Tomamos mais um gole da cerveja ao mesmo tempo. Distante da praia dava pra ver o sol iluminando as pedras, as deixando brilhantes. O único barulho, naquele momento, era das ondas, das pisadas na areia e das bolas que eram jogadas próximo ao local onde nos encontrávamos.
- ''Playboysin?''. (ouvimos gritos vindo da rua e olhamos para trás ao mesmo tempo).
Lá, estava ele. Apenas com um short; Corpo suado e queimado, provavelmente do sol. Mas ainda assim sorrindo. Um riso inocente e sem preocupação.
Eu - THIAGO???? (falei me engasgando com o líquido cevado).
Otávio - conhece esse cara? (meu amigo me deu uma encarada e eu apenas confirmei com a cabeça).
A única coisa que separava o ''papa léguas'' de mim eram os carros que passavam acelerados. Impaciente, Thiago estendeu o braço, indicando que os veículos parassem. O homem atravessou a rua e veio em minha direção.
Otávio - quem é esse cara? (perguntou Otávio antes que Thiago chegasse ate onde estávamos).
Eu - é um amigo que conheci na pousada.
Foi só o que deu de responder antes de receber um acalourado abraço do Thiago.
- E aí ''irmãozin'', tu sumiu cara!
Eu - nada. Tava com planos de ir te visitar domingo.
Thiago - agora já não vai ser mais preciso. (disse ele sorrindo).
Eu - pois é cara. To feliz em te ver aqui fora.
Thiago - to em condicional ''irmãozin''. A qualquer momento eu posso voltar lá pra dentro.
Eu - to ligado, tem que andar na linha.
Thiago - falou as palavras corretas. E quem é o playboy aí do teu lado? (ele falava do Otávio).
Fiz uma breve apresentação entre eles e ambos trocaram apertos de mãos.
Thiago - o que tu ta fazendo agora?
Eu - só curtindo uma praia, e tu?
Thiago - to indo fazer uns ''corres''.
Eu - uns corres? Mas tu não tem que ficar longe de confusão?
Thiago - eu fico longe delas, mas elas vêm atras de mim. (disse ele sorrindo).
Otávio, a meu lado, não dizia uma palavra sequer, apenas nos observava concentrado.
Eu - quando foi que tu saiu?
Thiago - ta com uns dois dias. (disse ele tentando fazer um calculo mental).
Eu - só laser! (falei também sorrindo).
Thiago - tentando. ''bora'' dar um mergulho?
Eu - bora lá Otávio? ( falei olhando para meu amigo ).
Otávio - o sol já ta quase se pondo. (disse ele olhando para longe). Acho que devemos ir embora antes do anoitecer.
Thiago - que nada doido. (disse Thiago, puxando assunto com Otávio). Ta ''cedão'' ainda.
Eu - bora lá mano, só mais esse mergulho e daí nós pega o beco.
Otávio concordou sem muita convicção.
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Fomos correndo ate chegar ao mar, e lá estava nós mais uma vez.
Era incrível o poder que a água tinha. Era como se ali esquecêssemos os problemas e a vida aqui fora. Eu estava feliz em ver o Thiago em liberdade, e iria torcer para que fosse assim por muito tempo.
Thiago - como é que ta as coisas aqui fora ''playboysin''?
Eu - mó correria. (falei cuspindo água para o alto).
Percebi que Otávio se distanciou um pouco da gente.
Thiago - qualé a desse teu amiguinho? ( Disse Thiago olhando na direção do Otávio).
Eu - grila com isso não pô. O Thiago ta com uns problemas familiares. (referia-me ao pai dele).
Thiago - eu também to ''playboysin'', mas nem por isso to peidando na farofa.
Eu não entendi muito bem a expressão, mas não pude deixar de gargalhar.
Eu - é o jeito dele velho.
Thiago - um jeito meio ''abaitolado''. (disse rindo).
Eu - e tu ta morando por onde? (falei mudando de assunto).
Thiago - to na casa de um chegado meu. Tamo com uns esquemas armados aí.
Eu - poxa mano, como é que tu quer se livrar de problemas metido com esquemas? Tu quer voltar lá pra dentro daquela porra?
Thiago - e quais as chances que eu tenho? Eu não tive a sorte de nascer em família rica como tu não meu irmão.
Eu - e quem disse que eu nasci em família rica cara? De onde tu tirou essa ideia?
Thiago - vai mentir pra mim que tu não é rico? Olha pra tua aparência cara, parece um daqueles alemães da copa do mundo.
Eu - eu ate poderia ter nascido em família rica mano, mas não foi assim que aconteceu. A família rica é só por parte de pai, e infelizmente eles não me aceitaram.
Thiago - o que tu ta me falando?
Eu - Isso que tu ouviu: Sou filho da empregada com o patrão rico. Tenho os mesmos problemas que tu po, mas nem por isso vou andar de esquemas tentando mudar de vida.
Thiago me olhou serio.
- que cara filho de uma puta pô, e tu nunca foi atras dele? ( esbravejou o rapaz).
Eu - tenho nem pistas de quem seja. Minha mãe evita ate tocar no assunto.
Thiago - então tua mãe sabe do paradeiro desse cara?
Eu - não sei velho, mas se sabe ela não quer que eu descubra.
Thiago - estranho playboysin. Qual o interesse ela teria em te manter desinformado sobre o teu pai?
Eu - não sei mano. Pode ser orgulho, ou pode ser que ela queira me proteger de alguma coisa.
Thiago - na moral, sabe o que eu faria se fosse você?
Eu - fala aí.
Thiago - reviraria a porra desse mundo de cabeça pra baixo a procura desse cara.
Eu ri.
Thiago - falo serio. Dinheiro move o mundo meu amigo, e é um direito teu como filho.
Eu - vou pensar nessa possibilidade. (falei sorrindo).
Thiago também sorriu.
Eu - papo ta bom, mas eu vou ter que chegar em casa.
Thiago - ta cedo pô.
Eu - ta cedo mesmo, mas eu to cansadão. Dormi quase nada essa noite.
Thiago - to ligado. (Thiago jogava água pelo corpo). Gostei de te ver novamente.
Eu - também vei. Gostei de saber que você ta bem e ta livre daquele inferno.
Thiago - provisoriamente. (disse rindo). Como a gente faz pra não perder contato? Tem algum telefone que eu possa falar contigo?
Eu - tenho sim.
Thiago - diz aí.
Eu - e tu vai anotar aonde?
Thiago - mentalmente. (sorriu).
Eu - beleza. ( retribui o sorriso e passei meu numero ao Thiago).
Assobiei e fiz sinal para Otávio, que veio em seguida a meu encontro.
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Eu - a gente vai se falando. (disse quando já estávamos no calçadão).
Thiago - podes crer. (Thiago me cumprimentou com um aperto de mão e um tapinha no ombro).
E tu ver se ajeita essa cara o vacilão. (dizia ele com o Otávio, que não gostou muito da brincadeira).
Eu apenas sorri.
Eu - falou mano.
Thiago - flw.
Pegamos caminhos diferentes. Em pouco tempo, Otávio e eu já estávamos em casa.
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- Canseira da porra. (falei me jogando em cima do colchão).
Otávio - to sentindo a mesma coisa. ( deitou a meu lado)
Ambos com o rosto virado para o teto do quarto.
Eu - mano, eu quero ter um papo contigo, mas não quero que a gente brigue ou coisa parecida.
Otávio - diz aí o que ta te afligindo. ( meu amigo olhava pra mim e sorria).
Eu - a parada é seria. (levantei do colchão e sentei com as costas escoradas na parede do comodo).
Otávio levantou a cabeça para poder me observar melhor.
Eu - que papo é esse de você ter destratado o sr Matthew?
Otávio - pode ir parando por aí. (O cara levantou-se do colchão rapidamente).
Eu - aonde tu vai? (levantei do chão e o segui).
Otávio - vou tomar um banho.
Eu - deixa de ser criança velho, eu só fiz uma pergunta. Pra que fugir assim?
Otávio virou e me fitou de frente.
Otávio - o cara lá já deve ter feito um monte de fofoquinhas né!?
Eu - tu sabe que não são fofocas. Ele nem queria que eu tivesse essa conversa contigo.
Otávio - ah não!?
Eu - NÃO!
Otávio - então pra que ele foi correndo de contar?
Eu - então você admite que é verdade?
Otávio - eu não to admitindo nada.
Otávio virou as costas e entrou no banheiro. Ao abaixar sua bermuda, pude ver parte de sua bunda branca e saiu um sorriso de meus lábios.
Eu - ta com ciúmes de mim mano? (entrei no banheiro junto com ele).
Otávio me olhou e permaneceu calado, em seguida entrou no box e ligou a ducha.
Eu - fala pô. É ciúmes? (acho que a cerveja havia me encorajado a ser tão direto naquele momento).
Otávio - Não! Não é ciúmes não.
Eu - então o que ta pegando? Por que tu tratou o cara daquele jeito?
Otávio - to com medo. (disse ele com a voz embargada).
Eu - medo? Medo de que?
A água do chuveiro passeava pelo corpo do meu amigo.
Otávio - medo de perder você.
Eu - tu ta viajando mano. A gente se conhece desde criança e sempre teve unido.
Otávio - mas agora é diferente. Lembro que uma vez você falou pra mim que tinha vontade de crescer na vida.
Eu - e daí velho? Quem não tem?
Otávio - e se pra crescer na vida você tiver que se afastar de mim?
Tentei responder, mas Otávio me interrompeu.
Otávio - e se você ficar deslumbrado com o mundo dos ricos e esquecer da nossa essência? Faz quanto tempo que você não ver sua mãe? Aposto como tu não ta nem sabendo que o Raul ta internado?
Eu - O Raul ta internado porque? Eu não fiquei sabendo.
Otávio - eu sei que tu não ficou sabendo. Tu não tem mais tempo para os verdadeiros amigos.
Eu - não fala assim mano. Tu ta me ofendendo.
Otávio - tu se ofende com a verdade?
Nesse momento meu celular tocou.
Otávio - vai lá atender.
Eu balancei a cabeça que não.
Eu - eu não mudei cara. Eu não mudei. (foi impossível segurar o choro).
Virei as costas para sair do banheiro, mas Otávio me segurou pela cintura com suas mãos molhadas e lisas do sabão.
- Me desculpa. (disse ele quase ofegante).
Virei na direção do meu amigo.
Eu - eu que tenho que pedir desculpas.
Minha cabeça estava baixa e Otávio a levantou, com o dedo indicador, pelo queixo.
Meu amigo abriu os braços e eu o abracei.
- Eu não posso te perder. (ele sussurrou em meu ouvido).
Eu - você não vai me perder.
Otávio - promete?
Eu - prometo.
Otávio - teu celular continua tocando.
Eu - deixa tocar. (falei abraçado a meu amigo).
Otávio - eu te amo lorin. (disse ele repousando a cabeça em meu ombro).
Continua...
♫♫♫
Deixa, deixa mesmo de ser importante
Vai deixando a gente pra outra hora
Vai tentar abrir a porta desse amor
Quando eu tiver jogado a chave fora
♫♫♫