha, o Bruno tá mandando tu apareceres lá em casa pra vocês tomarem um vinho.
- Se ele comprar o vinho eu vou.
- Se tu comprares o vinho, ele vai.
- Mas é muito mão de vaca mesmo, viu?
- Ele te chamou de mão de vaca!
- Fala pra ele aparecer esse final de semana, amor.
- Ele tá mandando tu ires lá esse final de semana.
- Fala pra ele....
- Ah, vão os dois pra puta que pariu, pega o telefone e fala com ele.
- Atacadinho, tu viu? – Thi disse pegando o celular.
Eles se falaram por alguns minutos e combinaram no sábado. Pelo visto, a trupe toda seria reunida.
- Ele quer falar contigo ainda. – Thi me devolveu meu celular
- Oi, amor! – Eu disse
- Cadê nossa filha?
- Tá lá com a mamam.
- Ela vai dormir lá?
- Nem pensar! Daqui a pouco já estou indo pegá-la.
- Tu vais demorar aí?
- Acho que não, daqui a pouco já estamos indo, o Thi dá aula cedo amanhã.
- Ah, ta bom, então! Quando chegar em casa me liga, tá?
- Tá bom!
- Beijo! Te amo!
- Também te amo! – Encerramos a ligação
- Ei, cadê o Dudu? Por que ele não tá grudado em ti?
- Ele anda meio sumido também.
- O QUÊ? Ele desgrudou de ti? Não acredito!
- Ele anda meio ocupado com alguma coisa.
- Tu não sabes o que ele anda fazendo?
- Não! Nós não somos colados um ao outro, Thi.
- Não são, mas é a impressão que passam. Sabe, às vezes eu até evito muito te chamar pra fazer alguma coisa, te visitar mais. Eu percebo que o Dudu não curte muito minha cara.
- Deixa de bobeira, Thi.
- Sério! Ele não gosta de mim desde aquela época.
Eram raras às vezes que falávamos da época em que estávamos juntos e brigamos.
- Ele não gostava de ti mesmo, mas agora ele gosta.
- Eu duvido, ele acha que eu vou te roubar dele, o que é meio infantil.
- Que nada! O Dudu é meio bobão mesmo.
- Ele gosta muito de ti, né?
- Sim! E eu o amo! Amo demais meu irmão! Sabe, ele esteve presente nos piores momentos da minha vida, quando eu caia, era ele quem me erguia. Eu amo o Dudu de um jeito inexplicável.
- Eu percebo isso! – Ele disse meio triste
- E eu também te amo, idiota! – Eu o abracei de lado – Lembra que tu és meu amigo de infância. Com o Dudu eu não aprontei nem um terço de tudo o que eu já aprontei contigo.
- Mas eu percebo que a tua relação com ele é diferente.
- Claro que é diferente! Só seria igual se ele fosse teu clone. O Dudu é um cara especial, não fica com ciúmes dele, não. Eu amo os dois! Os dois são meus melhores amigos e sempre serão.
- Se eu te chamar mais vezes pra sair, tu vens?
- Mas que pergunta besta, Thi! Claro que eu venho! Mas eu sinto te informar que não seremos só nós dois, não vou deixar minha filha sempre, não.
- Mas é muito coruja mesmo, viu?
- Sou mesmo! E falando nisso, vamos embora. Eu tenho que ir busca-la.
- Tá bom!
Nós caminhamos um pouco mais pela Orla e depois voltamos para o carro. Passamos na casa da Mamam e graças a Deus ela estava com umas amigas, eu só peguei a Sophie dela e vim embora antes que ela me prendesse lá.
- Cadê a tia Joana? – Eu disse quando estávamos no carro indo para a minha casa
- Tá namorando.
- MENTIRAAAAA!!! QUE BABADON!!! Com quem ela está namorando, pelamor de Deus?
- Sei lá! Um cara meio mal-encarado.
- Duvido!! Tia Joana sempre teve bom gosto. Teu pai era um gato!
- Aquele que tentou te matar?
- Esse mesmo! Por onde anda?
- Não faço a mínima ideia! Nunca mais falei com ele e pretendo continuar assim.
- Eu vou ligar pra minha tia, ela tem que me contar essa história direitinho. – Eu disse pegando o celular, eu disquei o numero dela e coloquei no viva voz – TIAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!! – Eu disse quando ela atendeu
- OIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII, MEU LINDOOOOOOOOOO!!!
- Me conte o mais novo babado, por gentileza!
- Mas esse Thiago é muito bocudo.
- Sou mesmo!
- Ah, tu estás aí também é?
- Tô indo deixar o Antoine em casa.
- Tia, não enrola, em contaaaaa....
- Não tem nada pra contar!
- Claro que tem! Como é o boy? É gato? Se for um velho barrigudo, trate logo de ir se desfazendo da macumba.
- Ele é gato! Muito gato!
- Detalhes, quero detalhes!
- Ele é moreno, já é coroa, é claro. Tem um pouco de cabelos grisalhos, braços fortes.
- Uau, que sexy! O Thi disse que ele é mal-encarado.
- A bunda dele, ele tá com ciúmes da mamãe, né bebe?
- Ciumes nada! O cara é mal-encarado! Onde já se viu um coroa ter tatuagem fechando o braço.
- Ui, o boy tem um ar meio perigoso, tia?
- Tem, meu filho! – Ela disse toda animada
- Que tudon! Conte mais!
- Ele é gentil, educado, sabe fazer a gente sorrir, mas também sabe conversar sobre assuntos conflitantes. Tem pegada...
- Já quero pra mim!
- Te aquieta, rapá! – Thi me deu um tapa
- Tia, traz esse boy coroa aqui em casa. A senhora tem que apresentar ele pra gente. A Mamam já sabe?
- Claaaaaro, né Antoine! Ele é amigo dela.
- Amigo dela? Se é amigo dela eu o conheço! Qual o nome dele?
- Rui
- TIAAAAAAAAAAAAAAA TU É DEMAIS! Tu tá pegando o Rui ? Ele é um gato mesmo! Eu sonhava com ele quando eu era moleque.
- Toma vergonha na cara, Antoine! – Thi disse
- Por que tu não me falaste que era o Rui?
- E eu lá ia saber que tu conhecias o cara?
- Tia, aproveita, mas aproveita muuuuuuuuuuuuuuuuuuitooo!!
- Aproveita nada, ela é uma senhora de família.
- Esquece o bebe chorão e aproveitaaaa!!! Dê bastante!
- ANTOINE! – Thi gritou comigo
- O que é? Tia Joana tem direito a isso, querido!
- Isso mesmo! Tenho direito! Meu amor, foi bom falar contigo, mas agora preciso desligar. Prometo que vou aparecer lá na tua casa.
- Tá bom! Fico lhe aguardando.
- Beijo, meu amor!
- Beijo, tia!
- E pra mim?
- Beijo, bebe de mamãe!
- Beijo, mãe! – Eu encerrei a ligação
- Oooooooowwwwt, bebe de mamãe!
- Não enche o saco, moleque! Pronto, estás entregue!
- Muito obigado, neném! – Eu disse caindo na gargalhada
- Filho da puta! – Ele disse descendo do carro
- Respeita minha mãe, viado!
- Ah, a tua eu tenho que respeitar, mas a minha tu mandas ela dar.
- Claro! – Eu ri – Tchau, Thi!
- Tchau! – Ele disse me abraçando e dando um beijinho na Sophie
- Ei, não esquece o que prometeste para o Bruno.
- Eu não me chamo Antoine, não.
- Filho da puta!
- Também te amo! Beijo! Boa noite!
- Boa noite! – Ele entrou no carro e foi embora