Ponha a culpa na ressaca do mar - Capítulo 2

Um conto erótico de Escritor do mar
Categoria: Homossexual
Contém 1105 palavras
Data: 25/09/2016 10:08:58

Minha irmã trabalha como bióloga numa reserva marinha que rastreia e avalia as influências do homem na biodiversidade local.

Ela é apaixonada por isso. Sempre foi.

Lembro de pequeno, ela, 3 anos mais velha, pedindo aos meus pais um aquário, um terrário, um viveiro.

E eu o oposto. Pedia revistinhas em quadrinho e cartoon. Turma da Mônica. Mais tarde foi a época de x-men, vingadores, liga da justiça.

O engraçado é que fizemos desses hobbies e dessas paixões de infância nossas profissões de hoje.

Flávia passou para uma prestigiada universidade aonde ingressou como bióloga e, 5 anos depois, se formou. Fernando de Noronha apareceu para ela com o TCC e, depois sendo bióloga, apareceu de novo.

Eu tenho uma história menos decidida, por assim dizer. Passei um ano no cursinho tentando descobrir qual era a minha.

Entrei em Direito e larguei no segundo mês.

Fiquei um semestre morando fora, num projeto social no México.

Comecei a notar umas loucuras que eu via por lá e ficava indignado. Bolei um jornal online, México aos olhos de um brasileiro. O pessoal curtiu demais e voltei fazendo isso.

Fiz alguns cursinhos de desenho e escrita. Abri um jornal eletrônico novo: Brasil aos olhos de um brasileiro. Um jornal bacana começou a comprar minhas charges, vários trabalhos de freelance começaram a aparecer e tudo passou a fluir.

Cartunista pela certeza do destino.

Era nisso que eu estava pensando naquele meu primeiro dia em Fernando...

Sentado no trapiche, bolava um cartoon legal que se passasse num paraíso como aquele.

E do nada, um dorso forte, nu, escuro e destacado pelo brilho do sol, emergiu da água.

Senti seus olhos largos me avaliando. Assisti as gotas da água do mar escorrendo em câmera lenta, pequenas gotas de cristal se arrastando por uma beleza negra e estática, despencando de volta ao mar.

- Gabiiii – interrompeu minha irmã. Me virei pra ver de onde vinha sua voz, enquanto ainda assimilava mentalmente os cachos de cabelo escuro livres e imponentes do desconhecido.

Flávia vinha afoita, querendo saber o que eu tinha achado da reserva e dos outros biólogos.

E eu perplexo. Aonde estava o homem misterioso, uma cauda longa, verde muito escuro, se remexia e entrava no fundo do mar.

- Mana, o pessoal costuma praticar mergulho por aqui?

- Sim, essa bahia é linda, não é? Mas por que a pergunta?

- Tinha um cara aqui na minha frente – falei apontando pra região imediatamente em frente ao trapiche – e foi só o tempo de você chegar pra ele desaparecer.

Minha irmã deu de ombros

- Deve ser turista. Vamos nos despedir? Quero saber se você topa cozinhar hoje.

- Fechou. – confirmei afastando da minha cabeça aquela distração.

Meus 5 primeiros dias em Fernando passaram voando. Me encantei com o bom humor e positivismo dos morados da ilha.

Do pessoal que trabalha com o Flávia, segundo ela mesmo, já tinham dois interessados em mim: Cléber, estagiário de biologia marinha, e Antônia, marketing e relações públicas da reserva.

Os dois eram super legais comigo e, realmente, me davam algumas borboletas no estômago. Eu estava mesmo conhecendo os dois, ao mesmo tempo, sem pressão ou compromisso.

Antônia tomou a dianteira e me chamou pra comer sushi. Aceitei e ela pareceu animada.

Ela veio me buscar pontualmente num Chevrolet clássico amarelo gema-de-ovo.

Foi impossível segurar meu sorriso quando vi o carro roubando os olhares ao redor.

- Entra aí! – disse ela, com um sorriso honesto e animado.

O perfume no carro era suave e floral. Olhei pra ela e voltei atrás: não tinha como o carro desviar os olhares dela. Seu rosto transparecia cuidado e segurança. Seus olhos diziam o contrário: eram rápidos e sagazes. O sorriso divertido e feminino. Seu queixo tinha covinhas. Os olhos âmbar líquido e o cabelo eram mil caracóis negros contrastando com a pele muito branca.

- O gato comeu sua língua, sr.? – exclamou Antônia, rindo da minha falta de palavras.

- Você tá linda. E adorei o carro.

- Hahahaha – riu gostoso de mim.

Comemos sushi, rimos, nos divertimos e bebemos mais saquê do que deveríamos.

- Sabe nadar? – ela perguntou, enquanto eu estava embuchado com meu último sushi.

- Sei. – meu sorriso abriu na hora. Entendi o que ela queria.

Pagamos a conta e apostamos corrida até a praia.

Meu ego inflou quando eu cheguei primeiro. Tirei meus sapatos, a calça e a camiseta.

Ela tirou o vestidinho e a rasteirinha que usava. Tínhamos a mesma altura.

Vi ela vindo me acompanhar ao mar. Pousei minha mão direita em seu ombro. A esquerda tocou suas costas frias e aproximou-a lentamente para um beijo suave, úmido e feliz. No último instante levei uma mordidinha na boca e senti minha cueca inflar automaticamente.

Antônia me olhou rindo e disparou para o mar.

- Quem chegar por último é a mulher do padre!!

Fui atrás e entramos na água, correndo, brincando e nadando.

Alto do saquê, fui indo mais e mais fundo.

- Você não está mais dando pé aí! Volta que o mar está de ressaca hoje! – advertiu, protetora.

Eu assenti, e era bem isso que pretendia fazer.

Mas não fiz.

Não fiz porque fui pego por uma onda alta e rápida. Fui puxado para o fundo, algum tipo de correnteza. Eu tentando nadar de volta à praia, Antônia ali, gritando e pedindo ajuda naquela praia vazia.

Tomei uma última lufada de ar. Senti que o álcool atrapalhava meu nado e meu senso de orientação. Eu estava perdido.

Fui puxar mais ar e inspirei água do mar. Aquilo entrou queimando e me deixou tonto.

Por alguns segundos, eu não estava mais em posse de raciocínio. Minha visão falhou e, no mesmo instante, senti um par de braços fortes me agarrando e me carregando contracorrente.

E aí apaguei.

Acordei com o busto fora d’água, uma boca masculina tocando a minha e soprando ar nos meus pulmões.

- Iahhhh – arquejei enquanto tentava respirar sozinho.

Meu salvador era o mesmo cara do dia do trapiche.

Ele estava com algum tipo de barbicha crescendo, o que dava um ar extremamente charmoso e de certa forma casava com seus cachos longos. Ele me agarrou com mais força, jogou-me sobre as suas costas e nadou numa velocidade sobrehumana até a beira da praia.

No alto do meu delírio, senti falta das suas pernas. Ele nadava.. com algum tipo de cauda de peixe. Longa e escura, brilhava esverdeada sobre o luar.

Eu não sabia o que perguntar, na verdade. Sentia que estava cansado e pesado. Nada parecia ser tão importante que não pudesse ser deixado para depois.

Ele me deixou na beira da areia e eu, em minha alucinação, não entendi porque não se deitava comigo para descansar.

Deitei os olhos e dormi.

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Comentários

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Eu estou adorando isso. Vamos, continue. Estou sedento!

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Um tritão??? Por favor continua e não suma!!

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