Capítulo 4 - Primeiro beijo...
Ficamos nos olhando por um tempo e vi seu olhar mirar minha boca e seu rosto se aproximar...
Eu me recordo de ter visto os olhos de Rodrigo fecharem enquanto ele se aproximava e, por um instante, fechei os meus também.
Qual não foi minha surpresa, quando assim que cerrei meus olhos, lembrei de outra pessoa...
Virei o rosto e Rodrigo acabou acertando o beijo em minha bochecha e ficou um tanto encabulado.
-Me desculpe... Bem, eu... preciso ir. -Disse sem jeito e se foi, me deixando só.
"O que foi isso, Bella?", pensei, sem parar de pensar no que havia ocorrido. Nem vi os minutos passarem.
-Eu vim interrogá-la. -Ouvi aquela voz rouca e macia e ergui a cabeça. Era a doutora.
Ela abriu a cela e a adentrou, fazendo meu coração saltitar no peito.
-Levante-se. -Ordenou. Parecia brava e evitava me olhar.
-Quero que seja sincera. Se mentir eu juro que te mando pra cadeia de verdade. -Disse duramente.
Eu arregalei os meus olhos e a encarei trêmula, concordando com a cabeça.
-Muito bem. Onde você estava no dia 24 do mês de Dezembro do ano passado? -Perguntou me a analisando.
-Bem, na véspera do natal, eu estava com minha mãe, em casa.
-Sua mãe? -Me olhou sério, como se desconfiasse de mim. -Pensei que nunca tivesse conhecido sua mãe. Ou melhor, que ela estivesse morta. -Arqueou as sambrancelhas debochadamente.
-Não, senhora. Minha mãe está viva e foi ela quem me criou.-Me mantive séria.
-E como ela se chama?
-Tereza Duarte. -Falei prontamente.
-Então, na véspera do Natal, você e sua mãe, estavam em casa. O quê as duas faziam? Enfeitavam o pinheiro? Estavam... Assando o perú? -Disse ironicamente. -Ou será que você tava assassinando uma senhora idosa? -A última frase soou como um ataque.
-Senhora, eu nunca fiz isso. -Tentei manter a calma, mas meu emocional estava abalado demais.
-Tem certeza? -Perguntou ironicamente novamente.
-Sim, senhora. -Me limitei a dizer. As lágrimas, eu já não controlava.
-E então por que achamos digitais suas na cena do crime e temos uma testemunha que alega que você batia e maltratava sua avó? -Gritou, me fazendo chorar mais.
-Eu não fiz isso. -Disse em meio as lágrimas. -Não sou quem vocês pensam...
-Não é? Você não é Milena Souza?
-Não, doutora. -Falei a encarando.
Ela suspirou fundo parecia sem paciência.
-E quem diabos é você, então? -Falou grosseiramente se aproximando um passo de mim.
-Isabella Duarte. -Falei enquanto secava algumas lágrimas.
-Não minta pra mim. -Disse em voz alta, me encarando brava.
-Eu não estou mentindo, doutora. -Tentei ser firme.
-Tá certo. Então você não vai mesmo dizer a verdade -Me olhou com raiva se aproximando e me fazendo recuar.
-Eu já lhe disse que não sei nada sobre a tal morte...
Nesse momento, a raiva da doutora aumentou e ela partiu em minha direção como uma leoa que defende as crias.
Em um instante, me vi presa contra a parede e suas mãos fortes apertavam meu pescoço, me tirando quase todo o ar.
-Pára... Por... Favor... -Foi só o que consegui dizer, enquanto era esganada por ela e ía perdendo os sentidos.
-Me diga: se eu te soltar, você vai falar a verdade? -A delegada perguntou enquanto mantinha a pressão em meu pescoço.
Uma lágrima quente escorreu de meu olho, antes de eu começar a fechar os olhos lentamente.
Me recordo de olhar nos olhos dela e enxergar pena. Logo depois, eu desfaleci.
-Acorda! -Depois de ser chacoalhada e receber água fria no rosto, abri os olhos e vi a doutora abaixada a minha frente.
Minha primeira reação foi chorar. De maneira nenhuma merecia o que estava acontecendo.
-Calma, garota. Eu sinto muito pelo que fiz agora pouco. -Falou desconcertada.
-Eu... Podia ter morrido... -Falei com a cabeça entre as mãos, chorando compulsivamente.
-Também não é pra tanto. Você só sentiu uma pequena parcela da dor que a dona Norma sentiu. -Disse rispidamente.
-Eu não... Mereço isso... Não... Não... Que mal eu fiz... Meu Deus... -Passei a choramingar baixinho, ainda com a cabeça entre as mãos.
-Ei, garota. Erga a cabeça. Não gosto de falar com você assim.
Ela pediu e eu me mantive como estava, chorando, sem me importar com o que ela dizia.
-Vamos, faça o que te pedi. -Pediu mais uma vez, ainda calma. -Ora, não me obrigue a machucar você. -Percebi em sua voz que começava a ficar com raiva e eu só queria chorar, com a cabeça baixa.
-Tudo bem. Você que pediu. -Depois de dizer isso, ela puxou meu cabelo, me obrigando a erguer a cabeça e a encarar.
Eu arregalei os olhos surpresa e meu choro cessou instantaneamente.
Seus olhos azuis brilhavam, numa éspecie de transe, o mesmo em que eu me encontrava naquele momento.
Algo naquela atmosféra parecia nos puxar. Percebi que seu rosto se aproximava do meu. Seus olhos impenetráveis, não desviavam dos meus e fechavam pouco a pouco, bem como os meus.
Sentia meus lábios queimarem, um palpitar no coração e um calor que contorcia meu ventre...
E todas essas sensações só aumentaram, assim que seus lábios tocaram levemente os meus...
Continua...
E aí galera? O que estão achando?