Esse ultimo mês que passei ausente, quero dizer que foram por problemas de saúde, nada de muito grave, mas que me tiraram bastante disposição de fazer, pensar e escrever por vários dias. Como se passaram tantos dias, não sei se vão ter interesse em continuar lendo e tal, mas mesmo assim irei até o fim, o próximo provavelmente será o ultimo capitulo. Quero agradecer a todos que comentaram e votaram no capítulo anterior, em especial aqueles que sentiram a minha ausência e vieram pedir por minha volta – netruso: não tem pelo que se desculpar cara, eu que tenho – isso me ajudou bastante a ter motivação para continuar mesmo tendo se passado tantos dias. Enfim, boa leitura, espero que curtam.
LOUCO AMOR TP2 CP15 – As coisas estão estranhas.
Se eu soubesse de antemão que o que eu falaria a seguir me faria tão mal e me faria caí em um choro tão vergonhoso na frente de meu filho, teria mantido minha boca fechada.
_ Ele não me ama mais filho, o que ele teve não foi apenas um casinho, ele realmente decidiu ficar com ela.
_ Calma. – ele disse ao me abraçar. Ele estava ajoelhado na minha frente (em cima da cama) e eu sentado, com as mãos no rosto já soluçando sem conseguir parar de chorar. – Eu vou consertar isso, pai. De alguma forma eu vou, te prometo.
_ Desculpa, desculpa por esse drama todo. – disse tentando me controlar.
_ Tudo bem. – ele disse me soltando.
Enxugando as lágrimas, me deitei na cama de barriga pra cima, fechei um pouco os olhos e fiquei em silencio por alguns segundos.
_ Vou te matricular na escola do bairro, gostaria que ficasse aqui comigo.
_ Eu irei ficar.
Sorri.
_ Fico feliz. E ah. – disse levantando o dedo. – será um mês de casa pra escola e da escola pra casa e sem vídeo game.
_ Uma semana. – contrapões.
_ Três.
_ Duas e não se fala mais nisso.
_ Só por que estou (bocejo) de bom humor. Nossa que sono. – disse me virando para o lado. – Filho, quero que tente ser legal com sua avô biológica, ela é diferente do marido.
Foi estranho, pois estava muito cansado, dormi tão rápido que nem ouvi sua resposta ou não me lembro, mas foi algo tipo “tudo bem”, não tenho certeza.
Quando acordei já era de tarde, me senti renovado depois de duas noites sem dormir direito, a sensação que eu tive foi de que parte do peso em minhas costas houvera diminuído bastante, mas infelizmente não desaparecido totalmente e algo me dizia que permaneceria assim por um bom tempo. Me levantei e fui até a cozinha onde fiquei sabendo por minha mãe que Vinicius estava no quarto conversando com Aquiles. Ela preparava um lanche para ambos.
_ Eles estão numa boa né? – perguntei receoso.
_ Como se nada tivesse acontecido.
_ Ah, deixa que eu levo. – disse me colocando em sua frente e pegando a bandeja delicadamente de sua mão.
_ Tá ok. – ela disse sorrindo.
Nada melhor do que aquela desculpa para eu poder interromper a conversa dos dois sem parecer inconveniente, estava curioso para ver como estavam lidando depois do atrito pelo qual passaram, estava com saudades de Vini e queria muito passar o máximo de tempo com meu filho que agora me aceitava, não iria aguentar ficar esperando nem mais um minuto eles descerem. A porta estava entreaberta e do ângulo que eles estavam deu para ver perfeitamente que se abraçavam, era um momento muito lindo e eu não queria estragar, mas os olhos de Vini sobre os óculos se abriram e me viram ali os olhando, ele se afastou rapidamente envergonhado e não demorou muito para que Aquiles também me visse.
_ Ah... Desculpa gente, não quis... ah... – Tamanho era o meu constrangimento. Quase deixei a bandeja cair.
_ Tudo bem pai. – ele disse vindo abrir a porta. – entra aí.
_ É tio, tudo bem. – Vini reforçou.
_ Com licença então. – disse rindo sem graça enquanto entrava e colocava a bandeja sobre a cama.
“Será que vini e se declarou e agora estão juntos? Mas Aquiles não é gay, que loucura! Que bela hora para eu resolver atrapalhar!” – pensei ainda constrangido e já pronto para arrumar uma desculpa para sair o mais rápido dali.
_ Como o senhor está? – disse Vini vindo me abraçar.
_ Oi querido, já estava com saudades. Estou bem melhor do que antes. – disse olhando para Aquiles que sorriu e baixou um pouco a cabeça. – Obrigado por perguntar. Trouxe um lanche pra vocês e vim saber também como estão se comportando.
_ Estava com fome mesmo, valeu pai. – Aquiles disse se sentando na cama e pegando um cookie.
_ Já acostumado? – Vini perguntou se referindo ao foto de Aquiles agora me chamar de pai, depois de anos. Olhei para ele que bebia suco e nos observava e sorrindo respondi:
_ Mais ou menos.
Era sempre uma festa interna a cada vez que “pai” saia de sua boca direcionada a mim.
_ Quando me disse que ele havia mudado, não pensei que seria algo tão água para o vinho.
_ Ainda estou aqui. – ele disse de boca cheia.
_ Preciso-lhe contar algo. – Vini disse baixo e sorrindo próximo a mim.
Não sei por que, mas o primeiro pensamento que me ocorreu foi que ele trazia boas notícias sobre Caio.
_ Filho, já voltamos.
_ Ok.
Saímos do quarto e já no corredor próximo a porta sobre forte expectativa minha ele começou a falar:
_ Eu me declarei pra ele.
O sorriso que estava no meu rosto e que eu mal percebera que sustentava não chegou a desmanchar, mas perdeu bastante consistência por tamanha decepção, culpa de expectativas criadas por mim, mas de uma forma inexplicável eu também consegui ficar feliz por ele, apesar de não ter transparecido como eu queria.
_ O que foi?
_ Não é nada, desculpa, é que... Deixa pra lá. – estava começando a me odiar por tomar o foco dele.
_ Você pensou que eu tinha alguma noticia boa sobre o tio Caio não foi?
_ É. – disse baixo. – Vini... Você já a viu?
_ Quem?
Torci para que ele tivesse entendido.
Suspirei e então complementei minhas palavras para que ele me entendesse melhor.
_ A mulher por quem ele largou tudo.
_ Não, ele ainda não a levou até a fazenda e não acho que vai.
Era a primeira vez que pensava nesse ser como uma pessoa real. As indagações em minha mente e autodepreciação a parti daí surgiram quase que instantaneamente, talvez tenha sido nesse momento que eu entrei em um caminho quase que sem volta.
Será que ela era melhor que eu?
Mas em quê?
Na cama?
Na atenção dada a ele?
Na forma de dá carinho?
Será que ela o amou mais do que eu?
Eu nunca me achei bonito, gostoso, uma pessoa interessante o suficiente pra ele de uma forma em geral, descontentamento esse que vez outra ele afastava de minha mente com palavras e bonitos gestos de carinho que agora dadas a circunstâncias eu colocava em xeque. Não a queria ver para poder ter respostas positivas a minhas indagações, no momento era melhor o beneficio da dúvida.
_ Tio.
_ Oi. – disse me despertando de um longo devaneio.
_ O senhor ouviu o que eu disse?
_ Hã... Ah... – coçando a cabeça resmunguei tentando lembrar. – Desculpa.
_ Eu disse que não, ele ainda não a levou até a fazenda e não acho que vai.
_ Porque acha isso?
_ Tio Caique já deixou claro que não há quê lá.
_ Caique... – disse sorrindo ao falar seu nome. Apesar de não sermos tão ligados como antigamente, era bom saber que ainda podia contar com ele.
_ Ele está do seu lado tio, assim como todos que te amam, e não é pouca gente, não se esqueça disso.
Sorri.
_ Valeu.
Não queria apenas lembrar daquilo, queria tomar como verdade absoluta e assim preencher o vazio que tanto me incomodava.
_ Agora me diz aí, que coragem foi essa de se declarar.
Ele sorriu e me contou tudo com extrema alegria. E apesar de está com tantas coisas na cabeça, prestei atenção até o final, ou melhor, até sermos pegos de surpresa por uma barulheira que começou de repente e parecia vir lá de baixo, parecia muito uma discursão, pelo tom de voz, meu pai estava muito alterado e vociferava bastante com alguém que não se atrevia a falar tão alto assim.
_ Filho. – chamou minha mãe aparecendo no corredor, ela estava com um semblante tenso e ofegava um pouco. – Tem uma pessoa lá em baixo, acho melhor você descer rápido.
Minha boca secou quase que instantaneamente, meu coração acelerou e por alguns segundos quase não conseguir respirar. Era ele, tinha que ser, minha mãe não estaria com aquele semblante se não fosse ele. O que ele queria? O que falaria? E o mais importante, o que EU falaria?
_ O que está acontecendo? – Aquiles perguntou ao sair do quarto enquanto vini, minha mãe e eu disparamos escadaria a baixo até termos um ângulo melhor para ver o que se passava.
_ Você é um safado, fez meu filho de idiota só pra arruinar o casamento dele! Você não é bem vindo aqui!
Suspirei de frustação ao ter uma segunda decepção naquele dia, novamente fui traído por criar expectativa demais, mas por outro lado fiquei surpreso por ver ele ali.
Minha mãe já se encontrava próxima ao meu pai tentando-o acalmar para evitar coisas piores.
_ Lucas. Quero conversar contigo, te perdi desculpas pelo que fiz. – Disse Marcelo parecendo desesperado, ele tentava se aproximar de mim, mas meu pai obstruía a passagem.
Ele era professor de matemática para quem não lembra.
_ Eu já falei que ele não tem nada pra falar com você!
Eu estava ainda meio que em efeito da decepção e da surpresa, estava um pouco desorientado, não sabia o que falar, não sabia o que sentir referente aquilo que aconteceu, não nós falamos desde então, desde então também não tive tempo para pensar a respeito do que seria nossa relação futuramente, tanto pessoal como profissional, já que ele trabalhava para mim, na verdade ele havia se tornado um fantasma, nossa amizade parecia ter acontecido em uma vida distante, teria sido a dor de uma traição maior que havia me tirado o foco dele? Ou nossa amizade não era tão grande como imaginei que seria?
_ Ele não precisa falar, só escutar. – ele retrucou. – Por favor, Lucas.
Dias haviam se passado sem que ele me procurasse, porque isso agora?
Tanto Aquiles, como vini, alternavam o olhar entre mim e ele na expectativa que eu tomasse uma iniciativa.
_ Pai, por favor. – disse fazendo-o olhar pra mim. – precisamos resolver isso como adultos, não há nada de mal nisso, eu vou ficar bem, te prometo.
_ Mas... Ele... Ah, faça o que quiser, mas bem longe daqui, não o quero contaminando o meu ar.
Ele se retirou da sala resmungando enquanto minha mãe o acompanhava ainda tentando acalmar a fera. Olhei para Marcelo e encontrei o seu olhar em mim e me dei conta de que assim como Caio, ele jogou anos de amizade no lixo, a raiva me abateu, mas consegui controla-la, pelo menos até ouvir o que ele tem a dizer. Passei por ele sem dizer nada e saí, ele veio logo atrás e permaneceu assim quando paramos, o dia estava lindo, o sol estava quase se pondo, uma brisa soprava e agradava o local.
_ Eu sinto muito. – ele disse quando não mais pensei que ele fosse tomar a iniciativa. Era o que eu estava esperando para finalmente o olhar de frente.
Apesar de ter se passado poucos dias desde o ocorrido, ele parecia está mais forte – pensei que não fosse possível, mas... – sua cabeça que antes era raspada começava a nascer alguns fios, seus olhos negros me fitavam.
_ É só isso que tem pra dizer?
Ele me olhou por alguns segundos e então baixou o olhar.
_ Minha mãe está muito doente, nenhum médico sabe explicar o que ela tem, está internada em um hospital particular em São Paulo, que por sinal é muito caro, mas é o único que apesar de não saberem de que doença se trata, conseguem oferecer conforto a ela quando a crise a abate.
_ O que ela sente? – perguntei comovido com a história. Uma vez, tive o prazer de conhecer a mãe dele, era uma pessoa espetacular, sem preconceitos e sem julgamentos.
_ Dores no corpo, não tem lugar especifico, as vezes é no braço, perna, mão, ou até mesmo no corpo todo, ela se contorce toda, grita e grui de dor. É horrível. – ele fechou os olhos como se tivesse vivenciando aquela cena.
Eu não sabia o que aquela história tinha a ver com o assunto que ele disse vim tratar comigo, mas não queria ser insensível ao ponto de perguntar.
_ Onde eu quero chegar com essa história é que a oportunidade de ganhar mais dinheiro e com isso ajudar a minha mãe apareceu com o seu filho quando me propôs que lhe seduzisse.
_ Oportunidade? – com a mesma rapidez com que a raiva que sentia havia desaparecido com a história de sua mãe, ela reapareceu com aquela desculpa que a meu ver era incabível. – Você chama isso de oportunidade? Porque você não me falou sobre isso antes? Por que não veio a mim? Você sabe que eu tenho um carinho imenso por sua mãe, não pouparia esforços para lhe ajudar e ajudar ela. Jamais!
_ Eu não queria abusar de sua boa vontade, a quantia era muito grande. As vezes exigia que eu depositasse na conta do hospital toda semana.
_ Marcelo isso não é desculpa para você preferir interferir em minha vida, planos de saúde existem para isso, para não se gatar tanto. – a exaltação em minha voz só aumentava a cada palavra. – Eu não lhe negaria, estava com...
_ Eu te amo caralho! – ele gritou me fazendo calar – eu não tinha coragem de chegar em você se não fosse seu filho, eu não sei, mas levar todo aquele jogo de paquera como se fosse apenas um trabalho, isso me deu coragem de te olhar como eu te olhava, te tocar como eu te tocava, mas você era muito ingênuo para perceber a maldade por trás das minhas intenções, sabia que você amava o seu marido e que nunca o trairia, e ao mesmo tempo que essas qualidades faziam com que meus sentimentos crescesse por você, eles me sufocavam por saber que eu provavelmente nunca teria uma chance.
Nunca me passou pela cabeça que ele nutria tal sentimento por mim, eu nunca percebi nada nas suas intenções, apesar de quase todos a minha volta perceberem, será que eu com trinta e poucos anos, ainda sou tão ingênuo? Estaria ele falando a verdade?
Eu estava no mínimo chocado. Até um dia antes de Caio dizer que me amava, eu nunca pensei que alguém pudesse algum dia me dizerem tais palavras, e hoje já coleciono três “eu te amo” de pessoas totalmente diferentes.
_ Como você pode pensa nisso em um momento em que sua mãe mais precisa de você?
Ele baixou a cabeça nesse momento.
_ Eu fiz muitas coisas das quais me odeio. – voltando a me olhar. Com os olhos molhados, continuou. – Enfim, não quero prolongar mais isso do que já prolonguei, eu só quero te pedir perdão por tudo que te fiz passar.
_ Ok. – disse já dando as costas pra ele.
_ Lucas.
_ Fala. – disse de forma seca, mas sem olha-lo.
_ Eu preciso do meu emprego de volta para continuar ajudando minha mãe.
_ Não me lembro de ter lhe demitido. – disse voltando a encara-lo. – apesar de ter merecido.
_ Mas Caio fez. Pensei que soubesse.
_ Não, eu não sabia. Ele não tinha o direito. Eu vou falar com Lucy (coordenadora), mas já tá garantido, volte as suas obrigações amanhã.
_ Muito obrigado... Será que um dia poderemos voltar ao menos a ser amigos?
_ Não dava pra voltar a ser o que nunca fomos.
_ Não é verdade. Eu nunca fingi ser seu amigo.
_ Difícil de acreditar em uma pessoa que trama contra mim, contra a minha felicidade. O que você acha que iria acontecer se seu plano tivesse dado certo?
_ Não era meu plano e você sabe muito bem disso. – disse de maneira firme.
_ Como quase todos adolescentes, ele teve sua fase de rebeldia, ele é meu filho, não tem como virar as costas para tal parentesco. Isso não justifica a sua participação nessa história.
_ Eu ainda vou conseguir te conquistar.
Balancei a cabeça em desaprovação e o deixei sozinho. Com o coração pesado e a mente cheia de bobagens, ignorei todos os olhares curiosos presente na sala e subi para o meu quarto torcendo para que ninguém viesse atrás de mim, eu só queria ficar sozinho.
_ Pai. – Aquiles me chamou quando eu pegava na maçaneta da porta. – O que ele queria?
_ Só pedi desculpas. – disse abrindo a porta e me aprontando pra entrar, mas ele foi rápido e me impediu ao segurar em meu braço.
_ O senhor está bem? – ele perguntou exalando preocupação.
_ Estou sim. – disse tentando parecer o mais convincente possível. – Eu só quero ficar sozinho um pouco, eu já desço.
_ Tá... Tá ok, qualquer coisa é só me chamar tá.
_ Tá meu anjo. – disse beijando sua testa, ao mesmo tempo em que tentava segurar a avalanche.
_ Qualquer coisa mesmo. – insistiu.
_ Eu sei. – disse lhe passando um sorriso afetado antes de entrar.
Mal fechei a porta e já tive que levar a mão a boca para abafar qualquer ruído que meu choro pudesse produzir. Pensei que fosse me sentir melhor com o pedido de desculpas de Marcelo, mas ele acabou sem querer abrir ainda mais uma ferida em meu peito, ele me fez lembrar de Caio, do dia que ele passou por cima de todo preconceito que tinha e disse pela primeira vez que me amava. Tudo agora não passavam de lembranças que me assombraria talvez pelo resto de minha vida. As fotos em meu celular eu juro que tentei apagar, mas em nada ajudou eu as ter colocado para sempre serem reproduzidas ao som de Boice Avenue – A Thousand Yars, a mesma que tocou no dia em que ele me pediu em casamento. A cada foto reproduzida, uma parte diferente de nossos quase dezessete anos juntos que eu ainda negava ter acabado, a saudade misturada com a dor da incerteza era tão grande que eu já me perguntava como iria me acostumar com ideia de que eu já não o tinha mais.
Narrado por Aquiles:
Era tudo culpa minha! Estraguei a sua vida, destruí tudo o que ele mais amava e agora ele chorava baixinho do outro lado da porta para que ninguém pudesse ouvir. Eu tinha que consertar aquilo, custe o que custasse.
Com um peso enorme nas costas eu me afastei um pouco e digitei o número de meu pai.
_ Filho?
_ Precisamos conversar!
_ O que foi? Aconteceu algo com o Lucas? Fala Aquiles!
Ele parecia desesperado só pela suposição que ele havia criado, como é que ele ainda não o amava? Há algo de muito errado nisso e eu vou descobrir o que é.
_ Está tudo bem, quer dizer, mais ou menos, eu preciso falar com o senhor, mas tem que ser pessoalmente.
_ Tá, eu estava planejando esse fim de semana a gente saí pra pescar, como nos velhos tempos, lembra?
Odiava pescar, mas se esse fosse o único jeito, eu teria que ir.
_ Eu quero o senhor amanhã aqui, não posso esperar até o fim de semana.
_ Mas...
_ Amanhã!
Desliguei.
No jantar daquela noite, ele revirava a comida por vários segundos antes de pô pequenas porções na boca e mastigar por infinitos minutos, eu e vini – que iria passar aquela noite conosco – observávamos e nós entreolhávamos enquanto minha avó conversava com meu avô algum assunto que eu não estava prestando atenção.
Por debaixo da mesa, vini me cutucou e passou seu celular pra mim.
_ Precisamos fazer algo. – escreveu no bloco de notas.
_ Vou ter uma conversa com meu pai (Caio) amanhã e saber o que realmente está acontecendo. – escrevi.
_ Acha uma boa ideia eles dois se encontrarem?
_ Não acho que vão.
Nós entreolharmos quando ele leu a mensagem, nem a minha cara e nem a dele eram das melhores, estávamos receosos e preocupados.
_ Amanhã mesmo irei te matricular lá na escola. – ele disse, rompendo o seu silêncio pela primeira vez. – é a mesma na qual estudei toda minha vida. – ele sorriu, talvez ao lembra do seu tempo de escola ou do meu pai, já que se conheceram lá. Seu sorriso foi breve. – Tenho certeza que irá gostar de lá.
Bem que tentamos melhorar seu humor depois do jantar com conversas paralelas e com alguns joguinhos de vídeo game e tabuleiros, mas ele estava muito fora do clima e de si, nós deixou cedo e foi dormi alegando está cansando, naquela madrugada não consegui dormir muito bem, estava ansioso demais para que o dia começasse e eu pudesse fazer algo de útil, as nove em ponto me acordei e desci guiado pelo cheirinho de café da manhã, minha avó preparava tudo com muito carinho, tinha mãos de anjo.
_ Bom dia vó. – disse lhe dando um beijo na bochecha enquanto ela lavava alguns copos.
_ Bom dia meu anjo. Cadê o vini?
_ Dormindo. – disse já me sentado e me servindo.
_ Acorda-o pra mim. Diz que o café já está pronto.
_ Antes eu queria conversar com a senhora.
_ Fale. – ela disse se virando pra mim enquanto enxugava aos mãos em uma toalha de mão.
_ Irei sair com meu pai hoje e exigir que ele conserte tudo que fez.
_ Consertar significa que ele volte para meu filho?
_ A senhora não entende, ele ainda ama o meu pai, o Lucas, quero dizer, meu pai Caio ainda ama o meu pai Lucas. – disse me enrolando todo.
_ Que amor é esse?
_ Eu não sei, mas há algo de muito errado por de trás disso que ele não quer que a gente saiba, e eu vou descobrir.
_ Queria poder acreditar nisso. – ela disse se sentando. – Caio é a vida do meu filho, hoje de madrugada quando desci para beber água peguei-o aqui com um livro de receitas nas mãos fazendo uma tremenda bagunça, estava atônito igual aquelas pessoas que não podem ingerir açúcar e acabam por ingerir, fiquei assustada e quando o confrontei ele desmoronou em meus braços, disse que estava sem dormir e que precisava de algo para ocupar a mente, pois enlouqueceria se não parasse de pensar no que aconteceu. – ela fechou os olhos com força por um breve momento como se quisesse que as lembranças sumissem. – foi horrível vê-lo tão descontrolado.
Engoli em seco aquele relato, o peso na minha consciência só fazia crescer e se tornar ainda mais pesado e insuportável, mas em contrapartida a vontade de uni-los novamente só fez triplicar.
_ E cadê ele?
_ Está no quarto, conseguiu dormir graças a Deus. Espero que ele acorde melhor.
_ Cuida dele por mim enquanto estiver fora.
_ Não precisa pedi filho. – ela disse acariciando o meu rosto. – Estou muito feliz com sua mudança em relação ao meu filho, ela irá precisar muito de você nesse momento.
Sorri.
Lá fora uma buzina chamou nossa atenção, minha avó iria se levantando para ver quem era, mas fiz sinal para que se sentasse e deixasse eu ir.
_ Deve ser ele. Cadê o vô? – perguntei me levantando enquanto ela voltava a se sentar.
_ Saiu.
_ Não seria boa ideia eles dois se encontrarem.
_ Já é o Caio que está lá fora? – ela perguntou voltando a se levantar.
_ Acho que sim. -
Quando cheguei lá fora avistei seu carro estacionado, ele abriu a porta e saiu, parou em frente ao portão que eu logo tratei de abrir. O dia estava frio e ele usava um casaco cor de pele com uma camiseta branca por baixo, além de calça jeans, sapato cano alto de couro e uma touca na cabeça que, aliás, era minha, era assim, parecia que o tempo não havia passado para ele, tinha uma alma de um adolescente.
_ Aqui estou eu. Como pediu.
_ De homem do campo o senhor não tem é nada em. – disse fazendo alusão a seu look.
_ Sou caipira não moleque. – disse bagunçando meu cabelo.
_ Estava com saudades do senhor.
_ Eu também. – ele disse me puxando para um abraço.
_ Com licença. – um cara falou se aproximando de nós, ele trazia um buquê de flores. – O senhor Lucas está? Entrega pra ele. – disse por fim lendo o nome no bilhete.
Eu ainda surpreso pelo fato de meu pai está recebendo flores iria falar algo, mas meu pai (Caio) acabou tomando a frente com a cara fechada.
_ Sou eu.
O olhei com cara de quem não entendia nada e ele apenas ignorou.
_ Ah, assina aqui, por favor. – o cara disse lhe entregando uma prancheta e uma caneta. Ele pareceu hesitar ao assinar o nome de Lucas, era como se aquilo trouxesse lembranças e dores para ele.
_ Obrigado. – o cara disse antes de se afastar com a prancheta em mãos.
_ Porque se passou pelo Lucas?
Ele nada disse, estava muito ocupado lendo o cartão que não o pertencia.
_ O que diabos Marcelo quer com o Lucas? Porque mandaria flores?
_ Ele esteve aqui ontem, queria pedir desculpas pelo que fez. É dele as flores?
_ Cretino. – resmungou com raiva antes de simplesmente ir até a lata de lixo e jogar as flores.
Fiquei abismado com tamanha atitude para alguém que havia deixado tudo por outra pessoa, qual era a lógica nisso tudo? A não se que...
_ O senhor está com ciúmes. – disse abrindo um sorriso. – e isso significa que vai reatar?
Ele baixou a cabeça e a balançou espantando o meu sorriso.
_ Eu só não o quero com alguém como o Marcelo, ele merece coisa melhor.
_ Como mereceu durante dezessete anos?
Ele me encarou por alguns segundos sem saber o que falar antes de mudar de assunto.
_ Já está pronto para irmos? Provavelmente passará essa noite comigo.
_ Vou pegar umas roupas e me despedir. Aconselho que fique dentro do carro. Meus avós querem fazer sopa de você.
Quando cheguei em meu quarto, vini estava sentado na cama, parecia ter acordado naquele estante, me olhou com o rosto todo amassado, com os olhos ainda semicerrados e o cabelo todo bagunçado.
_ Que horas são?
_ Quase dez. – disse enquanto pegava minha mochila e colocava um par de roupa qualquer lá dentro.
_ Ele já chegou?
_ Sim, talvez eu só volte amanhã. Vai ficar aqui né?
_ Tenho faculdade cara. – ele disse enquanto esfregava as têmporas.
_ Então flw. – disse batendo em sua mão naqueles típicos comprimentos de adolescentes. – A gente se vê.
_ Tá certo.
_ Agora vou lá. Tenho algo a concertar.
Coloquei a mochila nas costas e com um ultimo tapinha em seu ombro me encaminhei pra saída.
_ Irmão. – ele chamou.
_ Oi? – disse me virando.
_ Obrigado por me compreender.
Sorri.
_ Sem problemas.
Achei melhor não me despedir do Lucas, ele poderia querer me impedir ou ficar chateado, ou os dois juntos, mas quando ia passando em frente ao seu quarto ele abriu a porta de repente me fazendo quase ter um treco, pareceu surpreso por me ver ali, me olhou de cima baixo antes de falar algo.
_ Aquele carro lá em baixo é de quem eu estou pensando de quem é?
Eu suspirei impaciente e decidi abri logo o jogo.
_ Sim, é ele.
Ele cruzou os braços e com o olhar um pouco para baixo falou:
_ O que ele quer?
_ Ele veio me buscar pra gente sair.
_ Quê? Mas... Ainda estamos na quarta-feira, toda visita é na sexta.
_ Eu não poderia esperar até sexta!
_ Porque não?
_ Porque não quero que o senhor sofra até lá, quero consertar o que eu fiz logo de uma vez.
_ Aquiles... – ele disse balançando de leve a cabeça.
_ Não me diga que não é culpa minha, porque eu sei que é, eu desgastei o casamento de vocês dois. Foi por minha causa.
Ele segurou nas laterais do meu rosto e me fez olhar em seus olhos.
_ Ninguém o obrigou a cair nós braços de outra filho, se ele realmente me amasse, você não teria conseguido desgastar os sentimentos dele por mim, todo mundo tem escolhas ele fez a dele. Você não vai por causa disso.
_ Ah algo de muito errado nisso pai, ele agora a pouco jogou um buquê de flores no lixo que Marcelo tinha te mandado e ontem a noite quando liguei para ele dizendo que precisávamos conversar, a primeira coisa que ele falou foi em seu nome num tom muito grande de preocupação. Ele ainda te ama, dá pra ver isso! Há algo de muito errado nessa traição e eu quero descobrir o que é. E tenho certeza que o senhor também. – ele tirou as mãos de meu rosto e me olhou triste por um segundo, depois um pouco para baixo como se pensasse no assunto. – Por favor, pai.
_ Quando você vai voltar?
_ Amanhã mesmo.
_ Tudo bem, mas vai ter que me prometer que não vai se sentir culpado caso não haja nada de errado.
_ Só se me prometer que vai dá a volta por cima caso não houver nada de errado.
Ele levantou o dedo medinho e eu fiz o mesmo em seguida.
_ Prometo. – dissemos juntos ao entrelaça-los.
Narrado por Lucas:
Ele beijou minha mão e assim que se foi, me perguntei se foi uma boa ideia o ter deixado ir, sabe, com aquele proposito, não quero faze-lo se sentir mal por isso, pois já basta eu, não quero que ele se sinta em divida comigo.
Quando entrei em meu quarto, fui direto a janela onde voltei a contempla-lo, mas não por muito tempo, pois ele acabou olhando diretamente para onde eu estava como se soubesse que alguém o observava, por um segundo antes de me afastar da janela pude ver seu olhos novamente no meu fazendo com que todo meu corpo se arrepiasse, eu queria muito ir lá falar com ele para pelos menos ouvir aquela voz grave novamente e com sorte, poder vê-lo sorrir. Já havia me detido quando chegara na maçaneta e quando me esbarrei com meu filho no corredor, não iria acontecer uma terceira vez. Eu tenho que ser forte, eu deveria odiá-lo pelo que está me fazendo passa e não ficar correndo atrás dele, ele não pode achar que poder fazer o que quiser e ainda assim me ter na palma da mão. Ao voltar a olhar pela janela, ele já saia com o carro. Lembrei-me que Aquiles havia me falado alguma coisa sobre Marcelo, flores e lixo e fiquei curioso a respeito disso, então fui até lá embaixo e tirei a tampa da lata de lixo, lá dentro estavam elas, um pouco amassadas, mas ainda sim belas, a retirei de lá torcendo para que o cartão estivesse junto, e para minha sorte, estava.
“Ainda não voltei para casa, minha mãe piorou, estou na cidade, na casa de meu pai, se recebeu esse cartão a tempo, irei visita-la hoje por volta das três da tarde, se quiser ir também, será bem vindo, ela iria ficar feliz em te ver.”
Mais abaixo ele tinha deixado o endereço da casa de seu pai, além de algo ousado que me deixou meio tonto.
“P.S: Eu te amo”
Continua...