João e o Pé de Feijão - 25

Um conto erótico de Tazmania
Categoria: Homossexual
Contém 2503 palavras
Data: 26/09/2016 10:35:16
Última revisão: 27/09/2016 15:55:18

Otávio:

As semanas passaram tranquilas, a Giulia e eu nos víamos todos os dias pois o jantar de noivado estava se aproximando, seria na próxima sexta feira, na casa da minha sogra, então eu ficava indo e voltando de lá direto a pedido da Guily. A Giulia tinha contratado um buffet, até serviço de mesa teria, colocou arranjos pela casa, tinha feito tudo. Eu ajudei apenas andando de lá pra cá umas cinco mil vezes. Na quinta-feira ela tinha ido finalmente pra casa da mãe e eu pude descansar daquela loucura. Parecia que já era o casamento em escala bem menor.

Naquele dia eu fui trabalhar e depois corri para a casa, pra poder descansar. Cheguei e comecei a fazer uma comida pra mim. Eu estava ficando muito bom na cozinha, depois de comer muita comida queimada ou mal cozida, finalmente aprendi como combinar os sabores. Enquanto refogava o arroz ouvi a campainha tocando, então abaixei o fogo e fui ver quem era. Quando abri a porta eu não acreditei. Na mesma hora eu olhei em volta para ter certeza de que eu estava ali mesmo, então ele é que estava no lugar errado.

- Oi. – disse ele ainda tímido.

- O que você faz aqui, Bruno? – ainda não acreditava.

- Vim te ver.

- Não estou acreditando que você está aqui.

-Deve ser meio doido mesmo. Mas eu vim... Posso entrar?

- Pode... – conduzi ele pelo corredor até a sala de estar. Ele olhava tudo em volta, talvez admirado pela beleza da minha casa. – Sei que não é muito educado, mas quando você vai embora?

- Fico uns dias, 2 ou 3.

- Hum... e o que você veio fazer aqui?

- Vou te explicar tudo, mas pode me dar um pouco de água antes?

- É, desculpa, eu estou fora do ar.

Fui para a cozinha e desliguei o fogo. Peguei suco e água e uns biscoitos que eu tinha feito e levei pra ele. Tenho que admitir, ver ele ali me fez sentir o coração bater mais forte, porém não ia mais alimentar nada por ele.

- Aqui. Então, como você está? Fez boa viagem?

- Está tudo normal, fui efetivado no trabalho, logo as coisas estão melhorando muito.

- Isso é bom. – falava sem entusiasmo.

- Sua casa é maravilhosa, moro aqui a um mês só. É grande, né?

- Sim, acabei de comprar, quer conhecer?

- Claro.

Então fomos caminhando pelos cômodos. Era uma casa grande mesmo, tinha três quartos, sala de estar, cozinha, copa, dois banheiros, um social e um na minha suíte. Ainda tinha um quintal atrás com algumas cadeiras e mesas e um jardim mal cuidado que eu prometia todos os dias que cuidaria.

-Nossa! Porque uma casa tão grande?

- Estava muito barato, o antigo dono estava louco pra sair daqui e por causa da localização, é um pouco afastado do centro, não estavam querendo pagar alto. Quando ele abaixou o preço eu comprei.

- Entendi. É uma bonita cidade também.

- Sim, uma cidade normal, com seu seus prós e contras... mas você ainda não me disse porque viajou 12 horas até aqui.

- Eu fiquei sabendo do seu bebê, parabéns papai. – ao falar isso vi seus olhos marejarem.

- Obrigado, foi realmente uma surpresa, mas estou feliz, já estou fazendo altos planos para ele.

- Ou ela.

- É...

- Fiquei sabendo sobre o casamento também.

- Hum. – eu já estava vendo onde ele queria chegar e já estava me irritando. – e você veio me dar parabéns?

- Não, na verdade, vim como seu amigo de anos e anos para te alertar da burrice que você está fazendo na sua vida. Você não pode se casar, na verdade não precisa, essa criança pode muito bem ser criada por você sem você se casar. Se você fizer isso vai se arrepender depois e eu não posso permitir que você faça isso.

- E quem disse que eu estou me casando com ela só pelo meu filho? Ele só impulsionou uma decisão que eu queria tomar a um tempo já. – ele deu um sorriso irônico.

- Não pode ser, nós dois sabemos o que você gosta de fato. Você está sendo covarde, não querendo enfrentar a sociedade e se escondendo atrás dessa menina.

- Covarde? Vai à merda Bruno! Para de falar besteira e diz logo o que você quer, porque nada do que você falou faz sentido nenhum.

- Claro que faz! Você vai sofrer...

- Não mais do que sofri com você.

- Não fala assim, eu só quero o seu bem.

- Fala Bruno! Não gostou de saber que eu iria me casar porque? Ciúme? Queria estar no lugar dela? Fala!

- Dá pra gente conversar direito?

- FALA!

- Eu te amo tá! E não tem como eu deixar você se casar, eu te amo... me dá uma segunda chance, eu posso te fazer feliz.

- Ah! Eu sabia, tudo isso é recalque. Eu não posso me casar porque você não quer? Desde quando você controla minha vida?

- Você não está entendendo Tavinho. Eu te amo.

- Eu não acredito, você me disse que não me amava. Amava seu príncipe, cadê ele? Ele sabe que você está aqui?

- Não seja cruel! Você sabe que eu te amo sim.

- Não ama, você está é carente.

- Você acha que eu viria até esse lugar se não amasse?

- Você jogou na minha cara que não me ama, como vou acreditar em você? Você me trocou por aquele idiota, me humilhou, você sumiu da minha vida, me deixou sozinho. E eu, babaquinha apaixonado, ainda fui te procurar. Acabou Bruno! Eu não quero mais sofrer por você. São anos nessa angústia. Mais de oito anos desde aquele maldito dia em que você me agarrou naquele quarto e transformou minha vida no paraíso, para depois me jogar no inferno. – eu queria muito chorar, mas me segurava, não ia derramar mais nenhuma lágrima por ele.

- Eu sei que te magoei muito, mas estou aqui com esperança que você vai reconsiderar pelo menos esse casamento, estou aqui pra conseguir o seu perdão. Eu posso mudar por você, porque eu te amo de verdade.

- Ama porra nenhuma Bruno! Você só ama você mesmo, só quer saber de você mesmo. Nunca se importou comigo. Na verdade você se importava, quando éramos vizinhos, mas depois que você foi morar com sua avó você se transformou: individualista, egoísta, uma pessoa má. Você gosta de causar dor nas pessoas, por isso fala o que realmente vai machucar elas, sua alegria é ver os outros sofrerem por você.

- Isso não é verdade! Eu sei que não sou perfeito, mas eu mudo por você, eu já mudei muito. Você nunca havia falado nada disso comigo, sempre guardando seus sentimentos, sempre deixando a gente fazer o que quer...

- É, meu erro é esse mesmo, não querer te machucar jogando a verdade na sua cara, mas isso acabou.

- Eu te amo Otávio!

- Eu não acredito em você, e mesmo se for verdade, não me interessa!

- Otto! – Nesse momento a Giulia entrou em casa. – Onde você está?

- Na sala amor. – respondi, mas olhava sério para ele, com raiva mesmo.

- Oh que surpresa! Bruno, não é mesmo? Quando chegou? – foi abraça-lo.

- Amor, ele não fala italiano. – e para ele – Ela disse perguntou quando chegou. – Ele chegou agora a pouco, minha vida.

- Que bom que você veio participar do jantar do noivado.

- O que ela disse Otávio? – pensei duas vezes se falava a verdade pra ele ou não. – Ela disse: “Que bom que veio participar do jantar do noivado.”.

- Noivado? – percebi que ele ficou triste e eu fiquei sério novamente. – Então você vai mesmo se casar.

- Vou.

- Depois a gente conversa. – disse ele abrindo um largo sorriso e foi abraçar a Giulia. Como era falso!

- Olha, parabéns ta?! – falou ele gritando, como se ela fosse surda. – Onde é meu quarto? – ele parecia animado, não entendia nada.

- Vem por aqui. – Coloquei ele em um dos quartos. – Você vai ficar mesmo?

- Porque não ficaria?

- Eu vou me casar.

- E dai? – que raiva dele, virei as costas e sai, ao passar por ele, ele apertou minha bunda. – Ei! Está maluco?

- Gostoso. Te amo minha delícia. – sai bufando. Agora ele ia querer destruir meu casamento, mas eu não iria permitir.

Voltei para a Giuly e ela começou a fazer uma lista das coisas que faltava e que eu deveria ir comprar. Eu nem reclamava mais, só obedecia, porque ela estava bem estressada naquela semana, dessa vez fiz com prazer também porque queria ficar longe do Bruno. Sai e o deixei com ela.

Bruno:

Perceber que ele não me queria mais era doloroso demais, ainda mais ver ele falando que não acreditava em mim, vendo que ele não queria mais saber de mim, que eu o havia perdido pra sempre. Como pude agir daquela forma com ele? Mas eu tinha um plano, e ele iria ver que eu o amava.

Ali, naquele quarto, eu dessarumava as malas e pensava em cada passo meu, tudo o que eu faria, uma loucura, mas faria. Depois tomei um banho e ao sair me deparei com a puta italiana no computador. Eu sai e olhei em volta procurando o Otávio, mas ele não estava ali.

- Ciao, come stai?

- Bene. – respondi uma das poucas coisas que sabia falar em italiano. – Donde estas Otávio? – usei o espanhol e esperava que ela entendesse.

- Ah sì, non sono brava en spagnolo, però Otto hai andato al supermercato. – entendi alguma coisa que ela disse.

- Ah sim. – e sentei do lado dela. Eu até tentei conversar, mas nem ela me entendia nem eu a ela, então apenas sorrimos e ela foi para a cozinha, e depois voltou com um monte de coisas para comer.

- Grazie – falei, sorrindo. Ela também sorriu e escreveu alguma coisa no celular e a mulher do google disse: os amigos do Otávio são meus amigos. Seja bem vindo.

Eu acabei fazendo o mesmo que ela e a voz em italiano leu: “Estou muito feliz por estar aqui nesse momento tão importante na vida do Otávio”. Ela sorria mais ainda, coitada, não sabia que eu queria dar muito na cara dela. Continuamos conversando daquela forma, escrevendo e a mulher do google traduzindo. Ela queria saber sobre a minha vida no Brasil, então ficamos conversando. Uma coisa eu deveria admitir, ela era encantadora: divertida, sabia conversar, era linda, inteligente, droga! Ela era perfeita pra ele, e ao me dar conta disso, senti meus olhos marejarem. Então pedi para ir descansar um pouco, e assim fui.

Pensando no meu plano de ação eu adormeci e nem vi o Otávio chegar. Sei que sai do quarto cambaleando de sono e fui ao banheiro. Ao sair, dei de cara com ele indo para a sala. Não propositalmente estava com uma calça meio larga, admito que fiquei sexy. Ele me olhou de cima a baixo e eu sorri.

- Tudo bem? – perguntei, mas em resposta ele fechou a cara.

- Peço que você não ande sem cueca e sem camisa aqui em casa, a Giuly praticamente mora comigo e eu não quero ela vendo você pelado. – Nossa, fiquei muito envergonhado. Abaixei a cabeça e pedi desculpas, voltando para o quarto.

Como era doloroso ele me tratando assim! Notar que ele estava com raiva de mim, me tratando de forma seca, de forma indiferente. Eu voltei a sair e fui ao banheiro, acabei tomando um banho e depois me arrumei e fui dar uma volta. Quando estava saindo ele apareceu.

- Aonde vai?

- Sair.

- Aonde vai?

- Dar uma volta, conhecer melhor a cidade.

- Mas são 23 hs da noite.

- Qual o problema?

- Você que sabe da sua vida. Não vou ficar perdendo meu tempo me preocupando com você... Vou deixar a porta aberta.

- Poxa Otávio, não me trata assim cara. Eu pelo menos sou seu amigo.

- Você não é meu amigo! – não aguentei, os olhos marejaram e logo eu estava chorando, com as lágrima rolando grossas, uma a uma de cada olho. Fiquei olhando para ele, mas virei e sai. Fui andando pela calçada e chorando até achar um pub aberto, não pensei duas vezes e entrei. Nem sei como pedi uma cerveja, mas o garçom trouxe e eu fiquei lá, no canto sentado e chorando. Passei pro whisky por que a cerveja não estava ajudando. Na minha cabeça passava como eu era idiota, idiota por ter perdido ele, por ter o maltratado, e agora ele iria se casar! “Meu Deus, ele iria se casar e eu não estava conseguindo fazer nada para impedir, ele me detestava”. Eu não podia ficar mais na casa dele, na vida dele, eu ia embora, naquele momento.

Decidido isso eu levantei, trocando as pernas, estava muito bêbado, paguei a conta e fui saindo. Na rua, eu não sabia voltar pra casa dele, até fazia ideia, mas não tinha certeza, fui andando então, e fiquei andando por muito tempo, eu já estava exausto, e não achava, acabei sentando em um ponto de ônibus e adormeci...

Otávio:

Eram 3 da manhã e nada daquele filho da puta aparecer. Eu não consegui pregar o olho aquela noite e era o dia do meu noivado. Eu sabia que ele ia armar alguma coisa para atrapalhar minha vida. Que raiva eu sentia dele, como eu queria que ele sumisse, me deixasse em paz.

Eu estava na sala, não conseguia nem ir deitar, estava realmente preocupado com ele. Na hora que ele saiu eu nem me importei, nem pensei, só queria ele longe, mas depois eu percebi que burrice que eu tinha feito, pois ele saiu sem celular, sem passaporte, não falava italiano e eu estava rezando pra ele ter levado o endereço da minha casa. Mas as horas estavam se passando e nada dele aparecer, eu resolvi ir atrás dele, porém não fazia ideia de onde começar a procurar. Peguei o carro e comecei a circular pela vizinhança, mas não achei nada. Depois fui pro centro e ia passando de bar em bar e todos estavam fechados ainda. Ligava para casa, para ver se ele tinha voltado e nada. A cada momento mais meu coração se angustiava, alguma coisa tinha acontecido com ele, eu sabia.

As horas foram passando e resolvi ir à polícia, mas eles falaram que estava cedo demais pra me desesperar, era pra eu ir aos hospitais e quem sabe necrotérios. Ouvir a palavra necrotério me fez ficar desesperado, eu tinha que achar ele de qualquer jeito. Fui de hospital em hospital e nada. Então decidi ir ao necrotério, já chorava só de pensar na possibilidade de encontrar ele lá, também me arrependia de ter tratado ele daquela forma, era pra eu ter beijado ele e acabado com aquele inferno em que nós dois vivíamos. O que eu faria se ele tivesse morrido? Eu iria me culpar por toda a minha vida.

Em uma rua eu tive que parar em um semáforo, enxuguei minhas lágrimas e, não sei porque, olhei para o lado. Era ele, estava deitado em um ponto de ônibus, todo encolhido, devia estar com frio, sei lá. Nossa! Que alegria! Eu estacionei o carro e fui até ele.

- Bruno? – Mas ele ainda dormia. Encostei nele e estava muito frio, seus lábios estavam roxos e seus dedos também estavam roxeados. – Bruno! Acorda!

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Comentários

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Você não me disse queo Otávio era assim tão mal! U.U

Deu até um pouco, bem pouquinho, de pena do Bruno...

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Não gosto da atitude do Tavinho. Sendo chato mesmo, a pessoa que não se ama a ponto de perdoar tudo, e retardada. Simples assim.

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vamos lá né? que o amor vença e fique tudo bem entre os três!

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Não escondo de ninguém que torço pela reconciliação. Um abraço carinhoso,

Plutão

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Há amor e muita teimosia entre esses dois!! Torcendo para a reconciliação deles!! Quero esses meninos juntos rsrs

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Acho que se o Bruno amasse mesmo o Otávio, o deixaria viver a vida dele. Achei a atitude dele ridícula.

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Bruno partiu do ponto errado pra essa conquista, pelo menos deixou claro que ainda o ama e qfinalmente reconheceu para si mesmo o quanto errou com Otávio, já que não conseguiu o perdão o melhor é ir em frente...

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