Naquela manhã de sexta-feira, eu havia resolvido matar aula. No dia anterior, nós decidimos que eu ficaria com o Thi e a Sophie, e que nós iriamos viajar para uma cidadezinha, fomos para Giverny. Uma cidade pequena, porém, muitíssimo agradável e acolhedora, ela fica bem próxima de Paris.
A primeira coisa que eu fiz ao acordar foi um bom café. Eu estava morrendo de fome. O Thi estava dormindo no sofá, então eu me esforcei para não fazer muito barulho. Eu me concentrei ao fazer o café que nem percebi ele se aproximar, eu só percebi quando eu me assustei com ele me desejando bom dia.
- Bom dia! – Ele apareceu na cozinha, eu quase tive um micro infarto e quase deixei a vasilha que eu segurava voar.
- Ai, que susto!
- Desculpa! – Ele disse rindo
- Bom dia! – Eu disse enfim olhando para ele
Ele estava sem camisa.
- Quer ajuda? – Ele se espreguiçou e bocejou
Eu fiquei parado olhando para o Thi. Eu observei cada musculo do corpo dele se movimentar, se duvidar meu olhar estava que nem o de uma presa sobre sua vítima. Há muito tempo eu não sabia o que era sexo, e isso estava mexendo com minha cabeça, isso mexia tanto com minha cabeça que eu tive uma ereção sem ao menos perceber. Eu só me dei conta que eu estava de membro ereto quando eu me encostei no balcãozinho da cozinha. Eu tentei esconder da melhor maneira possível, se o Thi percebeu, ele não disse nada.
- Não, obrigado!
- Imagina que eu vou te deixar fazer tudo sozinho... Eu vou escovar os dentes e já volto.
Eu fiquei desesperado, é claro. Ele viria para a cozinha junto comigo e eu não estava num estado muito legal. Eu não podia correr para o banheiro, pois ele estava lá e no apartamento só tinha um banheiro. Eu rapidinho peguei material para fazer bolo e me sentei em uma cadeira próxima a mesinha. Eu tinha que me concentrar em algo e esquecer aquilo. No entanto, a imagem do Thi sem camisa, com a bermuda baixa, não saía da minha cabeça.
- E aí, o que eu posso fazer?
Era muita judiação dele ficar daquele jeito bem pertinho de mim. Em momento algum ele se incomodou em colocar uma camiseta, ele se sentia 100% em casa.
- Sabes fazer panqueca?
- Não!
- Tá, então, pega ovos ali pra mim.
Ele virou de costas e pegou os ovos. Eu, em uma velocidade inacreditável, me levantei e fui quase correndo para o banheiro. Nada fazia meu amiguinho descer, então, eu tive que fazer o que qualquer homem faria, pedi socorro a masturbação. Foi só depois disso que eu consegui me acalmar e ver meu membro reduzir de tamanho e rigidez. Eu estava enlouquecendo, só podia ser...
- Pegaste os ovos? – Eu disse voltando para a cozinha mais calmo
- Tá aí em cima... To fazendo o suco, tá?
- Unrum!
- A Sophie não acorda agora?
- Daqui a pouquinho ela acorda, se ela não acorda, eu terei de acorda-la.
- Que maldade!
- Maldade? Não, não é não. Se ela dormir até tarde, quem vai dormir tarde da madrugada seremos nós.
- Tu estás fazendo bolo de que?
Eu nem sabia do que era aquele bolo, eu só catei alguns ingredientes pela cozinha e me sentei como disfarce para a minha situação constrangedora.
- Vou fazer de laranja! – Eu disse só porque eu vi as laranjas que ele utilizava para fazer o suco
Eu roubei algumas laranjas dele e fiz o bolo.
- A gente vai como para Giverny?
- De trem, ora! Já comprei nossas passagens.
- Já?
- Já! Comprei pela internet ainda pouco, antes de tu acordares e me matar de susto.
- Eu ia comprar! Tu nem deixas eu ser cavalheiro...
- Aaaaah, senhor cavalheiro, desculpa...
A verdade é que eu já estava desacostumado a ter alguém tomando frente das coisas, como era somente Sophie e eu, eu sempre fazia tudo. Foi algo natural.
- A volta eu compro!
- Éeeeeeh.... eu já comprei a volta também!
- O hotel é comigo!
- Tudo bem!
Era bonitinho vê-lo ser todo cavalheiro, sempre querendo me agradar e agradar minha filha. Nós deixamos a Sophie dormir mais um pouquinho, quando já estava quase tudo pronto, eu a acordei.
- Bom dia, princesa Sophie! – Ele deu um beijinho nela
- Ué, não vai falar com o Titi?
- Huuum...
Ela sempre acordava manhosa e grudada no meu pescoço. Eu tinha que esperar alguns minutinhos, até ela acordar de fato, ela só ficaria sociável, como dizia a Jujuba, após o café. Eu aguardei um tempinho e depois dei um banhinho nela e já aproveitei para tomar o meu. Nós nos arrumamos e fomos tomar café. Enquanto sentávamos para tomar café, meu celular tocou, era o Nelson.
- Oiiii!!! – Eu disse atendendo – Bom dia!
- Oi! Bom dia! Ué, onde tu estás, eu estou te esperando para irmos à universidade.
Eu passava todos os dias na casa dele para irmos juntos, nós deixávamos a Sophie na creche e íamos para a universidade.
- Ai, desculpa, eu esqueci de te avisar. Hoje eu não irei.
- Por que? Aconteceu algo?
- Não, não! É que Thi, Sophie e u vamos fazer um passeio.
- Ah, entendi. Então, mais tarde eu passo aí com vocês.
- É que nós vamos para uma cidadezinha aqui perto e vamos passar o final de semana lá, então, eu não estarei em casa mais tarde.
- Então a gente se vê na segunda?
- Na segunda, com certeza!
- Tá bom, então! Até segunda! Bom final de semana pra vocês!
- Obrigado, Nelson! Pra ti também!
- Quem era?
- Era o Nelson.
- Ah, gostei dele! Muito gente fina.
- Ele é mesmo!
- E ele é bonitão...
- Ele é muito gato mesmo... maaaaaaaaas é hetero e é casado. – Eu sorri
- Vocês são bem próximos, né? Vocês têm muitas, muitas fotos juntos. – Ele falou como quem não quisesse nada, mas ele estava doido para arrancar informações sobre o Nelson
- É! Ele mora aqui perto, aí a gente sempre vai junto para a universidade, a gente sempre deixa a Sophie na creche juntos, ele é louco por ela, tu vistes, né? Como ele está longe dos filhos E da esposa, ele é louco pela Sophie. Ele diz que ele mata a saudade dos filhos com ela.
- Ah, entendi... Ele sabe que tu és gay?
- Sabe, sim! Todos os meus amigos aqui sabem. Aaaaaah, falando em amigos, eu vou te apresentar o Gilles. O marido dele é a tua cópia francesa.
- Eu sou único! – Ele disse fazendo charme
- Sinto te desiludir, mas existe uma cópia tua andando por aí. – Eu disse rindo
Nós tomamos nosso café e arrumamos tudo na cozinha. Sophie e eu tivemos que esperar o Thi se arrumar, o que levou longos minutos. Enquanto ele se arrumava, eu arrumei uma mochila para mim e para a Sophie.
- Cadê tuas roupas? Coloca aqui... – Eu pedi a ele quando ele saiu do banheiro
- Ah, estão aqui. – Ele pegou as roupas e me entregou
Eu terminei de arrumar nossa mochila e nós partimos. Fomos para a estação de metrô e pegamos nosso trem rumo a Vernon, uma cidade que ficava próxima de Giverny. Chegando em Vernon, nós tivemos que pegar um táxi para poder chegar em Giverny. Nós não tínhamos reservado hotel, estávamos indo com a cara e com a coragem. Eu procurei na internet um hotel e pedi para o taxista nos deixar lá. O primeiro hotel que entramos não havia vaga para nós, foi só no segundo que conseguimos. A cidade é a cidade de Claude Monet, logo ela recebe bastante visitas. Nós tivemos uma sorte gigantesca em conseguir um quarto. O plano era ficar em quartos separados, mas como não havia, nós ficamos em um quarto somente.
- Será que existe algum lugar feio na França? – Ele perguntou depois de já estarmos instalados no nosso quarto.
Era um quarto com duas camas, então, Sophie e eu dormiríamos em uma e o Thi em outra.
- Vamos? – Ele perguntou
- Vamos!
Nós tínhamos combinado que só chegaríamos no hotel, deixaríamos nossas coisas e iriamos passear. Nós não conhecíamos Giverny, então estávamos ansiosos.
Nós fomos andando pelas ruas e eu nunca tinha visto uma cidadezinha tão bonita, haviam flores para todos os lados. A cidade era cheirosa por ter tantas flores. Giverny era um local para se descansar, era um local onde tu poderias te encontrar com o teu eu interior. Os jardins, a flores, os aromas adocicados, as ruas... tudo te colocava em um estado de paz e tranquilidade incrível. Era tudo o que eu estava precisando, eu tinha a necessidade de me encontrar comigo mesmo, de descobrir o que eu queria de fato. Eu sentia algo pelo Thi, isso era fato. Eu só não sabia se era desejo ou se uma fagulha do que eu sentira por ele outrora ainda vivia em mim.
Eu já nem carregava mais a Sophie, eles dois estavam num grude só. Eu também os deixei, ela sentia muita falta dos tios. Nós fomos andando até o Jardim do Monet. Era naquele jardim que ele buscava inspiração para produzir suas obras, pelo menos foi o que nos contaram. Chegando no jardim, tudo era novidade para a Sophie e o Thi teve toda a paciência de ir explicando para ela cada coisinha. Ele explicava o motivo das flores serem coloridas, delas serem cheirosas, do motivo de nós gostarmos.
- Tá vendo essa aqui, Sophie? Ela é linda, né?
- É! – Ela estava maravilhada
- Tu gostas de flores?
- Unrum!
- Elas são cheirosas, né? Papai do céu criou as flores para alegrar nossos dias, sabias?
Eles foram andando na frente e eu fiquei para trás. Eu sentei em um banco que tinha por ali e fiquei admirando aquele jardim. Eu nunca tinha visto algo tão lindo em toda a minha vida. Quando a gente olha para as obras do Monet, a gente vê aquele jardim. Onde eu sentei, haviam flores de todas as cores e cheiros. Grandes fios de arvores pendiam pelo caminho, era como estar em um conto de fadas.
Eu me senti em paz ali, me senti de um jeito que há muito tempo eu não sentia. Eu me sentia confortável, tranquilo comigo mesmo, em segurança. Eu lembrei que o meu sonho com o Bruno era de visitarmos essas cidadezinhas da França. Eu estava conhecendo, mas sem ele. A vida tinha andado, afinal. Eu tinha conseguido continuar a viver sem ele, se eu sentia a falta dele? Todos os dias! Mas, eu também me sentia bem. Eu comecei a pensar que talvez eu pudesse retomar minha história com o Thi. Não, retomar não. Eu poderia construir uma nova história com ele. Seria possível? Meu único medo era acontecer algo e eu perder tudo novamente.
É incrível como a natureza faz com que nós nos conectemos com forças primitivas e de luz. Era incrível a sensação daquele lugar, eu me arrepiei por inteiro, eu sabia que haviam espíritos ali, eu podia senti-los. Eu me sentia privilegiado em poder sentir tudo aquilo, em poder ter a permissão de me conectar com a natureza, com espíritos que ali habitavam. Aquele lugar era mágico, a força mística dali era inacreditável. Foi uma das experiências mais lindas que eu tive na vida.
Eu pensei em tantas coisas ali, eu estava pensando seriamente em não voltar para o Brasil. Eu poderia arranjar emprego em algum restaurante na França, não em Paris, afinal tudo é muito caro lá. Mas, eu gostaria de morar em uma pequena cidade do interior da França. Eu gostaria de criar minha filha ali, não só por ela ter uma educação bem diferenciada da que ela receberia no Brasil, mas por todas as oportunidades acadêmicas e culturais. Estando na França, bastava eu pegar um TGV e eu poderia conhecer e apresentar toda a Europa para ela. Ela seria uma moça viajada, e que conheceria várias culturas, várias formas de enxergar e resolver os problemas da vida. Sem falar, que eu poderia criar longe da sociedade brasileira preconceituosa. Não que na Europa não houvesse preconceito, mas era em um grau bem menor que no Brasil.
Eu realmente não queria voltar para o Brasil, eu sentia que eu tinha muita coisa para viver ali. Meus amigos e meus pais ficariam furiosos comigo, mas era o que meu coração estava pedindo. Dudu jamais aceitaria isso e seria bem capaz dele fazer o que ele tinha me prometido, ele viria me buscar. Eu estava realmente feliz ali, depois de um ano e alguns meses eu me sentia realmente feliz.
Eu olhava para aquele jardim com um sentimento tão puro, com uma gratidão tão grande. Gratidão por ter minha filha, gratidão por ter minha família sempre ao meu lado me apoiando em tudo o que eu fazia, gratidão por ter os melhores amigos desse mundo, gratidão por estar na França, gratidão por estar ali sentado observando aquela maravilha da natureza e gratidão por ter o Thi ali comigo. Eu me sentia grato até pelo ar que eu respirava. Há um preceito messiânico que diz o seguinte: gratidão gera gratidão, lamuria gera lamuria. Um coração agradecido comunica-se com Deus e um queixoso comunica-se com satanás. Eu me sentia em pleno dialogo com Deus, pois não havia nada dentro do meu coração do que gratidão.
Eu vivi momentos tão difíceis na minha vida, momentos em que eu não via nada além da escuridão. Eu adoeci na primeira vez e quis deixar a doença me levar, adoeci na segunda vez e quase cometo o mesmo erro. Quando eu perdi o Bruno, eu perdi toda e qualquer referência do que era bom. Eu só enxergava dor e sofrimento por detrás do véu escuro que cobria meus olhos e meu coração. Mas, graças a todas as pessoas que estavam ao meu redor, eu consegui superar também. Graças ao Thi, ele ia todos os dias em casa, era ele quem fazia eu comer. Ele trabalhava conversando comigo, por mais que eu não dissesse uma palavra sequer para ele. Ele, ao contrário da primeira vez que eu tive câncer, soube me apoiar e me entender. É, ele realmente tinha mudado e amadurecido.
Após tanto sofrimento, eu merecia ser feliz. Eu sabia disso. Eu fechei meus olhos e agradeci ao Bruno por toda a felicidade que ele tinha me dado. Por todos os momentos felizes, por todos os momentos tristes, por tudo, enfim. Agradeci e pedi permissão para fazer o que eu iria fazer, eu sabia que eu o amava e eu tenho certeza que ele sabia também. Eu fiquei alguns minutos de olhos fechados, sentindo o vento fresco que batia em meu rosto, sentindo o cheiro das flores, sentindo toda a energia daquele lugar.
Sentado ali eu tinha tomado uma decisão, uma decisão que mudaria tudo em minha vida mais uma vez. Eu levantei e fui andando pelo jardim. Eu percorri o caminho que o Thi e a Sophie tinham percorrido. Eu demorei alguns minutos para alcança-los. Quando eu os avistei, ele estava fazendo a Sophie cheirar uma florzinha. Eu fui andando até eles. Eu fiquei frente a frente com ele, não havia ninguém ali além de nós três.
- Ond... – Eu o beijei, o beijei tranquilamente, o beijei na velocidade que estava meu espirito naquele lugar
- Sim! – Eu disse quando nos separamos
- Sim?
- Unrum! – Eu sorri para ele
- Sophie, teu pai disse sim! Ele disse sim, Sophie! – Ele a beijava, a apertava e quase a joga pro alto, mas ele não era tão maluco assim.
Ele me abraçou, nos abraçou, na verdade, pois a Sophie estava entre a gente.
- Obrigado por me dar mais essa chance, obrigado! Eu vou te fazer o cara mais feliz desse mundo! – Ele me beijou novamente
- Xaaaaaiiii pa lá! – Sophie me empurrou
- O que foi, filha?
- Num pode!
- Por que não?
- Puque é o xinhô! Num pode!
- O Papa não pode beijar o Titi?
- Não!
- Mas o Papa vai beijar o Titi muitas vezes....e agora?
- Num pode!
- Tu não gostas de mim? – Ele perguntou para ela, ele tinha um sorriso que ia de orelha a orelha. Até os olhos dele estavam sorrindo
- Gosto!
- Então... eu gosto do teu Papa, eu gosto de ti. A gente pode ser uma família, sabias?
Ele queria falar que ele queria ser o Pai dela também, mas ele não ousou dizer isso. E claro, ela também não entendeu o que ele quis dizer. Eu estava me sentindo extremamente feliz, eu poderia não ama-lo como um dia já amei, mas algo dentro de mim me dizia que eu o amaria. Talvez, não como eu amei o Bruno. Quer dizer, com certeza não seria como eu amava o Bruno. Cada pessoa é especial e o amor é moldado de acordo com a pessoa. Eu amava o Bruno, mas eu também amaria o Thi. Agora, esse sentimento seria mais maduro, pois nós estávamos mais maduros. Não éramos moleques universitários que ainda não sabiam ao certo o que queriam para a vida. Nós percorremos um longo caminho, fizemos difíceis escolhas, vivenciamos momentos muito difíceis, mas tudo nos trouxe um para o outro novamente. Eu só esperava que aquele sentimento durasse de verdade...
Já que ele não podia me beijar na frente da Sophie, ele me deu um beijo no pescoço e um cheiro. Com isso, eu me arrepiei dos pés à cabeça.
- Xaiiiiiii!!! – Ela me empurrou de novo
- Mas eu não beijei teu pai, Sophie!
- Mas num pode! – Ela veio para o meu colo e grudou no meu pescoço
- Vamos passear! – Eu disse para ela
O Thi pegou na minha mão e se aproximou bastante de mim. Nós fomos andando calmamente pelo Jardim, ele era lindo demais. Nós três estávamos abobadados com a beleza daquele lugar. Depois de bastante tempo, nós saímos do jardim e fomos procurar um restaurante para almoçarmos. Nós encontramos um restaurantezinho muito aconchegante e lindo. Ele tinha cadeiras dentro e fora. Para quem ficava do lado de fora, tinha a oportunidade de estar no meio de um jardim. Para quem estava dentro do restaurante, ele tinha grandes janelões em vidro, o que permitia ter uma linda vista do jardim. Ele tinha mesinhas vermelhas pequenas e cadeiras em bege, era a coisinha mais bonitinha que eu tinha visto. Ele era simples, mas havia um toque de luxo e bom gosto, como tudo na França.
Nós nos sentamos e fizemos nossos pedidos.
- Tu falaste mesmo sim para mim?
- Falei, sim! – Eu peguei na mão dele
- Eu ainda não estou acreditando...
- Pois acredite por que é verdade...
- Antoine, eu sonhei tanto com isso... nossa...
Eu sorri para ele. Ele me olhou nos olhos e sempre que ele fazia isso, eu me perdia naqueles olhos verdes. Dizem que os olhos são a janela da alma, eu sentia isso com o Thi. Eu podia ver a alma dele pelos olhos. Eu vagava naqueles olhos, nossa conexão ainda estava lá, intacta.
- Nossos amigos irão ficar loucos... – Eu disse
- Vão mesmo! Mas todos estavam torcendo por nós, até mesmo o Dudu.
- Eles vão ficar mais surpresos ainda quando eu falar o que eu quero fazer...
- E o que é que tu queres fazer?
- Tu lembras que eu tu me falaste que se nós não ficássemos juntos, tu não voltarias para o Brasil?
- Lembro sim! – Ele se ajeitou na cadeira para ouvir atentamente o que eu estava preste a dizer
- Então... eu estava pensando em morar um tempo aqui. Eu só tenho mais alguns meses de curso, eu queria alugar uma casinha em uma cidadezinha e ficar por aqui um tempo. O que achas?
- Agora que eu consegui estar contigo, tu realmente achas que eu irei me opor? Eu vou para onde tu fores. Eu não serei louco de te perder novamente. – Ele sorriu para mim
- Então, nós só vamos contar para eles quando terminar meu curso.
- Mas, me diz uma coisa... a gente vai morar junto?
- Tu não achas que a gente pode pular a parte do namoro? A gente já fez isso, lembra?
- Tu tens certeza?
- Tenho! Tu já estás morando lá em casa, lembra? Tu achas que o Dudu te mandou pra cá sem reserva de hotel por que?
- Tenho que repensar seriamente meus conceitos sobre o Dudu...
- Ah, mas tem mesmo! Por que se vocês brigarem, eu bato nos dois, simplesmente. Ele é meu melhor amigo, tu sabes disso.
- Eu também sou!
- É! Mas tu és um pouquinho mais que melhor amigo, né? Eu não beijo o Dudu. – Eu ri
Nossos pratos chegaram e nós, como de costume, primeiro demos a comidinha da Sophie e só então almoçamos. Enquanto comíamos, nós conversávamos sobre como seriam as coisas. Minha decisão foi repentina, mas eu conhecia o Thi melhor que qualquer outra pessoa e ele também me conhecia melhor que qualquer outra pessoa. Nós conhecíamos os defeitos e as qualidades um do outro. Nós já havíamos namorado e morado juntos. Em minha cabeça, não havia nenhum motivo para nós perdermos tempo namorando, morando em casas separadas. Talvez fosse uma mudança grande para a Sophie, mas ela já estava acostumada em ter o Thi em casa. Ela só teria que se adaptar em nos ver juntos. Mas isso, nós conseguiríamos fazer. Nós só tínhamos que ter cuidado.
Nós passamos a tarde batendo perna pela cidade, a noite nós estávamos mortos de cansaço. No hotel, eu fiz a Sophie dormir, o que não demorou nada. Thi e eu resolvemos tomar umas taças de vinho e foi só depois de duas ou três garrafas que nós resolvemos dormir. Thi não demonstrou pressa para nada, pelo contrário, ele me respeitava e estava super preocupado com a Sophie. Quando eu deitei na cama, uniu o sono, o cansaço e o vinho. Eu tive uma espécie de sono instantâneo.
“Eu estava em um lugar bem diferente. Ele era todo iluminado, parecia o Jardim do Monet, mas eu sabia que não era. Eu andava alegremente por entre as flores, o sol batia em minha pele e eu sentia o aroma de rosas no ar. Eu comecei a andar, eu andava quilômetros e quilômetros, mas não sentia nada. Eu estava encantado com o lugar. A beleza anestesiava qualquer dor. Após andar bastante, eu havia chegado em uma fonte de água cristalina. Haviam flores por todo o entorno da fonte, ela era a coisa mais linda que eu já havia visto. Não parecia nem ter sido criado pelo homem, aquilo com certeza era uma beleza criada pelas mãos de Deus. Do outro lado da fonte havia alguém sentado. Ele estava todo de brando e estava de costas para mim. Eu o reconheceria em qualquer lugar de qualquer jeito. Era o Bruno. Ele virou de frente, ficamos face a face. Eu fui andando até ele, mas quanto mais eu me aproximava, mais longe ele ficava. Em um determinado momento, eu parei e ele também. Nós estávamos perto um do outro, eu só não podia me aproximar mais. Ele me olhou, ele estava do mesmo jeito. Lindo! Ele me olhou e sorriu, mas foi um sorriso tão lindo que iluminou todo o meu ser. Eu fiquei olhando para ele, eu sorri também. Ele levantou a mão esquerda e fez um sinal de adeus, e com aquele sorriso lindo no rosto ele foi embora”.