O dia que meu cu virou manchete de jornal

Um conto erótico de Kherr
Categoria: Homossexual
Contém 20637 palavras
Data: 27/10/2016 16:23:33

O dia que meu cu virou manchete de jornal

Nós nos encontramos ou, melhor dizendo, trombamos no estacionamento do campus da universidade em frente à biblioteca central. Fora o fato de estudarmos na mesma universidade, não tínhamos nada em comum. Ele cursava engenharia e, eu, medicina. Nada mais antagônico. No entanto, assim que ele esbarrou em mim, quase me derrubando, ao me fazer perder o equilíbrio, depois de chocar violentamente seu corpo musculoso contra o meu, nossos olhares se encontraram. Eu estava prestes a proferir alguns impropérios, quando o brilho expressivo do olhar dele me desarmou. Embora já não houvesse mais contato físico, parecia que um campo eletrificado continuava entre nós, tamanha a intensidade da estranha sensação que meu corpo experimentava. O mesmo devia estar acontecendo com ele. Imediatamente ele se abaixou para pegar a minha mochila da qual metade do conteúdo se achava espalhado sobre o asfalto.

- Mil perdões! Sou mesmo um desastrado. Estou tão apressado que só faço uma besteira atrás da outra. Lá dentro, acabo de derrubar um carrinho abarrotado de livros que a funcionária vai demorar, no mínimo, meia hora para juntar. Calcula os palavrões que ela não soltou. – foi dizendo, numa voz afobada e esbaforida.

- Eu estava me preparando para fazer o mesmo. – revidei, procurando me estabilizar sobre as minhas pernas.

- Desculpe! Eu mereço, pode mandar ver. – devolveu, abrindo um sorriso largo e generoso.

- Você quase arranca o meu ombro. Parece que fui literalmente atropelado. – continuei.

- Cara, você não faz ideia de quantos móveis, pessoas, objetos e, sei lá mais o que, eu já topei. Em casa me chamam de desengonçado. – ele ria de si mesmo, enquanto me devolvia os objetos que caíram da minha mochila.

- Eu imagino você no trânsito. Nunca me ofereça uma carona, quero continuar vivo. – disse, mais relaxado e entrando na brincadeira dele.

- Ao volante sou um ás! Juro! O problema sou eu a pé. Ainda mais quando atrasado.

- Então vai de uma vez, se não quiser se atrasar mais ainda.

- De jeito nenhum! Primeiro, porque você ainda não me desculpou. Segundo, porque já perdi a aula mesmo. E, terceiro, porque vamos até a cafeteria para eu te pagar um café. – explicou. – E, antes de você abrir a boca, nem pense em recusar ou inventar uma desculpa. – intimou.

- Nossa! Você é sempre assim, tão ... tão elétrico? – perguntei.

- Dou até choque. E, então. Vamos?

- Eu tenho uma pesquisa para fazer! ... Está bem, vamos. – respondi, depois de ele colocar a mão na minha boca, me impedindo de falar e, reiterando sua frase para que eu não arranjasse uma desculpa.

- Me chamo Caio, e você?

- Rodrigo. Não posso me demorar! – exclamei, embora algo dentro de mim quisesse saber mais sobre aquele olhar penetrante e, repentinamente, muito interessado em mim.

- Meu carro está logo ali. Te devolvo são e salvo a hora que você mandar. – fez pilhéria.

- Tenho lá as minhas dúvidas! – devolvi, envolvendo-o num sorriso.

Eu nem percebi as duas horas que estivemos na cafeteria passando tão depressa. Havíamos conversado sobre quase tudo, família, faculdade, hobbies, expectativas quanto ao futuro e, por aí vai. O papo rolou tão solto e descontraído como se nós já nos conhecêssemos há muito tempo. Com aquela conversinha e seus sorrisos frequentes, o safado estava me deixando impressionado. Mais do que isso, estava me deixando a fim dele.

- Agora me explica uma coisa. Como um cara tão legal como você e, tão ... tão bonito, vai escolher uma carreira dessas? Medicina. Argh! – perguntou, fazendo cara de nojo.

- De onde você tirou isso? E, o que tem demais fazer medicina? Melhor do que ficar fazendo masturbação mental com cálculos e fórmulas. – revidei.

- Ah! Tá bom! E medicina, que fica metendo a mão em defunto, abrindo e estripando gente, isso não é ruim não? – retrucou.

- Então, se você ficar doente, vai procurar um cérebro cheio de fórmulas e cálculos, depois você me fala.

- Posso dizer o mesmo. Vai procurar um médico se precisar consertar um carro, fazer uma casa e etc, vai encontrar um mão esquerda desajeitado.

- Cara, você é uma figura! – disse, rindo dele.

- E você é um tesão! – retorquiu. Um silêncio se formou de repente. Ele estava tão atraído por mim, quanto eu por ele.

- Está na minha hora. – disse, desviando o olhar para consultar o relógio, para que ele não percebesse que eu havia corado.

- Encabulado então, fica mais sensual. – insistiu.

- Deixa de falar besteira. Está a fim de tirar uma com a minha cara? – disse, embora percebesse a sinceridade das palavras dele estampadas em sua expressão.

- Não são apenas as minhas trombadas que são diretas. As palavras também. – afirmou. – Ficou chocado?

- Não! Estou lisonjeado. – devolvi tímido.

- Preciso te ver de novo. Quando e onde?

- Vamos combinar.

- Tão evasivo! Me dê o número do seu celular.

Ele inseriu o nome dele e seus telefones na minha agenda, depois colocou o celular dele diante de mim e mandou que eu fizesse o mesmo. Antes de descer do carro dele no estacionamento da biblioteca, ele me segurou pelo braço e discretamente me deu um beijo no canto da boca.

- Para você não se esquecer de mim! – exclamou

- Não vou esquecer! Mesmo por que amanhã devo estar com o ombro roxo. – brinquei.

- Pelo menos uma marca minha eu consegui deixar em você.

- Pode ter certeza de que deixou. – retorqui, sorrindo. Assim começou meu interesse pelo Caio.

Como o ano letivo mal acabara de começar, no final de semana seguinte estava programada a festa de recepção dos calouros. Era um evento do qual eu não gostava de participar. Como veterano do quarto ano de medicina, tinha outras aspirações que não aquela baderna de moleques. Rolava de tudo durante essas baladas, que aconteciam num amplo espaço próximo as quadras esportivas e que, invariavelmente, acabavam com a presença da polícia. Mas, este ano, a chance de ficar com o Caio, mudou meus planos. Por meio de uma troca de mensagens, combinamos de nos encontrar lá.

Faltava um quarto para a meia noite quando eu cheguei à balada. Estava adiantado, como sempre, motivado pela ansiedade. Mas, desta vez, não me censurei pelo adiantamento. A causa era boa. Ademais, me valeria destes minutos para dar uma rápida circulada e sentir o clima da festa, uma vez que não estava habituado e frequentar esse tipo de encontro. Tínhamos combinado de nos encontrar por volta de meia noite e meia. Então eu tinha tempo suficiente para ver o que rolava. Havia certamente mais do que duas mil pessoas e, a cada instante chegavam mais. Uma banda tratava de deixar a galera agitada, tocando versões das músicas do momento e, algumas composições próprias. Fazia a abertura para a atração principal, que era uma banda consagrada. Numa ala próxima a entrada, foram montados alguns quiosques que serviam bebidas e, estacionados alguns food-trucks, cujo cardápio ia de lanches a pratos rápidos, mas com toque de chef. O lugar era imenso e, apesar da quantidade pessoas, não parecia tão abarrotado. Isso só aconteceria em plena madrugada, no auge da festa. Enquanto andava por entre a multidão, fui abordado por uma garota, da qual a princípio não me lembrava, mas ela havia me reconhecido das aulas de anatomia. Um ano antes eu fui monitor da disciplina e ela cursava, se não me engano, enfermagem. Estava acompanhada de dois sujeitos. Percebia-se que não tinham o mesmo nível que o restante da galera da festa. Talvez nem fossem estudantes. Especialmente um deles, que aparentemente já tinha passado da idade de frequentar essas baladas. O outro, era mais jovem, tinha duas enormes tatuagens que cobriam quase inteiramente os dois braços e, uma delas, a do lado direito, se estendia até o pescoço. Não identifiquei os desenhos, mas elas lhe davam um aspecto marginal. Sem me concentrar muito na conversa que ela começou a entabular comigo, mesmo porque eu estava aguardando a ligação do Caio para definirmos o local exato do nosso encontro, que girava em torno de assuntos voltados ao curso que ela fazia, deixei-a falar e, só esporadicamente, respondia em monossílabos. Os dois permaneciam calados, aparentemente não conseguiam compreender o conteúdo da conversa dela. Depois de um bocado de insistência e, para me ver livre deles o quanto antes, aceitei o convite para pegarmos umas bebidas num quiosque. Sem perguntar por minha vontade, ela fez o pedido de quatro drinques a base de gin e suco de tangerina. A despeito da cor sedutora, percebi um fundo amargo depois de dois goles e, mantive o copo nas mãos com a intenção de me livrar dele e do resto do conteúdo tão logo me visse livre deles. Os dois caras sorveram o conteúdo do copo num trago só, pude perceber que se deleitaram com a experiência, talvez porque não tenha lhes custado nada. Foi a garota quem pagou pelas bebidas, inclusive a minha, que eu me preparava para reembolsar, quando senti uma ligeira vertigem. Ela se recusou a aceitar a cédula que eu lhe estendi. Não fiquei insistindo e tratei de encontrar uma desculpa para me afastar deles. Tirei o celular do bolso e me preparava para ligar para o Caio quando a vertigem voltou desta vez mais intensa, a ponto de me turvar a visão do teclado. Intimamente comecei a maldizer o fato de não ter comido praticamente nada no jantar, ansioso com minha saída e, por não ter sido mais enfático na recusa da bebida. Antes de enfiar o celular no bolso, vi que a tela mostrava que haviam se passado alguns minutos depois da uma da madrugada. Pensei na imposição do Caio naquela manhã quando combinamos nosso encontro – Não se atrase! – salientou, mas o atrasado era ele. Comecei a sentir engulhos e saí à procura de um banheiro. Os mais próximos ficavam num edifício que dava suporte às quadras esportivas. Mal pude identificar meu rosto no espelho, de tão turva e distorcida que estava a minha visão. Eu suava em bicas apesar da temperatura amena para uma noite de verão. O enjoo se intensificou e antes que pudesse chegar ao vaso sanitário, um líquido bilioso e azedo se projetou pela minha boca. Os sons que entravam nos meus ouvidos eram tão agudos e dissonantes que chegavam a incomodar. Foi a última sensação que me atingiu, antes de tudo se apagar.

Uma luz intensa atingiu minha retina quando tentei abrir os olhos. A minha volta ecoavam sons ocos. Minha cabeça girava como se eu estivesse mergulhado numa centrífuga.

- Bom dia cinderela! Ou melhor, boa tarde! – a voz inidentificável de um homem vinha de algum lugar ao meu lado. Não achei que se referia a mim.

- Não se engane. Ele está despertando, mas não vai compreendê-lo. Vai demorar algum tempo para poder concatenar as ideias. – sentenciou outra voz desconhecida.

Notei que estava deitado sobre algo firme. Senti meu corpo pesado e dolorido, como se tivesse exagerado nos exercícios físicos. Logo identifiquei uma dor mais aguda e pungente vindo do ... seria possível? Vindo do meu cuzinho. Sim, era das entranhas da minha pelve que ela nascia, torturante e lacerante.

- Onde estou? Quem são vocês? – balbuciei, sentindo a garganta seca ardendo.

- Você está no Instituto Médico Legal. Eu sou doutor Mario e este é o doutor Galhardo, delegado de polícia. – respondeu a fisionomia que ia se tornando mais clara, e me fez enxergar um homem de meia idade num jaleco branco.

- O que significa isso? Por que estou aqui? – as palavras passavam pela minha garganta como se fossem uma lixa.

- Isso quem vai nos dizer é você. Há muita coisa que você terá que explicar meu rapaz. – disse o sujeito que trajava um terno mal ajambrado. – Quando o doutor acha que os exames toxicológicos estarão prontos? – dessa vez ele se dirigia ao médico que, mais uma vez, colocava o estetoscópio gelado abaixo de um dos meus mamilos, enquanto com a outra mão sentia a minha pulsação no braço esquerdo.

- Acredito que em dois ou três dias o senhor deve estar de posse deles. – respondeu o médico.

- Essa molecada abusa das drogas e depois sai por aí fazendo besteira. O pior é termos que perder nosso tempo com esses filhinhos de papai! – exclamou o delegado.

Eu caminhei com dificuldade até a viatura da polícia que estava estacionada próxima à entrada principal do IML. Meu cuzinho doía muito e parecia que internamente meus órgãos haviam sido demudados. Um policial civil me apertava o braço enquanto caminhávamos. O delegado seguia na frente e, assim que o outro policial que estava recostado na viatura nos avistou, abriu a porta traseira para que eu entrasse. Chegamos à delegacia cerca de quarenta minutos depois. A viagem transcorrera num silêncio só quebrado por alguns rosnados do delegado diante de um congestionamento. À medida que eu ia passando os rostos iam se virando na minha direção. As fisionomias me transmitiam o que perpassava a mente daqueles sujeitos, curiosidade, indiferença, desprezo, intolerância. Afinal, eu não passava de mais um daquelas centenas de meliantes que entravam naquela delegacia todos os dias.

- Levem-no até uma das celas! Depois vamos proceder ao interrogatório e terminar esse maldito BO. – disse o delegado, soltando uma esbaforida e tomando assento atrás de sua mesa, sobre a qual havia um prisma com a inscrição ‘delegado titular’ logo abaixo de seu nome.

- Mas eu fui vitima de um atentado! – esbravejei, reunindo todas as minhas minguadas forças. – Quero saber por que estão me prendendo!

- Meu rapaz! Você está metido numa bela encrenca. Antes de continuarmos com o BO vou deixar que faça umas ligações. Aconselho-o a entrar em contato com seus pais e, pedir que tragam um advogado. Agora tirem esse garoto da minha frente, ou eu mesmo o jogo para dentro de uma cela com um pontapé nos fundilhos. – rosnou o delegado. Ah! E vejam se arranjam alguma coisa, além desse avental ridículo, para cobrir a bunda desse moleque.

O mesmo policial que me escoltara até a viatura me levou até outra sala onde me estendeu uma camisa pelo menos três números acima das que eu usava. Não estava limpa, mas era mais casta do que aquele avental esdrúxulo, amarrado nas costas, com o qual cobriram meu corpo nu enquanto estava no leito do IML e, que deixava minhas nádegas impudicamente expostas. Depois ele me levou por um corredor de onde se debruçavam dezenas de presos pelas grades das celas abarrotadas. Eu nunca havia entrado numa delegacia e, aquela cena, mais do que me chocar, me apavorou. Os gracejos ecoavam enquanto eu passava diante das celas. Quando o carcereiro abriu uma delas e me mandou entrar, pensei que fosse desmaiar. Havia uns quinze detentos lá dentro, um cheiro nauseabundo de suor e urina empestava o ar. Um buraco se abriu entre os presos para que eu entrasse. Todos me examinaram de cima abaixo como se eu fosse um alienígena, antes de começar a zombaria.

- Calem a boca! Parece que nunca viram outro meliante sendo preso. – exclamou o carcereiro, trancafiando a porta.

Senti a primeira mão entrando por debaixo da camisa larga, que me chegava até a metade da coxa, enquanto ainda estava sob o efeito angustiante da detenção. Afastei com um soco o braço que se insinuava entre as minhas coxas, enquanto uma gargalhada geral explodia na cela.

- Lisinhas feito bundinha de nenê! – exclamou o mulato que me apalpava.

- Tô vendo que essa noite vou tirar o atraso desse aqui! – exclamou outro sujeito que levou uma das mãos ao volume que se formou sob a bermuda que estava trajando. Nova onda de gargalhadas ecoou, fazendo com que um burburinho se formasse até nas outras celas.

- Por que te enjaularam bichinha? – perguntou um sujeito barbudo com o torso nu exposto. – Tu tava queimando a rosca em lugar proibido?

- O viadinho está sem cueca, deu pra sentir. – sentenciou o que havia me apalpado.

- Ele não deve ser do tipo que usa cueca, não é belezura? – questionou outro que se aproximou ameaçadoramente de mim, vindo dos fundos da cela. – Seria um pecado esconder essa carne tenra embaixo de uma cueca de macho. – emendou, antes de agarrar minhas nádegas e me trazer para junto dele.

- Me solta, cara! – berrei.

- Não vá se fazer de difícil aqui dentro! É melhor pra tu liberar geral para a galera, ou vai ficar moidinho, sacou? – grunhiu, seguro de si. Logo compreendi que ele é quem dava as ordens por ali, uma vez que todos estavam esperando a manifestação dele com um certo respeito.

A fim de confirmar sua valentia diante dos outros presos, ele enfiou mais uma vez a mão por debaixo da camisa e apalpou ostensivamente uma das minhas nádegas, enquanto me encarava desafiadoramente. Dei uma joelhada com toda a força entre suas pernas, a ponto de sentir os bagos dele sendo espremidos contra o osso pélvico. Os olhos dele se arregalaram antes que um grito estertoroso chegasse a sua garganta e, ele colocasse as duas mãos entre a virilha contorcendo-se de dor.

- Filho da puta! Cê tá fodido viado! – berrou, sem conseguir se mover, enquanto continuava dobrado sobre si mesmo.

- Filho da puta é você seu merda! Não pense que vai tirar uma com a minha cara! – gritei encolerizado.

Assim que conseguiu ficar de pé ele partiu para cima de mim. A primeira bordoada acertou em cheio o lado direito do meu rosto e um zumbido se formou dentro do meu ouvido, tornando os sons, ao meu redor, quase inaudíveis. Comecei a gritar feito um desesperado. Ao mesmo tempo formou-se uma algazarra geral que se espalhou pelas demais celas. Todos queriam saber o que estava rolando. O tumulto trouxe para o corredor um carcereiro, que enfiou a cara na cela e deu o alarme de briga. Logo apareceram mais dois policiais, outro carcereiro e um sujeito jovem e parrudo vestindo um terno que se ajustava sobre o corpanzil musculoso. Eu o tinha visto de relance quando fui levado para a sala do delegado titular. O olhar dele acompanhou interessado cada um dos meus passos e, me lembro de ter sentido muita vergonha por estar com aquele avental ridículo, ainda por cima descortinando minha bunda.

- Que porra é essa aqui? Todos encostados na parede, agora! Júlio desce o cacete no primeiro filho da puta que tentar se mover. – berrou autoritário.

- Ele estava abusando de mim e começou a provocação. – balbuciei, tentando articular a minha mandíbula que parecia não estar em seu devido lugar.

- Cala a boca! Não quero saber de desculpas. E pouco me importa quem começou. Não quero ouvir mais nenhum nhenhenhém, ou o cassetete vai descer no lombo de todos, sem exceção. – vociferou, enquanto os presos, em silêncio, baixavam o olhar sem ousar encarar o sujeito nos olhos. – Quem foi que mandou colocar esse moleque nesses trajes dentro da cela? – perguntou ao carcereiro que tinha desembainhado o cassetete, pronto para encarar um motim.

- Foi o delegado Galhardo. Era para ele esperar até que seja concluído o BO. – respondeu o carcereiro solícito.

- Mal chegou e já está arrumando confusão. Tirem-no daí! – ordenou. – E essa cambada, todos ajoelhados no chão! Pode abrir Júlio.

Ao passar por ele encarei sua fisionomia solidária. Balbuciei um ‘obrigado’ sussurrado e tímido. Embora seu rosto continuasse carrancudo, pude perceber que seus olhos sorriam. Ele me acompanhou pelo corredor das celas, onde um silêncio forçado e reprimido havia se formado. Ele e os dois policiais me levaram a uma sala, onde as paredes encardidas, e uma fileira de janelas junto ao teto serviam de abrigo para uma mesa redonda cercada por cinco cadeiras.

- Sente-se! – ordenou, quando a porta se fechou atrás de nós. – Que diabo de roupa é essa? – perguntou, debruçando-se sobre a mesa com os punhos fechados.

- Ele é o garoto que chegou esta manhã quase pelado, doutor Enzo. Foi o que deu para arranjar para que ele não continuasse com a bunda de fora. – apressou-se a explicar um dos policiais, antes que eu pudesse responder.

- Não é a toa que aquela macharada começou a arrumar confusão. Você faz ideia de quanto tempo alguns daqueles caras não dão uma boa trepada? Aí aparece você só com essa camisa que mais parece uma minissaia. Você pode imaginar até onde vão as fantasias deles? – perguntou, me encarando.

- Não é culpa minha eu estar sem as minhas roupas. Eu não sei o que aconteceu e nem que fim elas levaram. Não estou usando essa coisa nojenta por vontade própria. E foi aquele delegado que me colocou naquele covil. – retruquei ofendido.

- Linguinha bem afiada a sua. Alguma você deve ter aprontado para estar nessa situação. O que foi? – inquiriu, no exato momento em que o velho delegado irrompeu pela porta.

- Quer dizer que você continua dando alteração! Não conseguiu ficar nem duas horas numa cela antes de arranjar confusão. – vociferou.

- Não fui eu quem começou a briga. Eles estavam tentando me estuprar por sua culpa. Me colocar junto com aqueles bandidos foi uma ideia de gerico. – revidei

- Meça suas palavras garoto! Você já está ferrado, e eu posso complicar a sua situação se continuar me desacatando, entendeu? – gritou, ao mesmo tempo em que desferia um soco sobre a mesa. – E você, por enquanto, é suspeito de ser tão bandido quanto aquela corja!

- O senhor não pode afirmar isso! Devia estar preocupado em descobrir o que me aconteceu. – respondi, sem baixar o olhar com o qual o encarava com desprezo.

- O que aconteceu é que você foi a uma dessas baladas onde vocês jovens enchem a cara, se drogam até não poder mais e, depois, começam a arrumar confusão. Para começo de conversa eu quero que você me explique isso aqui. – sentenciou, jogando sobre a mesa um maço de fotografias bem ampliadas.

Nelas eu aparecia deitado de lado, com uma perna levemente erguida, como se estivesse dormindo e, difícil admitir, mas com um caralhão de borracha enfiado até o talo no cu, deixando de fora apenas o que seria o sacão. Ao meu lado estava a garota que eu havia encontrado assim que cheguei à festa. Seu rosto estava estranhamente retorcido, ela também estava completamente nua deixando ver o corpo coberto por hematomas e, pelo olhar que transmitia uma sensação de terror, pude constatar que estava morta. Para completar a cena que a fotografia enquadrava, havia um rapaz sem camisa com o braço sobre o corpo da moça, o ventre virado para o chão e uma poça de sangue ao redor da sua cabeça. As demais fotografias mostravam a mesma cena horripilante em ângulos diferentes, ora com mais aproximação e detalhamento, ora focando os três corpos deitados entre um capinzal revolvido.

- Só você está vivo. Os outros dois já estavam mortos quando chegamos ao local. Agora será que é possível o senhor me explicar o que estas fotografias enquadraram? – perguntou o delegado.

- Não....não, não sei o que dizer. Eu não me lembro de nada. Como foi que eu fui parar ali? – consegui exprimir-me confusamente. Minha cabeça latejava e um mal estar começou a se apoderar de mim.

- Pois bem! A encrenca é essa. E, como só temos o senhor para nos dizer o que foi que aconteceu ontem a noite, eu espero respostas convincentes e verdadeiras. – retrucou, sentando-se numa das cadeiras.

Eu comecei a relatar os fatos com a maior precisão e na ordem cronológica que conseguia me lembrar. Mencionei com destaque que só havia ido à festa para encontrar um amigo e que havia tomado uma bebida que a garota da foto havia pedido e pago num dos quiosques. Que mal a conhecia e nunca tivera qualquer envolvimento com ela. E, que também não conhecia o rapaz que estava ao lado dela na foto. Nunca o tinha visto na vida. O delegado deixou que eu falasse por um bom tempo, antes de começar seu interrogatório. As perguntas iam ficando cada vez mais pessoais e íntimas. Quando não tinham nada haver com o fato de eu ter ido aquela balada, comecei a refrear as respostas, ou as dava muito suscintamente.

- O senhor não está ajudando muito. Quero respostas mais convincentes. – intimou, a certa altura.

- Mas é tudo o que eu sei. – respondi sincero.

Recusei-me a entrar em contato com os meus pais, conforme o delegado havia sugerido, por não querer dar o desgosto de terem que tirar um filho das mãos da polícia, ainda mais diante da sordidez da minha situação. Só de pensar no meu pai vendo aquelas fotografias eu começava a sentir calafrios. Como eu ia explicar aquele objeto monstruoso entalado no meu cuzinho? Para os meus pais, que moravam noutra cidade, eu era motivo de orgulho. Era mais um dos filhos que saíra debaixo das asas protetoras e provedoras deles para se fazer na vida. Definitivamente estava fora de cogitação trazê-los para São Paulo para sofrerem uma decepção destas.

Lembrei-me de uma amiga que comentara ter um irmão advogado, que estava fazendo uma carreira bem sucedida num escritório de renome. Ela me colocou em contato com ele e, este por sua vez, por não atuar na área criminalista, me indicou um amigo de faculdade, com o qual, segundo ele, eu estaria muito bem assessorado.

Armando não demorou nem duas horas para me encontrar na delegacia. Desde o incidente na cela, eu permanecia isolado dos demais presos na mesma sala onde o delegado havia me ouvido informalmente. Armando devia ter uns trinta e poucos anos, era um tipão para ninguém colocar defeito. Pelo menos a mulherada e caras como eu, que se ligavam num cara másculo com as características dele, gentil, educado, muito seguro de si, além de lindo feito um Apolo. Mais uma vez me senti ridículo e aviltado quando ele entrou na sala e me viu quase nu naquela camisa medonha. Quando ele chegou eu estava reexplicando, pela milionésima vez, para o delegado Enzo, os fatos dos quais me lembrava até ver tudo escurecendo na minha frente.

- Como é do conhecimento do senhor, meu cliente não deveria estar conversando com o senhor, ou com quem quer que seja, sem antes ter sido orientado por seu advogado. Prazer, Armando Gontijo! – sentenciou enérgico e, deixando evidente que não tinha prazer algum em encontrar aquele delegado jovem conversando com seu cliente.

- Evidente. O Rodrigo e eu, quero dizer, seu cliente e eu, só estávamos tendo uma conversa informal, conforme ele mesmo pode atestar. E, o prazer é todo meu! – respondeu irônica e secamente o delegado Enzo. Ele nem tentou disfarçar a raiva que sentia por estar sendo censurado e, muito menos, o fato de ter percebido um olhar mais do que atrevido e cobiçoso, daquele sujeito bem-posto para a minha pessoa.

- Já que estamos entendidos, eu agradeceria se pudesse conversar com meu cliente a sós. Depois disso, estaremos prontos para o depoimento formal. – determinou.

Simpatizei de cara com o Armando. Depois de ter-lhe explicado tudo o que aconteceu, sendo interrompido, uma ou outra vez, por perguntas que ele fazia para obter um detalhamento maior, fiquei convencido de sua capacidade. E, é claro, de que o interesse dele pelo meu caso não se restringia apenas à relação cliente-profissional. Havia algo na expressão do olhar dele que, além de me cativar, me deixou bastante intrigado, no bom sentido.

O delegado Galhardo tomou meu depoimento na sequência. Além do escrivão, estava presente o delegado Enzo, que quase não abriu a boca durante todo o interrogatório. Não mais do que duas ou três vezes, interveio com uma questão muito bem colocada que, pela minha percepção, tinha o objetivo de causar uma boa impressão no meu advogado. Ou eu estava enganado, ou aquele depoimento estava servindo de embate entre os dois, cada um tentando mostrar o quão bem capacitados eles eram. Na situação desastrosa em que me encontrava, não consegui atinar com a razão de tudo aquilo.

Concluído o depoimento, o Armando me explicou que não seria possível revogar a minha prisão cautelar antes de cinco dias, que era o tempo mínimo para que a polícia pudesse continuar com as investigações, depois disso ele entraria com um habeas corpus, e eu podia continuar a responder pelo inquérito em liberdade. Oficialmente eu me tornara suspeito do assassinato da garota e do rapaz que foram encontrados junto comigo, totalmente alterado pelo uso de alguma substância. Antes de ele partir, pedi que me arranjasse umas roupas e produtos básicos de higiene, pois não aguentava mais sentir aquele trapo sobre o meu corpo. Ele atendeu meu pedido com satisfação e bom gosto.

- Vejo que seu advogado foi muito prestativo e apressado em lhe trazer roupas para cobrir seu corpo. Talvez porque não consiga lidar com o mesmo tipo de olhar lupino com o qual ele próprio ficou secando você. – disparou o delegado Enzo, quando foi ter comigo na cela improvisada, antes do anoitecer.

- Não entendi esse escárnio, o que o senhor quer dizer com isso? – retruquei.

- Não é nada não, estava só pensando alto. Vai precisar se arranjar nesse colchão que mandei trazer aqui. Não temos uma cela especial para filhinhos de papai nesta delegacia. – disse ele em seguida.

- O senhor faz uma ideia muito equivocada a meu respeito. Não faço questão de nenhum tipo especial de acomodação num ambiente como esse, no qual, aliás, nunca estive antes. Apenas não quero ser estuprado por um bando de criminosos, como estaria sujeito se continuasse naquela cela. – respondi irritado.

- É isso seria mesmo um pecado! – exclamou, num tom quase inaudível.

- O que disse?

- Continuo pensando com meus botões, não é nada não. – respondeu.

O Armando voltou no dia seguinte, como o faria em todos os outros dias subsequentes enquanto estive preso. Trouxe uma caixa de chocolates, e um café, ainda fumegando, que ele equilibrava numa das mãos. Abriu um sorriso largo e cativante quando me viu.

- Trouxe isso para amenizar sua espera pela soltura! – exclamou, transbordando vitalidade.

- Obrigado! Você é muito atencioso. Acho que nunca teve um cliente tão desesperado e ansioso, não é? – respondi.

- Você está longe de ser dos piores que já atendi. Mas, não se aflija, isso vai terminar logo, eu garanto. – disse, com uma calma e certeza que ia além do aspecto profissional.

- É bom ter você aqui comigo. Nunca passei por uma situação dessas. E, nunca me senti tão só. – balbuciei, enquanto um nó travava a minha garganta.

- Ei, ei, ei....o que é isso? Não fique assim. Tudo vai acabar bem. – revidou, me abraçando e trazendo meu corpo para junto do dele.

Não sei quanto tempo me deixei ficar recostado naquele peitoral largo, que me pareceu tão sólido e seguro como uma rocha. Ele tinha um cheiro amadeirado que me tranquilizou. Percebi que ele não tinha pressa alguma em se apartar de mim e, que ele aspirava, deleitado, a pele do meu pescoço.

- Oh! Espero não estar interrompendo nada de muito especial. – ironizou o delegado Enzo, quando entrou na sala e, nos flagrou abraçados.

- Foi um momento inoportuno, mas o senhor não está interrompendo nada não, delegado! – respondeu o Armando, contrariado pelo parêntese criado.

- Aliás, foi bom encontra-lo aqui, doutor. Assim, o senhor poderá se inteirar dos novos fatos junto com o seu cliente. Acompanhem-me até a sala do delegado titular, por favor. – as palavras dele soavam ásperas e agressivas.

- Novos fatos? Descobriram como fui envolvido nessa trama? – questionei ansioso.

O delegado Galhardo apagou o resto do cigarro que estava fumando, na ponta de sua mesa, que exibia as marcas queimadas desse hábito que há muito devia estar se repetindo. A sala fedia a tabaco. Ele havia pendurado o paletó no encosto da cadeira e estava com as mangas da camisa, apertada sobre o abdômen saliente, arregaçadas até o cotovelo, exibindo os braços extremamente peludos.

- Temos novidades no seu caso, garoto! – exclamou, fazendo girar a cadeira na qual estava sentado e dando-se ares de autoridade. – A nosso pedido o juiz determinou a quebra do seu sigilo telefônico e, apesar de não sabermos do paradeiro do seu celular, obtivemos uma transcrição bastante interessante de uma conversa sua com aquele seu amigo, que o senhor alegou estar aguardando na festa.

- Então ele pode confirmar a minha história. Eu não disse que eu não tenho culpa nenhuma. – exclamei, contente com a possibilidade de me ver livre daquilo.

- Um momento mocinho! Não vá se entusiasmando! Seu ‘amigo’ ainda não foi localizado em nenhum dos lugares onde o senhor nos indicou. – sentenciou, gesticulando no ar um parênteses quando mencionou a palavra amigo.

- Como assim? Ou ele está na casa dele ou amanhã, que é segunda-feira, estará na faculdade.

- Vou ler o trecho mais interessante dessa transcrição se, me permite doutor? – disse, dirigindo-se ao Armando, que concordou com um meneio da cabeça. - Na primeira conversa entre eles na manhã do ocorrido, eles combinam a hora e local do encontro e há mais umas frases de um blábláblá sem importância. Mas, na ligação que seu cliente fez naquela tarde, para ser mais preciso, às dezesseis horas e vinte e três minutos, há uma conversa deveras picante. – continuou, passando a esboçar um risinho sarcástico. Eu que até então estava de pé junto a uma cadeira, precisei me sentar, pois me lembrei de cada palavra que disse ao Caio naquela ligação.

Rodrigo: Oi! Sou eu novamente. Só para ter dizer que estou ansioso pelo nosso encontro dessa noite.

Caio: Oi! Que bom ouvir sua voz. Estou com tesão só de imaginar você falando assim bem juntinho de mim. Meu pau chega a estar latejando.

Rodrigo: Fico feliz de saber que está com tesão. Prometo que vou fazer tudo para você não ter que deixa-lo tão na vontade.

Caio: Hummm....promessa é divida, não se esqueça! Desde que coloquei o olho nessa sua bundinha não paro de sonhar e de me punhetar pensando nela.

Rodrigo: Vou tornar seu sonho realidade. Também estou morrendo de tesão por você.

Caio: Posso ter uma prévia de como você vai realizar o meu sonho?

Rodrigo: Qual eu começar colocando a sua glande babona entre os lábios e te chupar de mansinho?

Caio: Arfff!!! Já estou melando a cueca. Não sei se vou aguentar muito tempo essa sua boquinha doce chupando meu cacete, é capaz de eu gozar tudo na sua garganta.

Rodrigo: Eu vou adorar.

Caio: Não brinca assim! Você está me deixando doido.

Rodrigo: A intenção é essa mesmo. Beijão e até a noite.

Caio: Beijão e uma mordidela nesses seus peitinhos de virgem. Não se atrase! Ou vai precisar pagar pedágio.

Rodrigo: Não vou me atrasar, prometo.

- Não é interessante, doutor? Agora temos uma pista do porque do seu cliente ter aquele brinquedinho incrustado em um lugar tão peculiar de sua anatomia. – sentenciou o delegado, depositando as folhas que acabara de ler diante do Armando.

- Isso não prova nada! Muito menos que meu cliente esteja envolvido no crime. Não sejamos ingênuos, delegado. O senhor sabe disso muito bem. – retorquiu o Armando com firmeza.

- É provável. Mas nos dá uma pista da motivação que levou seu cliente até a balada. Não é meu jovem? – ironizou, dirigindo-se a mim.

- Mas não aconteceu nada disso. Eu já falei que ele não apareceu. E, que logo após ter chegado ao local eu perdi os sentidos e não me recordo de mais nada além do que relatei. – retruquei exasperado.

- Bem! As investigações continuam. Sinto que ainda teremos mais surpresas neste caso. – declarou.

O delegado Enzo que também estava na sala não disse uma palavra, como de costume. Ficou me encarando, estudando cada uma das minhas reações enquanto o delegado Galhardo lia a transcrição da conversa telefônica.

Os dias foram passando e o Caio não foi localizado. Eu estava tão transtornado que comecei a achar que ele havia preparado uma armadilha para mim. Mas, com que propósito? Eu sabia que havia acontecido uma empatia entre nós dois. Isso era real. Não era fruto de uma aspiração romântica e pueril. Ou será que eu podia ter me enganado tanto a respeito de suas intenções. De um momento para o outro, eu não tinha mais certeza de nada. Só que aquele pesadelo parecia não ter fim.

No dia seguinte o delegado Enzo entrou na sala que me abrigava pouco depois das seis horas da manhã. Eu estava trajando apenas um short e estava suado. Acabara de ter outro pesadelo. Seu olhar varreu o meu corpo, mas eu estava transtornado demais para notar.

- Bom dia! Você parece que não teve uma noite muito tranquila, não é? – disse, observando eu me colocar de pé. – A família do seu amigo disse que ele está viajando. Segundo consegui apurar até o momento, parece que ele viajou no mesmo dia em que supostamente vocês se encontrariam. Você faz ideia de onde ele possa ter ido? – inquiriu.

- Não vá me dizer que agora também serei acusado do desaparecimento do Caio. Não. Isso não pode estar acontecendo comigo! – exclamei desesperado, caindo num choro convulsivo.

- Quem disse que ele está desaparecido? Você foi o último a conversar com ele. Não há mais nenhum registro de conversas dele com quem quer que seja desde aquele dia. – sentenciou lacônico.

- Eu não sei. Eu não sei. Eu não sei. Quantas vezes vou ter que repetir isso? – berrei.

Decorridos os cinco dias da prisão cautelar, o Armando conseguiu minha liberação por meio do habeas corpus, me permitindo responder ao inquérito em liberdade. Mal pude conter a emoção quando entrei no meu apartamento. Ele foi um presente do meu pai quando entrei na faculdade. A mobília escolhida tão zelosa e prazerosamente, os meus objetos pessoais cuidadosamente organizados, mas distribuídos displicentemente pela sala, indicando que havia uma vida por trás de cada um deles e, o cheiro reconfortante, que só a nossa própria casa tem, me fez valorizar, ainda mais, aquele espaço que eu habitava. A primeira coisa que fiz, foi me enfiar debaixo da ducha para me livrar daquela nhaca da cela da cadeia que parecia ter se impregnado na minha pele. Eu estava me enxugando quando o interfone tocou. Era o Genilson, um dos porteiros, informando que estava subindo para entregar a correspondência que havia se acumulado durante a minha ausência.

- Oi Rodrigo! Que bom que está de volta. Ninguém sabia que você estava viajando. – disse, com aquele seu sorriso de mandrião, assim que abri a porta. – Aqui está a sua correspondência. Resolvi trazer logo, pois sabe como é, o ‘seu’ Fernando não gosta de ver as coisas acumuladas lá em baixo, vai logo dando uma bronca na gente. – emendou, referindo-se ao síndico. Nesse instante percebi que ele não desgrudava seu olhar lupino de mim e, que eu tinha vindo atender a porta trajando unicamente um short.

- Obrigado Genilson! Nossa, acumulou muita coisa mesmo. O pior que, ou são contas para pagar, ou é propaganda que vai diretamente para o lixo. – retruquei, um tanto quanto acanhado com aquele olhar despudorado. E, nada revelando sobre o meu paradeiro dos últimos dias. Seria um prato cheio para as fofocas do condomínio.

- Não vai rolar aquele suquinho de frutas? – perguntou, na cara dura, pois eu costumava lhe servir um suco toda vez que ele vinha com a correspondência. – Tá um calorão lá em baixo na portaria. Não tem essa mordomia de ar-condicionado fresquinho. – brincou, deixando transparecer seu interesse em prolongar aquela oportunidade de me ver vestido sumariamente.

- Êta paraibano folgado! Entra! Fecha essa porta e vem aqui na cozinha. – respondi, caminhando a frente dele, rumo à cozinha para preparar um suco.

- Não pense que eu quero abusar. É que não são todos que tratam a gente direito, feito você. A maioria nem olha na nossa cara quando passa pela portaria. – revidou num muxoxo.

- Deixa de ser resmungão! Um homão desse tamanho, choramingando feito criança. Onde já se viu? – retorqui.

- Não estou resmungando não. É a pura verdade. Fica lá em baixo e você vai ver com seus próprios olhos se não é verdade. – continuou lamuriento.

- Vai logo! Toma esse suco e chispa. Depois fica reclamando que o ‘seu’ Fernando pega no pé de vocês. Alguém tem que por ordem nessa cambada. – devolvi, abrindo um sorriso na direção dele. Eu já tinha notado que o sem-vergonha gostava quando eu sorria para ele.

- Eu já estava com saudades dos teus carões! – exclamou, atrevido.

- O que é que é isso? Fala língua de gente, e não paraibano. Quem é que vai entender esse idioma? – devolvi.

- Carão é bronca, lá na minha terra. – respondeu, dando risada.

Dos porteiros do condomínio, Genilson era aquele de quem os moradores mais gostavam. Era novo ainda, talvez nem tivesse chegado aos trinta anos. Fazia o tipo galã de periferia. Mulherengo ao extremo, não perdia a chance de dar em cima das empregadas dos condôminos, especialmente as solteiras. Elas, por sua vez, não o poupavam de seus gracejos e se ofereciam feito vadias aos predicados de macho arretado. Minha simpatia por ele começou pouco depois de eu me mudar para o condomínio. Eu costumava sair muito cedo pela manhã para ir à faculdade. Fazia isso para evitar o trânsito e, também, para conseguir uma boa vaga próxima ao prédio da faculdade, no estacionamento que quase sempre não comportava todos os carros dos estudantes e professores. Certa manhã, ao passar apressado para pegar o meu carro na garagem, passei diante do depósito de suprimentos do prédio. Pela porta entreaberta saíam uns gemidos afobados e devassos. Me aproximei cautelosamente para não ser percebido e, pela fresta aberta vi o Genilson com as calças arriadas, a camisa desabotoada expondo o torso másculo e peludo, metendo a pica numa moreninha peituda, de ancas largas, que se agarrara ao pescoço dele enquanto enlaçava com as pernas a cintura dele. Devia ser a faxineira de um dos condôminos. Ela gemia e se entregava a sanha viril do Genilson, enquanto esse mantinha a cara enfiada entre as tetas desnudas da garota. Ele a segurava pelas coxas enquanto a apertava contra a parede, fodendo-a de modo selvagem e brutal. Fiquei tão estarrecido que deixei cair parte dos meus livros e cadernos de apontamentos, chamando a atenção deles. A empregadinha vadia deu um grito quando deu pela minha presença. Genilson tirou o cacetão duro e babando da vagina dela, e quase a deixou cair no chão. Ela ajeitou o vestido e saiu correndo, com as pernas meio abertas. Efeito da brecha que aquele caralhão arregaçou na sua buceta. Ele me encarou desolado, tal qual uma criança da qual se tirou uma guloseima das mãos.

- Seu Rodrigo! Bom ... bom dia, ‘seu’ Rodrigo! Eu ... eu não percebi que... o senhor precisa de alguma coisa? Desculpa o mau jeito ai ‘seu’ Rodrigo. – gaguejava atrapalhado, enquanto a jeba continuava escandalosamente empinada. – Foi mau! Mas, se o senhor puder não contar nada para o síndico. Ele vai me botar na rua.

- Bela sem-vergonhice, hein Genilson? A essa hora da manhã, nem amanheceu direito ainda! – exclamei, tripudiando com a situação e tentando deixa-lo ainda mais sem graça.

- Na moral, ‘seu’ Rodrigo. Não tem hora pra isso não. Faz tempo que aquela piranha tava me provocando. Passava lá na portaria e ficava se esfregando em mim. Mostrava que estava sem calcinha e sentava no balcão pra eu ver a xana dela. Eu sou macho, não deu pra segurar mais. – confessou, abotoando lentamente a camisa e, nem se preocupando em colocar aquele caralhão para dentro das calças.

- E se fosse aquela velhota encrenqueira, dois andares abaixo do meu, como é mesmo o nome dela? – inquiri. Inconscientemente eu também não conseguia tirar os olhos daquele membro descomunal. O Genilson não era um homem feio, tinha porte. Era, sem dúvida, um ogro, mas certamente, muito bem dotado como reprodutor.

- A dona Guilhermina! Nem me fale. Ela ia mandar chamar a polícia, tenho certeza. – respondeu.

- Também, não é pra menos! A velha ia ter um troço se visse esse cacetão na frente dela logo cedinho. Matava ela do coração! – exclamei brincando.

- Que isso ‘seu’ Rodrigo? Vai me deixar avexado. – devolveu. No entanto, seu olhar refletia o orgulho por ter seu instrumento valorizado.

- Isso tá mais pra cacete daqueles jegues que tem lá na sua terra. – zombei.

- A mulherada não reclama não. E, só aqui entre nós, vou contar um episódio para você. Um vizinho nosso lá do sítio em Gurjão, minha terra, tem um filho baitola. Eu não sou de botar reparo em homem, mas o garoto é bonito que só ele, da bundinha arrebitada. O moleque é muito jeitosinho, branquinho e lisinho assim feito o senhor. Um dia meti a chibata no butico dele no meio de uma roça de macaxeira, ele gritou, mas estava gostando. E, pra ser sincero, eu também. Naquele dia descobri que comer feofó de pirobo é mais gostoso do que metê em xoxota. É bem mais apertadinho e, dá um tesão da porra. Depois daquele dia eu sempre dava uma passada no sítio do vizinho, assim como quem não quer nada. Quando o garoto me via ficava todo assanhado e eu levava ele para a beira de um açude que ficava lá perto, ou a gente ia para o meio de uma roça mesmo. Só largava dele quando não aguentava mais gozar. – confessou.

- E eu lá quero saber das tuas sacanagens Genilson! – retruquei, dando uma de enfadado.

- É só pro senhor saber que, pra um macho feito eu, não é fácil botar rédea no bilau. Pro senhor ver a minha situação agora. A piranha se mandou e eu fiquei aqui com tudo entalado. Não cheguei a galar a xana dela. – disse, contrariado.

- Você é um jegue tarado mesmo! – exclamei, fazendo força para não rir. Intimamente ele saboreou o fato de eu o reconhecer como um machão arretado.

Foi uma delícia rolar pela minha cama entre a roupa de cama aconchegante que guardava o cheiro do meu perfume. Dormi a sono solto naquela noite depois de uma semana tendo pesadelos naquela cela improvisada sobre aquele colchão cheirando a mofo e naftalina. No entanto, não consegui dormir tanto quanto desejaria. Pouco depois das cinco da manhã o interfone tocou insistentemente. Eu me contorci entre os lençóis e tomei a decisão de não atender, estava exausto demais para atender quem quer que fosse. Não se passaram nem cinco minutos e parecia que a porta do apartamento estava sendo derrubada. Alguém a esmurrava com tanta força que achei que a estavam colocando abaixo. Saí cambaleando do quarto ainda sonolento. De nada adiantaram os meus berros dizendo que já estava indo. Era o delegado Enzo e mais dois investigadores.

- Bom dia! Por que não atendeu o interfone? – foi logo despejando de forma agressiva.

- É madrugada ainda! Mal se passaram doze horas desde que saí da delegacia. O que quer agora? – respondi enfurecido.

- Seu namoradinho foi sequestrado. O que pode me dizer a respeito disso? – questionou, enquanto seus olhos percorriam o apartamento.

- Quem? Que palhaçada de namoradinho é essa? Eu quero que saiam daqui agora mesmo. Vou ligar para o meu advogado e perguntar se isso é legal? – retruquei.

- Não tenho tempo e nem disposição para conversa fiada. Me diga, o que sabe sobre o sequestro do seu amigo desaparecido? – insistiu.

- Na delegacia você me disse que ele estava viajando. Como é que eu vou saber onde ele está se nem ao menos sabia que foi sequestrado? – respondi. – Se a polícia não fosse tão incompetente saberia se ele está viajando ou foi sequestrado, afinal me parece que são situações muito diferentes, não acha delegado? – continuei.

- Preste bem atenção, garoto. Eu lhe fiz uma pergunta direta e quero uma resposta. Não tenho o dia todo para esperar por sua resposta. – vociferou.

- Não queira se fazer de maduro e responsável na minha frente. Eu tenho vinte e três anos, não sou nenhum garoto! Você mal chegou aos trinta, se é que tanto, portanto não é nenhum exemplo de maturidade e eficiência para me tratar com essa soberba. – revidei.

- Tenho trinta e um, apesar disso não ser da sua conta. Passei a noite em claro em diligências e não estou com saco de aturar seus desaforos de menino mimado. Quer voltar para a delegacia por desacato? É só continuar me enchendo o saco que será esse o seu destino. O caso está em minhas mãos, e eu vou desvendar todo esse imbróglio, pode ter certeza! – retorquiu. – Vasculhem o apartamento! – ordenou, dirigindo-se aos investigadores que o acompanhavam.

- Você tem um mandato para fazer isso? É ridículo você achar que o Caio está aqui. Eu já repeti mais de mil vezes que não o vi nem naquela noite da festa por que ele não apareceu. – disse, indignado com tanta incompetência.

Os investigadores voltaram e sinalizaram que não havia mais ninguém no apartamento. O delegado os mandou conversar com o porteiro e eles desceram.

- Não queira me ensinar o meu serviço. Estou até aqui com a sua arrogância. – fez um gesto colocando a mão acima da cabeça.

- Já que não encontrou nada aqui, ponha-se daqui para fora. Eu estou na minha casa e prestei os esclarecimentos que me foram solicitados. Vocês, depois de uma semana, não descobriram nada, não conseguiram saber quem me vitimou e, ainda por cima, estão distorcendo os acontecimentos para colocar a culpa em mim. É bem a cara da polícia, quando não conseguem desvendar um crime, simplesmente inventam um culpado. – desabafei, percebendo que o Enzo se enfurecia a cada afirmação minha.

À medida que a nossa discussão avançava, eu notava que o tinha tirado do sério. Ele estava ficando cada vez mais irritado e zangado com os meus revides, o que ele chamou de petulância em dado momento.

- Você é muito atrevido! É um abuso você julgar que toda a polícia é incompetente. Você não passa de um fedelho dengoso. – sentenciou cuspindo fogo pelas ventas.

- Depois de cinco dias trancafiado naquela delegacia nojenta, enquanto vocês, teoricamente, estavam investigando o caso, qual foi o resultado? Nenhum. Tudo o que conseguiram foi vasculhar e infernizar a minha vida, invadir a minha privacidade, expor a minha sexualidade. Foi só o que as suas diligências conseguiram. Quanto a quem matou aquelas pessoas e a quem me colocou na cena do crime, nem sinal. Então me diga, onde está a sua competência? – retruquei.

Ele partiu para cima de mim como um leão enfurecido. A vontade dele era me assentar alguns bofetões na cara, mas algo o impediu de fazê-lo. Ele me prendeu numa gravata, fez meu corpo girar de forma que fiquei com as costas coladas no peito dele e me lançou sobre o sofá, deixando seu corpo musculoso cair em cima de mim.

- Seu troglodita! Macho bruto! – protestei, sufocado pelo braço peludo e forte dele, que comprimia minha garganta.

- Viadinho arrogante e gostoso! Há momentos em que tenho vontade de te esganar. – grunhiu entre dentes.

- É o que você está fazendo, seu mastodonte!

- Não é a conjunção ideal? Eu um macho bruto e você um viadinho tesudo da porra?

Antes que eu pudesse responder, senti o cacetão dele se esfregando na pele da minha bunda. Estava tão preocupado em discutir com ele que não me dei conta da agilidade com a qual ele arriou minha bermuda e abriu suas calças tirando aquele membro enorme do sufoco que o cerceava. Como se aquilo fosse aplacar toda a opressão que ele estava sentindo. Dando vazão a seus instintos predatórios, ele meteu aquela jeba excitada no meu cuzinho. O gemido desesperado de dor que eu soltei soou como uma rendição aos ouvidos dele. Minha pele parecia estar pegando fogo onde a dele tocava em mim. Aquela coisa truculenta que ia entrando no meu cu, pulsando freneticamente, foi aos poucos me dando ciência do vigor másculo do Enzo e, eu comecei a me entregar a melhor sensação que já havia sentido na vida. Aos poucos ele foi percebendo a minha capitulação aos seus caprichos voluptuosos, e foi substituindo a investida agressiva e brutal por movimentos de vaivém mais carinhosos e sensuais, usufruindo cada estocada no meu cuzinho apertado e quente.

- Gostoso! Bundudinho tesudo do caralho! Você me deixa maluco. – arfou, deixando que os jatos de porra jorrassem abundantes e aliviadores, na minha carne receptiva e acalentadora.

Enquanto eu tentava me recuperar desse ataque de sensualidade, eu me questionava sobre o fato de não ter percebido neste tempo todo, que homem era aquele. No que a minha mente estava concentrada que não fui capaz de notar o quanto aquele macho havia sido perturbado pela minha presença? Que aquela nossa rebeldia mútua em aceitar nossas diferenças não passava de uma atração afetiva não compreendida e aceita. De repente, percebi que aquele homem viril, que ainda respirava profunda e aceleradamente, deitado sobre mim, era tudo que eu havia sonhado e desejado.

Depois de algum tempo, ele já mais calmo, deslizou as costas dos dedos indicador e médio pelo contorno do meu rosto. Fazia isso tão suave e sutilmente que eu mal sentia o toque dos dedos dele. Consenti também nisso e deixei-o me acariciar. Num breve instante seus dedos pararam sobre os meus lábios, e eu os beijei com a mesma sutileza e carinho. Por fim, ele tirou o cacetão do meu cu. Gemi quando a cabeçorra distendeu minhas pregas feridas. Ele se pôs de pé e guardou a pica ainda não bem amolecida, ajeitando-a nas calças. Cobri pudicamente as nádegas puxando minha bermuda para a cintura e me levantei com um pouco de dificuldade, pois parecia que haviam cavado um túnel entre as minhas coxas. Não nos encaramos, e um silêncio constrangedor permanecia suspenso no ar. Acho que cada um de nós se perguntava, intimamente, que explosão havia sido aquela? Teria sido um simples desatino, ou era o resultado da tensão acumulada desde o primeiro instante que nos conhecemos? Ele fez menção de se retirar.

- Preciso ir. – disse, procurando pelo meu olhar, mas um pouco sem jeito.

- Está bem! – respondi, acompanhando seus passos até a porta.

- Confie em mim. Prometo que vou descobrir o que fizeram com você naquela noite. – pediu, saindo pela porta e dando dois passos em direção ao elevador, depois de colocar um cartão em minhas mãos onde constava o número do celular dele.

- Eu confio! – retorqui. No mesmo instante ele deu meia-volta, me puxou pela cintura junto ao corpo dele e colando a boca na minha, enfiou a língua nela, até sentir que eu a chupava sedutoramente.

Não tive notícias dele por uma longa e angustiante semana.

Retomei minhas atividades ainda sob o baque daqueles acontecimentos. Não encontrei o Caio na universidade e, os colegas dele me informaram que ele não estava frequentando as aulas há pelo menos duas semanas. Disseram também que inclusive a polícia estivera à procura dele. Comecei a achar que algo de muito ruim tinha acontecido com ele. E temi que tivesse tido o mesmo destino daquela garota e daquele rapaz. Resolvi passar na casa dele. Não tinha tido muita oportunidade de conhecer a família dele, senão por uma rápida passagem em que ele me apresentou a mãe e um irmão. Esse irmão foi quem veio abrir a porta quando cheguei e, por uns instantes, não me reconheceu. Percebi que estava tenso e relutou em me deixar entrar. Quando cheguei na sala da casa, havia muitos familiares dele e dois investigadores. Um deles era o mesmo que estivera no meu apartamento junto com o Enzo. Ele logo me reconheceu e me cumprimentou discretamente. O Caio havia sido mesmo sequestrado na tarde do nosso encontro. Os sequestradores fizeram contato com a família apenas três dias depois do sequestro, e começaram a exigir uma quantia vultosa para libertá-lo. A princípio, a família lidou com o fato sozinha, mas quando a polícia começou a procurar o Caio para checar a minha história, foi inevitável que ficassem sabendo do sequestro. Desde então, uma equipe especializada estava intermediando as negociações e instruindo a família. Ao voltar para casa naquela mesma tarde, meu celular começou a tocar enquanto eu estava no elevador. Não reconheci o número que aparecia na tela.

- Rodrigo! Sou eu, Caio. – a voz era ofegante e se misturava a uma zoeira de fundo, um barulho que se parecia com o de um trânsito pesado.

- Caio! Por onde você se meteu? Acabo de chegar da sua casa. Você foi sequestrado? – eu precisava de respostas.

- Eu consegui fugir do cativeiro. Estou nas margens da via Dutra, sentido Rio. Não liguei para minha casa, pois acho que os sequestradores estão monitorando nosso telefone. Você pode vir me buscar o mais breve possível? Estou numa espécie de restaurante-lanchonete de um posto de gasolina em Santa Isabel, eles me deixaram usar o telefone. – eu podia sentir a aflição dele em cada palavra.

- Claro! Estou indo. Você está bem, te machucaram? – comecei a entrar em pânico.

- Estou bem. Tome cuidado para vir para cá. – aconselhou.

Do telefone do apartamento liguei para o Enzo e contei tudo a ele, avisando que estava seguindo para lá.

- De jeito nenhum! Você vai ficar exatamente onde está. – ordenou, com aquela sua determinação que me tirava do sério.

- Você não vai reconhecer o Caio quando chegar lá. Vai precisar de mim para isso. – respondi.

- Temos uma fotografia dele. Mas, pensando bem, talvez você possa nos ajudar mais facilmente na identificação dele. Vou passar no seu apartamento e te pegar. Não faça nada antes de eu chegar aí. – mandão como sempre.

- Está bem, eu te espero.

Ele não demorou nem vinte minutos. Vinha acompanhado de mais duas viaturas e pelo menos meia dúzia de policiais. Também havia acionado a divisão antissequestro que acompanhava as negociações junto à família do Caio.

Encontramos o Caio com facilidade no local que ele havia indicado. Estava bem mais magro e bastante abatido. Tinha alguns hematomas nos braços e no rosto, provavelmente havia mais nas partes cobertas do corpo. Ele me abraçou com muita intensidade e desespero, como se o fato de me reencontrar fosse a confirmação de que seu sofrimento havia realmente terminado. A equipe da divisão antissequestro quis que ele lhes indicasse o local do cativeiro.

- Você acha que consegue voltar ao local do cativeiro? Provavelmente o marginal que estava tomando conta de você ainda não se deu conta da sua fuga. Temos a informação de que, há questão de pouco mais de meia hora, os sequestradores fizeram um novo contato com a sua residência. Podemos captura-los se nos levar até lá. – disse o sujeito barbudo e ligeiramente acima do peso que comandava o grupo.

- Vocês não veem o estado em que ele está? Como podem pedir para que ele volte aquele inferno? É muita falta de sensibilidade! – exclamei indignado.

- Fique bem quietinho! Não se meta. Eles sabem o que estão fazendo e, é muito importante por as mãos nesses criminosos. – sentenciou o Enzo, num tom de voz áspero carregado de censura.

O sujeito nem se dignou a me responder. Como o Caio havia concordado em leva-los até o cativeiro, não me restou outra opção senão me resignar. O local onde ele havia permanecido nas últimas semanas ficava em meio a uma favela nas proximidades da rodovia. Não era muito grande, apenas uns vinte ou trinta casebres erguidos com madeiras, chapas e telhas de refugo. Nenhuma viatura tinha identificação e a nossa chegada não chamou muito a atenção, pois ao longo da avenida onde estavam os casebres havia muito movimento. O Enzo determinou que eu ficasse dentro do carro e deu ordens expressas a um dos policiais para me vigiar com a atenção redobrada.

- Não tire os olhos dele e não permita que saia da viatura. Esse para se meter em encrenca é um tanto. – ordenou. Tive vontade de revidar, mas ele já estava distante fazendo o cerco da maloca indicada pelo Caio.

De onde eu estava dava para ver parcialmente a lateral da construção e um muro alto que fazia a divisa com uma empresa. Dois sujeitos passaram pelo carro onde eu estava com o policial e caminharam em direção ao barraco. Um deles era o mesmo que eu havia encontrado com a garota na noite da balada. Era ele mesmo, pinta de galã de periferia, mas que não passava de um criminoso. O outro era um mulato magro que também não conseguia disfarçar sua vida criminosa. Assim que eles abriram a porta do barraco, o mulato sacou de um revólver enfiado no cós da calça e começou a atirar. Os policiais que estavam de tocaia dentro do barraco revidaram e, antes que ele pudesse empreender uma fuga, foi alvejado por disparos e cambaleando foi estrebuchar junto ao muro de onde minutos depois não vi nada além de um corpo inerte. O outro tentou correr, embrenhou-se numa viela e, de onde eu estava não conseguia ver o que estava acontecendo. Pouco depois ouvi mais alguns tiros. Um silêncio se seguiu, acompanhado do súbito fechamento de janelas e portas dos barracos. Os favelados que antes perambulavam pelos becos desapareceram feito ratos. Um grupo de policiais com o delegado da divisão antissequestro e o Enzo apareceu vindo pela calçada da avenida. No meio deles estava o galã de periferia, algemado e aparentemente ferido, pois arrastava uma das pernas e caminhava com dificuldade. Jogaram-no na traseira de uma das viaturas, enquanto o Enzo vinha na minha direção. O Caio seguiu na viatura do outro delegado e foi levado para casa. Enquanto outra parte dos policiais seguia para outro local onde, supostamente, estaria o restante do bando, segundo informara o bandido preso, na tentativa de captura-los. Passava das onze e meia da noite quando iniciamos o regresso.

- Vou te levar até em casa. Obrigado pela ajuda. Depois de interrogarmos o criminoso capturado vamos saber o que se passou naquela noite. – disse, enquanto ele mesmo dirigia a viatura. – Estou orgulhoso de você. Pela primeira vez conseguiu se comportar direitinho! – exclamou, depois de algum tempo.

- Eu sempre sei como me comportar. Estava demorando a você me criticar. – respondi com azedume. Ele riu.

Quando chegamos ao meu condomínio notei que a camisa dele estava rasgada e havia sangue manchando boa parte do tecido no ombro esquerdo.

- Você está ferido? O que é isso? Você está sangrando! – disse, ao constatar o ferimento.

- Machuquei o ombro quando estava pulando uma cerca no meio da favela. – respondeu ele.

- Vamos subir para que eu possa examinar o que está acontecendo.

Havia um corte extenso, mas não profundo na região da omoplata esquerda, que ainda sangrava ativamente.

- Vou fazer um curativo oclusivo depois de desinfetar a ferida. Será o suficiente para cicatrizar sem problemas. Tire essa camisa toda suja! – disse, enquanto juntava os apetrechos para o curativo.

- Sim, doutor! Você já consegue fazer um curativo sem meter os pés pelas mãos? – ironizou.

- Cínico! Vai tirando uma com a minha cara, vai! Saiba que sou muito bom aluno. – revidei.

Assim que ele tirou a camisa e eu comecei a esfregar uma toalha umedecida pelo tórax musculoso dele, senti um calor se apossando de mim. Eu não tinha me esquecido dele pulsando dentro do meu cuzinho e da virilidade pegajosa e morna que ele havia deixado dentro das minhas entranhas quando partiu. Era perturbador estar tão próximo daquele torso musculoso e enorme novamente.

- O que foi? Vai-me dizer que vai desmaiar por causa de um pouco de sangue? – zombou.

- Deixa de ser tonto! Onde já se viu eu ter medo de sangue! – exclamei irritado.

- Então por que está com essa cara?

- É a única que eu tenho. Se não gosta azar o seu! – retruquei.

- Gosto bastante! Muito mais do que você imagina. – devolveu, me encarando.

- Então fique parado aí para que eu possa terminar esse curativo.

- Pois não, doutor!

Ele não fez menção de querer ir embora quando terminei de fazer o curativo. Ao contrário, sentou-se num canto do sofá e pegou um dos meus livros que estava sobre a mesa de centro e começou a folheá-lo abstraído. Fiquei contente com a atitude dele. Estava feliz por ele estar ali na minha sala, como se essa cena fizesse parte do cotidiano da minha vida.

- Estou faminto! Quer comer alguma coisa? – perguntei, tentando retê-lo o mais que pudesse.

- Estou varado de fome!

- Gosta de massa?

- É meu prato preferido. Você sabe cozinhar? – perguntou, deixando o livro de lado e me acompanhando até a cozinha.

- Dá para o gasto! Tem uma garrafa de vinho naquele armário, você podia abrir para a gente. Ou será que não pode beber em serviço? – provoquei.

- Não estou mais de serviço! Hoje o dia foi puxado. Foram mais de vinte horas seguidas dedicadas a este caso. – retrucou melancólico.

- Você gosta desse trabalho? Acho tão degradante ter que lidar com crimes e bandidos. Desculpe a sinceridade, mas é essa a minha opinião. – disse, tentando não parecer grosseiro.

- Você está certo! Fiz o concurso para delegado no ímpeto de recém-formado, queria um pouco de aventura, eu acho. Mas, estou me dedicando aos estudos para ver se consigo uma vaga como juiz. – respondeu, se expondo tão espontaneamente que me cativou.

Ele devorou o prato de tagliatelle à carbonara tão naturalmente que dava gosto de ver. Entre uma garfada e outra, elogiando a salada fresca de uma mistura de folhas e, um gole de vinho, foi contando um pouco de sua carreira. Eu estava tão absorto ouvindo-o falar e, acompanhando aqueles olhos verdes mansos e cheios de vida, que não queria que aquele momento mágico terminasse nunca. Ele talvez fosse o último homem para quem eu olharia com algum interesse se o encontrasse na rua. Embora me sentisse atraído por homens com um físico definido, não era ligado em tipos como ele, muito musculoso, um pouco relaxado com as vestimentas, uma barba cerrada sempre por fazer, e aqueles modos um tanto grosseiros. Ele era um bronco, essa foi a minha primeira impressão a respeito dele. Não por lhe faltar instrução e elegância, mas por uma questão de opção. Parecia que ele abominava todo tipo de frescura e, por conta disso, teve aquele comportamento tão agressivo comigo no início. Não que eu fosse um cara dado a viadagem, mas era mais suave e delicado no trato com as pessoas, trazia um refinamento de berço e me sentia bem comigo mesmo sendo assim. No entanto, eu agora percebia que ele estava se sentindo atraído por mim exatamente por causa dessas características. Era certo que ele não estava sabendo como lidar com essa situação e, por conta disso, ora era muito cuidadoso e atencioso comigo, outra hora era hostil e aguerrido.

- Agora que seu namoradinho está de volta, você vai poder realizar aquela fantasia dele, ou sua, não sei bem de qual dos dois. Aquela que você descreveu na ultima ligação que fizeram antes dele ser sequestrado. – disse, terminando de esvaziar seu copo.

- Eu já disse que ele não é meu ‘namorado’, por que insiste nisso? – respondi zangado.

- Perdão! Mas parece que você estava muito disposto a fazer aquelas coisas com ele. Chegou a prometer! E não me parece que sejam coisas que se faz com quem não se tem nenhuma intimidade. – insistiu.

- Conheci o Caio na universidade, por acaso, numa trombada que demos um no outro. Saímos algumas vezes e eu pensei que talvez fosse rolar alguma coisa. Acho que até cheguei a desejar isso. Mas, as coisas mudaram. – esclareci

- O que foi que mudou? O fato de ele ter sido sequestrado? – inquiriu curioso.

- Não! Percebi que não vai rolar nada entre a gente. – confessei.

- Como é que você sabe se nunca rolou nada?

- Simplesmente sei. Às vezes a gente acha que quer uma coisa, por ímpeto, e depois percebe que não era bem aquilo. Acho que quero um tipo diferente do Caio, sei lá. Todos esses acontecimentos dos últimos tempos me deixaram um pouco confuso.

- Que tipo? Tipo o seu advogado Armando. Boa pinta, jogador de charme, fazendo uma carreira de sucesso. – ironizou.

- Não! O Armando é um cara legal. Ele me convidou para um jantar, e nos encontramos umas duas ou três vezes para um happy hour, depois que saí da sua cadeia e estava deprimido. Ele tentou me distrair. – esclareci.

- Ele está dando em cima de você! Nunca vi um advogado tão meloso e cheio de atenções com um cliente. Ele está a fim de te levar para a cama, isso sim. – devolveu com sarcasmo.

- Ia perder o tempo dele. Não sou tão volúvel quanto você está querendo fazer parecer. – retruquei.

- Mas é ingênuo! E, basta uma boa cantada para você cair de quatro. – proclamou.

- Isso na tua opinião! Talvez porque tenha me feito cair de quatro sem nem mesmo se dar ao trabalho de me cantar, não é? – devolvi.

- Eu te fiz cair de quatro? Bom saber disso! – respondeu, ficando ligeiramente embaraçado ao se lembrar de como havia me pego e metido seu cacete no meu cuzinho até se satisfazer.

- Para você ver como a vida prega peças na gente!

- Eu queria muito que você ficasse de quatro para mim outra vez. – sentenciou, vindo em minha direção e, me abraçando pela cintura enquanto me encoxava contra o balcão da cozinha.

Eu ansiava por essa proximidade corporal desde que aqueles frêmitos, que abalaram minhas entranhas e inundaram meu cuzinho esfolado e arreganhado com a potência cremosa e máscula dele, mudaram minhas convicções a respeito de sua pessoa. Era um tesão sentir aquele macho sedento de desejo se aninhar junto a mim. Aspirar seu hálito morno que roçava minha nuca a cada arfada profunda e ansiosa dele. Usufruía do aconchego que o calor do corpo dele emanava e, que fazia minhas pernas bambearem, enquanto as preguinhas anais se entumeciam xuxando como se quisessem engolir aquele mastro indomável que se esfregava na pele lisa das minhas nádegas.

- Você é um cara muito brutão e convencido! Eu não devia sentir o que sinto por você. – confessei, com o corpo ardendo de desejo.

- E o que você sente por mim? – perguntou, querendo ouvir a confirmação daquilo que ele vinha pressentindo.

- Eu gosto de você! Gosto muito, para ser sincero. – confirmei.

- Eu sei que gosta. Mas, me sinto mais feliz agora que você admitiu isso para si próprio. Quem sabe agora você não deixa que eu lhe mostre como sou de verdade. Sem que você se faça arredio baseado apenas naquilo que você acha a meu respeito. – sentenciou.

- Então me mostre! – provoquei, acariciando os braços dele que me envolviam.

- Ah! Meu loirinho tesudo e gostoso. Você não perde por esperar. – sussurrou junto ao meu pescoço, extravasando todo o tesão que estava sentindo.

Ele foi praticamente me arrastando até o quarto com a mão agarrando minha bunda, como se aquela parte do meu corpo lhe tivesse sido franqueada sem nenhuma reserva, enquanto sua boca se comprimia contra a minha em beijos sensuais e convidativos. Passei meus braços em torno de seu pescoço e ombros, retribuindo com doçura cada um daqueles beijos e, sorvendo a saliva que escorria para minha boca juntamente com sua língua ardente. Nossas roupas foram ficando pelo caminho, como um rastilho levando à luxúria.

Uma vez chegados ao quarto ele me atirou sobre a cama como se eu fosse uma saca de café ou algo parecido. Olhou para o meu corpo nu, estendido ali como a esperar por sua investida, à mercê de uma sanha que começava a encher sua virilha de ímpetos dolorosos.

- Desde quando um homem nasce com um corpo provocador desses? Tudo esculpido com perfeição milimétrica, como se um artista renascentista o tivesse talhado durante toda uma vida. Mamilos rosados se destacando em peitinhos bem formados no torso liso e alvo. Coxas vigorosas cobertas com uma lanugem dourada tão suave quanto a casca de um pêssego. E essa bunda. Que bunda! Carnuda, abundante, instigadora, tesuda. Duas esferas redondinhas e perfeitas que se comprimem nesse sulco profundo onde se esconde a perdição de qualquer macho. – dizia, enquanto suas mãos deslizavam por cada parte anatômica que ia descrevendo.

- Exagerado! Se você está a fim de zoar comigo e me deixar sem graça, está conseguindo. – balbuciei, intimidado.

- Você é tesudo, muito tesudo, cara!

E então ele me virou de bruços e, sem refrear seus instintos, começou a mordiscar e beijar minhas nádegas. Apartou-as e meteu a língua no meu cuzinho lambendo as preguinhas rosadas e tão apertadas, constatando que meu introito anal mal passava de um ponto singelo de onde elas partiam como os raios de um sol. Eu liberei um gemido tímido e sensual ao sentir minha intimidade sendo explorada com tanta avidez. A barba dele pinicava minhas nádegas e a pele imaculadamente branca foi se tingindo de pequenos pontos avermelhados. Aquela aspereza roçando meus glúteos me excitava. Como meu cuzinho não parava de piscar ele meteu seu grosso polegar no olhinho desprotegido. Grunhi com aquela sensação maravilhosa. Foi inevitável me recordar do dia em que senti seu cacete alojado ali. Ele rodava e fazia curtos movimentos de vaivém enquanto meus esfíncteres procuravam engolir aquele dedo sorrateiro. Não sei quanto tempo ele ficou ali me dedando e lambendo meu cuzinho, só que aquela tortura parecia infindável e mexia com todo o meu ser. Em seguida, ele ficou em pé ao lado da cama e começou a pincelar a verga enrijecida no meu rosto. Com a iminência do pré-gozo aflorando ele aproximou a glande dos meus lábios, me incitando a abocanha-la. O sumo viscoso escorria pelo meu queixo e, o odor almiscarado misturado ao sabor de moscatel me fizeram lamber e deglutir aquele líquido entorpecente. A pica pulsava e se agigantava na minha boca, enquanto eu saboreava enternecido aquele eflúvio pecaminoso. Ele se contorcia e liberava gemidos guturais de prazer e exaltação. As bolhas se movendo sob a túnica peluda do sacão que balançava provocador a minha frente atiçaram minha curiosidade e desejo. Enfiei as pontas dos dedos entre aqueles pentelhos densos e escuros, massageando carinhosamente aquele saco enorme e viril. Às vezes, ele tirava rapidamente a pica da minha boca para postergar o gozo que estava prestes e explodir na minha garganta.

- Você me deixa doido! Não chupa tão gostosinho assim ou eu encho sua boca de porra. – ameaçou, com um sorriso de desejo me encarando.

Isso me instigou a testar seus limites. Provoquei-o com um olhar submisso, e lambidas torturantes ao redor do membro, enquanto os lábios sugavam incessantemente a cabeçorra arroxeada. O prazer indescritível que isso provocava nele não demorou a se manifestar. Numa fração de segundos em que fui mais incisivo e não permiti que ele tirasse o caralhão rápido o suficiente, ele começou a gozar. Percebendo que eu não demonstrava nenhum pouco de asco em relação a sua porra que ia inundando minha boca, ele se rendeu ao prazer e deixou que os jatos fluíssem livres e abundantes. Eu sorvia e deglutia deliciado aquele néctar másculo e, também me permitia saborear uma das mais maravilhosas coisas que já tinha colocado na boca.

- Menininho safado! Agora engole a porra do teu macho. Quem mandou me seduzir? – gemeu de tesão.

Caí nos braços dele depois de ter lambido e limpado completamente a glande esporradora. Ele me apertou e começou a me beijar num frenesi alucinado. Minha excitação ia num crescendo contínuo e, independentemente das consequências, eu queria entrar meu cuzinho para ele. Queria reviver aquela sensação única de senti-lo pulsando dentro de mim. Queria aconchegar aquela verga entre as minhas coxas e fazê-lo sentir o quão importante ele havia se tornado para mim.

O Enzo não demorou a sentir as contrações em sua pelve se intensificando. Ainda mais, depois de ter guiado a minha mão para sua virilha, onde eu, destemidamente, acariciava seu falo entre os meus dedos. Meu tesão e meu pau estavam tão focados no prazer que eu sentia por estar em seus braços, que eu compreendi o quão torturante pode ser a espera e o desejo pelo gozo.

- Entra em mim, Enzo. – balbuciei, num tom quase suplicante.

Ao ouvir seu nome sendo pronunciado com tamanho enlevo e doçura, ele deitou-se sobre meu corpo e puxando minhas pernas na altura dos joelhos, abriu-as de tal forma que sua pelve se encaixou entre elas. A pica, já completamente dura e desejosa, deslizava ao longo do meu rego. Seduzindo, provocando, extraindo gemidos suplicantes dos meus lábios que ele tratou de cobrir com os dele. Guiando a jeba com uma das mãos, ele a fez romper a resistência que meus esfíncteres lhe impunham. Quando meu grito abafado pelo beijo dele assomou em minha garganta, ele se deliciou com a posse daquele corpo que o vinha atiçando desde o dia em colocou pela primeira vez olhos nele. Ele aguardou até que as preguinhas dilaceradas se acostumassem com seu cacete grosso. Quando eu ergui minha pelve, pressionando meu cuzinho contra o caralhão dele, ele começou a movimentar os quadris impulsionando sua verga na profundeza macia do meu cu. Seus movimentos eram potentes, cadenciados e incrivelmente maravilhosos, a despeito da dor que provocavam em todo meu baixo ventre e, especialmente, no meu cuzinho apertado que parecia estar se esgarçando.

- Ai Enzo! – gemi, cheio de tesão. E, envolvendo-o num abraço no qual uma das mãos percorria suas costas e, a outra, acariciava a nuca dele.

Ele estava todo largadão em cima de mim. Movia a pica num vaivém lento, dolorido e lascivo. Deixava-se acariciar como se essa fosse a paga por estar me proporcionando tanto prazer. Depois de algum tempo, colocou-se de joelhos sobre a cama e me agarrou por detrás. Roçava sensualmente sua vara na minha bunda, enquanto as mãos percorriam meu torso e agarravam meus mamilos. Eu empinava a bunda numa franca demonstração de querê-lo em mim novamente, como se fosse uma égua no cio franqueando as ancas para o garanhão. Ordenou que eu ficasse de quatro, desceu da cama e, me puxando para a beirada, meteu o caralho no meu cu com destempero e brutalidade. Ao ouvir meus ganidos desesperados, procurou controlar seu tesão. Por conta de seus músculos avantajados, parecia não ter noção da força que eles tinham. Enquanto ele socava o membro sedento no meu cu, como se estivesse cravando uma estaca, minha pica balançava entre minhas pernas aumentando meu prazer. Eu não sabia onde estava sentindo mais tesão, se no cuzinho apertado ao redor daquela jeba, ou se na pica dolorosamente rija. Ao contrair minha pelve sobreveio o gozo, fazendo com que a porra esguichasse sobre os lençóis.

- Goza meu safadinho! Goza com a pica do teu macho entalada nesse cuzinho apertado! – sussurrou, entre dentes.

- Ai Enzo. Eu não estou aguentando. – gemi, cravando os dedos nos lençóis e me agarrando a eles como se fossem uma tabua de salvação.

Além dos meus gemidos, ouvia-se o schlap-schlap ritmado e cada vez mais intenso da virilha dele batendo contra as minhas nádegas. Algumas estocadas me atingiam tão profundamente que eu soltava uns gritinhos. Ele enfiava dois dedos na minha boca e eu os chupava desvairadamente. Até que eu comecei a sentir toda a virilidade dele se transformando jatos de porra morna e viscosa, que fluíam como uma dádiva entre as minhas pernas. Ao mesmo tempo ele urrava, liberando todo o tesão acumulado naquele esperma abundante e cremoso. Meu corpo todo tremia quando ele me abraçou, beijando meu pescoço e procurando pela minha boca. A pica latejava no meu cuzinho e, abraçados e nos beijando, ficamos esperando que ela amolecesse, pois ele queria adiar, ao máximo, o momento de tirá-la daquele ninho aconchegante.

Ao voltar do banheiro depois de mijar e lavar do cacetão, ele trouxe uma toalha umedecida com a qual, delicadamente, limpou o sangue que havia no meu reguinho. Ao deitar-se ao meu lado, reclinei meu corpo sobre o peito dele e comecei a afaga-lo. Acariciei seu rosto e beijei-o lenta e devotamente, enquanto ele se entregava aos seus carinhos. A última coisa da qual me lembrei, antes de cair no sono, foi de estarmos enganchados em conchinha, de sentir sua respiração no meu cangote, e de ele se assegurar que sua pica estava alojada dentro do meu rego.

Na manhã seguinte eu acordei antes do Enzo e tomei uma ducha, embora o cheiro e o sabor dele continuassem impregnados deliciosamente em mim mesmo após o banho. Entre as coxas eu carregava a umidade máscula dele como se fosse um tesouro a ser guardado com muito zelo. Fazia calor logo cedo na manhã de verão e eu usava uma cueca de seda que normalmente só usava para dormir. Estava preparando um café para surpreendê-lo na cama quando ouvi umas pancadas de leve na porta da entrada de serviço.

- Bom dia seu Rodrigo! Já acordado? – cumprimentou o Genilson.

- Há essa hora Genilson! O que é que você quer em plena madrugada? – retorqui.

- Que isso seu Rodrigo, são quase dez horas. Peão como eu acorda cedo. – revidou.

- Já sei que vai começar a se lamuriar.

- Cheguei na hora certa, hein? – devolveu ele.

- Você é o maior cara de pau que eu conheço. Você vai filando suco, cafezinho e sabe-se lá o que tudo mais de apartamento em apartamento, não é? – brinquei.

- A gente se defende, sabe como é. – respondeu com um sorriso largo.

- Desde que o senhor voltou de viagem tem um bocado de polícia vindo aqui, não é? – perguntou, enxerido. – Por isso me lembrei desse jornal de uns dias atrás. – emendou, colocando um jornal de notícias bizarras e populares sobre o balcão da cozinha, bem na minha frente. Estampados na primeira página estavam os dizeres ‘Estudante é flagrando ao lado de dois defuntos com brinquedinho sexual enfiado no cu’ e, a fotografia que o delegado Galhardo havia me mostrado na delegacia. O jornal era do dia seguinte à balada.

- Que jornal é esse? Só mesmo você para ficar lendo esse tipo de notícia. – devolvi embaraçado e constrangido. Embora a fotografia não mostrasse com clareza o meu rosto por eu estar deitado de lado, presumi que ele me reconhecera na foto.

- O cara é um pedaço de mau caminho, parece com o senhor, não parece? – arriscou.

- Deixa de falar bobagem! Onde já se viu? – respondi, sem conseguir encara-lo.

- O que eu não daria para estar no lugar desse brinquedinho? – disse em tom jocoso.

- Você é um pervertido mesmo! Toma seu café e dá o fora. Chega de ouvir besteiras! – exclamei.

- Não fui só eu quem achou o cara parecido com o senhor. O Tião também acha que é o senhor, por isso tem tanto polícia vindo aqui. – continuou. Não havia dúvidas de que ele me reconhecera, e se preparava talvez, para me chantagear, pelo rumo que as coisas estavam tomando.

- É que vocês não tem nada a fazer senão ficar bisbilhotando a vida dos outros. – disse, olhando por cima dos ombros dele e vendo que o Enzo estava encostado no batente da porta só com uma toalha de banho enrolada na cintura.

O Genilson notou que eu me distraíra com alguma coisa às suas costas e se virou, dando de cara com o Enzo.

- Este é o delegado Enzo. Genilson, meu porteiro enxerido! – exclamei apresentando os dois.

- Ah! Eu me lembro dele estar na portaria quando vim aqui pela primeira vez. Filando um café logo cedo, Genilson? – disse o Enzo, com sua voz potente e intimidadora.

- Hã! Bom dia! Sim, senhor. Quer dizer, eu vi trazer a correspondência do seu Rodrigo. – respondeu ele, atrapalhado e sem graça.

- E o que mais trouxe aqui? – aproximando-se do balcão e pegando o jornal nas mãos.

- É uma reportagem de uns dias atrás! Um fuzuê que uns universitários fizeram durante uma balada. – respondeu, todo acanhado.

- E você queria o que mostrando essa reportagem para o Rodrigo? – inquiriu desafiador.

- Nada! Nada não, senhor. Só estava mostrando mesmo. – gaguejou, sentindo-se encurralado.

- Então, já que você terminou de tomar o seu café, é melhor ir entrar as correspondências nos outros apartamentos. – disse o Enzo, colocando sua mão pesada no cangote do Genilson e conduzindo-o em direção à porta. – E, estou certo de que você vai ser muito discreto e não se lembrar de exatamente nada do que viu neste jornal e dentro desse apartamento, não é mesmo Genilson? – amedrontou ameaçador.

- Claro! Claro! Eu sou um cara bem discreto, não é seu Rodrigo? – balbuciou.

- Isso é bom! Isso é muito bom para você. Tenha um bom dia!

- O senhor também delegado! – ele estava lívido e nem sequer olhou para trás quando o Enzo fechou a porta nas costas dele.

Aquele foi um dia decisivo na minha relação com o Enzo. Embora não tivéssemos conversado a respeito, ou muito menos exposto abertamente o que sentíamos um pelo outro, formou-se ali um relacionamento que deixava ambos felizes. Aos poucos, vi que meu apartamento ia se enchendo com coisas dele. De início, eram camisas, camisetas, calças, cuecas, uma ou outra jaqueta que permanecia dias sobre o espaldar de uma cadeira, ternos que ele usava no trabalho que acabavam indo para a lavanderia juntamente com algumas das minhas roupas. Estranhamente, ver estas peças largadas aqui e acolá, me fazia muito bem. Eu chegava a sentir um doce conforto na alma ao vê-las no meu cotidiano. E isso, era bem a cara do Enzo. Chegar, ocupar o seu lugar, apossar-se daquilo que queria de maneira tão natural e sem imposições que, ao me dar conta, ele já dominava soberanamente os seus domínios. E nisso, certamente eu estava incluído. Sem perceber eu já estava fazendo lugar dentro do armário e guardando suas coisas ali.

Ele vinha com uma frequência cada vez maior, e ficava na mesma proporção. Jantávamos juntos, quando conversávamos sobre como tinha sido o nosso dia. Íamos para cama e transávamos até que nossos corpos estavam tão exaustos, que caíamos no sono, embalados nos braços um do outro. Aquilo não fazia bem só a mim que, de súbito, me sentia mais seguro e protegido. Sem que eu soubesse por que, eu pressentia que o meu carinho e o prazer sexual que eu estava lhe proporcionando, amenizavam alguns conflitos internos dele. Quando eu perguntava o que estava se passando com ele, ele desconversava, ou dizia que tinha tido um dia exaustivo no trabalho. Embora eu não acreditasse em suas desculpas, fingia que suas explicações tinham me convencido, e redobrava minha atenção e carícias para com ele. Isso funcionava como um bálsamo e, depois de uma noite comigo, ele acordava revigorado e com a mente bem mais desanuviada. Eu ficava feliz por mim e por ele.

Toda essa tranquilidade conjugal só era perturbada pela presença do Armando. O caso estava praticamente solucionado, mas ele ainda me representava na justiça. Procurando retirar qualquer resquício que me vinculasse aos crimes. Portanto, as aparições dele sempre causavam um desconforto no Enzo. Ele não gostava de ver o Armando orbitando ao meu redor. E, creio que pelo Armando perceber essa insegurança do Enzo, ainda alimentava a esperança de conseguir avançar em minha direção. Ele se insinuava para mim. Fazia comentários elogiosos a meu respeito. Dava em cima de mim na cara e na coragem, como se o fato de querer penetrar meu cuzinho fosse mais um troféu que sua pica estava ávida por acumular em seu histórico devasso. Mas, eu sempre estive convicto de que essa atração era puramente carnal. A mesma que eu senti por ele quando nos conhecemos. No entanto, depois de sentir o Enzo latejando dentro de mim como uma fera indomada, eu me convenci de que ele era o meu homem. O homem com o qual eu sempre sonhara. O homem que tinha tesão e pegada. O homem que fazia cada músculo do meu corpo vibrar como as cordas de um violino, e provocar em mim o mesmo deleite que os acordes harmônicos de uma música. O homem que me trazia segurança e conforto com o seu amor por mim. Nada disso existia em relação ao Armando. Ele, tal qual o Caio, eu via claramente agora, não passavam de uma simples atração física. Um desejo que se limitava aos meus esfíncteres anais, e que não seria capaz de me proporcionar a mesma plenitude que o amor que sentia pelo Enzo.

- É incrível como a macharada dá em cima de você. São como moscas no mel. É só a gente virar as costas e já tem um tarado querendo colocar o caralho no seu cuzinho! – afirmou, quando encontrou o Armando sentado no sofá, depois de ter se livrado do paletó e da gravata, me colocando a par da minha situação em relação ao inquérito.

- Ele só veio tratar do meu caso. – retruquei, tentando acalmá-lo, embora soubesse que minhas palavras eram pouco eficazes diante da postura predatória do Armando.

- E por que ele não faz isso quando eu estou aqui? Ou, melhor ainda, por que não trata desse assunto no escritório, no horário comercial, onde ele certamente atende os outros clientes? Não! Precisa se aboletar aqui dentro, todo à vontade, só faltando abrir a braguilha para te mostrar o quão carente a rola dele está. Eu ainda dou uns sopapos nesse sujeito, escreve o que estou dizendo! – exclamou zangado e enciumado.

- E você acha que eu me interesso por qualquer outra coisa que não seja isso aqui? – perguntei, colocando uma das mãos sobre o coração dele afagando-o cheio de ternura e, a outra, entre as pernas dele, apalpando simultaneamente o caralhão e o sacão dele, enquanto abri um sorriso terno e meigo na direção dele.

- De qualquer forma é bom não vacilar. – resmungou, não dando o braço a torcer. Mas, aceitando de bom grado minhas carícias e o beijo suave que coloquei em seus lábios.

Certamente, ver o Armando o mais longe possível de mim era o que mais motivava o Enzo a querer concluir as investigações o mais brevemente possível. Mas, havia os trâmites legais e burocráticos que precisavam ser seguidos e, dos quais vinha se queixar comigo, quando chegava tarde da noite com um semblante cansado e, muitas vezes, contrariado. No entanto, semanas depois ele entrou em casa, nessa altura do campeonato com a cópia da chave do apartamento que eu mesmo havia enfiado em seu bolso, junto com um sorriso significativo, anunciado que eu estava livre de qualquer suspeita e passava à condição de vítima. Passou a me relatar em ordem cronológica tudo o que as investigações conduzidas por ele haviam descoberto.

Depois de seguirem o Caio pelo shopping, ouvindo parcialmente a conversa dele comigo, dois dos criminosos o seguiram até o estacionamento onde se deu o sequestro. Um dos criminosos era o que foi preso durante a diligência da qual eu havia participado como espectador confinado e vigiado por um policial civil. Outro aguardava pelos comparsas dentro de um carro no mesmo estacionamento e passou a seguir de perto o carro do Caio onde o haviam colocado dentro do bagageiro. Rodaram com ele por algum tempo sacando dinheiro dos cartões bancários dele. Durante esse tempo, fizeram contato com outro criminoso que deu a ideia de continuar com o sequestro e exigir uma quantia da família, pois haviam percebido que se tratava de alguém com posses. Além disso, resolveram ir até a balada com o intuito de também me sequestrarem, aumentando assim, o fruto da ação. Meu rosto estava estampado na agenda do celular do Caio e seria fácil me identificar logo na chegada da festa. Para isso, chegaram bem antes do horário, que o Caio e eu, havíamos combinado e foram perguntando para quem chegava se conheciam o rapaz da fotografia. Dentre as inúmeras negativas, encontraram uma pessoa que dissera me conhecer. A garota das aulas de anatomia. Tiveram mais do que tempo para dar uns chavecos nela. Quando eu cheguei à festa, foi fácil me abordar e tudo estava preparado para que eu recebesse um copo com o drinque batizado com uma mistura de flunitrazepan, ácido gama-hidroxibutínico e ketamina, o famoso boa noite cinderela. O fato de a bebida ter sido oferecida pela garota, que de nada sabia, não levantaria suspeitas ou recusas de minha parte. No entanto, a persistência da garota em querer procurar ajuda quando me viu passando mal, começou a melar o plano deles. Seria necessário afastá-la para que eu pudesse ser sequestrado. Para isso, designaram o rapaz que foi encontrado junto ao corpo dela. Ele, antes de cumprir com o combinado, resolveu enfiar o cacetão na buceta da garota, ela reagiu e foi eliminada logo após o estupro. Como haviam reconhecido o rapaz quando ele tentou se evadir do matagal próximo às quadras onde estava acontecendo a festa, os comparsas deram cabo dele, fazendo uma queima de arquivo. Com a situação fora de controle, resolveram me abandonar junto aos outros dois corpos, não sem antes enfiar o brinquedinho que estava no carro deles, coberto de digitais. O que serviu para comprovar o relato que o criminoso detido durante a ação de resgate do Caio, na favela, havia feito. Portanto, segundo o Enzo, eu tinha dado sorte, pois poderia ter sido levado para o mesmo cativeiro que o Caio e nossa história poderia não ter tido o desfecho favorável que teve.

- Não sei como você pode dizer uma coisa destas! – exclamei perplexo. – Eu saio como qualquer jovem da minha idade para me divertir, sou drogado, estuprado por um objeto colossal, depositado num matagal junto a dois cadáveres, acusado de participar de um crime e submetido a situações vexatórias dentro de uma delegacia, e você diz que eu tive sorte!

- É óbvio que foi algo inusitado em sua vida. Você é um garoto ingênuo. Mas, pense bem. Você podia estar morto. – disse ele, querendo amenizar o trauma pelo qual eu havia passado.

- Eu não gosto quando você é tão insensível! Você não sabe como eu me senti durante todo esse drama. – retruquei chateado.

- Você ainda está sob o efeito dos fatos. Daqui a um tempo vai me dar razão. Tudo passou e você vai seguir sua vida em frente. E, antes que dê por si, já terá esquecido tudo isso. – afirmou.

- Nunca vou me esquecer desses dias horríveis! – asseverei.

- Pensando bem, tomara que não se esqueça mesmo. Pois, foi por conta destes dias horríveis, como você mesmo diz que, me conheceu. E, isso foi bom, não foi? – murmurou, enquanto me apertava em seus braços.

- Ainda não sei se foi lá essas coisas! – exclamei, provocando-o.

- Ah, é! Eu vou te dar subsídios para chegar a uma conclusão. – rosnou, enfiando a mão na minha bunda e me instigando a transar com ele. Só me largou depois de ter se satisfeito em meu corpo e, ter me deixado exausto num torpor libidinoso.

Poucos meses depois, chegado o dia do aniversário do Enzo, eu resolvi fazer uma surpresa para ele. Procurando superar os meus traumas, fui até a delegacia onde ele estava lotado e da qual eu tinha péssimas recordações, levando um bolo para que pudesse comemorar com os colegas de trabalho. Havíamos combinado de sair para jantar naquela noite e, eu tinha um presente, escolhido com o maior carinho, devidamente escondido para que ele não desconfiasse de nada. Tinha planejado dar o presente durante o jantar e confessar meu amor por ele. Mas, ao chegar à delegacia, procurando uma vaga para estacionar, a poucos metros de distância, no outro lado da rua, encontrei uma mulher grávida pendurada no pescoço dele, beijando-o sem nenhuma cerimonia, como se fosse a coisa mais natural entre eles. Abalado, resolvi ficar dentro do carro e continuar a observar a cena. Não havia dúvida, eles eram íntimos. Enxuguei uma lágrima inconveniente que escorreu pelo meu rosto. A conversa entre eles durou pelo menos uma eternidade, embora os ponteiros do relógio não registrassem mais do que dez minutos. Ela tornou a beijá-lo, ele sorriu e a ajudou a entrar em um carro que estava estacionado ao lado deles. Depois de se despedir dela, ele entrou na delegacia pela porta da frente e, eu vi a silhueta dele desaparecendo passo a passo no fim do longo corredor.

- Por favor, aquela moça que acaba de sair naquele carro é a irmã do delgado Enzo? – perguntei, aos dois policiais que acabavam de estacionar a viatura e, tinham avistado toda a cena, tal como eu.

- Não! Aquela é a Angela, acho que esse é o nome dela, a esposa dele, não é Fabrício? – respondeu um deles, procurando a confirmação do parceiro.

- É ela mesma. – confirmou o outro. Ele me encarou e percebi que me reconheceu dos dias em que estive detido. – E você é o garoto do ...., desculpe. Está procurando pelo delgado Enzo? – disfarçou, antes de pronunciar o nome do objeto encontrado no meu cuzinho.

- Não, Não! O meu advogado já está resolvendo a questão com o delegado Enzo. Obrigado, de qualquer forma. – disse apressado, saindo correndo dali e procurando segurar o choro que se apossou de mim. Os dois me acompanharam com o olhar perplexo e inquisitivo.

Era difícil admitir, mas eu estava morrendo de ciúmes. Percebi que estava mais ligado ao Enzo do que imaginava. O ciúme era um fato incontestável. Mas, a cena que eu presenciara estava doendo tanto, não apenas pelo ciúme. Ela punha por terra tudo àquilo que ele me dizia. Eu fora enganado durante todo esse tempo. Não fora ele que, por diversas vezes, afirmara que eu era um ingênuo? Ingênuo e tolo! Montei um castelo de fantasias e ilusões depois de sentir o primeiro homem metendo seu membro dentro de mim. Havia sonhado com essa bobagem desde a adolescência, desde que descobri minha sexualidade. Tudo não passava de um delírio juvenil. O primeiro cara que me enrabou é casado, está esperando um filho, meu cuzinho estava dando sopa, era só fode-lo, satisfazer-se e, depois, com o tempo, mandar o bobinho a merda. Nada mais simples para um homem maduro e aproveitador de todas as chances que a vida lhe dá. O choro ia desaparecendo e as lágrimas secando, à medida que eu começava a enxergar a situação real, com todas as suas nuances. Um otário. Isso é o que eu era, um otário. Iludindo-me com a possibilidade de ser amado, tanto quanto eu estava amando aquele homem. Tudo fantasia. Uma dor imensa. Um desapontamento enorme. Eu estava arrasado.

Fui para um hotel. Ele tinha as chaves do meu apartamento, não queria encontra-lo naquelas condições. Precisava reencontrar meu autocontrole. Precisava voltar a ser aquela pessoa capaz de tomar decisões baseado na razão e, não com o coração em frangalhos. Ele ligou inúmeras vezes para o meu celular naquela noite. Os recados que deixou iam do ‘vou me atrasar um pouco para o jantar’, até ‘onde diabos você se meteu que não me responde, estou muito preocupado, retorne assim que ouvir meu recado. Deixei milhares!’.

Acordei tarde na manhã seguinte e atordoado quando percebi que as paredes que me cercavam não eram as do meu quarto. Provavelmente pelo efeito dos comprimidos que tomei para dormir e esquecer. Mas, ao acordar, nada havia mudado. As mensagens do Enzo continuaram a entrar durante toda a madrugada. Havia dezenas delas. Não tive forças para ir à faculdade. Com o raciocínio embotado pelo sofrimento, cometi um desatino. Liguei para o Armando. Minha voz embargada deixava evidente minha carência e, ele soube tirar partido da situação.

Encontrou-se comigo no hotel, onde tomamos o café da manhã juntos. Ele me ouvia com toda a solicitude e amparo de que eu estava precisando. Foi gentil, compreensivo, afetuoso. Levou-me para casa e propôs que eu trocasse o segredo da fechadura enquanto o Enzo estava fora. Ele havia ido me procurar na faculdade, dissera o Genilson e, pedira para que eu esperasse de qualquer forma.

- Genilson! Por favor, não deixe mais o senhor Enzo entrar no condomínio. E, faça o favor de avisar os outros porteiros também, OK? – pedi pelo interfone.

- Mas ele disse que voltaria logo. Que estava procurando por você desesperadamente. Ninguém sabia onde você estava. – respondeu.

- Não importa! Se ele quiser entrar na garagem não permita. – retruquei taxativo.

O chaveiro não demorou meia hora para completar seu serviço. O Armando pagou seus honorários e meteu uma gorjeta nas mãos dele ao despachá-lo. Depois, voltou-se para mim e sentou-se ao meu lado no sofá. Tomou meu rosto entre suas mãos e pousou minha cabeça em seus ombros.

- Não fique assim por alguém que não te merece. Esse sujeito nunca me enganou. Estava na cara que queria se aproveitar de você. Um garotão sem malandragem, sozinho na cidade grande, vindo de uma família bem de vida. Você era um prato cheio. – dizia, enquanto afagava meus cabelos.

- Você não está me ajudando em nada, me fazendo parecer um perfeito idiota. – retorqui. Embora eu estivesse me sentindo o próprio idiota.

- Não foi isso que eu quis dizer! É que para um cara experiente como ele, você não tem nenhuma bagagem de vida. Especialmente, no que se refere a uma vida onde um tenta se dar bem sobre o outro. Não pense que a gente encontra um carinha como você, aos vinte e três anos, tão puro e cheio de bondade. – afirmou.

- Um panaca, você quer dizer. – retruquei.

- Não seja tão severo consigo mesmo! Você foi vítima de uma armadilha, só isso.

- Mais uma, não é? Primeiro a da balada e, agora, a do cara que dizia estar gostando de mim. – respondi.

- Daqui a algum tempo você nem vai mais se lembrar desse sujeito. E, muito menos de todos esses acontecimentos. Eles vão apenas te deixar mais maduro. Acredite em mim. – retrucou, pousando seus lábios sobre a minha testa e, se preparando para juntá-los, avidamente, aos meus. Mas, o Enzo entrou na sala como um furacão, vindo da entrada de serviço nesse exato momento.

Sem dizer uma palavra, agarrou o Armando pelo paletó obrigando-o a ficar em pé e, ao mesmo tempo, me fazendo quase cair do sofá por estar apoiado nos ombros dele. Ergueu-o até que este se firmasse sobre os próprios pés e desferiu o primeiro soco na cara dele. O Armando não se intimidou e devolveu um sopapo que acertou o queixo do Enzo em cheio. Os dois continuaram se engalfinhando no chão da sala derrubando e quebrando tudo o que estava em seu caminho. Meus berros, pedindo para que parassem, eram sumariamente ignorados. Precisei interfonar pedindo ajuda. Logo a sala estava repleta de espectadores e pessoas que supostamente estavam ali para apartar a briga. No entanto, ninguém se atrevia a se meter naquele duelo de titãs. Um grito meu fez os dois interromperem o entrevero. Toquei todos os curiosos para fora e fiquei a sós com os dois arquejando de tão exaustos e com as roupas parecendo trapos cobrindo seus torsos suados.

- Então era isso que você estava fazendo. Dando o rabo para esse...esse merda, enquanto eu me matava de preocupação com o seu sumiço! – vociferou o Enzo.

- Merda, o caralho! Merda é você que se aproveitou do garoto. – berrou o Armando.

- Chega! Não sou nenhum garoto. Fiquem bem certos disso! E, eu quero que vocês dois também saiam daqui. Já deram o seu showzinho e fizeram o maior escândalo no condomínio. – revidei, abrindo a porta para que saíssem. Nenhum deles se moveu.

- Você me deve uma explicação! Ou pensa que vou fazer papel de corno e deixar por isso mesmo? – berrou o Enzo comigo.

- Você, corno? Quem é que me seduzia e me levava para cama enquanto a mulher grávida estava em casa esperando a volta de seu macho? - perguntei irônico.

- Do que você está falando? De onde tirou essa história? – respondeu, me sacudindo pelos ombros.

- Não seja cínico! A máscara caiu. Ele viu você e sua mulher aos beijos diante da delegacia. Ou vai inventar outra explicação para isso? – Interferiu o Armando.

- Se você abrir essa sua maldita boca mais uma vez e não der o fora daqui agora mesmo eu juro que você não sai daqui andando com as suas próprias pernas. – ameaçou o Enzo.

- Então experimenta! Vamos ver quem é que sai daqui todo quebrado. – revidou o Armando.

- Parem com isso! Eu não vou tolerar mais nenhuma briga aqui dentro. Chamo a polícia se vocês não saírem daqui neste instante. – ameacei.

- Eu sou a polícia! Esqueceu? – respondeu ríspido o Enzo.

- Belo exemplo de polícia! – exclamou irônico o Armando.

- Não dá para conversar com você com esse sujeito acordado e consciente aqui ao lado. Vou precisar dar um jeito nele antes de você me ouvir? Ou melhor, me dar umas explicações? – questionou o Enzo.

- Por favor, Armando, eu te peço, estou vendo que sou obrigado a ter essa conversa com o Enzo. Eu te agradeço muito pelo carinho e pelo cuidado comigo. Eu te ligo depois e conversamos. Por favor, seja o gentleman que eu sei que você é. – implorei.

- Não acho prudente deixar você com esse sujeito, ainda mais alterado como ele está. – respondeu solícito.

- Eu vou te mostrar quem é que está alterado aqui, seu filho de uma égua. – respondeu o Enzo.

- Eu juro que não vou trocar mais nenhuma palavra com você se você continuar com essas agressões. Você é quem sabe. Quer conversar ou não? – intervi, antes que o Armando pudesse revidar e reiniciar a discussão.

O Armando deixou o apartamento não sem, antes, colocar um beijo em meu rosto que, propositalmente, cobriu boa parte dos meus lábios. Lançou um último olhar furioso e desafiador em direção ao Enzo e partiu.

- Então ele é um gentleman aos seus olhos? Um gentleman do caralho. E eu sou o que? O bronco que não tem compostura, não é? Eu sabia que tinha que dar uns sopapos nesse sujeito mais cedo ou mais tarde. – rosnou o Enzo, enquanto eu fechava a porta.

- Bem! Agora vamos ter essa conversa definitiva e breve. Depois, eu agradeço se puder sair daqui com a mesma dignidade dele. – disse, acomodando-me numa poltrona.

- Que tom ridículo é esse comigo agora? – questionou zangado.

- Se não está contente, vá se juntar a sua mulher. Talvez ela tenha um tom mais compreensivo quando souber que você fornicava comigo enquanto ela se dedica a gestar seu filho. – respondi.

- Lá vem você com essa história outa vez. De onde tirou isso? Posso saber?

- Eu não tirei. Eu vi.

- Viu o que? Me viu beijando uma mulher na frente da delegacia e foi tirando conclusões.

- Exatamente. Só que eu não tirei conclusões. Elas me foram confirmadas por seus colegas de trabalho. – afirmei categórico.

- Não pense que vai me enrolar com essa bobagem sem me explicar por onde andou e o que estava fazendo com aquele sujeito. – sentenciou, mudando de assunto.

- Não, senhor! Nada disso. Nem tente me engambelar! Não fui eu quem fez algo de errado! Acha que sou alguma espécie de otário?

- Está fazendo o papel de um! – exclamou, me encarando.

- É muita petulância sua. Não vou dizer mais uma palavra. Para mim isso acaba aqui. Saia da minha casa. – revidei. Embora ao ouvir as minhas próprias palavras pronunciando ‘isso acaba aqui’, um nó se formou na minha garganta e eu pressionei os olhos para não deixar que as lágrimas começassem a denunciar minha fragilidade diante desse final.

- Por que você está fazendo isso conosco? Com você mesmo? – perguntou, aproximando-se de mim e tentando me trazer para junto dele.

- Foi você quem fez isso conosco. – respondi, não segurando mais a emoção, e rechaçando-o.

- Eu conheci a Angela bem antes de você. Tivemos um caso, nem chegou a ser um namoro. Era uma boa companhia, um passatempo, confesso. Terminamos poucas semanas antes da sua prisão. Acho que foram essas semanas sem ela e, sem trepar, que me fizeram meter meu pau carente na sua bundinha naquele dia que você me tirou do sério. Acontece que ela descobriu que estava grávida de três meses quando eu já estava aqui com você. Sempre tomávamos todas as precauções, mas por duas vezes o tesão falou mais alto e eu acabei enfiando o bilau sem capa nela e, você me conhece, deixando ela toda molhadinha lá dentro. A princípio ela não deu bola, pois sempre foi muito irregular com as regras. Só que com o passar do tempo, achou que os sintomas esquisitos que a estavam incomodando não podiam ser apenas das menstruações irregulares. Fez um teste e deu positivo. Ela entrou em contato comigo e despejou o balde de água fria em cima da minha cabeça. Eu prometi apoiá-la fosse qual fosse a decisão dela. Mesmo por que, além de não estarmos mais juntos, ela me disse que tem o útero bicorno ou bipartido, você com certeza sabe mais a respeito disso do que eu, e que jamais imaginou que pudesse engravidar. No entanto, aconteceu. O fato é que ela está ciente de que se trata de uma gestação de risco, uma vez que outro fator complicador também está associado à alteração do útero dela, um mioma que só foi detectado junto com a gravidez. Não neguei suporte e nem me fiz de vítima, mas disse-lhe que estava em outra. Ela não queria nada além de me colocar a par da situação. Para ela eu também já era passado. No entanto, achou justo eu saber que ia ser pai. Eu a encontro e acompanho o pré-natal. Acho que não podia ter outra atitude com ela. Foi isso que você viu naquele dia. Eu voltando com ela de uma consulta e nos despedindo depois dela me deixar no serviço.

- Mas, seus colegas de trabalho me disseram que ela é sua mulher? – indaguei, enquanto um fio de esperança começava a se formar em minha mente.

- Isso é resultado de se meter na vida dos outros. As pessoas te veem com uma mulher e logo vão tirando suas conclusões. Nunca me casei. E, muito menos com a Angela que, como eu já disse, foi apenas um caso que não deu em nada. – afirmou ele.

- Deu numa barriga onde está o seu filho. – sentenciei.

- E disso você está morrendo de ciúmes! – exclamou, tentando mais uma vez me envolver com seus braços.

- Quem disse que eu estou com ciúmes? Não quero ser feito de bobo, é muito diferente. – retruquei, embora fosse esse o sentimento que eu sentia. Mesmo assim, me esquivei de seu contato físico, pois sabia que uma vez enredado naqueles braços, meus pensamentos deixavam a racionalidade de lado.

- É ciúme sim! Você está caidinho por mim e achou que estava me perdendo para uma mulher que, na cabeça de vocês, pode dar mais a um homem do que vocês. No entanto, foi em você que eu senti a mais completa cumplicidade, uma compreensão que nenhuma mulher que eu conheci conseguiu me dar e, o orgasmo mais prazeroso que nenhuma vagina jamais foi capaz de proporcionar. – asseverou.

- Não pensei nada disso. Vai me dizer que agora você consegue saber o que eu penso? – respondi ríspido.

- Sei sim. A cada dia você vai se tornando um livro aberto para mim. E, eu estou gostando de ir virando as páginas desse livro e ir descobrindo tudo o que tem aí dentro. – retrucou, apontando para o meu coração.

- Não pense que eu vou me deixar levar por essas palavrinhas mansas. Eu não estou convencido dessa história. Está tudo muito bem explicadinho para o meu gosto.

- Turrão! Só um bobinho feito você para começar a criar uma fantasia nessa sua cabecinha de garotinho mimado. – disse, abrindo um sorriso para mim.

- Que inferno! Não sou um garotinho! Saco. – esbravejei.

- Mas, agora vamos ao que interessa. Embora você seja um garotinho mimado, isso não lhe dá o direito de sair correndo para os braços daquele sujeito. Eu já te disse que ele está doido para colocar a pica dele no seu cuzinho. – sentenciou, retomando a seriedade. – O que você esteve fazendo com ele durante toda a noite, e onde estiveram? E, antes disso, o que foi fazer na delegacia? Você nunca me procurou por lá, o que deu em você para me fazer uma visita surpresa? – questionou, exigente.

Mais calmo, fui relatando o que me motivou a procura-lo em seu local de trabalho e o meu pesadelo desde a hora em que o vi beijando a Angela. Ele se controlava para não deixar transparecer o riso que o acometia com os meus temores, mas também me interrompia querendo detalhes de como tinha sido o meu contato com o Armando.

- Quer dizer que você se lembrou do meu aniversário e resolveu cantar parabéns para mim junto com meus colegas e meliantes presos? E, se não bastasse, eu ainda tenho que acreditar que aquele sujeito só te deu amparo psicológico? Aquele cara que mal consegue manter a pica dentro das calças quando te vê? Está bem, faz de conta que eu acredito! – provocou.

- É isso mesmo! Quis fazer uma surpresa e eu é que fui surpreendido. Quanto ao Armando, não aconteceu nada. Ele só me acompanhou do hotel até aqui. E, depois, você se encarregou de me colocar na boca da vizinhança. – afirmei.

- Se eu não tivesse chegado a tempo, a essa altura do campeonato você estava sendo consolado na cama, com a rola dele galando seu cuzinho.

- Não sou esse depravado que você quer me fazer parecer! Eu sei muito bem quem eu quero dentro de mim. – sentenciei.

Não o deixei dormir comigo naquela noite. Mas, entreguei o presente que tinha comprado e felicitei-o pelo aniversário. Ainda confuso com os meus sentimentos, deixei a declaração confessando meu amor por ele para outra ocasião.

- Bom dia! Já acordado? – perguntou o Genilson, entrando pela porta de serviço enquanto eu preparava meu café. Para decepção dele eu estava completamente vestido, de bermuda e camiseta.

- E você, já sentiu o cheiro de café para estar aqui tão cedo?

- Estou distribuindo a correspondência. O delegado está por aí? – perguntou, enfiando cautelosamente a cabeça pelo vão da porta entreaberta e entrando na cozinha.

- Ele saiu bem cedo. Que é isso, está com medo dele? O que você deve para ter medo da polícia? – perguntei, tirando uma da cara precavida dele.

- Não devo nada não. Sou um cara trabalhador e, graças a Deus, nunca me meti com a polícia. É que o delegado Enzo não foi com a minha cara. O homem é bravo por demais. – comentou sério.

- Vai saber por que, não é? – revidei.

- Pelo mesmo motivo que rolou o quebra-pau de ontem. Ciúmes. – sentenciou

- Deixa de falar bobagem, Genilson! – censurei.

- Verdade. Eu tenho certeza que os dois estavam brigando por sua causa. Também, não é para menos. Nenhum cara ia deixar outro levar você, assim de graça, sem tomar uma providência. Macho que é macho não deixa barato não! Lá na minha terra a gente resolve essas questões na bala ou na ponta da faca! – exclamou, enquanto sorvia um gole do café que eu acabara de colocar numa xícara diante dele.

- Vou por você para correr daqui, como fiz com os dois ontem, se você continuar falando besteira. – ameacei.

- Que isso, ‘seu’ Rodrigo? O condomínio inteiro está sabendo do que rolou ontem. Não sou eu quem está falando não. – revelou.

- Quando você começa com essa história de ‘seu’ Rodrigo, pode saber que tem culpa no cartório.

- Eu fiquei com a minha boca bem fechada. Não quero provocar o delegado nem brincando. Depois daquele dia em que ele me expulsou daqui eu saquei que ele estava defendendo o território dele. – afirmou.

- Também pudera. Você estava querendo me chantagear com aquela fotografia do jornal. Não pense que sou tão cego a ponto de não enxergar esses seus olhares sem-vergonha e, de não sacar que você madruga na minha porta para ver se me encontra com pouca roupa. – afirmei.

- Nem pensar ‘seu’ Rodrigo. Eu sou de respeito. Além disso, você é muita areia para o meu caminhãozinho. – arriscou, não sem antes dar mais uma olhadela em direção ao corredor que levava aos quartos para se certificar de que o Enzo não estava lá.

- Termina esse café e se manda. Já falou besteira demais por hoje. – retruquei com rispidez, censurando a ousadia dele.

Pouco tempo depois, numa tarde em que uma chuva torrencial havia desabado sobre a cidade, o Enzo chegou em casa com uma fisionomia taciturna e preocupada. Tomou um banho, vestiu um short e veio sentar-se junto ao balcão da cozinha ajudando-me a terminar de montar umas brusquetas para o nosso jantar. Não era costume dele, chegar em casa sem ficar me encoxando enquanto preparávamos algo para comer.

- O que foi? Por que está com essa carinha de preocupado? – indaguei carinhoso.

- Não quero te aborrecer com isso. Sei que não vai gostar e não quero te magoar. – proferiu.

- Fico mais aborrecido se você me deixa fora da sua vida. Se alguma coisa está te preocupando, quero saber, e se posso fazer algo para te ajudar. – disse, liberando as mãos e indo afagar o rosto dele.

- Levei a Angela para o pronto-socorro esta tarde. Parece que ela vai perder o bebê. As coisas andaram se complicando. – revelou.

- Lamento sinceramente! – ponderei consternado.

- Eu sei. Apesar de saber que um filho me vincularia para sempre com ela, você, mais uma vez, mostrou o quão sensível e bondoso consegue ser. Eu te amo, sabia? – era a primeira vez que ele me dizia isso.

- Eu também te amo. Estou para te dizer isso desde aquela noite em que planejávamos jantar no seu aniversário. – confessei, beijando a nuca dele.

- E eu estraguei tudo, não foi? Ainda por cima, te acusei de estar flertando com o Armando. A paixão deixa a gente meio burro mesmo.

- Quem meteu os pés pelas mãos fui eu. Fui tirando conclusões sem antes ter conversado com você. Perdoe-me?

- Meu menininho, você é um anjo! Meu anjinho! Você não faz ideia do quanto eu quero cuidar de você. – exclamou, voltando seu rosto para mim e me beijando com sofreguidão.

Antes de terminarmos de comer, o telefone dele tocou. A mãe da Angela disse que a filha havia tido um aborto. O Enzo se prontificou a passar no hospital, mas a mãe dela o demoveu da ideia, e disse que uma visita rápida no dia seguinte seria o suficiente para trazer um pouco de conforto para a filha.

Fiquei comovido com a postura do Enzo. Estava claro que ter um filho com alguém por quem ele não sentia nada, não era um desejo dele. Mas, diante da realidade e, da opção dela em ter a criança, sua hombridade não lhe permitiu se esquivar da responsabilidade. Talvez até, a ideia de ser pai tenha mexido com ele. Afinal, todo homem se sente mais pleno quando vê, na criança que gerou, a comprovação inequívoca de sua masculinidade. Comentei meus pensamentos com ele.

- Ser pai nunca foi uma prioridade para mim. Talvez eu seja um pouco egoísta, mas, numa relação, sempre me basta o prazer que meu membro enfiado numa fenda acolhedora é capaz de proporcionar a mim e a quem estou penetrando. Não tenho tino para reprodutor. – sentenciou.

- Você é um homem maravilhoso. Acho que ao tentar gerar um filho seu, a Angela queria sentir uma parte sua dentro dela. Meio parecido com a sensação que eu tenho quando sinto seu esperma me molhando todo por dentro. É algo tão sublime que a gente não quer abrir mão, pois seria como abrir mão de você.

- Você não existe! Sou apaixonado por você, sabia? – disse, tomando-me em seus braços.

- Eu amo você mais do que tudo nessa vida! – declarei.

- Quer casar comigo? – perguntou, antes de começar a me beijar sem ao menos esperar a resposta. Acho que ele já tinha certeza de qual seria.

Eu havia me sentado na beira da cama enquanto ele se sentara sobre o tapete e apoiara as costas na cama para assistir o noticiário do dia. A cabeça dele se apoiava nas minhas pernas e eu brincava com os cabelos dele, fazendo deslizar a ponta dos dedos entre as madeixas perfumadas. Era desse acalanto que ele precisava quando estava contrariado e triste. E, a certeza de encontrar esse abrigo em mim, atenuava seu sofrimento. Eu me sentia mais ligado a ele do que jamais supus que pudesse me vincular a alguém. Amava-o tanto ou mais do que a mim mesmo. E, sabia que ele sentia o mesmo.

- Vem cá, vem. – pedi, ao tirar a roupa e instigando-o a entrar na cama. Ele riu e se apressou em me atender.

- Vai me seduzir? – perguntou, recostando-se nos travesseiros e permanecendo parcialmente sentado com as pernas ao longo da cama.

- Isso eu já fiz. Vou fazer uma coisa mais gostosa agora. – respondi, com um sorriso sensual e malicioso.

Completamente nu, sentei-me no colo dele, abrindo as pernas para que as dele ficassem entre as minhas coxas. Ele não se moveu. Esperava ansioso pela minha investida. Retribuiu os beijos voluptuosos que eu lhe dava, limitando-se a enfiar a língua na minha boca para que eu a chupasse. O volume dentro do short dele começou a ganhar vida. Comprimia-se contra as minhas nádegas. Comecei a mordiscá-lo ao longo da borda inferior da mandíbula. Era um local sensível que o enchia de tesão. Provoquei-o sem pressa, percorrendo com a boca, mordiscando e lambendo enquanto fazia menção de descer pelo pescoço dele. Ele não resistiu e colocou as duas mãos na minha cintura, ergueu-me um pouco para dar espaço para que seu cacete se ajeitasse enquanto endurecia. Espalmei as mãos sobre os pelos do peito dele e dei um sorriso maroto. As mãos dele deslizaram até as minhas nádegas e ele as agarrou, amassando-as. Soltei um gemido quando ele me apalpou com mais força. Mordi delicadamente o queixo dele e senti a barba hirsuta dele espetando meus lábios. As pontas dos meus dedos brincavam com os pelos do peito dele. Aos poucos, fui descendo pelo tronco depositando um beijo aqui e acolá, mordiscando e segurando suavemente a pele dele entre os dentes. Ia descendo em direção ao ventre dele numa lentidão torturante. Ele se rendeu completamente aos meus caprichos. Enquanto o lambia ao redor do umbigo, enfiei uma das mãos pela perna do short e a fechei ao redor de seu membro consistente. Ele dobrou de tamanho com esse único toque. Ele soltou um gemido e deixou que eu brincasse com seu falo. Tirei o cacetão molhado do short e, no exato instante em que mais uma generosa porção de sumo brotou do orifício uretral, eu o levei à boca, sorvendo o fluxo.

- Ai caralho, como isso é gostoso! – gemeu.

Ele segurou minha cabeça entre as mãos e me estimulou a continuar mamando-o. O cacete enorme não cabia na minha boca. Mas, eu tentei colocar pelo menos a glande para chupá-la com mais intensidade. Enquanto meus dedos percorriam a virilha peluda dele, eu chupava, lambia e mordiscava o caralhão babão. Massageei os bagos dentro do sacão dele. Eles estavam ingurgitados e cheios, muito sensíveis mesmo ao meu toque mais suave e delicado. Coloquei um testículo na boca e chupei-o carinhosamente, enquanto minha boca se enchia dos pentelhos grossos e negros dele. Ele se inclinou para o lado a fim de alcançar meu cu. Meteu um dedo nele depois de ficar me atiçando com movimentos circulares sobre as minhas pregas enrugadas. Gemi com o bago na boca quando o dedo dele entrou no meu cu. Ele ficou movimentando o dedo num vaivém apressado, antes de tentar colocar mais um dedo em mim. O fato de pegar novamente o pau dele na boca, deglutindo e aspirando o cheiro másculo do pré-gozo, permitiu que eu relaxasse os esfíncteres e ele enfiasse mais um dedo explorador no meu cuzinho.

- Adoro seu sabor e seu cheiro. – balbuciei, enquanto o encarava com meiguice.

Ele se levantou, me virou de bruços, abriu minhas pernas e investiu insanamente com sua língua molhada no meu cuzinho. Agora era eu quem passava por uma demorada e luxuriante sessão de tortura. Meu tesão havia aflorado em cada poro da minha pele, eu arfava de desejo e queria que ele me penetrasse.

- Fala pra mim o que é que esse cuzinho quer, fala! – rosnou, entre uma lambida e outra.

- Você. Você inteirinho. – gemi.

Ele tornou a me virar sobre a cama, abrindo minhas pernas e as colocando sobre seus ombros. Apontou a pica na porta do meu cuzinho depois de desliza-la sedutoramente ao longo do meu reguinho. Forçou a glande contra meu orifício corrugado e fez o cacetão entrar em mim distendendo minhas pregas e lacerando-as numa dor aguda, profunda e prazerosa. Era impossível controlar o grito que assomou aos meus lábios, e eu simplesmente o deixei escapar irreprimido, e sinalizador da minha capitulação. Até que toda aquela jeba imensa estivesse dentro de mim demorou mais algum tempo. O Enzo a fazia avançar cautelosa e provocante, tentando crava-la nas minhas carnes com o menor dano e dor possível. Preservar aquele apertadinho que meu cu tinha ao redor de sua rola descomunal era para ele um prazer único. Ele bombou meu cuzinho demorada e ritmicamente. Eu gozei com a rola esfolando minha mucosa anal, lambuzando minhas pernas e a cama com meu gozo gratificante.

- Amo você! – gemi, com os olhos úmidos de felicidade.

As estocadas dele cada vez mais profundas, rápidas e intensas sinalizavam que ele também estava próximo do clímax. Foi só eu pedir para que ele me molhasse, para que os jatos de porra me inundassem, enchessem o ar com o cheiro de sexo, e aplacassem a dor das minhas entranhas. Eu o puxei para junto de mim e o beijei. Nossos corpos experimentavam uma sensação de plenitude e união. A mesma que tem feito a nossa vida desses últimos três anos ser tão repleta de felicidade.

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Comentários

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Meu caro mestre, mais uma parte do kherrverso que concluo a leitura.

Acho que já estou tão escaldado com as reviravoltas de seus contos, na maioria das vezes para a tristeza e tragédia, que ficava o tempo todo imaginando quando alguma merda aconteceria para acabar com a felicidades do Rodrigo e do Enzo. Quando veio aquela parte da mulher do Enzo e o Rodrigo ligou para o Armando, pensei: "É agora que paro de ler... é agora que o Kherr vai destruir minhas emoções". Felizmente tudo foi explicado e o Enzo jamais faria um papelão daqueles como Rodrigo.

Nem sei mais como elogiar tua produção, mestre. Mais uma obra em que você nos brindou com o prazer de mais uma ótima leitura.

Nesse conto, uma observação que me deu um tesão em particular: "Eu não sabia onde estava sentindo mais tesão, se no cuzinho apertado ao redor daquela jeba, ou se na pica dolorosamente rija.". Nos primeiros contos, os passivos, parece, não viviam sua sexualidade plenamente, tendo prazer, apenas dando prazer aos ativos. Depois passou a descrever como os passivos até gozavam. Mas com esse, você mostra o personagem dono por completo de seu corpo, reconhecendo o quanto pode extrair de prazer. Adorei isso!!!!

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Obrigado Indo_por_ai! Como já mencionei, existem passivos e passivos, uns mais retraídos, outros mais dispostos e participativos durante o sexo, cada um sabe o que mais lhe dá prazer, e quem somos nós para julgar essas preferências, que são tão pessoais e íntimas? Nos meus contos contemplo a todos, e deixo ao encargo do leitor se identificar com os quais gosta. Abração!

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Lindo kherr mais um conto perfeito excitam e emocionante.

PARABÉNS.

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Cara.... Parabéns... Um milagre um texto tão bem escrito. Nossa! Me prendeu do inicio ao fim. Faça um favor, se puder, leio meu conto "Eu e o Pm - Mais um conto maluco" e me dê a sua opinião. Será muito importante para mim. E se puder fazer mais uma ou duas continuações acho que este conto ficará PERFEITO!

Abraços

Peludodf

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Ameeeeeeeeeeeeei quero continuação, mas nada de que separem eles, tem que ser algo mostrando a união deles consolidando!

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Uma história muito excitante e até certo ponto romântica!!!! 👏👏👏😍💓😈😋✊🙌✌😉👀

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