A Vida é pra ser Vivida #13
NEM SEMPRE TUDO ACABA BEM
Ah a vida... Ela nos prega peças que nem sempre estamos prontos pra viver. Mas é assim mesmo. Quem não está pronto pra viver apenas exista, é mais fácil. Nesse momento estou em Barbalha, muita coisa aconteceu. Depois que me despedi de Fernando no aeroporto, conversei com a minha tia e com minha mãe que viria passar o período natalino e do Ano Novo no interior. Fui decidido a revelar tudo sobre a minha vida. Tudo.
ALGUNS DIAS ANTES...
Depois que me despedi de Fernando, que iria para Los Angeles estudar, o mundo caiu em minhas costas. E era pesado. Nem sempre conseguimos o que queremos. Eu queria conhecer Fer melhor, queria ter passado mais tempo com ele, conversado, rir ao seu lado. Infelizmente esse meu “amor” foi de apenas um final de semana.
Vocês podem estar se perguntando ou mesmo afirmando “Antonio se apaixona muito rápido, poxa, vai sofrer demais”. Bom, ou eu sou emotivo demais ou alguns não tem sentimentos. Até a minha primeira vez, nunca tinha tido nenhuma relação sexual, nenhuma mesma, nem tipo boquete num colega (na brotheragem kkkk), ou coisa do tipo. Foi minha primeira vez em tudo mesmo, quer dizer, eu já havia ficado com um cara que nem deve ser mencionado novamente. Eu gostei de cara de Fernando por ele ser exatamente como eu queria ser: extrovertido, simpático, de bem comigo mesmo. Nunca pude ser isso. Acho que sempre fui fechado emocionalmente e socialmente.
Bom, resumindo, Fernando era aquilo que eu queria ser e que nunca tive a oportunidade de poder ser. Não diria que ele vai ser o meu amor por toda eternidade e nem sei se poderíamos dizer que o “Eu te amo” um para o outro, mas nós dois achamos que isso era preciso ser dito. E fizemos e eu não me arrependo de ter falado isso pra ele. Eu realmente o amava.
Passou-se um dia depois que Fernando foi embora e eu ainda sentia um vazio dentro de mim. Acho que isso é solidão. JP me convidou para dar um rolê com ele, Amanda e o irmão dela, o João Felipe, mas tudo que menos queria naquele momento era reencontrar aqueles dois. Seria muita cara de pau minha sair com eles novamente. Decidi ficar em casa mesmo.
Acho que ouvi todas as músicas mais tristes do mundo: The Scientist (Coldplay), Therapy (All Time Low), Exagerado (Cazuza), Astronault (Simple Plan), Dear Agony (Breaking Benjamin), Without You (Ashes Remain), I Lived (OneRepublic), Radiohead (Creep), My Immortal (Evanescence), Last Kiss (Pearl Jam), Dear God e So far Away (Avengend Sevenfold), Curses (Bullet For My Valentine), The Kill (30 Seconds to Mars), Sua Água (Elefante Branco), Direção Contrária (Âncora), Fim de Fevereiro (The Jalmas)… Bom, deixei essas indicações pra quem estiver no fundo do poço e quer ouvir umas músicas que te deixam na pior. Sei lá, quando estou triste ouço músicas tristes pra fuder tudo logo. Hahahaha.
Depois de passar quase uma hora deitado em minha cama ouvindo músicas e alternando entre o notebook e o meu jantar. Fui jogar um pouco de futebol com o Miguel, futebol. Nem preciso dizer que apanhei bastante. Fiquei nisso até minha tia voltar do trabalho.
Quando ela chegou lá para as 21hrs esperei ela tomar banho e ir pra sala pra conversar com ela.
Antonio: Tia Ana, podemos conversar?
Ana: Estava mesmo querendo conversar contigo também! Há algumas coisas que quero te perguntar, mas fala você primeiro. – falava enquanto fazia sinais pro Miguel sair da sala.
Antonio: Bom, algumas coisas aconteceram... Tipo, minha vida mudou de uma hora pra outra, tudo mudou bastante... E eu decidi voltar pro interior até que as aulas comecem realmente, em março do ano que vem.
Tia Ana: Ok, eu entendo que você esteja sentindo muita falta de minha Irmã, de seus amigos. Mas não entendi uma coisa: o que mudou na sua vida pra você querer passar quase três meses no interior? – falou intrigada!
Não queria mentir mais sobre minha sexualidade e com medo, decidi contar a verdade de uma vez:
Antonio: Eu sou homossexual tia Ana. Foi isso que mudou. – falava olhando dentro de seus olhos.
Logo ela se levantou e começou a andar de um lado pro outro. Parecia irritada com algo. Eu não entendi nada. Até que ela começou a falar novamente:
Tia Ana: Agora tudo se encaixa. – eu não estava entendendo nada. – Agora entendi tudo Antonio. Você está tendo relações sexuais com o JP? É isso Antonio?
Estava petrificado com aquela indagação?
Antonio: O que? Claro que não. O que você está pensando de mim tia? – falei irritado!
Tia Ana: Já faz algum tempo que presto atenção em vocês dois. Olhares, sorrisos por pouca coisa. Até que, bisbilhotando o celular do João Pedro encontrei o que procurava: uma foto sua de cueca, excitado, na cama. Era isso que você fazia com JP enquanto eu não estava em casa, Antonio? Na presença do Miguel ainda por cima? – falava irritada!
Antonio: Não fale do que não sabe tia. Eu nunca tive absolutamente nada com o JP. Nada. Nada mesmo. Nada. Nadinha. – falava pausadamente, mas ela nem queria saber.
Tia Ana: Acha que vou acreditar nisso? Tu quebrou minha confiança Antonio, no momento em que você transou com meu filho aqui em casa. Meu filho. Meu pobre filho acabou sendo influenciado porviado que saiu do interior apenas pra acabar com a vida do meu filho.
Eu estava sem saber o que dizer como reagir. Quem espera ouvir isso de uma Advogada, mestre ainda por cima, trabalha numa das melhores agencias de advocacia da cidade. Era inacreditável que mesmo com tanto estudo ainda tenha uma forma de pensar arcaica, retrógrada como essa. Influenciar? Ela acha que influenciei JP ser gay? Cara estava puto.
Eu não aguentava mais aquelas acusações sem sentido. A deixei falando sozinha. A única atitude que deveria tomar era a que tomei: fiz minhas malas e sai daquela casa. Podem achar que fui imaturo, mas, eu não havia mais como ficar no mesmo lugar com aquela mulher. Acabei de por minhas roupas numa mochila e numa pequena mala e saí.
Tia Ana: Antonio, pra onde você pensa que vai? – falava de modo autoritário.
Antonio: Me livrando de gente ridícula como você. Pra que serve tanto estudo e ser uma burra dessa!? – falei irritado. Saí da casa. Ouvi alguém me chamar. Era Miguel.
Miguel: Antonio, pra onde você vai?
Antonio: Oh moleque, eu não sei, mas vou arranjar algum lugar pra dormir. – falava passando a minha mão em seus cabelos.
Miguel: Você não precisa ir embora! Minha mãe não entende nada. Não é por que você é gay que você vai passar isso pros outros. – falava me abraçando. – eu não quero que você vá. – falava chorando. – quem vai brincar de videogame comigo?
Antonio: Nem sei o que dizer Miguel. – falava devolvendo o abraço. – Agora preciso ir moleque, se cuida. – e saí.
Estava decidido que não iria voltar novamente pra aquela casa. Olhei uma última vez pra varanda e vi Miguel chorando. Eu senti pena daquele garoto. Miguel tem 14 anos, é extremamente inteligente, divertido, mas tem um sério problema de relacionamento social. Ele é muito fechado e comigo ele começou a se abrir mais, tirar boas notas e tudo mais. Ele não merecia ver/ouvir aquela cena na sala.
Andava sem rumo pelas ruas do bairro. Estava um pouco atarentado, pois não sabia pra onde iria. Estava com uma mochila e mala no meio da noite. Fiquei com medo de assaltos, mesmo que o bairro onde morava fosse tranquilo, não devemos dar sorte pro azar né!?
Sentei na praça que havia no bairro. Havia pessoas indo e vindo... E eu ali. Sentado, em choque com tudo que acabara de acontecer. Não tinha pra onde ir. A ponte seria meu destino? O viaduto? Eu ria da minha própria situação.
Até que me lembrei do Joaquim. Sim, ele seria minha salvação naquela noite. Como Fernando tinha deixado o apartamento dele com o irmão, tinha um lugar pra passar a noite, pelo menos.
Liguei uma, duas, três, quatro vezes e nada. Já estava desesperado e com medo de ser assaltado. Não tinha muito dinheiro na carteira, mas estava com meu notebook, celular, tablet, livros, não queria que os levassem de mim. Mas o que mais me surpreendia era que estava mais firme e forte que o normal. Tipo, se eu passasse por isso há algumas dias atrás eu teria morrido de chorar, me culpar por tudo que havia ocorrido. Mas não, estava firme, inabalável. Sei lá, estou aprendendo a ser frio?
Já eram 23:30 e já estava apreensivo. Depois de algumas tentativas, destisti. Joaquim finalmente ligou pra mim. Ué? Parece que foi apenas eu desistir que deu certo, deveria fazer isso mais rotineiramente kkkkkkk
Joaquim: Oi Antonio, tudo bem? Diga lá!
Antonio: Mais ou menos Joaquim. Estou precisando de um favor. É que rolou algumas tretas lá em casa com minha tia e estou na rua com minhas malas precisando de um local pra dormir. – eu falava com a maior vergonha do mundo. – Será que daria pra eu ficar no apartamento do Fer com você?
Joaquim: Nossa cara, que situação chata. Faz assim: pega um táxi e vai direto pro prédio do apartamento. Vou mandar o porteiro te autorizar a tua entrada. No momento não estou em casa, estou numa balada, mas já já estarei indo pra lá. Fica bem.
Antonio: Certo. Muito obrigado Joaquim, desculpas por te encher o saco novamente.
Joaquim: Que é isso, nem precisa dizer nada, amigos são pra essas coisas mesmo.
Poxa, eu fiquei mal. Tipo, nem conhecia direito Joaquim, claro que passei um final de semana com ele, mas intimidade não é algo que se conquista num final de semana e agora estou pedindo pra passar uma noite com ele. Mas quando precisamos de algo, temos que engolir a vergonha na cara. Era melhor que ser assaltado.
Peguei um táxi e fui direto para o prédio. Esperei quase 50 minutos para que Joaquim chegasse, já que não tinha as chaves do lugar. Já estava até mais tranquilo, é melhor estar num local conversando com o porteiro que no meio da rua correndo os riscos da cidade grande.
Joaquim: Antonio, ae tudo bem? Vamos subir?
Antonio: Vamos sim. Até mais seu Manoel.
Contei tudo que havia acontecido mais cedo. Fui o Drama King que sempre fui e me soltei kkkkkk Falei tudo. Joaquim apenas me observava sem falar nada. Terminei.
Joaquim: Nossa Antonio, que pesado viu. Se fosse minha tia eu tinha partido a cara de uma rapariga dessa. – falava irritado, mais que eu, na verdade.
Mesmo com tudo isso, eu entendia a tia Ana. Não é fácil saber de tudo isso. Sei lá, sei que não faz sentido, mas eu procurava tentar entender sua parte na história. Era difícil, eu sei.
Tomei um banho rápido e me deitei no sofá. Já eram quase 1hr da madrugada. E decidi por em prática o plano que já estava querendo: Vou voltar pro interior novamente. Peguei meu notebook e reservei a passagem. Iria de avião mesmo. Queria voltar pro meu verdadeiro lar.
Aquela noite passou rápida. Eu meio que dormi, eu acho, acordava, dormia, tudo ao mesmo tempo. Iria às 9hrs da manhã seguinte. Foi muita sorte ter achado uma vaga para o dia seguinte.
Já eram 7hrs e resolvi ligar pra minha mãe.
Antonio: Bença mãe. Estou voltando hoje mãe. Poderia mandar meu pai me buscar no aeroporto do Cariri?
Mãe: Deus te abençoe meu filho. Mais que rápido, pensei que ia demorar mais um pouco. Mas tudo bem, pode deixar que eu aviso seu pai.
Antonio: Tá bom então. Pego o avião agora pela manhã. Chego por aí no inicio da tarde.
Joaquim foi um anjo na minha vida naquele momento. Ele me ajudou quando precisava, sem querer nada em troca, me acolheu em seu lar e ainda me levou até o aeroporto.
Antonio: Obrigado por tudo Joaquim. Você me salvou.
Joaquim: Por nada cara. Fico feliz em poder ajudar. E se você precisar de lugar pra ficar quando retornar pras aulas, você pode ficar no apartamento. Estou planejando de chamar alguns amigos pra dividir comigo, já que eu não vou conseguir manter aquilo por muito tempo, além de que é muito grande também.
Antonio: Opa. Agradeço mais ainda então. Guarda uma vaga pra mim então.
Joaquim: Pode deixar. – falou sorrindo.
Me despedi dele com um abraço apertado e um beijo na bochecha. Agradeci por tudo novamente. E fui esperar o horário. Estava distraído e escuto meu celular tocar. Era o JP. Tentei ignorar mas não consegui por muito tempo. Atendi.
JP: Antonio onde tu está cara?
Antonio: Desculpa cara. Acho que sua mãe já sabe que você é bissexual, que gosta de homens também. Acabei contando a verdade sobre mim e acabei pondo a sua em jogo.
JP: Não precisa se preocupar com nada! Já deveria ter feito isso a muito tempo. Só me faltou coragem.
Antonio: Pois é. Mas os segredos se foram.
JP: Agora é enfrentar nossa realidade. – ficamos em silêncio.
Chamaram o numero do meu voo e tive que desligar:
Antonio: Depois nos falamos JP. Tchau!
DEPOIS DE ALGUMAS HORAS...
Finalmente estava em terras Caririenses. Estava com saudades do Araripe. Do clima. Do sotaque do meu povo. Tudo aquilo me fazia sentir em casa. Na minha verdadeira casa.
Depois de alguns minutos esperando finalmente acho meu pai.
Abracei-o e cumprimentei. Era bom vê-lo de novo. Entramos e fomos direto pra Barbalha. Ele não me fez perguntas algumas e isso já estava me deixando aflito. Será que a tia Ana havia dito algo pra eles?
CONTINUA...
Bom galera, pra quem acompanha meu conto, desculpa pela ausência. Estava com alguns problemas pessoas chatos pra caramba.
Ficou pequeno esse capítulo, mas queria deixar atualizado. Não vou esquecer este conto.
Ainda há muita coisa pra rolar... Continuem acompanhando.
Beijo em seus corações. <3