Na manhã seguinte, nós acordamos e fizemos um café da manhã gotosíssimo.
- Todos dormiram bem? – Nelson perguntou enquanto sentávamos a mesa para tomarmos café
- Nós dormimos super bem! – Eu disse por mim e pela Sophie
- Eu também dormi maravilhosamente bem! Antoine, tu és o primeiro homem que eu durmo e que não ronca. – Ela disse rindo
- Ah, é que quando eu era moleque eu tinha rinite e um bando de problemas respiratórios, aí eu tive que operar. De lá pra cá eu não ronquei mais.
- Eu também não ronco!
- Ataaaah!! Tu roncas e roncas demais! – Nelson disse para o Alexis
Ali eu percebi que uma linda amizade estava nascendo. Amizade que seria para vida toda. Com a amizade deles, eu não senti tanta saudade de casa. Não que eu não sentisse, mas não era tão latente. É difícil tu estares sozinho em uma cidade, por mais que ela seja tua cidade natal. Minha família estava em Toulouse, um pouco longe de Paris. Ali, eu não tinha com quem contar, éramos só Sophie e eu.
- Vem com o Titio, Sophie! – Nelson a pegou do meu colo, ela já tinha tomado café, como ela não tomava mingau, comia comida de verdade, eu nunca me aperreava para alimentá-la. Bastava ter coisas naturais que ela comia.
Ela foi com o Nelson, pelo visto ela tinha gostado dele. Eu aproveitei para tomar meu café. Nelson levou a Sophie para a sala e começou a brincar com ela. Eu me lembrei do Bruno... se fosse ele, ele estaria correndo com a Sophie pela casa. Ele amaria brincar com a filha. Meu celular tocou...
“OI” – Era o Thi
“OIIII”
“TÁ TUDO BEM?”
“TÁ, SIM! E CONTIGO?”
“BEM TAMBÉM”
Nós paramos de falar, a nossa conversa era sempre assim. Eu resolvi mudar isso...
“TÔ COM SAUDADE DE TI”
Ele demorou um tempão para me responder.
“EU TAMBÉM ESTOU COM SAUDADES DE TI. MUITA!”
“O QUE ESTÁS FAZENDO AÍ?”
“TO TENTANDO CORRIGIR UMAS ATIVIDADES DOS MEUS ALUNOS, MAS NÃO TO CONSEGUINDO, NÃO”
“QUE CHATO! POR QUE NÃO ESTÁS CONSEGUINDO?”
“NÃO TO COM CABEÇA PRA ISSO... MINHA CABEÇA TÁ LONGE. E TU? O QUE ESTÁS FAZENDO?”
“TO TOMANDO CAFÉ COM UNS AMIGOS”
“AMIGOS?”
“É, MEUS AMIGOS DA UNIVERSIDADE”
“HOMENS?”
“TAMBÉM! MAS TEM MENINA TAMBÉM...”
“EM QUE CAFÉ VOCÊS ESTÃO?”
“NA VERDADE, ESTAMOS NA CASA DO NELSON”
“TÃO CEDO ASSIM? AÍ É CEDO, NÉ?”
“É, SIM! NÓS DORMIMOS AQUI!”
“NOSSA, MAS VOCÊS SE CONHECERAM ONTEM PRATICAMENTE”
“É, MAS MARCAMOS UM JANTAR E AQUI EU TENHO UM DUDU QUE SE PREOCUPA COM TODO MUNDO”
“ESPERO QUE NÃO TENHAS UM THI...”
“NÃO, NÃO TENHO!”
“QUE BOM! FICO FELIZ!”
- Por que é que tu estás sorrindo desse jeito? – Miky falou bem pertinho de mim
- Nada, não! – Eu abri ainda mais o sorriso
- Pra quem tu estavas mandando mensagem?
- Pra ninguém, Miky! – Eu não parava de sorrir
- Era para o teu amigo?
Eu ri.
- Era, né? – Ela insistiu
- Era, era sim...
- Aquele gato?
- Ele mesmo!
- Tu gostas dele?
- Não sei te falar...
- Por que tu fugiste dele?
- Ai, Miky, nossa história é bem complicada.
- Antoine, olha só! – Sophie estava me pé em cima do Nelson, os dois se divertiam
- Nelson, não deixa ela fazer isso! Isso é abusada!
- Ela é muito linda, isso sim! – Miky disse – Eu quero ter uma filha linda assim...
- É só fazer, ora.
- Com aquele traste do meu marido? Nem pensar!
- Já te decidiste? Vais te separar?
- Estou pendendo mais para o sim do que para o não. É tão bom viver sem ter que dar explicação para ninguém, sabe? Aqui em Paris está ótimo!
Eu só fiz rir dela. Após o café, nós nos despedimos e cada um foi para a sua casa. Nelson queria roubar minha filha, mas É CLARO que eu não deixei. Sophie e eu fomos para casa, eu fiz nosso almoço, almoçamos e ficamos sem fazer nada em casa. Como estava um dia lindo, eu decidi ir para um parque com ela. Mas, como eu não conhecia nenhum parque ali perto, eu fui para o Jardin du Luxembourg. Nós nos sentamos no campo florido, ela ficou brincando ao meu lado enquanto eu lia um livro.
É incrível como a cultura europeia preza demais pela leitura de bons livros. Basta nós irmos a um parque ou jardim que nós encontramos várias pessoas lendo seus livros. Eu achava isso maravilhoso, pois no Brasil se tu fazes isso tu és logo taxado de metido, intelectual, CDF... Lá, era a coisa mais normal do mundo. Sophie brincava alegremente pelo Jardin, ela corria e se divertia. Às vezes, eu ficava com pena dela, pois ela brincava sozinha demais. Eu queria dar um irmãozinho para ela, mas isso estava fora de cogitação no momento. Nós passamos a tarde inteira no Jardin. Ela adorou.
#####
Após um mês, Sophie e eu já estávamos muito bem adaptados à cidade. Era ótimo estar lá, eu sempre me senti muito bem em Paris. Eu já estava pensando seriamente em morar lá. Como dizia o Pi, eu não tinha quem me prendesse em Macapá, eu não tinha motivos para voltar para lá. Claro que eu tinha meus amigos, mas eles poderiam muito bem vir me visitar em Paris. Em Paris tudo é tão mais prático, mais fácil. Eu conseguia levar meu estilo de vida mais natural possível muito bem. Em Macapá tudo é bem mais difícil por ser longe dos grandes centros urbanos. Eu realmente estava gostando de estar lá, eu tinha vindo com a mente e o coração abertos para novas experiências.
- Ei, vamos à um café? – Nelson me chamou durante uma aula
- Vamos! Que horas? – Eu falava baixinho
- Às 17h, pode ser?
- Pode! Eu passo na tua casa, tá?
- Tá bom! Vou chamar o pessoal também.
- Ok!
No intervalo das aulas, nós nos encontramos e pudemos combinar.
- Quem vai afinal? – Eu perguntei
- Todo mundo! – Annette disse
- Acho bom, pois tu faltaste no nosso jantar! – Gilles disse
- Dessa vez eu vou! Eu preciso conhecer a famosa Sophie, ora.
- Aaaaaaah, ela é a coisa mais gostosa desse mundo.
- Nelson, se tu não tivesses esposa e filhos eu diria que tu eras gay. – Miky disse rindo do nosso amigo
- Deixa ele, Miky! Isso é saudade dos meninos delecara não pode gostar de crianças, não?
- Não liga para ela, Nelson! Tu és um fofo!
- Nós nos encontramos que horas no café? – Alexis perguntou
- Às 18h? – Nelson disse
- Ótimo!
Nós voltamos para a nossa sala e continuamos nossas aulas. No final, Nelson e eu sempre saiamos juntos, afinal ele morava pertinho de casa, nós pegávamos a mesma linha de metrô e ele sempre ia comigo buscar a Sophie.
- Olha só isso, Antoine! Não são lindos? – Ele me mostrava dentro do trem as fotos que ele tinha acabado de receber da esposa, eram os filhos no banho.
- Muito lindos!
- Eles estão grandes...
- E dá pra tu veres pela foto?
- Claro! Achas que não sei ver quando meus filhos crescem?
- Acho que eu não saberia ver só por foto
- Claro que saberia! A gente percebe isso de longe, Antoine! Filho é um pedaço da gente fora da gente.
- Isso é verdade!
- Tu não pensas em dar um irmãozinho para a Sophie?
- Olha, eu até penso... Mas, não agora.
- Graças a Deus que eu fiz os meus num pacote só. – Ele riu
- Bom, digamos que não tem como eu fazer, né? – Eu também ri
- Claro que tem! Existe barriga de aluguel, meu amigo. Aí, tu podes ganhar três só num pacote.
- Deus é mais! Quatro filhos eu não aguento, não!
- Nossa estação é a próxima! – Ele disse e nós nos levantamos – Eu gostaria de ter quatro
- Ai, não, Nelson! Dois para mim já era o suficiente. Tu já queres ser que nem aquelas velha parideira... quer ter doze, treze, quatorze filhos numa levada só.
Ele se acabou rindo, as pessoas ficavam olhando pra gente dentro do trem. Nós descemos e fomos até a creche da Sophie. Toda vez que ela me via, ela saia correndo e vinha me abraçar. Eu morria de saudades tanto quanto ela, era como se a gente passasse dias sem se ver. Nós éramos/somos muito apegados um ao outro.
- Ué, não fala com o Tio, não?
- Oi, titio!
- Cadê o beijo do tio? – Ele espichou a cabeça e ela deu um beijão estalado
- Vamos pra casa?
- Vamos!
Nós fomos andando, nós sempre íamos assim. Íamos curtindo a paisagem todos os dias.
- Papa, a tia contou uma histolinha hoje.
- Foi, filha? Qual é a historinha, conta pro papai.
- Tinha um menino, ele era muito, muito, muito intedigente. Ele morava com a mamãe dele e mais uma irmãzinha – ela parou e parecia que ela estava lembrando da historinha – A mamãe dele ficou muito dodói um dia. Aí, ele rezou, rezou, rezou....mas rezou muito pro papai do céu. Aí, ele encontrou uma estelinha a noite, ele conversava holas e holas com a estelinha. Um dia, a estelinha curou a mamãe dele.
Eu sabia que deveria ter mais, mas era lindo ve-la contar a historinha toda animada. Ela era esperta demais. Eu sempre falo, minha filha já nasceu com 10 anos, de tão esperta que a moleca é. Ela parece uma velhinha.
- A estrelinha curou a mamãe dele? – Eu disse surpreso – Que lindo, filha!
Ela ficou toda boba.
- Estás entregue, Nelson!
- Muito obrigado por guardar minha honra, senhor! – Ele era palhaço demais
- De nada! Mais tarde eu passo aqui, pois a senhorita não pode andar sozinha pela cidade.
- Por favor, meu bom jovem!
- Seu fresco! – Eu disse rindo, pois ele afinou a voz
- Eu? Tu que és!
- Tchau! – Eu disse rindo e continuando a andar com a Sophie
- Tchau, querido!
Ele não valia nada! Eu, graças a Deus, sempre tive excelentes amigos: malucos, preocupados comigo e com minha filha, carinhosos, irmãos, que sabiam brigar na hora necessária, que me faziam escutar a razão, que me tiravam da razão e me levavam para a loucura, especiais, para a vida toda.
Eu fui andando para casa e quando eu cheguei, eu coloquei um filme para a Sophie, ela já não ficava mais quietinha assistindo filme, o lance agora era andar pela casa mexendo em tudo, mas, não custava nada tentar. Eu coloquei pela milionésima vez o XSPB. Ela amava a Xuxa, eu odiava. Ela ficou entretida com o DVD, eu recebi uma mensagem do Nelson falando que nosso café tinha sido transferido par ao outro dia, pois ele não estava se sentindo muito bem, então e eu liguei meu computador, eu queria falar com meus amigos. Foi eu dar um sinal de online que o Dudu me chamou para conversar por vídeo.
- Oiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii, manoooooo!!!
- Oiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiieeeeeeeeeeeeeee!!! Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah eu tô com saudade de ti!!!
- Eu também to morrendo de saudades de ti, viado!
- Como estão as coisas aí?
- Muito bem! Tô adorando o curso, tô amando estar aqui. – Eu disse sorrindo de orelha a orelha
- Quem é aquele povo nas fotos? – Ele dizia em relação às fotos que eu postava constantemente no facebook
- Meus amigos!
- Teus amigos? – Eu amava vê-lo enciumado
- É, meus amigos!
- Quem é aquele te abraçando?
- O Nelson!
- Ele tem várias fotos com a Sophie, né?
- É, ele adora a Sophie!
- E contigo também, né?
- É, ele é super amigão.
- Amigo? Amigo, amigo mesmo?
- Claro! Ele é hetero, é casado e tem dois filhos. Tá bom pra ti?
- Assim está ótimo! Eu pensava que tu estavas ficando com ele...
- Claro que não, Dudu! Deixa de ser besta!
- Cadê minha filha?
- Tá assistindo o maldito XSPB.
- Ela não cansa nunca?
- Pior é que não...
- Eu tentei falar contigo mais cedo...
- Eu estava para a universidade, ora.
- Ontem eu também tentei falar contigo...
- Ah, eu estava com o Nelson.
- Huuuuum... hummm....
- Sem ciúmes, Eduardo!
- É o Antoine? – Eu ouvi a voz dele
- É, vem cá Thi, fala com ele!
Ao vê-lo, meu coração acelerou. Dudu saiu da frente do computador e deu lugar para o Thi.
- Eu vou comer e já volto! – Dudu me disse
- Seu morto de fome! – Eu disse
- Oi! – Thi disse
- Oi!
- Tudo bem?
- Tudo sim!
- Cadê a Sophie?
- Tá assistindo um DVD ali.
- Aaaaah, eu queria vê-la.
- Espera aí! – Eu disse para ele e me virei em direção a Sophie – Filha, vem cá um minutinho. Ela levantou a cabecinha e me olhou, eu a chamei com a mão. - Vem cá ver uma pessoa – Ela se levantou e veio até mim, eu a coloquei no meu colo.
- Oiiii, princesa Sophie!
- Titi! Titi! Titi! – Ela disse toda animada
- Oi! Tudo bem?
- Tudo, Titi! – Ela colocou a mãozinha na tela do computador
- Tu estás gostando de Paris?
- Gostando! – Ela disse
- Tô com saudades de ti, princesa Sophie!
- Sodade, Titi!
Ele se derreteu todo falando com ela.
- Tá tudo muito legal aqui, né filha?
- É! Vem cá, Titi!
- Titi não pode ir, filha.
- Puquê?
- Por que o Titi trabalha aqui, aí eu não posso ir.
- Papa tabaia também, mas veio.
- Mas o Titi não pode ir...
- Aaaaaah!
- Teu também não iria querer que eu fosse?
- Quem disse? – Eu disse sem pensar
- Tu irias querer que eu fosse?
Eu, como sempre, entrei numa fria.
- Ia! Tô com saudade do meu amigo!
Ele ficou com uma carinha triste.
- Ah! Bom, mas eu realmente não posso ir.
- Como estão as coisas aí? O que tu estás fazendo na casa do Dudu?
- Ah, eu vim aqui com ele. Eu estava sozinho em casa e ele sozinho aqui... aí a gente tá bebendo e falando besteira.
- Cadê a Jujuba? Ela não fala comigo.
- Ela não tá falando com ninguém, a Bruninha tá dodói e ela tá doida.
- Huuum... Então, vocês estão bem mesmo?
- Estamos!
- Que bom!
- Tu também pareces bem feliz, né?! Dá pra gente perceber pelas fotos que tu postas.
- É... tô tentando mudar de vida.
- É, eu bem que queria mudar de vida também.
- Quem quer mudar o quê? – Dudu voltou comendo algo
- Cara, tu vais engordar! – Eu disse
- Vou nada! Do que vocês estão falando?
- De que estamos todos muito bem. – Thi disse
- Eu não tô bem! Tô com saudade de ti! – Dudu disse
- Aaaaaaaaaaaaaaaaaah, manoooooo!!!
- Volta logo!
- Eu ainda tenho alguns meses, aqui.
- Não era pra tu teres ido! Tu e o Pi são loucos!
- Não, eu tinha que vir sim, Dudu. Eu tô aprendendo tanto aqui. O curso é maravilhoso! Ah, fala para o Pi que ele é super famoso. Tenho um amigo que é fã dele.
- Quem já?
- Depois eu mando foto dele pra ti e aí tu mostras para o Pi também.
- Olha, tu lembras o que eu te falei no aeroporto, né?
- Lembro! Se eu ficar mais do que seis meses tu vens me buscar. Já sei!
- Muito bem! É isso mesmo!
- Bom, eu vou ter que desligar, meninos. Eu tenho que estudar.
- Deixa de ser chato, Antoine! Fica mais!
- Não posso! E pelo o que eu sei, vocês tem besteiras para falar, né?!
- Temos mesmo! – Thi disse – Mas a gente também quer falar contigo.
- É, a gente quer falar contigo.
- Mas eu tenho que estudar mesmo, amanhã eu ligo para vocês, tá?
- Tá, né? Já vi que fomos trocados pelos amigos franceses.
- Nem todos são franceses. Tenho um amigo brasileiro e uma argentina também.
- Cara, aquela tua amiga é muito gostosa! – Dudu disse
- Sai que tu não gostas mais dessa fruta.
- Quem disse?
- Aaaah! – Eu fingi estar muito surpreso – Tu estás traindo meu primo com uma piriguete!
- Tá louco?
- Tô brincando! Beijo nos dois! Deixa eu ir estudar. Sophie, vem se despedir.
Ela veio toda serelepe.
- Tchau, Titi! – Ela disse para o Thi – Dindo! Dindo! – Ela disse toda animada vendo o Dudu.
- Oi, minha filha! Aiiiiiiiiii que saudade de ti!
- Sodade, Titio! – Ela tentou pegar na tela do computador novamente
- Titio te ama, viu?
- Viu!
- Manda beijo pra eles, filha!
- Bejo Titi e Dindo!
- Beijoooo!! – Os dois responderam juntos
- Tchau! – Eu disse encerrando nossa chamada de vídeo
- Cadê Titi?
- Eu desliguei, filha.
- Aaaaah! – Ela ficou tristinha, ela sentia falta demais dos tios malucos
Ela voltou para a cama e continuou a assistir aquele DVD insuportável. Eu fiquei na frente do computador, pois eu realmente tinha que estudar. Eu acessei o Youtube e comecei a escutar musicas ao acaso, eu não escolhia a musica, deixava tocar. Às vezes, a saudade de casa batia forte. Saudade dos meus amigos, da minha família, e principalmente... saudade do Bruno.
Eu fui ouvindo as musicas e ia lendo os vários textos que eu tinha que ler. Uma música chamou muito minha atenção, nem conseguir mais ler eu consegui. A música se chama Goodbye my lover (https://www.youtube.com/watch?v=wVyggTKDcOE) , essa música invadiu minha mente e meu coração. A saudade veio tão forte, mas tão forte que foi impossível controlar as lágrimas. Depois de todos aqueles meses, meu coração ainda não estava cicatrizado. Ainda doía, eu ainda sentia a ausência dele. Dessa música em diante minha tristeza só fez aumentar. E quando a gente tá assim, a gente não faz nada para sair dessa situação. A gente mergulha cada vez mais na dor. Foi exatamente o que eu fiz. Eu pensei em tudo, pensei em como ele me fazia falta. Pensei que eu gostava do Thi, eu não podia negar para mim. Eu estava me reapaixonando por ele e isso me fazia sofrer, pois para mim eu estava traindo o Bruno. Eu comecei a criar um conflito dentro de mim mesmo, como eu podia amar tanto o Bruno e mesmo assim estava tendo esses sentimentos em relação ao Thi? Como isso era possível? Bruno e eu éramos almas gêmeas, eu sabia disso. Então, por que eu estava me apaixonando pelo Thi? Será mesmo que eu estava sentindo isso ou era só o desejo e a solidão falando mais alto que meu coração? Eu chorei quietinho ouvindo as músicas, eu voltei várias vezes a Goodbye my lover. Eu estava dando adeus ao Bruno? Eu queria dar adeus a ele? Eu não entendia o que eu sentia, eu não me entendia.
- Num chola, papa! – Sophie disse tentando subir no meu colo
- Oi, filha! – Eu disse a pegando no colo
- Num chola! – Ela passava a mãozinha no meu rosto
- Papa já vai parar, tá? Vai lá assistir teu DVD, vai!
- Não! – Ela me abraçou e aí que eu chorei mesmo
Ela era carinhosa demais, minha filha. Ela sentia quando a gente estava triste. Ela ficou abraçadinha em mim até eu parar de chorar, era para o pai consolar a filha e não o contrário, mas minha princesa sempre foi uma menina especial.
- Paxô? – Ela me perguntou, eu sempre perguntava isso para ela quando ela estava chorando
- Passou, meu bem!
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- Antoine! – Nelson sussurrava no meu ouvido durante a aula, ele falava em português que era para ninguém entender o que a gente falava.
- O que é?
- Tu estás muito ocupado, hoje?
- Não, por que?
- Quando a gente sair da aula, tu vais num lugar comigo?
- Que lugar?
- Eu quero ir na igreja.
- Que igreja?
- Depois eu te explico, tu podes ir comigo?
- Posso!
- Tá bom! Quando a gente sair daqui a gente vai lá e eu te explico melhor.
- Tá!
Nós participamos da aula normalmente, ele não chamou mais minha atenção. No término da aula, nós nem nos despedimos do pessoal, nós fomos rumo à estação de metro.
- Onde fica essa tua igreja?
- Eu não sei, por isso te chamei para vir comigo. Eu não sei andar aqui em Paris.
- Tá, qual o endereço de lá?
Ele me entregou um papelzinho.
- Ah, fica no 10e arrondissement. A gente pega a linha quatro e vai direto. Deixa só eu ver qual estação é mais perto. – Eu peguei meu celular e rapidinho localizei. – Ok, vamos para a Gare du Nord.
- Como tu te achas tão rápido?
- Eu sempre gostei de andar de metro, aqui. Quando eu era moleque, eu andava pra caramba. Claro que algumas coisas mudaram, mas ainda consigo me achar.
Nós compramos nossos tickets de metro e esperamos um pouquinho. Entramos no trem e nos acomodamos. Nós descemos na Gare que eu havia dito e fomos andando até a rua que ele tinha me indicado. Nós chegamos na frente de um prédio que parecia tudo, menos uma igreja.
- Acho que não é aqui, não, Nelson.
- É aqui sim, Antoine!
- Como tu sabes? Isso não tem cara de igreja.
- A placa está ai. – Ele apontou para uma placa verde – Vamos entrar?
- Vamos, ué! A gente veio aqui pra isso, né? – Eu sorri
Nós entramos e logo eu senti uma paz gigantesca. Eu podia sentir luz naquele lugar. Não era grande, haviam poucas cadeiras. No centro, havia uma escritura em uma língua que eu não conhecia, do lado direito havia um vaso com arranjo de flores e do lado esquerdo havia uma foto de um senhorzinho. O Nelson foi na frente da escritura e fez três reverencias e deu três palmas. Eu fiquei só observando. Uma senhorinha veio falar comigo.
- Olá! Tudo bem?
- Olá!
- Você é membro?
- Oi?
- Você é membro da nossa igreja?
- Não, não! Só vim acompanhar meu amigo, ele que é membro.
- Ah, que bom! Se incomodaria de vir aqui comigo?
- Não! – Eu a segui
Ela foi até um balcão onde havia vários arranjos de flores bem pequeninos.
- Para alegrar o seu dia! – Ela pegou um arranjo e me entregou, era lindo
- Obrigado!
- Você aceitaria uma oração?
- Sim! Com certeza!
- Que bom! Venha aqui, então!
Eu a segui novamente. Ela se sentou e pediu para que eu sentasse de frente para ela.
- Você é católico?
- Não, sou espirita.
- Ah, que legal! Bom, a oração que eu farei é bem parecida com a oração que vocês fazem, o passe. Mas, a oração que eu farei dura uns quinze minutinhos. Você ficará cinco minutos de frente para mim, sete de costas e mais três de frente, ok?
- Tudo bem!
- Você pode fechar os olhos se quiser.
Ela fez uma reverencia e levantou a mão esquerda bem na direção do meu rosto. Ela fechou os olhos, mas eu fiquei com os meus abertos. De acordo que eu ia recebendo aquela oração, eu ia sentindo uma tranquilidade enorme. Tocava uma musica instrumental linda no fundo, bem baixinha. Eu fui sentindo meu corpo relaxar, meus músculos irem se rendendo a luz. Eu podia sentir a força daquela oração, rapidamente eu me arrepiei e senti os pelos de todo o meu corpo se eriçarem, eu sabia que haviam espíritos ali. Eu podia senti-los. Eu fechei meus olhos e esqueci de tudo. Eu estava em paz, há muito tempo eu não me sentia assim. Depois de um tempo, eu senti a mão dela me tocar e ouvi ela pedindo para eu virar de costas. Eu fiz o que ela pediu. Meus olhos não queriam mais abrir, eu senti o cheiro das flores que estavam do lado da escritura em língua desconhecida. Ouvi a música, me conectei com um mundo tranquilo e cheio de luz. Eu sentia como se todos os problemas da minha vida tivessem sumido. Após os sete minutos, eu senti a mão dela novamente e ouvi a instrução para eu virar de frente. Ela levantou a mão em minha direção novamente por mais três minutos. Terminando a oração ela perguntou o que eu tinha sentido e eu contei para ela.
Ela disse que aquilo era a gratidão dos meus antepassados por eu ter encontrado a luz. Ela me levou até a frente da escritura e ela me explicou que aquilo era um altar para eles. Ela me disse que a igreja possuía três colunas da salvação. O Johrei, que foi a oração que ela tinha acabado de fazer em mim, ela me explicou que o Johrei era uma oração em ação que utilizava uma medalha para canalizar a luz divina e projetá-la em direção a outra pessoa por meio das mãos. O belo, ela me explicou que as obras de arte de alto nível, possuíam luz e essa luz purificava o espirito, ela também me explicou que o que representava o belo para a igreja era a Ikebana, que era um arranjo de flores. Ela me disse que as flores são criação de Deus, e por isso elas possuem muita luz. Ela me disse que quando uma pessoa recebe uma flor, ela se sente muito feliz. Ela se sente feliz, pois é a luz da flor, ou seja, a luz de Deus que emana felicidade e amor. Ela também em disse que a terceira coluna, era a agricultura natural, para eles a alimentação natural e orgânica era fundamental, pois a alimentação da sociedade atual suja o corpo material e espiritual. Ela ainda me explicou que a agricultura natural, assim como as flores, é criação de Deus e quando os legumes, verduras, animais, etc. são criados e cultivados sem nenhum tipo de veneno, eles possuem a luz de Deus, pois eles vêm da natureza naturalmente. A luz dos alimentos unido ao amor no preparo, faz com que o corpo material e espiritual fossem purificados.
Eu enchi a senhorinha de perguntas que me respondia alegremente. Eu havia até esquecido do Nelson, quando eu olhei, ele estava fazendo a oração em um rapaz. A senhorinha disse que seria bom eu conversar com o ministro responsável, mas naquele dia ele não estava presente. Ela pediu para eu voltar um outro dia para conversar com ele, e eu disse que voltaria, pois eu tinha ficado bem curioso.
Ela me levou até onde o Nelson estava e eu sentei de frente para um rapaz, ele fez mais uma oração em mim e aquela sensação de paz voltou. Aquele lugar era o paraíso na terra, eu pensei. Após a oração, Nelson e eu marcamos um horário com o ministro responsável, nós voltaríamos no outro dia para conversar com ele.
- Gostaste? – Nelson me perguntou quando saímos da igreja
- Muito! Que sensação maravilhosa, que atmosfera de paz.
- Tu sentiste?
- Senti! Eu sou espirita e eu sinto essas coisas.
- Nossa, que legal! Eu não sabia que eras espirita.
- Sou, sim! Desde criança.
- Que máximo! A Igreja Messiânica é bem próxima do espiritismo.
- É, eu percebi! Mas tem algo a mais, sei lá...
- Que bom que tu gostaste...
- Tu falaste que se chama como a igreja?
- Messiânica.
- Mas não é isso que está escrito na placa.
- É, na placa está escrito Johrei. Que é o nome da oração que recebeste.
- Aaaataaaah!
- Aqui as pessoas não chamam de Igreja Messianica, aqui é Associação Johrei. Eu demorei um tempão para descobrir isso. EU já estava louco, pois no Brasil eu dedico sempre na minha igreja.
- Dedica?
- É, é esse o nome que nós damos para o trabalho voluntário. Na Igreja Messiânica nós temos dedicação em todas as áreas, temos os dedicantes (voluntários) que cuidam da igreja, pois ela fica aberta das 8h da manhã até as 20h da noite. Temos os dedicantes do Sanguetsu, que são os que fazem os arranjos de flores. Temos a contabilidade, temos a liturgia que é a preparação para os cultos...
Ele me explicou detalhadamente como funcionava a igreja no Brasil. Eu fiquei encantado. Nós fomos conversando sobre a igreja até chegarmos em casa. No outro dia nós iriamos lá novamente.
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Oi, meus amores! Desculpem-me o sumiço, mas essa semana foi louca. Fiquei sem tempo para postar. Essa semana agora também será bem corrida, então, não sei se conseguirei postar todo dia, mas irei me esforçar. COmo eu não postei nada durante a semana, esse capitulo foi um pouquinho maior. Um beijo em todos! Uma excelente semana para nós.
PS: perdoem-me por não conseguir postar, mas vocês entendem que às vezes não dá mesmo, né? Não é falta de consideração com vocês não, viu? É falta de tempo e excesso de cansado....
PS: Perdoem-me se tiver algum errinho, mas não deu tempo para revisar.