Capítulo 3 - Primeiro olhar
-Isabella... Bom dia!
Assim que abri os olhos, avistei Rodrigo me olhando preocupado, como na maioria das vezes.
Estava irritada. Muito irritada. O sonho continuava se repetindo e cada vez com efeitos mais avassaladores sobre mim.
-Bom dia. -Respondi sem muito entuasiasmo e me sentei na cama para receber em meu colo, a bandeija com o café da manhã.
-Talvez queira tomar banho. Sua mãe esteve aqui e trouxe roupas. Estão nessa sacola.
-Tá bem. Obrigada. -Sorri fraco o analisando.
-São sete horas agora. As sete e meia, a delegada irá interrogá-la.
Eu assenti e Rodrigo levantou-se indo pra uma estreita porta na lateral da sala. Ele sacou de seu bolso uma chave e a abriu, revelando um banheiro pequeno e improvisado, sem janela.
-Você pode tomar banho aqui. Tem toalhas na sacola.
-Obrigada. -Falei enquanto terminava de comer.
-Eu virei buscá-la em... -Ele consultou o relógio no pulso. -vinte e cinco minutos. -Completou saindo.
-Estarei pronta. -Respondi largando a bandeija ao chão.
-Até depois. -Ele saiu e chaveou a sala.
-Até. -Falei indo para o banheiro e levando a sacola.
Após fechar a porta do pequeno banheiro, tirei a roupa e, só então pude perceber o quão úmida estava minha calcinha, devido ao sonho...
Fui para debaixo do chuveiro já despida e então o dito sonho invadiu meus pensamentos e, quase sem querer, minha mão suada e inquieta, foi parar em minha intimidade, mas logo um enorme arrependimento apossou-se de mim.
-Oh, meu Deus... Perdoe-me... -Balbuciei baixinho, recostando-me na parede e segurando entre as mãos, um pequeno crucifixo que carregava no pescoço.
O que veio em seguida foi um choro baixinho e sofrido, que me ocorria cada vez que eu pensava que acabaria morrendo intocada, como viera ao mundo. E o pior é que nem pra titia eu não ficaria, já que não tinha irmãos.
Tentei me recompor, lavando o rosto e terminando o banho. Me sequei, vesti e saí do banheiro para colocar os óculos e esperar Rodrigo que chegou pouco depois e abriu a cela.
Eu me levantei e fui em sua direção.
-Isabella, me desculpe, mas eu preciso algemá-la. -Disse um tanto sem jeito.
-Tudo bem... Esse é o seu trabalho... -Falei esboçando um leve sorriso.
Ele me algemou e me guiou até uma sala, onde na porta, estava escrito em letra script: "Sala da delegada Dra. Ferreira."
-Olha, seja sincera, mas não discuta com ela, nem fale mais do que ela perguntar... Ah... E evite olhar nos olhos dela. -Disse Rodrigo antes de abrir a porta, me deixando curiosa e com receio sobre ser interrogada pela tal delegada...
-Você não vai entrar comigo? -Perguntei arregalando os olhos, me sentindo, de alguma forma, desprotegida.
-Sinto muito, Isabella, mas a doutora Ferreira não iria gostar. -Disse me observando, como se partilhasse do mesmo medo que eu.
-Eu entendo... -Falei esperando que ele abrisse a porta.
-Boa sorte. -Foi a última coisa que ele pronunciou, antes de abrir a pesada porta de madeira.
Antes de sequer olhar pra dentro da sala, eu assenti, sorrindo fraco e só então, adentrei o lugar bem ventilado e ilumunado apenas pela luz solar que brilhava intensamente naquele dia. Haviam prateleiras com caixas de arquivos separados por ano e livros de direito, devidamente enfileirados em ordem alfabética.
Atrás de uma grande mesa de madeira invernizada, cheia de papéis empilhados e com um notebook aberto, encontravá-se uma poltrona, também de grande porte.
A poltrona estava virada de forma que a pessoa ficasse de costas para mim e de frente para uma grande janela de vidros cristalinos. Eu fiquei boquiaberta, parada na porta que agora se encontrava fechada atrás de mim.
-Então você é a assassina que matou a dona Norma. -Afirmou uma voz rouca e ao mesmo tempo macia que me fez querer conhecer o seu rosto. Ela parecia estar calma.
-Doutora, -sempre fora uma pessoa educada e uma situação como essa colocava em prova a boa educação que recebera de minha mãe. -Eu não sou quem vocês pensam. -Conclui esperando que ela virasse pra falar comigo.
-Eu ainda não te fiz perguntas. -Respondeu ainda mantendo o tom calmo, porém frio.
-Mas... Eu... Não fiz isso... -Disse, com algumas lágrimas se formando em meu olhar.
Derepente, sem que eu esperasse, ouvi o barulho da poltrona virar bruscamente e de lá surgiu uma mulher alta e elegante, com um porte atlético. Era loura natural, os cabelos curtos, vestia um traje social e no rosto trazia um óculos escuros que se adequava a seu rosto.
Eu fiquei tão boquiaberta a olhando, que só saí de meus devaneios quando ela se exaltou, batendo sobre a mesa e pegando algo de sobre ela.
-Você não fez isso? -Falou me mostrando a foto de uma senhora idosa morta, cheia de facadas no abdomên. -Qual é? Quantas vezes você acha que eu escuto isso todos os dias? -Instantaneamente meus olhos arregalaram. Como alguém poderia ser tão cruel?
Senti um arrepio na espinha, assim que ela fez a volta em torno da mesa com a foto na mão e cheia de raiva, veio em minha direção.
-Fala a verdade! Você fez ou não fez isso? -Disse chegando cada vez mais próxima.
-Não... -Sussurrei baixinho com receio e pude ver uma mudança em sua expressão, assim que ela se aproximou a alguns poucos centímetros de mim.
-Esses olhos... -Foi a vez dela sussurrar. Algo havia mexido com ela.
Continua...
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