Chovia e fazia muito frio no remoto cemitério, localizado no alto de uma colina. Uma jovem esguia e graciosa, envolta numa surrada capa preta com capuz, subia o enlameado caminho com dificuldade, levando um grande buquê de rosas e gladiolos.
Aquelas flores ela colhera em seu jardim, eram as mesmas que sua mãe cultivava com tanto carinho. Naquele dia ela estaria fazendo aniversário, e Amelie por nada nesse mundo deixaria de visitar seu túmulo...
Haviam sido sempre as duas a viver naquela casinha modesta mas acolhedora, não muito longe dali. O pai de Amelie morrera antes do seu nascimento. Um mês antes sua mãe morrera de tuberculose, deixando a garota de 16 anos completamente só...
Amelie prosseguia sua caminhada, secando algumas lágrimas que teimavam em cair com a palma da mão. Ela só tinha 16 anos e diziam que era linda, mas nada a atraia mais, desde a morte de sua mãe, e ser maior desejo era ir ao encontro dela...
Porém não tinha coragem de dar fim à vida.
De fato Amelie era muito linda e não tinha consciência do poder de sua beleza.
Tinha a pele muito alva e acetinada, os cabelos castanhos e ondulados, olhos muito azuis, como se carregassem uma primavera particular... Era como uma linda rosa que mal desabrochara.
Amelie chegou afinal ao portão do cemitério, fez o sinal da cruz e entrou.
Sentiu um certo arrepio ao pensar que era a única alma viva ali... As covas rasas, marcadas por cruzes de madeira, quase desapareciam no meio das grossas hastes de capim selvagem.
Amelie chegou na cova onde jaziam seus pais e se ajoelhou, indiferente ao barro que sujava sua capa e seu negro vestido de luto. Feliz aniversário, mamãe, disse ela, depositando as flores que trouxera na sepultura.
Absorta em seus tristes pensamentos, não percebeu que estava sendo observada...
Braços fortes a ergueram como a pluma e a jogaram sobre o dorso de um fogoso cavalo negro.
Quando Amelie acordou não sabia onde estava. Perdera totalmente a noção de tempo e espaço.
A última coisa de que se lembrava era que estava no cemitério, e alguém a erguera do chão. E de que galopara velozmente, por muito tempo, no lombo de um cavalo, enquanto uma mão firme e poderosa a sustinha pela cintura.
Quando Amelie finalmente teve coragem de abrir os olhos, encarou seu raptor, um homem encapuzado...
Então perdera os sentidos.
Aos poucos os olhos de Amelie foram se adaptando à obscuridade, ela percebeu que estava sobre uma enorme cama de dossel, os braços atados para cima, presos a uma das colunas do leito...
O aposento também era enorme e escuro, aclarado aqui e ali por pesados candelabros onde ardiam velas de cera.
Lá fora gemia o vento
Que lugar é esse, pensou Amelie aterrorizada.
E desmaiou novamente..