Os dias foram passando e eu tive que ir me organizando o mais rápido possível. Nós tivemos que pedir socorro para a minha tia, a mãe do Pi, ela ficou responsável mais uma vez por mandar limpar e organizar o apartamento. Eu não ficaria no mesmo apartamento que eu fiquei da última vez, pois tanto o apartamento que Bruno e eu ficamos quanto o apartamento do Pi estavam alugados. Eu teria que ficar num apartamento que era da família do pai do Pi.
Eu confesso que achei bem estranho ele ter deixado eu ficar lá, logo ele que tinha horror a homossexuais. Ele esteve em Macapá, mas ele veio tão rápido que eu nem tive a oportunidade de ve-lo com toda a correria que eu estava tendo. O Pi não me contou o que aconteceu e nem o motivo da visita do Tonton, eu também não perguntei. Se ele quisesse que eu soubesse, ele teria me contado.
Eu não havia mais falado com Thi, não pessoalmente. Às vezes a gente se falava por mensagens, mas era sempre conversas bem breves, do tipo: “oi”; “tudo bem?”; “sim”; “e tu?”; “bem também”; silencio....
Eu pensava todos os dias no beijo que ele tinha me dado e que eu permiti que ele desse. Eu pensava sob duas perspectivas: 1 eu tinha traído o Bruno e isso me corroía por dentro 2 eu tinha gostado, isso me corroía mais ainda. Era uma tarde de sexta feira quando a Jujuba me ligou.
- Oi! – Ela disse no telefone, eu conhecia muito bem aquele tom de voz
- Oi!
- Está sem casa?
- Tô!
- Ótimo! Não sai daí! Estou indo aí! – Ela desligou o telefone e nem me deu a oportunidade de contestar
30 minutos depois da ligação dela, ela chegou em casa com a Bruninha. Nós sentamos na varanda, Sophie brincava correndo descalça pelo jardim com o Sheep, eu gostava quando ela entrava em contato com a terra, com as plantas, com a natureza. Criança precisa disso, precisa se conectar com a natureza e perceber a importância dela para nós. Eu sempre fiz questão de ensinar isso para a minha filha. Jujuba e eu sentamos nas cadeiras grandes e confortáveis da varanda e de lá eu ficava olhando a Sophie brincar.
- O que foi? – Eu perguntei
- O que foi? O que foi? Como assim o que foi?
- Ju, eu não sou adivinho para saber o que queres...
- Deixa de ser pateta, né Antoine?! Eu já soube da conversa com o Thi.
- Não era para ele ter contado...
- E ele iria sofrer sozinho por acaso? Eu prometi não contar pra ti, mas eu não posso fazer isso. Quando tu viajas?
- Daqui dois dias.
- Tu vais mesmo?
- Vou!
- Tens certeza de que é isso que queres?
- Claro que tenho, Juliana!
- Antoine, eu vou ser bem direta – eu tenho até medo quando ela fala sério daquele jeito – tu estás jogando a tua felicidade no lixo.
- Jujuba, a minha felicidade foi embora no dia que eu perdi meu marido.
- Deixa de ser imbecil, Antoine! E não adianta fazer cara feia para mim, tu sabes muito bem que eu sou a única que consegue dizer umas boas verdades pra ti. Então, querido, fecha a boa e escuta tudo o que eu tenho pra te falar. Se quiseres falar, vais ter que esperar eu terminar, ok?
- Sim, senhora!
- Bom, vamos começar relembrando os últimos acontecimentos. Tu tens saído com o Thi. O Thi tem saído contigo e com a Sophie. O Thi te ama. O Thi ama a tua filha. Tua filha ama o Thi. TU amas o THi. – Eu abri a boca, mas ela não deixou eu falar – SIM, tu amas o Thi! Deixa de ser idiota! Como eu sei disso? Basta olhar pra vocês dois juntos. Vocês estão sempre sorrindo, vocês estão sempre felizes. Um longe do outro é infelicidade certa. Eu conheço muito bem os dois. Não me vem com esse papo “ah, tô traindo o Bruno” NÃO! Tu não estás traindo o Bruno, seu cagão! Tu amaste o Bruno, ama ainda, eu sei. Mas, Antoine, tua vida continua. Tu precisas amar, tu precisas TRANSAR! Já disse, não adianta me olhar de cara feia. – ela falava isso tova vez que eu reagia negativamente ao o que ela me falava – Tu precisas transar, sim. Todo ser humano precisa disso! Tu estás indo para Paris para fugir de tudo isso. Para fugir do que tu estás sentindo. Tu estás fugindo de ti mesmo, mas querido, isso é impossível. IMPOSSIVEL! – Ela estava furiosa – Eu pensava que vocês iriam se entender direitinho, eu estava torcendo por isso. Mas não, eu tenho que me meter na história, por que como sempre tu és sempre um idiota quando se trata de Thiago. Tu tinhas que agradecer a Deus por ter uma segunda chance para ser feliz. Tu vives reclamando que tua vida é uma merda, que tu não entendes o motivo de acontecer tanta coisa ruim na tua vida. Mas, idiota, presta atenção. – ela me deu um tapa forte na cabeça – Tu terminaste com o Thi e o Bruno apareceu na tua vida e te fez o cara mais feliz desse planeta, agora tu perdeste o Bruno e Deus está te dando mais uma chance pra ser feliz. Ele está dando mais uma chance para tu e o Thi serem felizes juntos. Como tu falas, tu és espirita e por isso tu já deverias ter percebido que tu e o Thi tem alguma missão muito especial, por que vocês não conseguem se desvincular. Olha só Antoine, ele te amou durante todo esse tempo. Tu tens noção de como isso é difícil? Quem é que espera a outra pessoa sabendo que ela está casada, com filho? Quem? Quem é que iria te esperar desse jeito? Vocês têm que ter algo muito especial. Não estraga isso, seu idiota. Eu não consigo te entender, meu. Não consigo mesmo. Essa é a última vez que eu vou me meter nessa história. Tu és adulto, tu sabes o que fazes da tua vida. Agora, se um dia tu vieres reclamar de alguma coisa eu juro que eu te dou um soco na tua cara, por que é isso que tu estás merecendo. Para de te fazer de vitima, já tem mais de um ano que o Bruno se foi. Tem mais de um ano que tu não sabes o que é ser tocado por alguém que te ama. O Thi é o único cara que te entende. Pensa bem, se é difícil para uma mulher solteira conseguir um cara disposto a cuidar dos filhos dela, e veja bem eu não estou falando de amor... Agora, imagina um cara conseguir outro cara disposto a isso? Tu, seu imbecil, tu tens um cara maravilhoso que te ama e está disposto a cuidar da tua filha como se fosse filha dele. Pensa nisso... – Ela parou de falar
Eu fiquei em total silencio. Eu não sabia o que falar. Eu não sabia como reagir a tudo aquilo que ela falou.
- Tu não vais falar nada, idiota?
- Para de me chamar de idiota!
- Mas, é isso que tu és! Um idiota, um imbecil que não percebe o amor debaixo do teu nariz.
- Jujuba, eu tenho meus motivos, beleza?
- Não, não tem! Chega de falar que é por causa do Bruno. Eu tenho certeza que ele não iria querer te ver sozinho.
Eu fiquei em silêncio novamente, durante um bom tempo. Ela pareceu estar mais calma.
- Desculpa se eu peguei pesado demais...
- Desculpada!
- Amigo, tu precisavas ouvir tudo isso.
- Eu sei, Ju.
- Por que tu não queres ficar com ele?
- Jujuba, é complicado...
- Descomplica! Quando a gente quer ser feliz, não existe nenhum obstáculo.
Eu fiquei em silêncio mais uma vez. Na verdade, minha cabeça estava girando. Eu não sabia em que pensar e muito menos o que falar.
- Tu vais mesmo para Paris?
- Vou! Eu preciso ir! Eu sinto que eu tenho que ir.
- Bom, eu fui tua amiga. Eu te advertir. Tu estás jogando tua felicidade no lixo.
- Eu não quero ficar com ele, Ju.
- Antoine, não é isso que os teus atos dizem. Eu te conheço muito bem para saber que tu estás tentando mentir pra ti mesmo.
- Eu tenho medo, ok?
- Medo de que?
- Tenho medo de dar errado, Jujuba. Já deu errado uma vez. Tenho medo de perde-lo de vez. Tenho medo de perde-lo... Toda vez que eu começo a ser feliz, alguma merda acontece.
- Mas isso vai acontecer com toda a certeza desse mundo, a partir do momento que tu colocares os pés naquele avião, tu vais perder o Thi. Pensa um pouquinho nele, ok? Pensa em como foi difícil para ele. Tu tiveste a sorte de encontrar o Bruno e ele? Ele não encontrou ninguém! Ele te esperou! Ele nunca deixou de te amar.
Eu mais uma vez fiquei em silêncio. Eu sabia que ela estava certa, mas eu não conseguia. Não conseguia me desvincular do Bruno. Não podia fazer isso com o nosso amor, com a nossa história. Aquilo tudo era só o meu corpo falando por mim, era só o desejo falando mais alto que minha razão. Era só isso, eu repetia para mim mesmo. Eu não podia estar com o Thi só por desejo, ele não merecia isso. De jeito nenhum! Ele merecia alguém que o fizesse feliz, muito feliz. Eu não era essa pessoa. Ele merecia alguém completo, inteiro para ele. Eu não estava, ainda, inteiro nem para mim. Estava decidido, eu iria para Paris.
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O dia da minha viagem havia chegado. Os únicos que foram no aeroporto foram o Dudu e o Pi. Meu pai não quis ir se despedir de mim lá, ele havia passado no outro dia na minha casa, ele, minha mãe, meus irmãos e meus avós. Papa chorou bastante, ele não aceitava de jeito nenhum minha ida a Paris.
- Tchau, mano! – Dudu disse me abraçando, ele também estava triste
- Tchau! – eu o apertei
- Volta inteiro de lá, viu?
- Vou voltar! Não te preocupa!
- E não ousa ficar mais do que seis meses, por que eu juro que eu vou lá te buscar.
- Bobo!
Ele pegou a Sophie do colo do Pi.
- Primo, vai com Deus!
- Obrigado! Fiquem com ele!
- E é só seis meses, viu? Eu concordo com o Dudu, se ficares mais que isso, a gente vai lá te buscar.
- Podem deixar! Cuidem da minha casa, do meu carro e do meu filho de quatro patas. Se eu chegar e encontrar um arranhãozinho sequer no meu carro, eu mato os dois. Estamos entendidos?
- Vamos cuidar de tudo! Obrigado por estar fazendo isso por nós.
- Imagina! É para o bem do nosso restaurante. Ah, falando em restaurante... pega leve com a minha equipe, se não, eles te mergulham num tacho quente. Eu os deixei bem instruídos a isso. E não muda nada do que eu construí lá, se não tu vais te ver comigo quando eu voltar.
- Sim, senhor! Pode deixar! Vou cuidar da tua equipe como se fossem meus filhos.
- Deus é mais, se tu já escroteia com eles por não serem teus filhos, imagina sendo... Não, não - Ele riu – Eu to falando sério, cuida deles.
- Pode deixar!
- Bom, então é isso... até daqui seis meses, até o ano que vem.
Dudu me abraçou novamente.
- Odeio quanto tu viajas... eu não sei ficar sem meu irmão...
- Agora tu tens teu marido...
- Ele não é meu irmão!
- Mas ele vai saber cuidar de ti... Bom, fui... – Eu o apertei mais uma vez, acabei apertando a Sophie junto
Eu peguei minha filha no colo e entrei na sala de embarque. Nem a Jujuba e nem o Thi vieram no aeroporto. Jujuba passou em casa também, mas o Thi só me ligou. Eu o entendia... não o julguei por não querer se despedir de mim. Eu fui para Paris triste por te-lo deixado triste. Mas, eu também fui visando novos horizontes, novas experiências, uma nova vida... Era isso que eu ansiava.
Cheguei em Paris e não tinha ninguém para me recepcionar. O Pi estava no Brasil e minha tia super ocupada com a galeria dela. Eu peguei um taxi e fui para o apartamento. Minha tia tinha deixado tudo pronto para mim, e já tinha avisado o porteiro do horário que eu chegaria. O apartamento era bem menor, quando eu tinha vindo na outra vez, Bruno e eu ficamos em um apartamento bem espaçoso, comparado aquele ali. Mas, como era somente para mim e para a Sophie, estava tudo certo.
Eu havia chegado de manhã lá, eu teria a tarde para resolver minha vida. Tinha que ir atrás de uma creche. Minha tia já havia conversado com algumas e tinha adiantado o contrato. Eu só teria que passar nelas para ver se eu gostava. E foi o que eu fiz, ela deixou três creches indicadas. Eu passei nas três e ao contrário do Brasil, eu poderia deixar a Sophie em qualquer uma, pois todas eram excelentes. Eu acabei escolhendo a que ficava mais perto de casa. Eu havia mudado de pais e de cidade, mas minha rotina continuaria a mesma. De manhã eu deixaria a Sophie e iria para a universidade, a tarde eu a buscaria na creche e iria para casa. Eu teria um bom tempo para passear por Paris com ela.
Saindo da creche eu procurei um supermercado e descobri um bem pertinho de casa, fui lá e comprei algumas coisas. Dessa vez, minha tia não se preocupou com minha geladeira. Passei a tarde na rua, na verdade. Sophie e eu só voltamos a noitinha para casa. Na manhã seguinte eu acordei no mesmo horário de sempre, a única diferença era que eu estava em outro fuso horário, o que me atrapalhava um pouquinho. Eu cuidei de tudo, fiz café para mim e para a Sophie, a acordei, dei o banhinho dela, tomei o meu, nos arrumamos, tomamos café e partimos.
Na creche, foi uma luta deixa-la, pois ela estava acostumada com a Tia do Brasil. E claro, ela estava acostumada a falar mais português que francês. Em casa, eu só falava francês com ela, praticamente. Ela tinha que aprender minha língua materna, afinal, nossa família toda era francesa e ela teria que saber se comunicar. Mas, mesmo eu falando francês com ela em casa, foi bem difícil a adaptação dela. Ela demorou mais ou menos umas três semanas para começar a ficar na creche sem chorar.
Após tê-la deixado na creche, eu fui para a universidade. Chegando lá, peguei informações sobre o curso, sobre o material necessário, e sobre meus horários e salas. Eu teria primeiro uma aula básica, e quando eu cheguei na sala, eu dei de cara com um professor muito gato. Ele já era coroa, mas pense num coroa bonito. Ele tinha os cabelos meio grisalhos e meio pretos, o que dava todo um charme. Tinha um corpo aparentemente bonito, não era fortão, mas era bonito. Era magro, mas nem tanto. A maior parte dos alunos eram homens, o que me assustou um pouco. Eu pensava que teriam mais mulheres, de um total de 20 alunos, só haviam 3 mulheres na minha sala.
Eu sentei quietinho e esperei a aula começar. Primeiro nós tivemos que nos apresentar e dizer de onde a gente vinha. Eu amo a França por isso, é uma diversidade cultural gigantesca. Na minha turma tinha gente de todas as partes do mundo. E CLARO, a peste do brasileiro não pode faltar. Havia um brasileiro, ele vinha do sul do Brasil. Era bem gatinho também, tinha 31 anos. Era dono de um restaurante em Curitiba. Todos foram se apresentando, alguns tinham dificuldade se se comunicar em francês. Quando eu disse que eu era do Brasil, ninguém acreditou. Todos pensaram que eu era da França mesmo, primeiro por que meu nome é francês, segundo eu não tenho o sotaque brasileiro quando falo francês. Então, eu tive que contar toda a ladainha da minha vida, mãe francesa casada com um brasileiro, família toda francesa, anos morando entre Guyane e França.
Todos ficaram bem surpresos. A turma era uma turma bem animada, em momento algum me senti deslocado, e acredito que nenhum colega se sentiu assim. Nós tínhamos entre 25 e 40 anos. Gente já madura e que sabia o que queria da vida. No final do primeiro tempo, meu coleguinha brasileiro tratou logo de fazer amizade comigo. Ele se chamava Odinaelson, um nome horrendo para um cara muito gato. Ele disse que eu poderia chama-lo de Nelson, pois quase ninguém conseguia falar o nome dele. Ele falava muito bem francês.
Outra que veio fazer amizade conosco, foi uma argentina. Ela era muito, mas muito bonita mesmo. Ela estava mais para modelo do que para chef de cozinha. Era pareceu ser muito gente boa, ela se chamava Micaela. Ela já chegou brincando com a gente, dizendo que ela não tinha nada contra a seleção brasileira. Ela era bem simpática. Os outros, se mantiveram mais distantes, tinha gente da Russia, da Ucrania, da Italia, da Espanha, de Portugal, do Marrocos, do Libam, da Africa e da própria França, de regiões como Toulouse, Montpellier, Rennes, Tours, Vichy e Clermont-Ferrand. Era uma mistureba bem legal de culturas.
Eu fiquei bem feliz com aquela turma. Todos eram chefs de restaurantes em suas cidades, os que não tinham o próprio negócio, trabalhavam em grandes restaurantes. Fiz ótimas amizades e obtive ótimos contatos. A aula do professor Maximilien era ótima, ele prendia completamente nossa atenção. No primeiro dia de aula já havia aprendido tanta coisa, mas tanta coisa que eu fiquei imaginando o que eu iria aprender em seis meses. Pi tinha razão, isso seria ótimo para o nosso restau. Tinha tanta coisa nova, tanta técnica legal. Apesar dos franceses serem um pouco frios, sim somos frios mesmo, fazer o que? Talvez nem seja frio, estamos mais para emburrados. O Maximilien era super gente boa, ele nos disse que qualquer dúvida era só procura-lo, ele estava sempre disposto a conversar com os alunos.
Eu fui para casa feliz da vida, eu tinha amado meu novo curso. Estava amando estar em Paris. Eu nem tinha lembrado de mandar mensagem para meus amigos. No dia anterior, eu só havia ligado para meus pais para avisar que eu havia chegado e que eu estava bem. Da universidade para casa eu fui de metrô. Mas, eu desci uma estação antes da minha, pois eu tinha que buscar a Sophie.
Quando ela me viu entrar na sala dela, ela veio correndo me abraçar. Nós nos despedimos da Tia e fomos andando pela casa. É incrível, mas passear por Paris não tem preço, não tem como descrever. É tudo lindo! É tudo mágico! Nós fomos passeando, eu estava no bairro que o Thi mais gostava em Paris. Eu estava no sexto arrondissement, como eu disse em outros capítulos, Paris é dividida em diversos arrondissement. Onde eu estava, ficava o Palais du Luxembourg e consequentemente o Jardin du Luxembourg, foi impossível não pensar nele, afinal, da última vez que estivemos em Paris, ele me arrastou com ele para aquele Palais.
Eu me lembrava a todo momento do beijo que ele tinha me dado. Eu gostei! Aquele beijo me trouxe doces memórias, me fez lembrar de uma época que estava guardada no escurinho, no fundo do meu coração. Aquele beijo me fez lembrar que um dia eu já o amei, e que agora...
Sophie e eu fomos andando até chegarmos em casa. Chegando lá, fiz tudo como de costume, cuidei de jantar, cuidei da Sophie, etc, etc... A única diferença, é que agora eu também tinha que estudar e isso eu fazia depois que a Sophie dormia.
Os dias se passavam e eu gostava cada vez mais do curso que eu estava fazendo. O Thi e nem a Jujuba estavam falando comigo, desde quando eu havia chegando em Paris eu só falava com meus pais, o Dudu e o Pi. Jujuba tinha sumido, talvez pelo fato dela ter que cuidar da Bruninha. O Thi, com certeza não iria querer falar comigo tão cedo. Eu sentia muito a falta dele. Eu queria estar com ele, ele me fazia rir... era sempre bom estar com ele. Aquele beijo... aquele beijo não saia da minha cabeça, quanto mais eu falava para eu esquecer, mais eu lembrava. Micaela, Nelson e eu tínhamos nos tornado bons amigos. Durante as aulas, a gente parecia três adolescentes. Nós fofocávamos, falávamos mal dos outros, agíamos exatamente como agíamos na época de faculdade. Era ótimo estar com eles. Nelson tinha feito um pacto comigo, ele não falaria português comigo, por mais que a vontade fosse gigantesca. Mas, ele frequentemente falava português comigo, e eu respondia tudo em francês. Minha cabeça ativa o francês quando estou na França e ativa o português quando estou no Brasil, apesar de meu português sofrer bastante interferência do francês. Nossos outros colegas eram meio frios, os únicos que fizeram amizade com a gente foram o Gille, o Alexis e a Annette. O Gille era de Clermont-Ferrand, o Alexis era de Vichy e a Annette era de Toulouse.
Nós tínhamos fechado nosso grupo. Éramos quatro franceses, um brasileiro e uma argentina. Todos na universidade achavam muito estranho nosso grupo, pois nós éramos os mais divertidos e barulhentos. Já viram como é brasileiro, não é? Nelson e eu fazíamos muita palhaçada. Nós tínhamos marcado um jantar no apartamento do Nelson, ele morava bem pertinho de mim. Eles queriam que fosse no meu apartamento, mas como era pequeno, não seria muito confortável. Eles marcaram o jantar, pois estavam loucos para conhecer minha princesa. Eu era o único solteiro do grupo, todos eram casados e tinham deixado seus maridos e suas esposas em suas cidades. O Gilles era vinhado que nem eu e ele era casado. Quando ele me mostrou a foto do marido dele, eu quase caio duro pra trás. Ele era muito, mas muito, mas muito parecido mesmo com o Thi. A Miky, Micaela tinha nos falado que ela preferia ser chamada assim, pois era assim que ela era chamada pelos amigos na Argentina, estava vendo se continuava casada ou não. Ela havia levado um chifre básico e estava usando o curso para se afastar do canalha e pensar sobre tudo.
Nelson tinha esposa e dois filhos, eles eram as coisinhas mais lindas do mundo. Ele tinha gêmeos, e os meninos dele eram muito fofinhos, eles tinham três aninhos. Nelson me contou que a parte mais difícil foi ter deixado os filhos no Brasil. Ele deveria ser um excelente pai, pois ele era preocupado com o bem-estar de todo nosso grupo. Ele era o tipo de cara que estava sempre disposto a ajudar, ele me lembrava bastante o Dudu. Alexis tinha a esposa dele, mas ela sempre vinha visita-lo.
Sophie e eu já estávamos arrumadinhos e já estávamos indo para a casa do Nelson. Imaginem como seria esse jantar, cinco chefes de cozinha na cozinha... Imaginem as delicias que sairiam dali. Eu fui o segundo a chegar, quando eu cheguei a Miky já estava lá.
- Ai, meu Deus, essa é a Sophie? – Nelson disse
- Ela mesma!
- Posso segurá-la?
- Claro!
Ele pegou a Sophie da minha mão, ela foi tranquilamente.
- Oi, Sophie? Tudo bem? Eu sou o tio Nelson. – Ela abriu o maior sorriso ao ouvir o Nelson falando em português
- Titio! – Ela disse
- Isso, sou o titio Nelson! – Ele apertava minha filha – Ela é muito gostosa, Antoine! Nossa, que saudade eu estou dos meus pequenos.
- Posso imaginar, Nelson! Eu ficaria louco sem a minha filha. Minha mãe queria que eu deixasse a Sophie com ela, mas eu fui inflexível, eu só viria para cá com minha filha.
- Pois é, no meu caso, o melhor para os meninos seria ficar com a mãe mesmo.
- Ah, com certeza!
- Oi, Sophie! – Miky falou com ela em francês, é claro
- Oi! – Ela disse
Miky tentou pegá-la do colo do Nelson, mas ele não deixou. Ele queria matar a saudade dos filhos com a Sophie, ele dizia. Nossos amigos foram chegando, garrafas de vinho começaram a ser abertas e uma mistura de cheiros maravilhosos começou a circular pela casa. Era uma panela mais cheirosa que a outra. Para eu cozinhar, o Nelson teve que ficar com a Sophie. Nós bebemos tanto, comemos tanto naquele dia que eu guardo com muito carinho aquele dia na memória.
Quando o jantar ficou pronto, nós nos sentamos a mesa e comemos. Como a maioria ali era de origem francesa, nosso jantar foi de acordo com essa cultura. Nós ficamos horas na mesa comendo, bebendo e conversando. Isso me fez lembrar de casa, pois em casa era assim. A gente sentava a mesa e conversava demais. Meus avós adoravam contar suas histórias e eu adorava ouvi-las.
- Gilles, o Maximilien tá afim de ti, escuta o que eu estou te dizendo... – Miky dizia rindo
- Tá louca? Meu marido mata ele, coitado.
- Joga ele pro Antoine, ele é o único solteiro.
- Opa, eu estou fechadíssimo para relacionamentos. Eu tenho minha filha! – Eu apertei minha princesa que estava no meu colo
- Antoine, todos nós já contamos nossas histórias, só falta tu – Nelson disse – Cadê a mãe dessa princesa?
- Ai, gente, isso não é hora para contar, não.
- Ué, por que não?
- Por que minha história não é a mais feliz para se ouvir.
- Adoro histórias triste, pode ir contando – Miky sentou ao meu lado
- Tudo bem... não digam que eu não avisei...
- Tem lencinhos aí, Nelson? – Miky disse brincando
- Bom... Deixa eu ver por onde eu começo... Tá!... Bom, eu sou francês, vocês sabem disso, né? – Todos balançaram a cabeça sorrindo e pensando que eu estava enrolando – Eu morei muito tempo aqui em Paris, nasci em uma cidade próxima daqui, nasci em Oise. Não me perguntem de lá por que não sei como é, eu só nasci lá mesmo. Da França eu fui morar em Guyane e depois no Brasil. Mas eu sempre ficava indo e vindo de Guyane para o Brasil e do Brasil para Guyane. Na minha adolescência eu voltei para a França e morei mais uma temporada aqui. Depois eu voltei para o Brasil e morei um bom tempo lá, aí como eu já tinha feito amigos, eu me recusei a ficar trocando se cidade. Com 19 anos eu fui morar sozinho, pois meus pais viviam em Guyane, eles vinham pouco para o Brasil. Durante toda a minha vida eu tive um grande amigo, o Thi, e quando nós tínhamos vinte anos, nós começamos a namorar. Sim, eu sou gay também Gilles. E Nelson, minha filha não tem mãe. – Eu disse rindo e todos me acompanharam – Eu tive câncer, quase morri, o que levou meu namorado a ficar quase louco, não só ele, mas todos os meus amigos e familiares. Nessa dele ficar louco, ele me traiu e nós cortamos qualquer relação, nem amigos mais éramos. Isso fez eu me aproximar do meu médico, o Bruno, era ele quem cuidava de mim quando estava com câncer. Nós nos aproximamos tanto que nos apaixonamos. Mas nos apaixonamos de tal forma que chega a ser inexplicável o que sentíamos um pelo outro. Era um amor tão puro, tão bonito, sabe? Nunca pensei que eu iria me apaixonar daquela maneira. Ele era minha alma gêmea. Nós nos casamos, e um dia depois do meu casamento, eu tive que vir para França, pois eu tinha uma bolsa de estágio aqui. Eu sou professor também. Nessa bolsa, meu amigo e ex-namorado veio junto. Então, aqui nós nos reaproximamos e voltamos a ser amigos. Aqui, eu descobri que eu tinha câncer novamente, o que me fez desistir do meu estagio e voltar para Macapá, minha cidade. Meu marido tinha vindo pra cá estudar, ele desistiu de tudo também e voltou comigo para o Brasil. Lá eu fiz todo o tratamento e mais uma vez, quase morri. Meu marido sofreu demais, mas ao contrário do Thi, ele não surtou. Ele controlava muito bem a situação. Enquanto eu estava doente, minha secretária perdeu um ente da família dela, e a Sophie é filha desse parente da minha secretária, a dona Cacilda. A dona Cacilda já tinha os filhos dela e ela é bem carente, sabe? Quando eu carreguei a Sophie pela primeira vez, eu me apaixonei por ela. Eu já sabia que eu seria o pai dela inconscientemente. Eu conversei com meu marido e nós decidimos adotá-la. Ele era louco por ela. Nós somos perdidamente apaixonados por ela. Há um ano e alguns meses eu perdi meu marido. Ele estava indo para o trabalho e sofreu um acidente de carro, o que levou ao seu falecimento. Eu sofri demais, entrei em depressão, tentei me matar. Se não fosse minha filha, eu não estaria aqui. Pois, foi o amor que eu sinto por ela que me manteve vivo durante os piores meses da minha vida. Com a perda do meu marido, eu me aproximei novamente do meu amigo, o Thi. Mas, nos aproximamos de verdade. Ele nunca me esqueceu, então ele se declarou para mim no dia que eu disse que eu viria para França. Eu disse para ele que eu não podia ficar com ele. Não podia trair meu marido. Eu machuquei o mais uma vez – eu contava a história mais para mim do que para meus amigos, o que o vinho não fazia – ele ficou bem mal no Brasil. Até agora, eu ainda não falei com ele, pois eu acho que ele não quer falar comigo. E é isso, hoje eu estou aqui com vocês...
- Ai, Antoine, não sabia que era tão triste assim... – Miky disse – cadê os lencinhos, Nelson?
Todos estavam com o semblante triste.
- Não gosto quando me olham com essa carinha de pena... mudem já!
- Que barra, Antoine! – Nelson disse
- Tu ainda gostas do teu amigo, né? – Gilles disse
- De quem? Do Thi? Nããããao!! – Eu ri
- Olha, eu acho que gosta, sim! Quando tu falas dele tu abres o maior sorrisão.
- Que nada! – Eu disse rindo
- Olha aí... tá vendo!
- Por que tu não ficaste com ele, Antoine? – Miky perguntou
- Por que eu acho que eu tô traindo meu marido, entende? Eu prometi que não encontraria o substituiria.
- E ele aceitou isso?
- Não! Eu não prometi para ele!
- Tu prometeste para quem? – Alexis perguntou
- Acho que para mim mesmo...
- Ai, Antoine! Ele é bonito? – Gilles perguntou
- Bom, tu com certeza vais achar ele lindo. – Eu disse rindo
- Por que tanta certeza assim?
- Por que ele é o gêmeo brasileiro do teu marido.
- Ai, me mostra! Deixa eu ver! – Ele era um vinhado mais afeminado que eu conhecia, meus amigos e eu somos gay, mas, eu sempre falei isso, nós somos somente homens que gostam de homens. O Gilles era diferente, ele era beeeem... não digo nem afeminado, mas sim “enfrescurado”. Às vezes eu até me irritava um pouco com ele.
Eu peguei meu celular, acessei minha página no facebook e mostrei uma foto do Thi para ele.
- Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaiiiii!!! Ele é igual ao o Adam! Meu Deus! Eles são muito parecidos.
- Ele é gato, né?
- É claro que ele é gato! E que gato! Tem toda ginga brasileira... nooooossa!! Fica logo com ele, Antoine!
Eu só fiz rir.
- Então, quer dizer que é somente tu e a Sophie? – O Alexis perguntou
- Isso! Somos só nós!
- Tu moras com teus pais?
- Não! – Eu disse rindo – Tenho minha casa e moramos somente Sophie e eu.
- E tu pensas em dar uma chance para o Thi? – Miky se manifestou novamente
- Não!
- Que besta! – Gilles disse – Antoine, pega o boy!
- Bom, já contei minha história, né?
- Eu só fiquei com duvida numa parte...
- Em qual?
- Como viraste chef de cozinha?
- Ah, isso? Bom, quando eu perdi meu marido, eu larguei toda a minha vida antiga. Com isso, eu sai do meu emprego, eu era professor. Eu abri um restaurante com meu primo, o Pierre. Ele era um grande chefe aqui em Paris.
- Espera aí... teu nome é Guimet, né? – Gilles disse
- É!
- Por acaso, o teu primo é o chefe Pierre Guimet?
- É ele mesmo!
- Ele é gato demaaaaaais!!! Uma vez ele deu uma palestra na universidade que eu estudava na minha cidade, ele é lindo, gente. Agora entendi por que és um gato, Antoine.
- Eu sou um gato? – Eu disse rindo
- Ai, é sim, Antoine! – Miky disse – E eu tô torcendo pelo Thi, viu?
- Poxa, obrigado! – Eu disse sem jeito
- Tá, deixem ele terminar de contar, por favor. – Nelson se meteu
Eu ri e continuei contando.
- Bom, saindo do emprego, sem meu marido... eu tinha que trabalhar, né? Aí, como eu tinha aberto o restaurante com meu primo, eu comecei a trabalhar lá. Eu sempre gostei de cozinhar, e sempre cozinhei bem. Meu marido sempre me incentivava a ir trabalhar lá, quando ele se foi, eu resolvi tentar. Meu primo me deu um curso intensivo de tudo o que ele sabia, eu aprendi rápido. Quando eu vi, eu já estava à frente do restaurante junto com ele. Aí, como ele é casado, o marido trabalha, ele não queria deixa-lo, ao invés dele vir pra cá, eu vim. Foi assim que eu vim parar na cozinha e consequentemente aqui.
- Caramba, tu que és dono do restaurante “....”? – Nelson perguntou
- Eu mesmo!
- Caraca, o restaurante de vocês é super bem renomado, já ouvi falar super bem de vocês.
- Querido, ele é primo do chefe Pierre Guimet, tu querias o que? O chefe Pierre é dono do restaurante também, tu querias o que?
- Puxa, vou falar para o meu primo que ele tem um fã, aqui.
- Ai, pode falar! Sou mesmo!
- Miky, me passa o vinho, por favor? – Eu pedi
Ela encheu as taças de todo mundo.
- Ai, gente – ela disse enquanto enchia as taças – Eu estou super feliz em ter conhecido vocês. Esse curso tá valendo muito a pena.
- Eu faço das palavras da Miky as minhas... – Eu disse
Nós jogamos conversa fora até de madrugada. O Nelson como bom paizão, não deixou ninguém sair da casa dele, nós estávamos meio altos e estava tarde. Todos nós dormimos lá. Ele era tão cuidadoso conosco que ele cedeu a cama dele para que a Miky, a Sophie e eu pudéssemos dormir. Ele e os meninos se acomodaram pelos sofás da sala.
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Oiiii, gente!!! Nossa, eu estou tentando publicar, comentar desde quinta feira e não consigo. O site não abria de jeito nenhum. Que merda, toda vez acontece uma palhaçada dessas. Bom, não fiquem chateados, tá? Dessa vez a culpa não foi minha, foi o site que me forçou sumir. Beijooooo em todos! Boa noite e uma excelente semana para vocês.