Depois que o Thi tinha ido embora, eu entrei com a Sophie, dei um baninho nela e a deixei prontinha para dormir. Nós ficamos na sala de vídeo, eu coloquei uns filmes infantis para ela assistir. Ela estava cansadinha, então, logo dormiu, apesar de eu não querer que ela dormisse tão cedo. Eu a levei para o quarto e resolvi descer.
Como ela estava dormindo e eu estava sozinho sem nada para fazer, eu resolvi ler, ouvir música e tomar um vinho. Fui até a cozinha e selecionei um bom vinho francês. O Thi tinha toda razão, eu realmente estava pobre de vinhos. Quando o Bruno estava aqui, aquilo vivia cheio. Sempre tinha vinho em casa, pois ele sempre bebia com os meninos. Ele era um verdadeiro pinguço! Era tão bom lembrar dele com felicidade, com meu coração repleto de amor e gratidão por ele ter me escolhido, por nós termos sido tão felizes juntos.
Peguei meu vinho, fui para a sala de vídeos. Coloquei um CD de MPB e Bossa Nova. Eu AMO MPB, Bossa Nova... são músicas que conversam com a alma. Eu estava lendo há um tempão um livro francês, mas com filho pequeno, a gente não tem muito tempo para leituras. Eu ainda fui ao meu quarto e peguei uns incensos e os acendi, eu adorava fazer isso. Adorava relaxar... ficar em paz. Eu viajei, viajei na música, viajei no livro e viajei no vinho.
Depois de um certo tempo, meu celular vibrou em cima de mim. Eu sempre deixava o celular em cima da minha barriga, quando eu estava deitado. Se eu não atendesse quando meus amigos ou pais ligavam, eles logo imaginavam que eu estava morto. Era uma mensagem do Thi.
“O QUE TU ESTAS FAZENDO?”
“SE EU TE FALAR TU VAIS FICAR MEIO PUTO...”
“NÃO ME DIZ QUE TU ESTÁS COM TEU ‘AMIGO”
“NÃO, SEU BESTA! NÃO ESTOU COM AMIGO NENHUM”
“O QUE TU ESTAS FAZENDO, ENTÃO?”
“TÔ NA MINHA SALA, LARGADO NO SOFÁ, OUVINDO UMA BOA MUSICA, LENDO UM BOM LIVRO E TOMANDO UM EXCELENTE VINHO”
“VINHO?? NÃO ACREDITO QUE NÃO ME CHAMASTE! CHATEADO!”
“DEIXA DE GRACINHA, THI! EU RESOLVI TOMAR AGORINHA. A SOPHIE DORMIU E EU FIQUEI SOZINHO SEM TER O QUE FAZER”
“E POR QUE NÃO ME CHAMASTE?”
“POR QUE EU NÃO IA FAZER TU VIRES DA TUA CASA SÓ TOMAR UM VINHO, NÉ?”
“E POR QUE NÃO? EU ADORARIA! TU SABES COMO EU AMO VINHO”
“EU JURO QUE EU COMPRO UM VINHO AINDA MELHOR E TE CHAMO, PODE SER?”
“PODE, NÉ?! MAS, AINDA TO CHATEADO!”
“GRACIOSO!”
“EI...”
“OI?”
“NA QUARTA TU ESTAS OCUPADO?”
“DEPENDE DO HORÁRIO... POR QUE?”
“TOPA FAZER UM PIQUENIQUE NO FINAL DA TARDE?”
“TOPO! QUEM VAI?”
“COMO ASSIM QUEM VAI? VAMOS TU, SOPHIE E EU, ORA!”
“TA BOM! TA BOM! SÓ PERGUNTEI...”
Ele parou de mandar mensagem.
“MORREU?” – Eu mandei
“NÃO! FUI VER SE TINHA UM VINHO, AQUI”
“NÃO ACREDITO! HAHAHA”
“É, FIQUEI NA VONTADE, AGORA!”
“NÃO TINHA? HAHAHAH”
“NÃO!”
“EI... EU FIQUEI PENSANDO... E SE A GENTE FIZESSE UM JANTAR AO INVÉS DE SER UM PIQUENIQUE?”
“POR QUE NÃO QUERES PIQUENIQUE?”
“POR QUE NÃO TO AFIM DE IR PARA AQUELA PRAÇA, NÃO”
“MAS EU NEM DISSE PARA QUAL PRAÇA NÓS IRIAMOS...”
“MAS EU SEI QUE TU IRIAS PARA O PARQUE DO FORTE”
“POXA...”
“LÁ TÁ FEIO, THI. E NO JANTAR A GENTE PODE TOMAR VINHO...”
“É...PENSANDO BEM, EU PREFIRO O JANTAR”
“É, EU JÁ IMAGINAVA! HAHAH”
“EI, O HEVERTON ME MANDOU MENSAGEM...”
“MENTIRAAAAA!!!! E AÍ?”
“ELE QUER VOLTAR, ACREDITAS?”
“DEPOIS DE TU TERES SIDO UM PUTA ESCROTO COM ELE?”
“POIS É...”
“QUE CARA DOIDO! EU TINHA TE MANDADO MENSAGEM TE MANDANDO PRA PQP, ISSO SIM”
“HAHAHAH... EU QUASE FIZ ISSO COM ELE”
“FOSTE ESCROTO COM ELE DE NOVO?”
“NÃO, FUI EDUCADO. DISSE PARA ELE NÃO ME MANDAR MAIS MENSAGEM, POIS NÃO TINHA NADA COM ELE. NUNCA TIVE”
“ME AVISA QUANDO NÃO FORES ESCROTO, TÁ?”
“O QUE? NÃO FUI! JURO PRA TI! FUI BEM EDUCADO, MAIS DO QUE ELE MERECIA”
“SE TU DIZES... O QUE TU ESTÁS FAZENDO AÍ?”
“ADIVINHA...”
“PLANEJANDO AULA?”
“ACERTOU!!”
“AI QUE HORROR! AINDA BEM QUE ME LIVREI DISSO...”
“ATÉ ONDE EU SEI, TU GOSTAVAS...”
“AI, THI, POSSO ATÉ GOSTAR... MAS É TÃO BOM DEIXAR TEU TRABALHO NO TEU LOCAL DE TRABALHO. EU NÃO TRAGO NADA DO RESTAU PARA CASA. É UMA MARAVILHA”
“DEVE SER BOM MESMO... TEM HORAS QUE EU TENHO VONTADE DE ESCREVER EM ALGUMAS AVALIAÇÕES: MOLEQUE BURRO, BURRO, BURRO!
Eu me acabei rindo. O vinho começou a fazer efeito...
“QUE MALDADE!”
“MALDADE? MALDADE É O QUE ELES FAZEM COMIGO, FAZENDO EU LER ESSAS PORCARIAS QUE ELES ESCREVEM! BANDO DE MOLEQUE BURRO!”
Nós paramos de mandar mensagem, eu deixei ele planejar.
“CADÊ TU?” – Ele mandou
“TO AQUI, ORA!”
“SUMISTE...”
“DEIXEI TU PLANEJARES”
“ACABEI DE ACABAR... COMO TÁ O VINHO?”
“ÓTIMOOOO!!!”
“QUE INVEJA”
“É FEIO TER INVEJA, MENINO! HAHAHA”
“QUERIA ESTAR AÍ...”
“QUERIA QUE TU ESTIVESSES AQUI...”
“ERA SÓ TER ME CHAMADO...”
“EU SEI, DA PRÓXIMA EU TE CHAMO SEM PENSAR DUAS VEZES”
“QUE BOM! GOSTO DE ESTAR CONTIGO!”
“É, EU TAMBÉM GOSTO DE ESTAR CONTIGO”
Eu fui até a cozinha e peguei uns queijinhos que tinham por lá.
“SUMISTE DE NOVO?”
“NÃO, FUI PEGAR QUEIJO NA COZINHA”
“AÍ JÁ É SACANAGEM COMIGO!”
“DESCULPA... HAHAH”
“TO PENSANDO SERIAMENTE EM IR AÍ CONTIGO...”
“QUE NADA! FICA QUIETO AÍ, JÁ ESTÁ TARDE”
“EU TO SOZINHO, AQUI. NÃO TENHO NADA PARA FAZER...”
“EU TO SOZINHO AQUI E NÃO ESTOU MORRENDO”
“AH, MAS TU GOSTAS DE FICAR SOZINHO”
“NÃO GOSTO MUITO, NÃO. MAS, É O JEITO.”
“TU NÃO SENTES FALTA DE ALGUÉM, NÃO?”
“OLHA, PARA FALAR BEM A VERDADE, EU SINTO”
“E POR QUE ESTAS SOZINHO?”
“POR QUE EU NÃO QUERO SUBSTITUIR O BRUNO. ISSO É IMPOSSIVEL”
“NINGUÉM NUNCA IRÁ SUBSTITUI-LO, ANTOINE! TU SÓ VAIS CONTINUAR TUA VIDA”
“NÃO É ISSO QUE O MEU CORAÇÃO DIZ”
“TÔ INDO DORMIR... BEIJO!”
“MAS JÁ? VAI NÃO!”
“AMANHÃ EU DOU AULA CEDO”
“EU TRABALHO CEDO E EU AINDA TO ME EMBEBEDANDO”
“HAHAHA... OLHA A RESSACA, AMANHÃ!”
“QUE NADA! TO OUVINDO ‘COMO EU QUERO”
“SÉRIO? A GENTE OUVIA JUNTOS ISSO!”
“POIS É... EU LEMBREI DA GENTE AO OUVIR”
“SÉRIO?”
“SÉRIO!”
“FICO FELIZ EM SABER DISSO...”
“AMO KID ABELHA”
“EU TAMBÉM!”
Eu fui pegar o controle do som, pois eu queria passar a música que estava tocando.
“AH, VOU DORMIR! TU SOMES, MEU!”
“DEPOIS O DRAMÁTICO SOU EU...”
“TU ME DEIXAS FALANDO SOZINHO!”
“CALMA! HAHAHA”
“JÁ BEBESTE QUANTAS TAÇAS?”
“SERIA MELHOR PERGUNTAR QUANTAS GARRAFAS”
“BEBUM!”
“OLHA QUEM FALA”
“EI, TU JÁ FOFOCASTE PARA A JUJUBA, NÉ?”
“O QUE?”
“O LANCE DO HEVERTON”
“EUUUU?? NUNCA! JAMAIS!”
“ATÉ PARECE...”
“FOI MAL, MAS EU TINHA QUE CONTAR O BABADO PRA JU”
“TU ÉS MUITO BOCUDO!”
“EU CONTEI PARA ELA NA HORA DO LANCHE”
“COMO NA HORA DO LANCHE? TU NÃO ESTAVAS FALANDO COM TEU ‘AMIGO’?”
“O MEU AMIGO ERA ELA... SE EU SOUBESSE QUE ELA TE FALARIA EU NÃO TERIA INVENTANDO HISTÓRIA”
“ELA NÃO ME DISSE QUE TU TINHAS FALADO PARA ELA!”
“NÃO? DROGA!!”
“HAHAHA NÃO! ELA VEIO FALAR QUE ERA MELHOR EU TER ME LIVRADO DO HEVERTON, AI SO QUEM SABIA ERA TU, ENTÃO...”
“QUE DROGA, EU ME ENTREGUEI DE GRAÇA...CHATEADO COM MINHA BURRICE!”
“BEM FEITO! HAHAHAH”
Eu fiquei sem mandar mensagens por um tempo, por que foi burrice minha mesmo. Que burrice! Ele jogou verde e colheu maduro. Droga!
“QUER DIZER QUE NÃO TEM NENHUM ‘AMIGO’?”
“EU DISSE QUE NÃO TINHA!”
“JUJUBA TÁ ME LIGANDO, VOU ATENDER. DEPOIS NOS FALAMOS”
“TA BOM”
“BEIJO”
“OUTRO”
Eu deixei o celular de lado e me concentrei na musica. Eu já não podia mais me concentrar no livro, já que a taxa de álcool estava elevada. Tocava “Lembra de mim” de Nana Caymmi (https://www.youtube.com/watch?v=zGOhdIcYIeM). Foi aí que eu me toquei no que eu estava fazendo. O que o Pi tinha me dito, o que a Jujuba, mesmo brincando havia me falado também. Thi queria algo a mais, mas eu não podia dar algo a mais. Eu não podia trair o Bruno. Eu não podia! Não podia esquecê-lo, não podia esquecer tudo o que vivemos. Não podia permitir ninguém mais ocupar o lugar que era dele e só dele dentro do meu coração.
Foi a primeira vez depois que ele se foi que meu corpo comandou meu coração e minha mente. Foi a primeira vez que eu desejei estar com alguém. E tinha que ser logo o Thi? Eu não podia faze-lo sofrer. Não podia faze-lo acreditar em algo que não aconteceria. Eu fui um bobo, eu me deixei levar. Eu não pensei, eu não lembrei do Bruno. Como eu pude não lembrar dele? Como eu pude esquece-lo tão facilmente? Isso não poderia mais acontecer...
Eu fiquei escutando música e me remoendo por dentro. Meu corpo pedia uma coisa, mas meu coração pedia outra. Eu estava há muito tempo sem saber o que era sexo e é claro que uma hora ou outra, meu corpo despertaria. NÃO! Eu não podia pensar nisso! Não podia pensar em sexo! Pensar em sexo, era trair o Bruno e isso era algo que eu jamais faria. Eu fui dormir com minha cabeça girando... Eu tinha que conversar com o Thi, foi meu ultimo pensamento naquela noite.
Na manhã seguinte eu repeti toda a minha rotina matinal. Preparei tudo, depois acordei a Sophie, nós nos arrumamos, tomamos nosso café e depois partimos.
- Bom dia, pessoal! – Eu disse entrando no restau
- Bom dia, chef!! – Minha equipe respondeu
- Prontos para mais um dia?
- Sim, senhor!
- Então, bom trabalho para todos nós! Vamos fazer as pessoas felizes por meio da alimentação.
Eu sempre gostava de animar minha equipe, afinal, comida tem sentimento. A comida só é boa, quando a gente cozinha feliz. Nós rapidamente nos organizamos, eu dividi a equipe e tudo começou a caminhar como deveria.
- Oi, primo! – Pi entrou na cozinha para falar comigo
- Oi! Ué, o que fazes aqui essa hora?
- Temos que conversar urgentemente.
- Ai, meu Deus, é sério?
- Depende da perspectiva...
- Ai, meu Deus!
- Vamos lá no escritório.
- Não posso sair daqui agora, Pi, tu sabes disso.
- Antoine, deixa os meninos cuidando das coisas e vem, é muito importante.
- Ai, droga, tá bom.
Eu já imaginava que era para falar alguma coisa sobre o pai dele. Eu deleguei as funções e fui para o nosso escritório.
- O que foi? – Eu disse sentando na frente dele
- Eu recebi um e-mail ontem.
- Do Tonton?
- Não, claro que não! Por que eu receberia um email dele?
- Sei lá... A gente não veio aqui falar dele? Pensei que fosse dele...
- Não, a gente não veio falar do Papa!
- E é sobre o que, então? – Eu estava nervoso já
- Se tu deixares eu contar, eu conto...
- Tá, ta bom... conta.
- Ontem eu recebi um e-mail da minha faculdade, de Paris. Eles estão me oferecendo um curso de novas técnicas de culinária. Mas eu realmente não estou interessado em ir para a França no momento, eu não posso deixar o Dudu aqui e ele não pode ir para lá no momento. Então, eu pensei em ti. Tu não tens nada que te prenda aqui, a Sophie pode muito bem ir junto contigo.
- Pi... – Eu fiquei sem palavras.
- Antoine, é uma oportunidade única. Essa é uma das melhores universidades francesas, quando o assunto é gastronomia. Tu tens noção do quanto isso enriqueceria nosso trabalho no restau?
- Mas Pi...
- Antoine, o curso é de seis meses. Não é muito tempo, eu preciso de uma resposta agora. Eu enviei um email no mesmo momento para um dos meus antigos professores e ele me disse que ele consegue trocar a minha vaga, trocaria meu nome, no caso. Ele te colocaria na lista. O que me dizes?
- Ai, Pi, sei lá... Seis meses sozinho na França?
- Primo, pensa um pouquinho no futuro do nosso restau... isso seria muito bom para nós. Tu voltarias de lá e faria um curso para nós, ai todos nós teríamos acesso às novas técnicas.
Eu parei um pouco para pensar, eu realmente não teria nada que me prendesse em Macapá. Para onde eu fosse, eu levaria minha filha e como ela ainda não estava em idade escolar, eu não teria nenhum problema.
- Tá, tá, eu aceito. Eu vou!
- YEEEEEEEEEEEEEEES!!!! Vai ser muito bom, primo! – Pi estava radiante
- La vamos nós ter que organizar tudo novamente...
- Do que estás falando?
- Ter que organizar apartamento, passaporte, etc... A última vez que fiz isso, eu estava indo com o Bruno...
- Mas agora tu estás indo com a tua filha, tu vais poder mostrar para ela a nossa cidade natal.
- Verdade!
- Bom, então, estamos acertados. Agora, volta para a cozinha antes que aqueles malucos coloquem fogo em tudo.
- Querido, minha equipe não é que nem a tua não. A minha equipe dá conta do negócio...
- Olha, pra ti! – Ele me mostrou o dedo
Eu ri e fui para a minha cozinha. Cuidamos de tudo, como sempre foi aquela loucura, mas como sempre, sobrevivemos.
- Obrigado por mais um dia, pessoal! Bom descanso! Até amanhã! – eu disse liberando minha equipe
Sai do restaurante e fui para a casa dos meus pais. Eu ainda estava meio tonto com a novidade que o Pi tinha me contado. Seis meses na França seria muito bom. Eu ficaria sozinho, o que seria muito bom para pôr minha cabeça no lugar.
- Oi, Maman!
- Oi, chéri!
- Cadê minha filha?
- Tá brincando com o Gui.
- Ai, não deixe eles sozinhos...
- Antoine, nada vai acontecer com a Sophie, ela só está brincando com o tio. Te aquieta, menino.
- Tenho que conversar com a senhora.
- Sobre?
- Sobre uma viagem que eu vou ter que fazer.
- Ah, tu queres que eu fique com a Sophie?
- Na verdade, Maman, ela vai comigo.
- Pra onde tu vais?
- Para Paris.
- Pra onde, menino?
- Para Paris.
- E o que é que tu vais fazer lá?
- O Pi me enfiou num curso de gastronomia. Ele não pode ir e eu terei de ir representando o restau.
- E pra que tu vais levar a Sophie?
- Por que o curso é de seis meses, Maman. Eu não posso ficar seis meses longe da minha filha.
- E como tu vais estudar com ela?
- Em Paris existe creche também, Maman.
- Mas eu vou ter que ficar seis meses sem minha neta? Ela vai até me esquecer...
- Depois não sabem o motivo de eu ser dramático. São só seis meses, Maman, nem cachorro esquece o dono nesse tempo.
- Meu filho, não gosto quando tu viajas...
- Eu sei, mas eu preciso ir, Maman.
- Poxa, seis meses... teu pai vai ter um troço.
- Eu sei, e é por isso que eu contei primeiro para a senhora. A senhora vai conversar com ele, né?
- Eu? Mas eu também não quero que tu vás...
- Maman! A senhora não vai ajudar seu filho lindo?
- Meu filho lindo vai exibir a beleza dele em Paris sem mim.
- Pior que faz um tempão que a senhora não vai lá, né?
- Ai, meu filho, já nem lembro mais como é meu pais.
- A senhora pode ir me visitar lá, olha que maravilha.
- Com a Anne em ano de vestibular? Muito difícil, meu amor.
- Ah, a senhora pode passar um mês lá comigo. Em um mês a Anne não morre, no meu ano de vestibular a senhora vivia viajando para Guyane e nem por isso eu morri. Seria bom a senhora rever seus irmãos, sua família.
- Vamos ver, vamos ver...
- Bom, deixa eu ir para a minha casa. Vou lá pegar minha pimentinha.
Eu fui até a área onde meu irmão e minha filha brincavam.
- Oiiii!!
- Papaaaaaaa!!! – Ela largou o que estava fazendo e vem em disparada para o meu colo
- Oi, meu amor! Tu estavas brincando, é?
- É!
- Oi, Gui!
- Oi, mano! – Ele veio me abraçar também
- Vamos pra casa?
- Ah, não!
- Filha, tu já brincaste bastante com teu tio.
- Não vai ainda, mano. Tu nunca mais vieste aqui, tu só vens buscar a Sophie e isso tu fazes em 10 minutos no máximo.
- Eu tenho um monte de coisas pra fazer, Gui.
- Ah, mas fica mais um pouco. Tem um tempão que tu não jogas comigo.
Eu realmente estava em débito com meu irmão. Eu resolvi ficar. Nós deixamos a Sophie com a Maman e fomos para o quarto dele jogar vídeo game. Nós passamos a tarde inteira jogando. A Sophie vez ou outra aparecia no quarto e fazia a maior bagunça com os controles do vídeo game, o que fazia o tio ficar com muita raiva mortal, pois os vídeos games dele eram para ele como a Sophie é para mim.
- Bom, agora eu realmente tenho que ir, Gui.
- Tá cedo, mano.
- Tá nada! Já tá escurecendo. Tenho um monte de coisas pra fazer em casa, tenho que fazer jantar para a Sophie...
- Aaaaah... agora pra tu vires de novo, só ano que vem.
Seria isso mesmo, já que eu passaria o resto do ano na França. Eu me despedi do meu irmão e desci as escadas e dei de cara com o Papa.
- Carlos, o Antoine quer conversar contigo. – Maman fez de propósito.
- Oi, filhote! – Ele veio me abraçar e me dar um beijo
- Oi, Papa!
- O que queres conversar comigo?
- A senhora me paga! – Eu disse olhando para a Maman que só fez rir
- Te vira! – Ela ainda teve a audácia de dizer isso rindo
- Papa, é o seguinte, vou ser direto: vou ter que viajar para Paris e vou ter que passar seis meses lá.
Ele ficou parado na minha frente, sem reação nenhuma.
- Não! – Ele disse tranquilamente
- Papa!
- Não, Antoine! – Ele nunca me chama pelo nome, NUNCA.
- Papa, desculpe-me, mas eu não estou pedindo permissão, eu só estou avisando vocês.
- Não, Antoine! Não e não!
- Papa, já está decidido.
- Não, tu não vais! Eu já perdi um filho, não vou perder o outro.
Aquilo foi uma facada no meu coração. Eu sofri, mas não pensei em como meu pai tinha ficado. Ele amava o Bruno como um filho, o Bruno era o parceiro dele pra tudo. Eu tive vontade de chorar, mas me segurei.
- Papa, eu preciso ir...
- Meu filho, não vai. Eu não vou aguentar te ver partir... – Ele começou a chorar
- Aaaah, Papa, não chore... eu preciso ir. É uma oportunidade única para o restau. – Eu disse abraçando meu pai
- Se é para o restau, o Pierre pode ir.
- Não, não pode não. Serão só seis meses, Papa.
- Da última vez foram só oito e tu voltaste de lá com câncer.
- Eu não vou voltar de lá com câncer. Não se preocupe, o senhor não vai me perder.
- Tu não vais!
Eu tive que demorar mais um pouquinho na casa dos meus pais, eu tive que confortar meu Papa. Eu saí de lá com ele dizendo que eu não iria de jeito nenhum, mas ambos sabíamos que essa decisão não era dele.
Eu fui para casa com minha filha. Ela chegou e já foi logo brincando com o Sheep. Quando a gente chegava em casa ele fazia a maior festa. E o que eu faria com o Sheep? Quem cuidaria do meu cachorrinho? Não poderia larga-lo e nem dá-lo para ninguém, a Sophie era louca por ele. Enquanto eles brincavam um pouquinho, eu me deitei na sala de vídeo para descansar um pouco. Acabei cochilando.
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Oi, meus amores! Como vocês estão? Hoje, farei como nos dias anteriores, vocês vão comentando e eu irei comentando logo em seguida também. Um beijoooo em todos!
PS. To respondendo agora os comentários do capítulo anterior...
