Naquela segunda feira eu acordei cedo, como de costume, preparei toda a mochila da Sophie, fiz os lanchinhos dela e coloquei na lancheirinha. Fiz nosso café, separei minha roupa e a dela. Foi só depois de fazer todo esse processo matinal que eu fui acorda-la. Era uma judiação acorda-la tão cedo, mas isso faz parte da vida.
- Oi, princesa do papai! – Eu disse quando ela abriu os olhinhos
Ela colocou a mãozinha no meu rosto e ficou me olhando dengosa e apertando meu nariz. Eu a puxei para bem pertinho de mim e nós ficamos abraçados por um tempinho, até esquentar o corpinho dela.
- Vamos levantar?
- Huuuum!! – Ela resmungou
- A gente tem que levantar, filhota!
- Huuuum!!!
- Bora tomar banhinho?
- Não!
Eu deixei passar mais um tempinho e aí nós tivemos que levantar mesmo. Com o carro, agora a gente tinha uns minutinhos a mais. Eu a levei para o banheiro, dei um banhinho nela e já aproveitei para tomar o meu. Nós saímos de lá, eu me enrolei na toalha e fui primeiro arrumá-la. Eu tive que aprender a cuidar de cabelo de menina, por que ela não tinha e nem teria para quem correr. Jujuba me deu um curso intensivo na cabeleira dela, onde quando eu errava e puxava o cabelo dela, ela me batia até passar a dor DELA. Eu rapidinho aprendi.
Depois de estarmos arrumadinhos, nós fomos tomar café. Às vezes ela tomava café direitinho, mas tinha dias que eu tinha que ficar até de cabeça para baixo para ela comer alguma coisa. Esse, era o dia onde eu tinha que ficar de cabeça para baixo. Foi uma luta para ela tomar café, mas eu consegui. Nós saímos de casa 15 minutinhos antes da entrada dela na creche. E deu tempo tranquilo para chegarmos lá.
- Oi, Antoine!
- Oi, Bia! – Eu abracei a mãe do Pedrinho
- Como estás?
- Bem! E tu?
- Bem também?
- E o Pedrinho? Eu não vi vocês na sexta.
- É, ele estava meio gripadinho, mas já passou. – quando eu ouvi “gripadinho” eu arregalei os olhos – Calma, já passou! – Ela disse rindo – Pai é tudo igual, né?! A gente ouve “gripe” e já sai correndo com o filho nos braços. – Ela riu e eu ri mais ainda
- Pior que é verdade.
Nós fomos deixar nossas crias na sala deles e a tia já ia recebendo a gente com um sorrisão e um bom dia bem caloroso. Se eu fosse professor de moleque, eu com certeza não ia acordar daquele jeito. Graças a Deus, as pessoas têm paixões profissionais diferentes.
- Eles são todos seus, tia Vanessa!
- Pode deixar! Bom dia, papais!
Eu dei um cheiro na minha filha e a tia a levou para dentro da sala. Nos primeiros dias ela não ia de jeito nenhum se atracava no meu pescoço e não largava mais, mas agora ela já ia toda mocinha.
- Vais para o ponto de ônibus?
- Ah, não, eu estou de carro. Eu já ia te oferecer carona. Aceita?
- Tu vais para onde?
- Para o restaurante, teu trabalho fica no meu caminho. Vamos!
- Tudo bem!
Nós entramos no carro e partimos.
- Olha só, tá de carro novinho!
- É, comprei semana passada! Com filho pequeno é bem difícil pegar ônibus.
- É difícil pegar ônibus nessa cidade, né? Com filho ou sem. – Ela disse rindo
- Verdade! Mas olha, eu até que gostava de andar de ônibus.
- Deus é mais! Eu não suporto! Não vejo o dia de ter um carrinho.
Nós fomos conversando até chegarmos no nosso destino. Eu deixei a Bia na frente do trabalho dela e fui para o restaurante. No meu trabalho, o café da manhã era bem tranquilo. Os auxiliares davam conta do serviço, mas no almoço, era um Deus nos acuda. Fazer vários pratos diferentes em curtíssimo tempo não é para qualquer um. Graças a Deus a equipe do restaurante era maravilhosa.
- Oi, chef!
- Oiiii!!! Ué, o que fazes aqui esse horário?
- O Pierre me trocou de horário, mandou eu vir trabalhar com o senhor.
- O que tu aprontaste dessa vez, Carlinha?
- Nada! Ele que tá meio estressado esses dias...
- Olha, tu sabes que eu sou legal, mas eu sou bem exigente. Pode perguntar para a minha equipe. Aqui tudo tem que sair perfeito! Só te avisando... – Eu disse com um sorriso no rosto, mas ela entendeu meu recado
- Eu sei! A Emily já me disse.
Emily era a responsável por recepcionar os clientes do turno da manhã (que incluía café e almoço), agora, eu teria as duas para fazer isso, pois era a Carlinha que fazia isso a noite.
- Bom, então, vais lá para o teu posto, tá? E olha, é para ficar no teu posto, viu? Nada de ficar de papo furado por aí.
- Sim, senhor!
- Bom trabalho!
- Para nós!
Enquanto os meninos cuidavam do café, eu já ia adiantando algumas coisas para o almoço. Mas, eu sempre dava uma olhadinha em como as coisas iam para a mesa dos clientes durante o café da manhã. Eu separei a equipe, metade cuidava do café. Um pouco já preparava o lanche da tarde (verificava e separava os ingredientes para os bolos, fazia massa de bolos e salgados, etc) e um pouco cuidava do almoço junto comigo. Nós tínhamos que separar todos os ingredientes dos diversos pratos do menu, tínhamos que preparar as massas, pois tudo era feito lá. Tudo era o mais natural possível. Tínhamos que separar e temperar as carnes, nós deixávamos tudo meio caminho andado.
As manhãs eram sempre beeeeem movimentadas no restaurante. A coisa só ia acalmar lá pelas 14h/15h. Que era justamente o horário que a gente estava trocando de equipes. Às 15h saia a minha equipe e entrava a do Pi. A gente sempre deixava a cozinha um brilho, pois a equipe do Pi já chegava trabalhando. Eles tinham poucas horas para preparar o café da tarde. Nós já deixávamos as massas prontas e os ingredientes separados, eles só finalizavam. A mesma coisa acontecia com eles, eles deixavam as massas e os ingredientes prontos para o café da manhã do dia seguinte.
- Tchau, tchau, gente! Obrigado por mais um dia! – Eu disse dispensando minha equipe.
Eu fui até nosso escritório pegar minhas coisas, e o Pi já estava lá.
- Oi, primo!
- Oi! – Ele ainda estava azedo
- Tá tudo bem?
- Por que não estaria?
- Pierre Guimet, desembucha! Fala o que esta acontecendo. Que cara de cu é essa?
- Nada!
- Pierre, eu te conheço, o que foi?
- Não é nada demais, Antoine.
- Se não é nada demais, tu vais me falar – Eu disse sentando na frente dele
- Papa tá vindo aí.
- Oiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii???? Eu escutei bem?
- Escutou! Papa tá vindo aí.
- Quando ele chega?
- Depois de amanhã.
- E tu estás de cu virado pra lua por causa disso?
- Ele é meu pai, né Antoine?!
- Eu sei! E por isso mesmo tu tens que demonstrar toda a tua felicidade e não teu azedume.
- Eu só tô com medo.
- Medo de que Pierre?
- Ah, sei lá...
- Pi, tu és independente, tens teu restaurante, tens tua casa, tens teu marido, nós, que somos a tua família, estamos sempre ao teu lado. Tu tens é que mandar o Tonton pra puta que pariu se ele começar com frescura. Agora, se ele vier para fazer as pazes contigo, aproveita. Tu não tens motivo nenhum para ficar nesse azedume todo.
- Eu sei! – Ele disse de cabeça baixa – Ah, e o restaurante é nosso.
- Ah, tu me entendeste!
- É, entendi...
- Então, troca essa cara de cu por uma cara sorridente.
- Fiquei imaginando como seria uma cara de cu, agora. – Ele disse rindo
- É só te olhar no espelho, meu bem. Bom, estou indo...
- Indo pra onde?
- Buscar minha filha, ora.
- Tu estás maluco, né? Hoje temos a reunião, cabeçudo.
- Ai, eu já tinha esquecido.
Sem escolha, eu tive que esperar. Nossa reunião era com alguns dos nossos fornecedores, nós teríamos que aumentar a quantidade de tudo o que pedíamos praticamente. Nós precisávamos saber se eles tinham condições de atender nossas demandas, teríamos que rediscutir pagamento, valores e um bando de outras coisas chatas. Resumindo a história, eu só saí no final da tarde do restaurante.
- Oi! – Eu disse atendendo o telefone enquanto entrava no carro
- Tô chegando na tua casa! – Era o Thi
- Eita! Desculpa, mas agora que eu estou indo buscar a Sophie na casa da Mamam. Tu vais ter que me esperar um pouquinho.
- Tá bom! Eu espero! Até daqui a pouco!
- Até!
Eu corri para a casa da Maman, quando eu cheguei lá, minha filha estava chorando.
- O que foi que aconteceu? – Eu fui que nem um gavião para cima da Anne, que estava cuidando dela
- Calma! Ela caiu!
- Como assim ela caiu?
- Ela estava correndo e caiu.
- Deixa eu ver, filha!
- Ai, ai, ai, ai, papa! – Ela tinha ralado toda uma perna
- Anne, como é que tu não vês isso? O que tu estavas fazendo? Deixaste a Sophie sozinha? Por que tu estás com ela? Cadê a Maman? Que falta de responsabilidade!
- Ei, calma! Ela só ralou a perna.
- Não quero saber! E se ela tivesse quebrado a perna? Quem cuidaria dela?
- Antoine, a Maman saiu rapidinho, ela já tá voltando.
- Não quero nem saber, Anne! Foi muita falta de responsabilidade tua! – Eu estava enfurecido, quando eu vi minha filha machucada e chorando subiu um troço em mim – Vamos, filha! Vamos cuidar disso!
Eu fui até o quarto da Maman e peguei algumas coisas que me ajudariam a cuidar do ferimento da Sophie. Levei para a sala e sentei minha filha com a perninha esticada sobre a minha. Eu limpava e ela chorava. Parece besteira, mas me doía o coração ve-la daquele jeito. Qualquer coisa que acontecesse com ela, eu ficava louco. Na minha cabeça só griva: eu não posso perder minha filha também.
Maman chegou e eu fui com tudo para cima dela.
- Como é que a senhora deixa minha filha com a Anne??
- O quê?
- A senhora saiu e deixou a Sophie com a Anne, ela caiu e se machucou feio.
- Onde ela está?
- Agora, ela está sentadinha ali na sala.
- Meu filho, eu tive que resolver um problema na rua, eu tive que deixa-la com a Anne.
- O problema é que a Anne não consegue cuidar nem dela, imagina da minha filha.
- Calma, meu filho. Foi grave?
- Ela ralou toda a perna, Maman.
- Deixa eu ver... – Ela foi até onde a Sophie estava – Oi, meu amor! O que aconteceu?
- Eu caiu!
- Tu caíste? Como tu caíste?
- Eu tavo coendo e caiu. Olha shó... – Ela mostrou a perna para a vó.
- Oooo meu amor...
- Vamos, Sophie! Vamos pra casa! – Eu ainda estava enfurecido
- Não, meu filho. Espera!
- Não, Maman! Já estou indo.
- Calma, Antoine! Foi só uma quedinha, isso é coisa de criança.
- Tchau, Maman!
- Meu filho, espera! – Ela segurou meu braço – Ei, calma! – Ela me abraçou – Foi só uma quedinha, isso vai acontecer mil vezes ainda.
- Eu... eu... eu... só não aguento ve-la sofrer, Maman.
- Meu filho, tu não vais perde-la. Não tem porque ficar assim...
- Eu sei... Eu realmente tenho que ir, o Thi tá me esperando lá em casa.
- O Thi? – ela falou com um ar de surpresa
- É, a gente combinou de lanchar. Ele tá me esperando lá na porta de casa.
- Huuuum.... Tá bom, então! Não fica chateado, tá? – ela me deu um beijo no rosto
- Tá bom! Tchau!
- Tchau, meu amor!
Peguei minha filha e fomos embora. Quando eu cheguei em casa, o Thi já estava estacionado me esperando. Eu abri o portão, que era elétrico, buzinei e ele entendeu que era para ele entrar. Depois dele eu entrei e estacionei ao lado do carro dele.
- Que demora! – Ele disse quando saímos dos nossos carros
Eu tirei a Sophie da cadeirinha dela e a coloquei no chão. Ela foi logo mostrando o ferimento para o Thi.
- Titi, Titi, eu caiu! – Ela mostrava a perna com o curativo.
- Como tu caíste? – Ele se abaixou, ficou quase na altura dela
- Eu tavo coendo e caiu, Titi.
- Nossa! – Ele a pegou no colo – Titi trouxe um monte de coisas gostosas pra gente lanchar.
Ele foi entrando com ela em casa. Eu peguei minhas coisas no carro e entrei também.
- Por que essa cara?
- Aaaah... por que minha filha caiu, ora.
- E precisa fazer essa cara feia? Ela só caiu, Antoine! – Ele disse rindo
- Já ouvi sermão da Maman, dispenso o teu...
- Tudo bem! Vou lá no carro pegar as coisas que eu trouxe.
Ele foi até o carro, pegou as coisas e fomos todos para a cozinha. Ele foi arrumando tudo, não deixou eu fazer nada. Já que eu estava sem nada para fazer, já que a Sophie estava brincando com o Sheep, eu lembrei que tinha que falar com a Jujuba.
“VIAAAAADOOOOO, TENHO UM BABADO BABADEIRO PRA TE CONTAR” – Eu enviei uma mensagem de texto para ela
“AIIII, BABADO, ADOOOOOOOROOOO!!! ME CONTAAAAA, VIADO! É SOBRE QUEM?”
“É SOBRE O THI”
“AI QUE TUDO! VOU TE LIGAR, ESPERA!”
“NÃAAAAAAAAAAOOOO! ELE TÁ AQUI, NÃO DA PARA EU FALAR NO TELEFONE”
“HUUUUUUM.... ELE TÁ AÍ É?”
“TÁ, ELE VEIO LANCHAR COMIGO E COM A SOPHIE”
“SEI!!! PRA MIM, ELE TÁ QUERENDO É TE LANCHAR, ISSO SIM”
“DEIXA DE SER LOUCA, JUJUBA! HAHAHA”
“TÔ BRINCANDO! ESSA FASE DE VOCÊS JÁ PASSOU!”
“EXATAMENTE!”
- Nossa, pra quem tu mandas tanta mensagem?
Eu fiquei nervoso na hora, pois ele quase pega meu celular.
- Para um amigo! – Eu lancei um sorriso amarelo
- Amigo, é?
- É!
- Huuuum! – Ele voltou a arrumar as coisas para o lanche
“ME CONTA LOGO O BABADO, VIADO!”
“ONTEM A GENTE FOI AO SHOPPING, JU”
“E POR ACASO ISSO É BABADO?”
“DA PRA TU TE ACALMARES, EU SÓ ESTOU TE SITUANDO, CARAMBA!”
“TÁ, TÁ, CONTINUA!”
“A GENTE FOI AO SHOPPING POR QUE FOMOS LEVAR A SOPHIE NO PARQUINHO, DEPOIS DO PARQUINHO A GENTE FOI COMER, E ADVINHA QUEM ENCONTROU A GENTE?”
“OLHA, APESAR DAQUELE BOMBANDÃO SINISTRO ME CHAMAR DE MACUMBIERA, EU NÃO SOU VIDENTE, QUERIDO. FALA LOGO DE UMA VEZ, CARALHO!”
“AI, CREDO, NÃO PODE NEM FAZER SUSPENSE!”
“NÃO, NÃO QUANDO SE ESTÁ FALANDO DE UM BABADO BABADEIRO! QUEM ENCONTROU VOCÊS, FALA DE UMA VEZ!”
“SUA GROSSA!”
“ANTOINE, FALAAAAAAAAAAA!!”
“O HEVERTON”
“AIIIIIIIIIIIII JESUS! QUASE DEIXEI MINHA FILHA CAIR COM ESSA”
“SUA LOUCA!!!”
“VIADOOOO, O QUE ELE FEZ?”
“JU, ELE SENTOU NA NOSSA MESA, SEM SER CONVIDADO, É CLARO. ELE NÃO FALOU COMIGO SÓ COM O THI. ELE FALOU PARA O THI QUE ERA MELHOR NÃO TER NAMORADO DO QUE TER UM FANTASMA”
“BABAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAADOOOOOOOOOOOOOOOO! E O THI???”
“FOI SUPER ESCROTO COM ELE, ELE DISSE QUE CONCORDAVA. O HEVERTON FICOU PUTO DA VIDA, ME OLHOU COM ÓDIO E FOI EMBORA!”
“AI QUE TUDO! JURO QUE UM DIA EU DESCUBRO O QUE TU PASSAS NESSE RABO!”
“EI, EU NÃO TENHO NADA A VER COM A HISTÓRIA. E AINDA NÃO TERMINEI DE CONTAR”
“TU TENS TUDO A VER! CONTA LOGO!”
“QUANDO A GENTE FOI EMBORA, A GENTE PASSOU PELO HEVERTON E ELE FICOU ME OLHANDO COM CARA DE PSICOPATA, O THI OLHOU PARA ELE E DISSE: CARA FEIA É FOME. O MENINO COM CERTEZA TEVE VONTADE DE SE JOGAR EM CIMA DE MIM E ME ENCHER A CARA DE PORRADA”
“AAAAAAAAAAAAAAIIIIIIIIIIIIIIIIIII, EU AMO O THI!”
“TU VISTE A PARTE QUE EU DISSE QUE ELE FOI UM ESCROTO?”
“ELE SÓ ESTAVA TE PROTEGENDO, SUA ANTA!”
“QUE NADA!”
“VIADO, ABRE O OLHO!”
- Posso roubar um pouco da tua atenção?
- Oi?
- Tu podes me dar um pouquinho de atenção, agora?
- Ai, desculpa!
“JU, MAIS TARDE NOS FALAMOS, O THI TÁ ME CHAMANDO, AQUI”
“TÁ BOM! BOA ‘LANCHADA’!
“FDP! NÃO TEM NADA DE LANCHADA! TCHAU!” – Eu sorri
- Huuuum... parece que tem gente que tá se apaixonando...
- Quem? Eu? Tá louco?
- Tá todo sorridente para o teu “amigo”.
- Thi, deixa de ser besta! Eu já disse que não tô pronto para ter alguém. Não tem nada a ver.
- Então, tá, né?
- O que tu trouxeste aí pra gente?
- Muita coisa! Tudo natureba! Eu passei lá naquele restaurante do amigo de vocês, aquele que tem um empório. Comprei várias coisinhas legais.
- Obaaaa!! Filha, vem lanchar.
Sophie estava sentadinha no chão brincando com o Sheep. Ela adorava aquele cachorrinho. Nós nos sentamos a mesa e lanchamos. Ele contava animadamente o que estava acontecendo na escola.
- Ei, teus alunos vieram falar comigo. Tu sabes que eu peguei algumas das tuas turmas esse semestre, né?
- É, tu tinhas me falado...
- Eles estão loucos para saber como tu estás e quando tu voltas para a escola. Eles até me falaram que se tu voltares, eles vão me tirar da turma só para tu assumires. – Ele disse rindo
- Essa molecada...
- E aí, não pensas em voltar?
- Não, agora não, Thi... um dia, talvez. Eu estou bem lá no restaurante. Eu me encontrei, sabe? Descobri que eu amo cozinhar, amo aquela tensão do restaurante.
- Mas tu também amas dar aula, eu sei disso.
- Amo também, mas agora, é hora de eu me dedicar ao restau com o Pi.
- Tudo bem! Mas se aqueles moleques me ameaçarem novamente, eu vou zerar a avaliação de uns quantos...
- Deixa de ser maluco! – Eu ria das palhaçadas dele
- E aí... quem é o amigo? – Eu percebi que ele queria perguntar isso há um bom tempo
- Ninguém que tu conheças, Thi... – Fui inventar história, agora como eu sairia dela?
- E eu não vou conhecer?
- Um dia, talvez...
- Huuum...
Nós terminamos de lanchar e ele foi embora.
- Tchau! – ele disse me abraçando forte
- Tchau!
- A gente se vê...
- Claro!!!! Boa noite, Thi!
- Boa! Tchau, princesa Sophie! – Ele pegou minha filha no colo, a abraçou, a beijou...
- Tchau, Titi! – Ela disse rindo de tanto que ele tinha beijado as bochechas dela
- Tchau! – Ele ficou olhando para mim
- Tchau!
Ele foi andando até o carro dele, entrou. Eu abri o portão e ele se foi.