O banho estava demorado e minha barriga roncava de fome. Tomei a liberdade de ir ate a cozinha beliscar alguma coisa, mas antes que eu chegasse ate a geladeira, a campainha tocou.
Parei de frente para a porta e depois de muita insistência de algum chato, e daquele barulho ensurdecedor eu resolvi abri-la.
- O que você ta fazendo aqui? (alguém me encarou com uma garrafa de tequila nas mãos).
E a noite estava só começando.
Eu - eu to trabalhando. Você sabe o que é isso? Há! Deve não saber. Seu trabalho é conquistar gretas europeias lá em Ibiza.
O cara sorriu sarcasticamente, e passou pela porta, me dando um leve empurrão com o ombro. O cheiro de álcool era tão forte que me deu um leve mal estar.
Klauss - eu não sei o que é trabalho, e não ando pesquisando pra saber. Enquanto tiver pessoas iguais a você trabalhando pra mim, eu me divirto comento gretas, como você mesmo disse, lá em Ibiza.
Eu - você não me humilha falando essas coisas. Eu acho digno e honrado trabalhar.
O cara sorriu debochado.
Eu - e eu sou ambicioso cara. Posso crescer na vida e comprar a empresa do teu pai, e daí vai ser você quem irá trabalhar pra mim.
Klauss - sabe o que eu acho bacana em pessoas como você?
Eu - Fala. (disse o encarando de igual).
Klauss - são pessoas sonhadoras, batalhadoras, mas que morrem sem realizar um quarto do que planejam.
Aquilo me deu um nó na garganta, porque infelizmente, nisso, o cara tinha razão.
Eu - comigo vai ser diferente. Anota aí.
Klauss - ta anotado. Agora prepara uma bebida pra mim. (disse ele me estendendo a garrafa que estava em sua mão).
Eu - trabalho pra você não velho. (falei ríspido).
Klauss - hohoho! (O cara imitou a risada de um papai noel). Quer da uma de ''brabinho''? Você não tem medo de um corola preto ou uma l-200 prateada tombar em você pela rua?
Eu - ta me ameaçando véi?
O cara foi ate o bar do apartamento do Matthew e eu o segui com os olhos.
Klauss - ameaçando não. Só advertindo.
Eu - eu não tenho peito de aço pra trombar com carro, mas se você quiser vir na mão eu me garanto. Fui criado na rua vei, no ''tete a tete'' eu sei o meu limite.
O cara mais uma vez sorriu.
Klauss - e você acha que eu tenho cara de moleque pra ta caindo no braço por aí? Até parece! Quando chegar tua hora vai ser igual a morte: silenciosa e inesperada.
Enquanto, trocávamos insultos, o homem preparou duas bebidas.
Klaus - ta servido? (disse ele me oferecendo um copo).
Eu nada respondi, apenas virei as costas e voltei minha atenção ao processo.
Klaus - é melhor que rende. (disse ele um pouco adulterado).
Enquanto eu tentava ler o processo: Klauss tomava seus drinks; Matthew saiu do quarto usando uma bermuda de seda preta, e uma camiseta de mesma cor.
Matthew - Klauss, o que você faz aqui?
Klauss - não está feliz em me ver irmão? (disse o rapaz abrindo um sorriso no rosto).
Matthew - Claro que estou... é que eu não te esperava essa noite.
Klauss - você está dando uma festinha?
Matthew - trabalho meu amigo. (Matthew aproximou-se do irmão e lhe cumprimentou com um abraço).
Eu olhava a cena e me perguntava se Matthew conhecia a verdadeira face do irmão.
Klauss - aceita? ( Klauss ofereceu ao irmão a mesma bebida que minutos antes havia oferecido a mim).
Matthew - hoje não.
Klauss - por que não? Vamos relembrar os velhos tempos irmãozinho.
Matthew apenas sorriu e recusou.
Klauss - você vai negar uma bebida feita pelo seu secretário particular?
Matthew - você quem fez Felipe? (disse meu chefe me encarando)
Ia dizer que não, mas antes que eu pudesse abrir a boca, meu chefe provou da bebida e me elogiou. Foi errado, mas fiquei sem jeito de negar.
Mais uma vez Klauss piscou o olho para mim.
Matthew - bom, muito bom. (disse ele passando a língua nos lábios). Você será meu bartender oficial.
Eu apenas sorri.
Matthew - você veio de carro? (disse Matthew voltando a virar para o irmão).
Klauss retirou a chave da bitaca da calça e entregou ao irmão.
Matthew - vou te colocar em um táxi.
Klaus - pra que táxi? (perguntou ele fazendo cara de birra).
Matthew - você precisa ir pra casa dormir, outro dia relembramos os velhos tempos.
Klauss - você está me expulsando irmãozinho?
Matthew - claro que não irmão, mas entenda que realmente eu preciso trabalhar, e você precisa dormir. Olha o teu estado, você ta molhado de cachaça.
Klauss - e por que eu não posso dormir aqui?
- que cara chato do caraleo! (eu pensava assistindo aquela situação).
Matthew - você não irá dormir Klauss, eu te conheço.
Klauss - prometo que dormirei. Não vou atrapalhar o trabalho de vocês.
- O cara realmente sabia ser irônico. ( pensei eu).
Matthew deu uma respirada funda.
- Já jantou? (perguntou apoiado ao irmão).
Klauss - Ainda não. Tô varado de fome.
Matthew - descansa um pouco na minha cama que eu vou preparar alguma coisa pra gente jantar.
O irmão apenas concordou com a cabeça enquanto tomava uma outra dose da tequila com limão.
Matthew foi para cozinha e seu irmão ficou me encarando.
- Qual é? (perguntei em tom baixo para que, da cozinha, Matthew não ouvisse nós discutindo).
Klauss - Qual é o que? (ele perguntou se aproximando e sentando no sofá junto a mim).
Com o notebook e o processo em mãos apenas me levantei para mudar de sofá, mas Klauss segurou pelo meu braço, me puxou para bem próximo dele e falou, baixo, em meu ouvido.
Klauss - esculta aqui, você vai inventar uma desculpa qualquer pro meu irmão e vai vazar daqui.
Novamente, respirei fundo para não perder a paciência.
Eu - já deu o cu hoje? (falei olhando bem serio para ele).
Klauss - gosta de brincar com fogo né!? (disse ele sorrindo sarcasticamente).
Eu - fica na tua que eu fico na minha cara. Não somos obrigados a nos aturar, nem tampouco a nos odiar.
Klauss - mas eu não te odeio cara.
Eu - como não!? Olha pra você velho! Vê o que você ta fazendo comigo a troco de nada. Se isso não for ódio é o que então?
Klauss - to apenas querendo brincar. Gosto de fazer isso. (O cara sorria mostrando sua boca cheia de dentes brancos e dois oceanos em seus olhos).
Eu - você é maluco. (disse colocando o ''not'' e os papeis em cima da mesa de centro).
Deixei o cara no sofá e fui encontrar com o Matthew, na cozinha.
xxXXX
- Posso ficar por aqui? (falei adentrando o ambiente).
Matthew - claro! Klauss deve ta te enchendo o saco né!? ( disse ele simpático).
Apenas sorri timidamente.
Puxei uma cadeira para sentar e escorei meus cotovelos sobre o balcão americano.
- Você aprendeu a cozinhar morando sozinho? ( falei puxando assunto).
Matthew - na verdade não. Aprendi a cozinhar com uma das cozinheiras da casa do meu pai. Sempre curti essa área da gastronomia, mas me formei em direito forçado pelo meu pai.
Eu - mas agora que você é independente por que não faz gastronomia?
O homem que estava concentrado, cortando um peito de frango, levantou a cabeça, limpou a testa com a face da mão e me olhou, calmo.
Matthew - hoje eu não tenho mais paciência pra isso. O tempo vai passando e nossos planos vão mudando.
Eu - to entendendo.
Matthew - e você?
Eu - o que tem eu?
Matthew - quais seus planos?
A imagem da minha mãe em minha mente foi automático.
Eu - eu só queria dar uma vida mais confortável pra minha mãe.
Matthew - você vai longe garoto. (ele apontava para mim com a ponta da faca).
Eu - é o que eu pretendo.
Matthew colocou o frango juntamente com alguns temperos dentro de uma panela, e em seguida começou a mexer em fogo brando.
Eu - o sr quer ajuda? (falei me aproximando).
Matthew - quero! Abre a dispensa e pega uma embalagem de milho verde e outra de azeitona, por favor.
Eu - na hora.
comecei a abrir varias portas do armário ate encontrar a tal dispensa. Matthew me olhava e ria.
Eu - esse armário é enorme. (disse colocando os produtos em cima do balcão americano).
Matthew agradeceu e pediu que eu abrisse as embalagens. Assim o fiz.
Terminando de abrir as embalagens meu celular toca. Era um número restrito e eu achei melhor recusar. A pessoa que estava ligando continuou insistindo.
- Droga! (pensei)
Pedi licença a Matthew e fui atender a ligação na sacada.
****
- Oi. (falei atendendo).
- Finalmente. (uma voz grossa soou do outro lado da linha).
Eu - quem ta falando? (perguntei curioso).
- Esqueceu tão rápido da minha voz?
Eu - predador?
- Eu! Aonde tu ta?
Eu - como conseguiu meu número?
Predador - tua mãe me passou. Eu disse a ela que tu fugiu de casa e ela ta muito preocupada com você.
Eu - o que? Não! Você não falou isso pra minha mãe. Ela não pode ficar preocupada cara. Minha mãe já tem muitos problemas. E tem mais, eu não fugi de casa, foi você quem me expulsou quando descobriu sobre minha sexualidade.
Predador pareceu ficar pensativo do outro lado da linha.
Predador - Eu não falei nada pra sua mãe. To zoando com você.
Respirei fundo.
- E nós já conversamos sobre o que aconteceu. (disse ele calmo).
Eu - mas não entramos em nenhum consenso. Você não gosta de mim como eu gosto de você. Você só me quer pra desafogo, pra gozar velho, e pra mim assim não rola.
Predador - eu já disse que te aceito.
Eu - Não velho, você não me aceita. Mais cedo ou mais tarde você vai aprontar pra cima de mim.
Predador - você não confia em mim?
Eu - desculpa cara, mas depois da nossa ultima conversa eu perdi a confiança.
Predador - e você acha que eu sou o que? Você realmente acha que eu iria vacilar com você? Você acha mesmo que eu tenho coragem de te fazer algum mal?
Eu - eu não sei de mais nada. Eu não sei nem quem é você pô.
Predador - bundinha, eu sou o cara que te ajudou quando você mais precisou.
Eu - e eu te agradeço cara. Não sou de ficar cuspindo pra cima.
Predador - então porra. Passa uma borracha e volta pra cá. Tu ta aonde?
Eu - volto não mano! Eu to bem aonde estou.
Elevei a mão aos olhos tentando conter as lágrimas. O que eu mais queria era ficar perto do predador. Meu coração disparava, minha garganta secava, e eu sentia que vários fogos de artifícios se explodiam dentro de mim, só em ouvir a voz dele.
Predador - me diz aonde tu ta, bundinha, eu vou te buscar.
Eu - não cara. Vamos esquecer isso.
Predador - eu não quero esquecer. Me da teu endereço.
Eu - eu vou ter que desligar. (falei contra a minha vontade).
Predador - não faz isso bundinha. Eu vou colocar meus homens atras de você.
Interrompi a ligação e coloquei meu celular no silencioso. Aproximei-me da grade da sacada e fiquei observando as luzes da cidade. O vento fresco acarinhava meu rosto, e eu queria poder pausar o tempo ali... Naquele momento.
Assim que virei-me para retornar ao interior do apartamento, fui surpreendido pelo Klauss que estava deitado em uma espreguiçadeira me encarando.
Klauss - Ca-ra-lho. (ele usou essa expressão separando as sílabas).
Eu - Klauss? O que você ta fazendo aqui?
Klauss - então quer dizer que você além de tudo ainda é frutinha? (disse ele ignorando a minha pergunta).
Eu - pra mim já deu vei. Vou ficar aqui ouvindo tuas ofensas não. (disse saindo do lugar).
Klauss - já imaginou quando o papai souber, e o Matthew, e a diretoria, e os acionistas da empresa.
Eu - E você acha que estamos em qual século? Acha que iriam se preocupar com minha sexualidade?
Klauss - eu particularmente não me preocupo. Desde que você não dê em cima de mim... Mas... Será que o Matthew não iria se importar em ter um secretario viado?
Eu - você é mal cara. (disse sentindo nojo daquele homem que estava em minha frente).
Klauss - to sabendo que vocês irão fazer uma viagem juntos. Ele te falou que vocês irão dividir o mesmo quarto?
Eu - e o que tu ta insinuando? (olhei serio para ele).
Klauss levantou-se da espreguiçadeira e ficou parado com o rosto próximo a meu.
- Acho que Matthew não teria culhão suficiente para aturar as piadinhas que iriam surgir quando descobrissem que o secretario dele é gay.
Eu - Matthew não é igual a você.
Klauss - Podemos tirar a prova. (disse ele adentrando a casa).
Eu - hey. (falei puxando pelo seu braço). Aonde você vai?
Klauss - vamos dialogar com Matthew. Ele precisa saber algumas coisinhas sobre você. ( o cara tinha um sosrriso diabolico).
Eu - vei, não faz isso cara.
Klauss - ta com medinho? Você não disse que Matthew era diferente de mim? Não há o que temer.
Eu - Você pode ferrar com minha vida. O que você ganha fazendo isso?
Klauss - Já te falei. Só curto brincar.
Eu - mas isso não é brincadeira merda. É minha vida.
Klauss - Cada um com seus problemas.
Eu - me diz o que você quer pra não fazer isso. Pode pedir qualquer coisa. ( eu continuava agarrado ao braço do cara).
Klauss - qualquer coisa? ( ele me olhou com um sorriso estranho).
Eu - qualquer coisa cara. Eu só não quero perder esse emprego.
Klauss pensou um pouco.
Klauss - já sei o que eu vou querer.
Eu - o que?
O home sorriu maliciosamente.
Continua...
Galera, pra quem ta acompanhando o conto, nem o Predador, nem o Tiago e nenhum dos personagens principais saíram da historia. Depois que o protagonista saiu da prissão se passaram apenas quatro dias, por isso ele ainda não foi visitar o papa léguas. Abc!