Cap.10
Naquela hora eu não acreditei. Foi como se o meu coração parasse. Ver ele de novo depois de todo aquele tempo me trouxe muitas sensações, que eu não soube explicar. Apenas tentei colocar a minha cabeça no lugar e continuar.
-Tá tudo bem com você ? - o assessor perguntou.
-Sim... Estou bem... Então pessoal... Espero que aproveitem muito bem essa chance e que possam fazer história – puxei então uma salva de palmas para todos eles e devolvi o microfone. Antes de descer do palco, puxei de novo o assessor – quero a lista de todos os estudantes que vão participar dessa turma na minha mesa.
-Ok seu Igor.
Fiquei com aquela imagem na cabeça durante diversos minutos em que caminhei sem rumo dentro daquele Centro de Convenções. Ele estava um pouco diferente, o cabelo maior, a barba também, mas estava tão lindo quando das vezes que eu o havia visto na França. Queria saber o que ele estava fazendo ali, o porquê havia vindo ao Brasil. Queria vê-lo de novo. Fui caminhando para o lado de fora, e quando sai no estacionamento, o vi. Conversando com um grupo. Meu coração acelerou mais uma vez. Lembrei de tudo aquilo que havia acontecido na França. E como ele ainda era presente na minha mente. Começei a caminhar na direção dele, quase que como por instinto. Até que recebi uma ligação.
-Alô ?
-Igor ? - era a voz do meu pai.
-Sim pai...
-Aonde você está ?
-No Centro de Convenções...
-Venha aqui em casa. Sua tia Elza está aqui e quer ver você.
-Ok papai... Já estou indo para ai... - continuei a olhar para ele, como se fosse uma fissura. Ele sorria, conversando com todos aqueles rapazes. Até que olhou para mim. No momento em que nosso olhar se cruzou, pareceu que uma corrente elétrica se estremeceu entre nós. Minha respiração parou, eu me arrepiei, minha boca secou. Algo estranho tomou conta de mim...
TEMPO DEPOIS
Durante aquela noite eu apenas pensei nele e no que tinha visto. Poderia simplesmente entrar em contato com ele, eu ainda tinha o telefone, as redes sociais e todo o resto. Mas por algum motivo fiquei com vergonha, ou medo, sei lá. E se ele tivesse mudado ? E se nem mais bem lembrasse de mim ? Nunca se sabe... Vai que para ele eu não tenha sido tão marcante. Ele disse que a minha presença na vida dele foi tão marcante, mas se desfez tão rápido de mim...
-Porquê você está com essa cara ein ? - Iago perguntava, enquanto eu bebia vinho na varanda da casa dos nossos pais, depois do jantar.
-Eu vi ele de novo Iago...
-Ele quem ?
-O Maurício... - ele arregalou os olhos.
-Aquele da França ?
-Ele mesmo...
-Mas você ainda pensa nele ?
-Não... Pelo menos não estava pensando até ver ele entre os estudantes que vão participar do curso.
-Mas você tem certeza que ele vai participar ? Pode estar lá no meio apenas como convidado... Você sabe que isso acontece...
-Eu sei... Vou ter certeza disso amanhã. Mas algo me diz que ele voltou.
-E ele ainda significa alguma coisa pra você ? Mesmo depois de todos esses meses que vocês não olham um na cara do outro ?
-Eu não sei... Mas eu não consegui esquecê-lo desde a hora que vi naquele Centro de Convenções... - dizia, bebendo mais um gole.
NO DIA SEGUINTE
Fui trabalhar aquele dia atordoado. Havia dormido mal, e ainda tido um sonho que me deixou pensativo.
“Estava dentro do meu carro, dirigindo pelas ruas, quando de repente um grupo de pessoas parou em frente dele, e me fez freiar bruscamente. Esperei para ver se eles saiam, mas não. Continuavam ali. Logo sai do carro.
-E então ? Vão ficar ai até quando ? - perguntei. Até que quando olhei melhor, vi que eram antigos amigos meus, da época em que eu era boêmio.
-Igor ? Vem... Vamos para a festa, tá incrível ! - podia ver que estávamos perto de uma balada.
-Eu não posso... - pareceu então que a minha vontade se foi. E o meu corpo começou a andar em direção aquela balada por conta própria – não... Não... Eu não posso ! - então alguém segurou o meu braço. Quando olhei para a pessoa, era ele – Maurício ?
-Ele não pode... - e então eu pude voltar a controlar o meu corpo. De repente ele me puxou, e eu fui, sem dizer nada”
Aquele sonho me trouxe mais pensamentos ainda.
-Diretor Igor, preciso que você assine isso...- uma funcionária dizia
-Mande pra outro diretor...
-Diretor Igor, e aquele projeto ? - uma outra perguntava.
-Pergunte pra outro diretor...
-Mas Diretor Igor...
-Outro Diretor ! - falei, entrando na minha sala sem olhar para trás.
Fui entrando na minha sala, com mil perguntas a passar pela minha mente. Sentei me na minha cadeira. Além dos papéis normais que diariamente apareciam ali, havia outro, que eu não reconheci de cara. Mas quando olhei melhor, logo percebi que era o que eu havia pedido no dia anterior. A lista de quem iria participar do programa de estudantes. Começei a folheá-la, e logo encontrei. O nome dele estava por lá, no meio daqueles participantes. Sim, ele estaria no Brasil fazendo o curso.
-Acho que ele nem imaginava que agora eu estaria trabalhando pra quem o financia – disse para mim mesmo. Até que de repente alguém bateu na minha porta.
-Diretor Igor ? - quando olhei para a porta, vi um homem desconhecido.
-Entre – falei. Ele logo abriu a porta – quem é você ?
-Eu sou o Dr. Raimundo Dias. Sou o coordenador do Curso que a empresa financia.
-Ah...
-Vim até aqui hoje para apresentar todas as diretrizes do curso para a financiadora, afim de que ela possa saber o que vai financiar.
-Ok, sente-se por favor.
-Só um segundo... É que eu decidi trazer um representante dos alunos que participarão para a nossa conversa.
-Tudo bem... Diga para ele entrar... - de repente então a porta foi aberta por uma pessoa.
-Com licença... - de repente a pessoa entrou. Quando ergui o olhar, o arregalei. Era ele. Em pessoa. A poucos metros de mim. Depois de vários meses, nos encontramos de perto de novo. Agora em momentos extremamente diferentes. Mas com sentimentos idênticos.
NARRADO POR MAURÍCIO
Eu iria voltar ao Brasil. No meio de todo o meu estudo, surgiu a oportunidade de participar de um programa pra estudantes no Brasil. Quando eu consegui a minha vaga nele, só pensei em uma coisa. Em como Igor estaria no Brasil.
Continua
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